Antigo posto da Mobil, no Quitexe - nos dias de hoje. Já teve dias bem piores. Pelo tempo da minha passagem por lá, esta estrada (que liga a Luanda e Carmona) era espaço de largas caminhadas e fartas conversas - nas mais das vezes recordando as nossas terras de origem, os nossos amigos, as festas populares, as romarias, os madrigais que então se cantavam, em jeito de declarações nocturnas, nas ao tempo famosas serenatas.
Ali por perto, em casa sei eu de quem mas não digo, fizemos serenata uma noite, com um velho gira-discos geringonçando cantigas de bem-dizer e louvores ao amor!
Promessas e inocentes mentiras da juventude, que na terra quitexana tinham uma dimensão diferente, se sentiam de forma diferente, se entoavam em jeito de morna mal-ajeitada, quando queríamos e mal fazíamos coro em play-back.
A serenata, claro está, tinha destino, uma jovem estudante em Carmona, que por lá passava fins de semana em casa de família. Um borracho em quem todos púnhamos os olhos de desejo!
Pois bem, lá geringonçava o gira-discos e nós a pôr pimenta na letra. Pimenta e desejos! E esperanças de amores correspondidos!
Acendeu-se a luz, na casa de janelas cerradas que a protegia da noite. Subiu o calor à cabeça da malta: a miúda estava ali. Dava troco!
Só que não estava: quem levantou a janela interior de madeira, deixando jorrar luz da casa para a estrada, foi a mãe da cachopa! Que nos convidou a entrar! E o marido, olhe lá, não ficará mal a senhora?! Não irão mal-dizer os vizinhos por abrir a porta a três militares! E como embriagados estavam eles, de desejos que agora aqui não posso contar! Pois que não, qual quê? "Façam favor de entrar...!. E lá fomos nós, meio desconfiados e já de gira-discos sem pilhas.
Na cozinha de fora, pelo vistos nisso especializado, era o marido da senhora que tinha uma arrozada de galo prontinha a servir! Abençoada serenata! E sabem porque o fez? Porque a serenata lhes matou as saudades da terra onde nasceu o casal!
2 comentários:
Desa lembro-me bem e da bronca que ia dando... Abraços para a malta...
Um dia fiz uma serenata. Eu cantava e o outro tocava viola.
Eram seis raparigas e até gostaram, ou pelo menos uma delas, a Odetinha.O padre do colégio é que não gostou. Não saiu arroz de galo mas ia saindo arroz com sangue e do meu.O representante de Deus vinha armado de pau e valeu-me o estorvo da batina. Coisas da juventude...
A. Casa
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