A 25 de Abril de 1974, estava eu pelo RC4, em Santa Margarida, e levantei-me cedo, como sempre. Fui para a higiene pessoal na maior das tranquilidades, levando um velho rádio de pilhas para as notícias da manhã. Daí por minutos, chegariam os meus companheiros, apressadíssimos como sempre, para escanhoar a barba e pôrem-se «finos» para mais um dia.
Estranhei, para dizer a verdade, o facto de só ouvir música militar, mas por lá fui dando ao pincel e à lâmina, para escanhoar os pêlos do dia. O ruído da água da torneira imperceptibilizou-me a audição: «Aqui, Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas (...) Conforme tem sido difundido, as Forças Armadas desencadearam na madrugada de hoje uma série de acções com vista à libertação do País do regime que há longo tempo o domina (...)
Eh, pá!!! O que é isto?!
Acabei o escanhoamento e fui a correr «avisar» a malta, que ainda dormia. Choquei com um companheiro no corredor e contei-lhe. Assobiou.... quiçá lembrando-se do 16 de Março. Mas rapidamente toda a gente estava de pé e alarmada. E curiosa! O pequeno almoço foi apressado e não nos deixaram sair para o Destacamento. Até que quisemos saber o que se passava, para além do que se ouvia no Rádio Clube Português.
Era a manhã do 25 de Abril!
Por volta das 11,30 horas, já no Destacamento, o comandante falou às tropas. Acalmou, mas pouco explicou! As melhores (mas muito poucas) imagens que nos chegavam eram as da televisão, a preto e branco! A serenidade expectante foi raínha no dia 25 de Abril de 1974, entre os homens do Batalhão de Cavalaria 8423. Faz hoje 36 anos!
- RC4. Regimento de Cavalaria 4, em Santa Magarida. Unidade de Carros de Combate e mobilizadora do BCAV. 8423.
4 comentários:
Quando em Lisboa se tomavam posições com vista à Revolução, eu e outros camaradas apetrechavamo-nos para uma operação de dois dias. Alheios aos acontecimentos, partimos às duas da madrugada para uma operação que marcaria, não só esta data, mas também a nossa passagem por Angola.
Com o nosso tempo terminado a 14 de Abril, foi com algum, e até muito receio, que iniciámos a caminhada em zona onde sabíamos ser alvos fáceis. Os nossos receios viriam a provar-se fundados. A travessia de um riacho "obrigou-nos" a uma desatenção que quase nos foi fatal. De um morro surgiram rajadas de metralhadora que nos fizeram aumentar o clima de tensão. E de medo também! Afinal, tínhamos o nosso tempo cumprido, e estávamos a passar por uma situação complicada.
Recordo as sucessivas cargas de água misturadas com um calor abrasador, e que que nos secava a roupa, em pleno andamento.
O Alferes viria a necessitar de ajuda, mercê de uma repentina indisposição que o debilitou fisicamente. Homem de Op. Especiais, tinha um ponto fraco que não conseguia controlar em situações de grande tensão - o estômago! Ainda nos faltavam muitos quilómetros para percorrer e o nosso guia parecia não estar com muita vontade de avançar. Pairou a desconfiança sobre a sua lealdade e as coisas chegaram a estar feias para o seu lado! Teve o Furriel de tomar atitudes que não estavam previstas nos Códigos de Boa Conduta, para "convencer" o cavalheiro a cumprir a sua obrigação.
Chegada a hora certa, Via rádio, fiz o contacto com o Comando, para que nos recolhessem com medicação adequada e alertando para os necessários cuidados com que o deviam fazer. A minha parte estava feita e eu, digo-o com vaidade, fiquei satisfeito por me sentir útil. Ainda avistámos o IN à distância, mas o seu rumo era diferente do nosso. Além disso, a nossa operação acabava ali mesmo. e quanto menos ondas melhor! O nosso pensamento estava na família e disso já muito falavam as nossas missivas.
Regressados ao Quartel, nada ainda transpirava sobre a Revolução. Mas eu soube-o, ainda com o meu banho por tomar. Em segredo e depois de assumir a minha «Palavra de Honra», o Silva, Op. Cripto, lá desabafou ao meu ouvido o que só viria a saber-se alguns, e até muitos, dias depois.
Já com dez dias passados, viria a receber uma encomenda com jornais que nos davam conta das novidades. Correram toda a Companhia, mas alguns nem para ele olhavam. Aquilo nada lhes dizia e queriam era ir para casa!
Era (foi) o meu 25 de Abril de 1974! Cheio de acontecimentos e muito marcante, por terras de Angola
O que me lembro do 25 de Abril, em Santa Margarida, foi que na manhã de uma quinta-feira desta data mas de 1974, o nosso saudoso alferes Garcia entrou de repente, e com muito alvoroço, na caserna da CCS e de G3 na cinta, abriu o portão da direita e, ali mesmo, disparou um ou dois tiros para o ar. "Está andar, está andar quero tudo lá fora em 5 minutos". E foi assim que tudo aconteceu naquela manhã de Abril. Mais tarde cerca das 10 e qualquer coisa, começamos então a perceber melhor o que se estava a passar através do Rádio Clube Português. Sentados pelos cantos de G3 entre as pernas sem sabermos ao certo no que aquilo iria dar. (Bons tempos, eramos mais novos 36 anos). Lembro, perfeitamente, que a "ferrugem" sem citar especialidades, alguns fizeram ouvidos moucos mas o problema ficou logo resolvido quando o alferes Garcia fez tombar os beliches dos ditos que tombaram para o chão.
Caro Tomás:
Agora que vieste lembrar isso, occorre-me que eu e o Neto éramos os "lugares-tenentes" do Garcia e fomos levantar mantas e empurrar o pessoal para fora da cama, isto já por volta das 9 horas, e até algumas malgas de água (daquelas em que se bebia o leite no refeitório) foram despejados pela cara abaixo de alguns.
Um companheiro refilou muito - tenho ideia de ter sido o Teixeira (estofador) - e o Garcia, que estava lixado por eles se terem voltada a deitar... - fê-lo mergulhar a cara na pia gigante dos balneários. Ele e uma série de malta tinham-se levantado quando ele entrou e deu os tiros, mas voltaram a deitar-se assim que ele saiu.
Tenho ideia que o Monteiro (Gasolinas) também era um desses. E o Gaiteiro e o Miguel (condutores), entre outros. Tou certo disto? Acho que sim! Puxa lá pelos teus neurónios a vê se te lembras!
Abraço,
CV
Gosto muito de colaborar neste "sitio" porque de repente abrem-se memórias afastam-se algumnas teias de aranha desaparece o nevoeiro e faz-se luz! Foi o que aconteceu, e fico satisfeito pelo amigo Viegas de repente lembrar-se de alguns nomes que eram a "fina flor" da CCS. Embora faltem aquí alguns nomes como o "carpintas" Marques, o electricista Mendes(?) do Casal Ventoso etc. Grande abraço e até daqui a um mês.
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