sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ora perguntai lá ao inimigo quem somos!

Alferes Sampaio (oficial dia) e Garcia e o furriel Viegas, a 10 de Outubro
de 1974, no Quitexe, no momento da partida para mais uma missão.
Notam-se alguns soldados na berliet.


A 26 de Junho de 1974, foi dia da nossa primeira ida ao Destacamento da Fazenda Luísa Maria - fazendo protecção ao comandante da Zona Militar Norte, que era também o Governador do Distrito de Uíge, o brigadeiro Altino de Magalhães.
Por esses dias, tinha sido o juramento de fidelidade de todos os alferes, o que foi razão para farta brincadeira com os nossos jovens companheiros oficiais milicianos. «Jurar, tens de jurar? Quem mais jura mais mente...», glosávamos nós, principalmente na nossa relação com o Alferes Garcia, o comandante do Pelotão de Reconhecimento, Serviço e Informação da CCS. Oficial de Operações Especiais - Ranger, como nós!
O 25 de Abril tinha acontecido havia dois meses, muitas e fartas labaredas de paixão política e revolucionária se acendiam e apagavam da noite para o dia, discutiam-se os méritos e deméritos do que passava em Lisboa e nós, por lá, reflectíamos os slogans gritados e assumidos em Santa Margarida, onde decorreu a nossa instrução operacional, pré-25 de Abril: «O soldado português é dos melhores do mundo!». Ou «o exército português é o espelho da nação!», também «o suor da instrução é sangue que não corre!». Ou ainda o básico princípio de «querer e saber querer», que permanentemente nos incitavam e psicologicamente preparavam para as tarefas que íamos ter em Angola. O lema era «Perguntai ao inimigo quem somos!». Perguntaríamos?

- «Será que isto tudo valerá a pena?», interrogámo-nos muitas vezes, nos primeiros tempos de adaptação às terras do Quitexe e normalmente nas horas imediatamente anteriores às nossas partidas para uma qualquer missão - como no da foto.
Por Lisboa, no «puto», ia o que nós nem sabíamos bem - ou sabíamos de forma quiçá adulterada, seguramente confusa. Se vão entregar «isto», porque estamos aqui? Gritava-se nas ruas de Lisboa e de Portugal «nem mais um soldado para Angola!» Ou para a Guiné e Moçambique! E nós por lá!
«Estamos cá para isto e para isto nos preparámos...», dizia sempre, sempre entusiasmado e convicto, o querido Alferes Garcia, que foi nosso exemplo de coragem e capacidade de decisão em cada dia dos nossos dias ultramarinos. Era dos que perguntaria «quem somos», sem medo, ao inimigo que não conhecíamos.
- GARCIA: António Manuel Garcia, alferes miliciano de Operações Especiais, de Pombal de Ansiães. Foi agente da Polícia Judiciária e faleceu num acidente de viação, perto de Viseu, em finais da década de 70.
- SAMPAIO. Carlos João da Costa Sampaio, alferes miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV 8423 (Zalala).

6 comentários:

Anónimo disse...

"O soldado português é tão bom como os melhores" estava escarrapachado em tudo o que era propaganda. Slogan muitas vezes recordado por terras de Quitexe, quando se ultrapassavam situações muito delicadas em que o militar e ser humano eram postos á prova. O percurso para Zalala não era dos mais famosos. Havia sempre duplos cuidados afim de evitar surpresas desagradáveis. Os níveis de exigência dos comandantes de grupo foram sempre muito elevados e isso transmitia-nos muita confiança sem descurar precauções.
Diga-se, pelo menos em 72/73 era uma picada de se lhe tirar o chapéu-neste caso o boné!
Quanto àquela história do "será que vale a pena", um dia hei-de contar uma passagem que ía dando pano para mangas...e que mangas!
A foto trás á memoria os preparativos para as escoltas junto ao Comando da CCS.
A. Casal

QUITEXE disse...

Estas imagens vistas agora até nso regeneram a alma, caro Viegas não perca o entusiasmo para nos trazer estas histórias bonitas

QUITEXE disse...

Caro sr. Casal, é você o da história das galinhas mas não é do nosso tempo, pois não? Conheci a picada para a Zalala onde fui algumas vezes e era de meter medo, embora nunca lá tivesse problemas; estes Viegas e Garcia da foto recordo eu bem, eram gente fixe do Quitexe, Do alferes Sampaio também não me lembro. O Viegas é que era um gajo do caraças, uma vez pôs o pelotão dele todo de castigo, mas ele cumpriu o castigo á frente deles, para dar o exemplo, gostava que ele aqui contasse essa história que foi muito famosa lá no Quitexe...

Anónimo disse...

Caro Viegas, gostei muito de ver o blogue e recordei-me dias muito importantes das nossas vidas, vê lá se pões alguma coisa de Zalala.
Victor

Anónimo disse...

Caro Viegas, gostei muito de ver o blogue e recordei-me dias muito importantes das nossas vidas, vê lá se pões alguma coisa de Zalala.
Victor

SOPInheiro disse...

ESTE ALFERES NÃO ERA DA COMPANHIA DE ZALALA?