O mês de Julho de 1974 foi particularmente activo, em termos da relação do BCAV 8423 com as autoridades regionais, população civil e pessoal das muitas fazendas a nossa área de acção. Se por uns breves oito dias de Junho, nos sentímos, diria, apoiados pela experiência do BCA 4211, que rendêramos, agora, fizesse chuva e fizesse sol, éramos nós quem tinha de dar o corpo ao manifesto. Pois que déssemos!
Para trás das costas, estavam já as primeiras saídas à mata (nomedamnte a operação de estreia, de três dias a gotejar suores sei lá por onde), algumas escoltas, vários piquetes, colunas de logística e o comando já tinha feito toda a rotação pelas subunidades e destacamentos - o que começou a partir de 14 de Junho, dia do adeus aos caçadores da 4211. Pelo que coube ao PELREC, já tínhamos palmilhado umas picadas das redondezas e comido o pó dos «caminhos» de Luísa Maria. Logo chegaram os das fazendas do Negrão, Pumba Loge, Liberato, Guerra, Buzinaria, Isabel Maria, Minervina, Chandragoa. E aos povos do Quitoque, Quimassabi e outros, cujos nomes a memória já não lembra.
Por esse tempo, numa das operações a nível de Sector, soubéramos da amputação de um pé a um soldado Comando, que pisara uma mina anti-pessoal. E que fôra capturado um IN, depois posto em liberdade. Outra memória destes dias, é a de um grupo de Sanza Pombo ter sido emboscado, embora só com tiros de... aviso. E a do grupo que estava em Vista Alegre, que «recebeu» um antigo GE - que fora raptado na área de Bolongongo e entregou à tropa a primeira arma «capturada» do BCAV 8423, uma espingarda semi-automática Simonov.
Uma coisa que pessoalmente me atormentava, pelos tempos inexperientes e sempre cheios de reticências e medos que eram os das nossas saídas, pela picada fora e embrenhados nas matas de perigos e sombras que Deus por lá fez, era ouvir nativos ou os GE´s a falar língua que eu não entendesse. «Põe-te atento, podem estar a tramar alguma coisa...», avisara-me o Casares, furriel da 4211, de quem recebi a «herança» dos GE´s.
«E os p´robrêma, pá... os próbrêma...», valha a verdade, é que raramente os ouvia falar «os língua esportuguesa, pá»! E apenas era parecida, quando a falavam!
4 comentários:
O comentário que aqui quero deixar não tem muito a ver com os probrema do mês de Julho. Tem isso sim a ver com um acidente que eu tive numa ida até ao Negage. Deves estar lembrado de uma dupla que apareceu pelo quartel em Carmona (um Capitão e um Tenente)que se dizia ser comissão de saneamento. Ora era preciso levar essa gente ao Negage para eles apanharem transporte até Luanda. Mais uma vez o Monteiro que lhe pareceu bem ir dar uma volta, não escalou ninguém e juntamente com o condutor do Comandante mais a sua viatura lá fomos levar os dois figoraços até Negage. A viagem corria bem, até que em determinado sitio quando a estrada começa a ter um declive acentuado, algo aconteceu que o condutor (não me recordo o nome, falta-me o livro da unidade)não mais segurou a viatura. Começamos a fazer vários peões na estrada até que entramos pela ravina completamente aos trambolhões. O Jippe ficou logo sem a capota traseira o que deu origem a que fosse logo cuspido cá para fora. Quando tudo parou o resultado foi este. O capitão com a perna partida e fratura exposta, o Tenente com um grande golpe nas costas, eu com o camufulado completamente rasgado e pequenas escoriações e o nosso condutor completamente ileso, sem um arranhão. Diga-se em abono de verdade que a dose foi conforme a graduação.
Mas isto não iria ficar por aqui.
Ao ouvir que ao longe vinha uma viatura corri apressadamente para a estrada a pedir socorro. Era um abastado fazendeiro no seu Mercedes que ao ver-me de repente a aparecer à sua frente no meio da estrada ficou algo confuso, pois não estava a ver mais ninguém, o que lhe pareceu uma coisa surreal. Lá parou expliquei-lhe o que tinha sucedido e que era preciso ir rapidamente a Carmona buscar uma ambulancia para transportar o Capitão, Avisei o condutor e o Tenente que rapidamente estaria ali com o socorro e que não mexessem no Capitão pois poderiam por ainda mais em perigo a sua fratura exposta.
Voamos até Carmona. Agradeci ao branco que me transportou até ao quartel. Relatei o sucedido e de imediato sigo com a ambulancia para o local do acidente e o parque-auto a mobilizar-se para ir buscar o jippe acidentado.
Quando estou quase a chegar ao local do acidente vejo ao longe uma carrinha de caixa aberta cheia de "nativos" e com o capitão deitado em cima das almofadas que pertenciam ao jippe. de nada tinha valido as recomendações que eu tinha feito de não mexerem no capitão. Foi pegar no capitão, metê-lo na ambulância e rápido para o Negage. Foi logo evacuado para Luanda. Mas o dia ainda estava para nos pregar mais surpresas. Quando já no regresso para Carmona e ao chegar ao local do acidente, o que me foi dado ver meus senhores! A Berliet que tinha saido em socorro com uma duzia de militares, estava de rodados para o ar em plena estrada. Constatou-se que naquele sitio uma grande mancha de óleo que atravessava a estrada de lés a lés era o motivo dos acidentes que aconteceram. Não sabemos se foi abra do acaso, ou se foi posto ali para causar baixas à nossa tropa. Os militares que iam na berliet, felizmente que pouco ou nada tiverem.
Foi esta a história que eu aqui quis deixar. Para dizer que ao oferecer-me voluntário para esta missão a coisa podia ter corrido para o torto.
Um abraço
Monteiro
Pois...razão tinta o Furriel Casares na narrativa de 20 de Abril! Por vezes "esqueciam-se" de falar a língua de Camões!Depois vinham os destemperos...os temperos...o Cassius Clay e finalmente uns pratos de marisco barrados com muito molho! Esta especialidade era dos lados de Coimbra e por vezes era servida no Rocha em doses, diga-se, muito bem servidas! Quem diria?!
Como dizem os Italianos - é no molho que está o segredo!
A. Casal
Este alferes Sampaio era um bocado para o vaidoso, não era? E de que companhia era ele?
Boa Tarde camaradas daqui o ex furriel pereira do batalhão 4211 da 3ª companhia , do 3º grupo comandado pelo alferes sampaio. Sinceros cumprimentos
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