A. CASAL FONSECA
No Quitexe fora de horas, as noites eram de tranquilidade total. O calor, por vezes sufocante porque aliado à humidade, não dava tréguas. Era precisamente nestas horas de ócio que mil pensamentos assaltavam as mentes dos mais nostálgicos. Eram as saudades, as paixões, os amores, enfim…coisas do peito!
Naquela noite, o amigo R… estava numa tristeza que metia dó! Não seria provavelmente o único mas, sendo um dos mais alegres da Companhia, era de estranhar. A muito custo, lá foi despejando as angústias e desesperos que o seu amor de além-mar lhe estava a infligir. Passados seis meses após a sofrida despedida, as coisas pareciam ter esfriado. Isto, ele não entendia, porque dizia terem selado uma jura de compromisso! Eu, na maior calma do mundo (digo eu...), bem tentava chegar a ele uma outra possível realidade. Cumpridos alguns segundos de silêncio, colocando-me a mão no braço e olhando-me nos olhos em tom pausado e sereno retorquiu: «Não, na minha terra não é assim… A gente quando namora é a sério… a gente não brinca às casinhas… casa mesmo!!!… Então como é?!...».
Aquele tom de voz franco era tão raro naquele dia-a-dia que quase se poderia considerar pecado. Sofria com a escassez de cartas recebidas, mas desesperava ainda mais com o seu teor. As frases que falavam de amor, de paixão e de outros momentos felizes escasseavam de missiva para missiva! Pois é, pois é…, ele também só lhe falava de tropa, do tempo e pouco mais!
«Sabes, Casal, eu nunca fui muito de coisas assim mais…, pronto mais íntimas...», dizia-me! «Sabes, a gente no campo… essas lambuzices! Ah!...».
Estava ali um belo bico-de-obra, que eu estava muito empenhado em resolver (ajudar). Meter-me ali não ia ser nada fácil, mas o risco também existe para ser corrido! E se eu conseguisse imitar a letra e escrevesse um anexo? Seria uma pequena maldade… e inocente. Meia dúzia de linhas que tão simplesmente iriam falar do tal amor e da tal paixão (aqui, arrisquei...) poderiam muito bem sacudir um coraçãozinho em banho-maria!
Introduzir o anexo no envelope é que não iria ser fácil… E não foi! Mas ele lá seguiu por terra e por ar, rumo à pequena aldeia e não se perdeu.
Dois meses passados, o R…, em passo acelerado, aproximou-se de mim. Agora, quase segredando e com um sorriso a transbordar malícia atrevidota, disse-me: «Eh pá…, lá a minha M tá a ficar muito atiradiça!... Ih, ih, ih…».
Deixando-me especado e meio incrédulo a olhar para ele, correu atrás dos amigos, rumo ao Topete, onde, com alegria incontida, iria certamente refrescar-se com algumas nocais! Ao vê-lo afastar-se, pensei, como penso ainda hoje: «Pois… ele há cada coincidência!».
Em Dezembro de 1980, teve a persistência de encontrar a minha morada e brindou-me com um bonito postal de Boas Festas. Ao abri-lo, ouço, vindo do interior, uma música alusiva ao Natal (ainda toca). Continha uma mensagem tão simples e sincera como ele!
Era assinada pelo R… e pela sua M…
Naquela noite, o amigo R… estava numa tristeza que metia dó! Não seria provavelmente o único mas, sendo um dos mais alegres da Companhia, era de estranhar. A muito custo, lá foi despejando as angústias e desesperos que o seu amor de além-mar lhe estava a infligir. Passados seis meses após a sofrida despedida, as coisas pareciam ter esfriado. Isto, ele não entendia, porque dizia terem selado uma jura de compromisso! Eu, na maior calma do mundo (digo eu...), bem tentava chegar a ele uma outra possível realidade. Cumpridos alguns segundos de silêncio, colocando-me a mão no braço e olhando-me nos olhos em tom pausado e sereno retorquiu: «Não, na minha terra não é assim… A gente quando namora é a sério… a gente não brinca às casinhas… casa mesmo!!!… Então como é?!...».
Aquele tom de voz franco era tão raro naquele dia-a-dia que quase se poderia considerar pecado. Sofria com a escassez de cartas recebidas, mas desesperava ainda mais com o seu teor. As frases que falavam de amor, de paixão e de outros momentos felizes escasseavam de missiva para missiva! Pois é, pois é…, ele também só lhe falava de tropa, do tempo e pouco mais!
«Sabes, Casal, eu nunca fui muito de coisas assim mais…, pronto mais íntimas...», dizia-me! «Sabes, a gente no campo… essas lambuzices! Ah!...».
Estava ali um belo bico-de-obra, que eu estava muito empenhado em resolver (ajudar). Meter-me ali não ia ser nada fácil, mas o risco também existe para ser corrido! E se eu conseguisse imitar a letra e escrevesse um anexo? Seria uma pequena maldade… e inocente. Meia dúzia de linhas que tão simplesmente iriam falar do tal amor e da tal paixão (aqui, arrisquei...) poderiam muito bem sacudir um coraçãozinho em banho-maria!
Introduzir o anexo no envelope é que não iria ser fácil… E não foi! Mas ele lá seguiu por terra e por ar, rumo à pequena aldeia e não se perdeu.
Dois meses passados, o R…, em passo acelerado, aproximou-se de mim. Agora, quase segredando e com um sorriso a transbordar malícia atrevidota, disse-me: «Eh pá…, lá a minha M tá a ficar muito atiradiça!... Ih, ih, ih…».
Deixando-me especado e meio incrédulo a olhar para ele, correu atrás dos amigos, rumo ao Topete, onde, com alegria incontida, iria certamente refrescar-se com algumas nocais! Ao vê-lo afastar-se, pensei, como penso ainda hoje: «Pois… ele há cada coincidência!».
Em Dezembro de 1980, teve a persistência de encontrar a minha morada e brindou-me com um bonito postal de Boas Festas. Ao abri-lo, ouço, vindo do interior, uma música alusiva ao Natal (ainda toca). Continha uma mensagem tão simples e sincera como ele!
Era assinada pelo R… e pela sua M…
A. CASAL FONSECA
(na foto) Marrazes - Leiria
- COLABORAÇÃO. O blogue está aberto à colaboração de quem, por bem, aqui entenda vir falar do Quitexe e dos batalhões militares que lá serviram - e em toda a sua de acção operacional. Basta que a enviem para o endereço c.viegas@mail.telepac.pt. Viva o Quitexe!!!
3 comentários:
Furriel Casal da Fonseca, não tenho a menor ideia, era da CCS?, nao me parece! A cara não me diz nada...
Furriel Casal da Fonseca, não tenho a menor ideia, era da CCS?, nao me parece! A cara não me diz nada...
Eu era Cabo e não Furriel. Era da CCS sim, mas do Bat. Caç. 3879 que esteve no Quitexe entre Abril de 72 e Abril de 73. Epá...tô um bocado mais velhote!...
A. Casal
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