sexta-feira, 23 de setembro de 2011

1 013 - O Portela e o Morais do Quitexe

O comerciante Morais, civil de Águeda que fazia vida no Quitexe


ANTÓNIO C. FONSECA
Texto

Cheguei ao Quitexe, depois de um estágio de oito dias no Regimento de Transmissões de Luanda. Estávamos a 24 de Abril de 1972, um dia extremamente chuvoso e quente. Cerca de meia hora depois, já estava nas instalações destinadas ao pessoal da minha especialidade, e com o resto do dia para folgar.
«Casal, está lá fora um gajo fardado à tua procura, mas não parece ser do Exército!», gritava-me o Aguiar - já companheiro no RTM do Porto - com o suor a escorrer-lhe dos seus 110 quilos!
Era o Portela, Sub-Chefe nos Voluntários, e aqui meu vizinho a três quilómetros, que eu não conhecia mas que me esperava a pedido de um amigo de Luanda. “É você que é o Casal?!..., venham daí esses ossos grande conterrâneo… Tenho cá a impressão que vamos ser grandes amigos!».
 E fomos, não se enganou!
Mas não tardou uma imposição: “Tem 15 minutos para se despachar, porque a minha Maria pôs umas cervejolas a refrescar!”
E lá estava a D. Maria à minha espera, a cozinhar umas bifanas carregadas de gindungo, ao som da choradeira do pimpolho de meses. Mas com lágrimas que lhe escapavam, quando me perguntava por novidades da sua terra natal. Estranhei a repentina ausência do Portela, e quando dei por ele já trazia consigo o Sr. Morais e a D. Esmeralda, a esposa.
«Seja bem-vindo sr. Casal, vai-se dar bem por aqui! …, pelo menos assim o espero!», dizia-me o patriarca da família Morais, com um sorriso do tamanho do corpo – grande! «Só pode ser boa gente compadre Morais… Até se chama Casal, como a família da minha Maria!...», atalhava o Portela com a mão por cima do meu ombro! Só faltavam as pequenas da família Morais, a São e a Lurdes que estavam na escola e só viriam no fim de semana.
«Compadre, deixe estar as cervejas que eu tenho ali um garrafão de vinho verde já fresco! Era para o jantar, mas sendo assim “vira-se” já!»
E virou! Eu, que raramente bebia vinho, senti-lhe os graus nas pernas, mas disfarcei como pude. A culpa foi do gindungo!
Muitos foram os momentos de convívio, ora na casa do Portela, ora no bar do Topeto, ou outro, com ou sem o Sr. Morais, sempre ocupado com os negócios, que não eram poucos.
Tive o grato prazer de ser convidado para o baptizado do filho do Portela e D. Maria. Apesar da partilha de muitos momentos em família, este gesto sensibilizou-me. Gostei mesmo! O Sacramento do Baptismo foi da responsabilidade do padre Albino, um acto que, passados alguns anos, viria a declarar por minha honra, ter acontecido. É que, com a independência, a ausência de documentos impedia a celebração de outros Sacramentos!
A foto, entre as muitas tiradas já no fim do repasto, iria servir de pretexto para um sem número de piadas caseiras que nos animariam a festa. E que festa! E não faltou o jogo de cartas, para que nunca tive muito jeito mas que os chefes das duas famílias jogavam com destreza.
Posto isto, é fácil perceber que, para mim, o Quitexe não se limitou a serviços no posto de rádio, escoltas, operações ou momentos de saudade e de nostalgia. A outra vertente, esta de que hoje falo, além de outras, foi muito importante para a contagem dos dias que se queriam rápidos. Já por mais de uma vez aqui disse que, comparado com outros, tive (tivemos) a sorte de o Quitexe nos calhar em sorte. E também a sorte de ter grandes amigos, como foi meu caso! Dentro e fora do seio militar! Que não esqueço!
ANTÓNIO C. FONSECA

1 comentário:

Anónimo disse...

O Morais do Quitexe!!!!!!!!
Grande amigo do meu pai!!!!! e pai das minhas boas amigas!!!!!
Alice Pinto