Há olhares nostálgicos em todo o lado, até no Quitexe, este na cadeira de fitas da entrada da casa dos furriéis, num qualquer final de tarde dos finais de 1974. Não faço a menor ideia, é claro, do que me passaria pela cabeça naquele momento! Teria saudades dos cheiros e dos sons de Ois da Ribeira, a minha aldeia?! Vontade de me sentir perto de alguém?! De uma mesa farta de uns bons rojões com grelos e broa da Maria Dulce, a senhora minha mãe - ao tempo viúva de dois anos?! Ou de um bom leitão assado à moda da Bairrada?!
Não sei! Paixão, não era!!! Que eu era rapaz de coração livre como os passarinhos que voavam na nossa imaginação e o correio que eu recebia às mãos-cheias era tudo epístolas de gente amiga e da família! Nada de namoradas!
Os dias do Quitexe tinham... dias! Alguns bem amargados no pó que nos «embebedava» nas picadas e entossicava as emoções, quando, de olhos bem abertos e sentidos apurados, queríamos não ouvir os nossos medos! Outras, de farta folia, nos bares civis e no aquartelamento - quando nos juntávamos em corropios de palavras e de cervejas, emendando ideias e aplainando teorias sobre o Portugal que se embruulhava em revoluções e contra-revoluções!
Talvez ali nesta foto eu estivesse a avaliar, sei lá..., o como tantas vezes eramos imprudentes heróis, sempre que nos aventurávamos em patrulhas e operações que esventravam florestas e trilhos, por onde gretávamos os olhos de alguns medos - para nos sentirmos mais fortes, se a madrugada de alguma guerra nos obrigasse a jorrar sangue e defender em palmos de terra, o metro a metro da nossa segurança!
Ou estaria a espreitar alguma caucasiana do Quitexe, que pela avenida de baixo fosse a desfraldar as suas asas, inspirando-nos pecados de carne que aqui não devo contar?!!!
Eram dias!!! E nostalgias!!! Isso eram!
5 comentários:
Beleza, meu caro Viegas!
E essa dos pecados da carne tinha mais a ver com um prego no pão, com muito gindungo, calculo eu!
Abraço,
Santos
Bonito, meu caro... e como sempre inspirado e inspirador, na velha arte das palavras que todos conhecemos mas nem sempre sabemos aplicar bem e nem nos lembramos delas.
Recordo-me agora de um famoso debate - ou seria mais uma discussão e bem acesa - com uns militares bem mais velhos que nós, já poderiam ser nosso pais, em que lhes destes um baile, com sabonete para o suor e tudo. Ainda és assim pró filho da mãe, pá?
PQ
Tás lindo, pá... qual era o borracho que ia a passar?
Zé
E o apaixonado era o Monteiro, eh, eh,eh, eh, eh...
SANTOS:
Tinha a ver com o prego no pão e... outras carnes e outros tempêros!
O Monteiro, na verdade, namorava a que é, desde pouco tempo depois e até agora, a mulher da sua (dele) vida. Tem duas filhas e já é avô. Do Bernardo.
PQ:
Não me recordo desse debate. Podes pormenorizar?! Diferenças sempre houve, por lá! Umas maiores, outras mais assumidas, mas creio poder dizer que sempre respeitadoras, mesmo quando nos queriam pôr a bota em cima do pescoço. Tudo isso nos fez o que somos hoje, 34/35 anos depois!
Abraços!
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