quarta-feira, 8 de julho de 2009

Para a frente, Zalala..., e sem demora...

Altar de Nossa Senhora de Fátima, em Zalala

Imediatamente após chegar Quitexe, meti na cabeça ir a Zalala. Pelo que indaguei, não iria ser fácil. Não era rota muitas vezes traçada e, diga-se em abono da verdade, nada desejada! Tornava-se necessário estar escalado ou que, em troca por outro colega e devidamente autorizado, pudesse seguir viagem e «matar» a minha curiosidade - que me acompanhava do outro lado do mar e era imperativo satisfazer.
O alferes Louro estranhava tanta ansiedade e o alferes Gama entendia que eu não estava bom da cabeça! Para eles, não fazia muito sentido, na medida em que tínhamos acabado de chegar e eu insistia em visitar a «toca do lobo», como alguns “velhinhos” lhe chamavam - em parte para assustar!
Passados 15 dias no Quitexe, lá fui eu em passo de corrida aperaltar-me todo para a tal aventura. Finalmente tinha conseguido ser “encaixado” e para regalo de outro que não mostrava grande apetite por aquelas famosas paragens! Garanto que em dois minutos estava pronto e com a G3 na mão! Pois… há muitas coisas que a tropa nos ensinou e esta foi uma delas! Pelo menos a mim!... Qual passo lento, qual preguiça, qual mau acordar, qual brilhantina! Para a frente era Zalala e... sem demora!
Os primeiros quilómetros foram cinco estrelas mas quando entrámos no serpentear, aquilo começou a meter respeito. Fizemos o percurso “limpinho” e eis finalmente a tão badalada Zalala. Devorei com os olhos tudo à minha volta, peguei na máquina fotográfica e lá fui eu direitinho para o altar de Nossa Senhora de Fátima. Pois é… em Zalala havia este altar, com imagem e tudo! Quantos lhe terão pedido ajuda em horas aflitivas?!
Foram certamente muitos, como muitas foram essas horas!
Saboreei Zalala ao máximo! No regresso ao Quitexe, mantive-me em silêncio. Seria talvez um silêncio condoído! Alimentada pelos relatos, a minha imaginação tinha sido tão fértil que, quando confrontada com a realidade, toda ela deixou de fazer sentido. Também por isso eu insisto em dizer que não se consegue entender África, se não a sentirmos no corpo e na alma.
A não ser por obrigação, eu já não voltaria a Zalala e já estava com saudades porque aquele sítio teimava em dizer-me muito. De lá recebi muitas cartas e aerogramas e para lá enviei outras tantas. Notícias que se trocavam, sempre na ânsia de se saber que tudo estava realmente bem. E também desabafos “camuflados” em frases bem dispostas!
Consegui cumprir a minha promessa e trazer o registo em foto do altar onde o meu irmão tantas vezes pediu protecção!
Eu sei que a 12 de Maio de 1970 se curvou perante este altar, a pedir as suas graças. Ele sabe que a 12 de Maio de 1972 me curvei perante este altar a pedir, quem sabe, as mesmas graças. Iluminado por velas, lá ficou a aguardar os pedidos e súplicas de crentes e não crentes. Até quando, eu não sei!...
A. CASAL

1 comentário:

OLIVEIRA disse...

Diziam que Zalala era um inferno, mas eu nunca lá fui,