BATALHÃO DE CAVALARIA 8423. Os Cavaleiros do Norte!!! Um espaço para informalmente falar de pessoas e estórias de um tempo em que se fez história. Aqui contando, de forma avulsa, algumas histórias de grupo de militares que foi a Angola fazer Abril e semear solidariedade e companheirismo! A partir do Quitexe, por Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange e Songo! E outras terras do Uíge angolano, pátria de que todos ficámos apaixonados!
sexta-feira, 30 de abril de 2010
A atribulada viagem aérea de Luanda para Carmona
Ficámos (eu e o Cruz) num hotel da rua de acesso ao aeroporto, umas centenas de metros acima do Largo da Maianga, seria umas 10,30 da noite. Sem comer!!! A ideia era irmos jantar a Carmona, assim lá chegasse o avião à hora prevista - ao fim da tarde. Mas assim não foi. Com o estômago a dar horas e recolher obrigatório na cidade, saímos mesmo assim à procura de comida. Conhecíamos por ali perto uma esplanada, no largo da Maianga, e para lá nos dirigíamos quando ouvimos mais rajadas a silvar na noite. Entrámos apressados num bar que não conhecíamos, cheio de gente, e por lá acabámos a comer, não sei já o quê! O medo era geral e nós também não eramos heróis. Passavam, rápidas e fortemente armadas, viaturas militares portuguesas, num frenesim enorme! E ficámos a saber que rajadas tinham silvado na cobertura da esplanada da Maianga!
Já só por perto da meia noite, arranjámos «vaga» e coragem para sair. Estávamos a uns 200 metros do hotel e aconselhava a prudência que os fizessemos «tranquilamente», sem pressas, para não suscitar suspeitas. Lá saímos... Colado a nós, seguia um homem, já grisallho e na casa dos 50 anos..., sempre chegado na nossa «sombra», sem trocar uma palavra mas cumpliciando-se com a nossa aventura que desafiava o recolher obrigatório. Como que fazendo-nos «guarda-costas». Chegámos a desconfiar dele!
Já no hotel, vim a saber quem era: Custódio Pereira Gomes, advogado em Carmona. «Espere lá, você é o viúvo da D. Augusta, pai do Alvarinho?».
Era! Viajámos para Carmona na manhã seguinte, faz hoje 35 anos. Chegados ao aeroporto, combinámos encontrar-nos no Escape, uns dias depois.- CUSTÓDIO P. GOMES. Advogado em Carmona, já falecido e ao tempo viúvo de Maria Augusta Tavares - filha de Laura e Manuel Tavares, que foram daqui, de Ois da Ribeira, minha terra natal e de residência. Os sogros tinham sido patrões de minha irmã Maria Dulce. Tem família a residir em Coimbra.
quinta-feira, 29 de abril de 2010
Tiros na caserna de Santa Margarida no dia 25 de Abril de 1974
O que me lembro do dia 25 de Abril, em Santa Margarida, foi que era a manhã de uma quinta-feira e que o nosso saudoso alferes Garcia entrou de repente, e com muito alvoroço, na caserna da CCS e de G3 na cinta, abriu o portão da direita e, ali mesmo, disparou um ou dois tiros para o ar.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
O 25 de Abril de 1975 e o whisky Sbell
terça-feira, 27 de abril de 2010
O dia 25 de Abril vivido no Quitexe
segunda-feira, 26 de abril de 2010
A oitava do 25 de Abril de 1974
domingo, 25 de abril de 2010
O dia 25 de Abril de 1974 no Batalhão de Cavalaria 8423
Estranhei, para dizer a verdade, o facto de só ouvir música militar, mas por lá fui dando ao pincel e à lâmina, para escanhoar os pêlos do dia. O ruído da água da torneira imperceptibilizou-me a audição: «Aqui, Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas (...) Conforme tem sido difundido, as Forças Armadas desencadearam na madrugada de hoje uma série de acções com vista à libertação do País do regime que há longo tempo o domina (...)
Eh, pá!!! O que é isto?!
Acabei o escanhoamento e fui a correr «avisar» a malta, que ainda dormia. Choquei com um companheiro no corredor e contei-lhe. Assobiou.... quiçá lembrando-se do 16 de Março. Mas rapidamente toda a gente estava de pé e alarmada. E curiosa! O pequeno almoço foi apressado e não nos deixaram sair para o Destacamento. Até que quisemos saber o que se passava, para além do que se ouvia no Rádio Clube Português.
Era a manhã do 25 de Abril!
Por volta das 11,30 horas, já no Destacamento, o comandante falou às tropas. Acalmou, mas pouco explicou! As melhores (mas muito poucas) imagens que nos chegavam eram as da televisão, a preto e branco! A serenidade expectante foi raínha no dia 25 de Abril de 1974, entre os homens do Batalhão de Cavalaria 8423. Faz hoje 36 anos!
- RC4. Regimento de Cavalaria 4, em Santa Magarida. Unidade de Carros de Combate e mobilizadora do BCAV. 8423.
sábado, 24 de abril de 2010
Incidentes no Negage e patrulhamentos mistos urbanos
«Não se podia deixar a cidade de Carmona inactiva», frisa o Livro da Unidade, de que me socorro.
A 20 de Abril, incidentes no Negage - cidade próxima, onde se situava a base aérea (foto), por isso localidade estratégica... - levaram à realização de uma reunião de emergência, com a FNLA, de modo a «obter-se uma mentalização do que deverá ser a missão das NT e dos Exércitos de Libertação, neste período que decorre até à independência».
A ideia, generalizada, todavia, era a de que se vivia uma situação da calma fictícia - ainda que, valha a verdade, «permita manter-se um dia-a-dia mais ou menos estável, quebrado por um ou outro incidentes...».
Por estes dias, ao sul, jornadeava eu e o Cruz, em férias (foto de baixo) - neste caso convivendo com familiares dele, que nos receberam principescamente em Benguela. A foto é da véspera da nossa saída de Nova Lisboa, no regresso de um passeio pela zona. Nas nossas costas, está a cidade - a uns 8/10 quilómetros.
- ZMN. Zona Militar Norte.
- NT. Nossas Tropas.
- FNLA. Frente Nacional de Libertação de Angola (a antiga UPA, de Holdem Roberto).
sexta-feira, 23 de abril de 2010
O regresso dos Cavaleiros do Norte a Santa Margarida
Dia 22 de Abril de 1974, 2ª. feira. A formatura das 8 horas da manhã já incluiu a maior parte dos jovens que, mobilizados desde o princípio do ano (a maior parte) e outros já desde 1973 (Dezembro), integravam o Batalhão de Cavalaria 8423. Já se sabia o lema: «Perguntai ao Inimigo Que Somos». E já se tinham gozado os dez dias da licença de normas - a período que antecipava a partida para os teatros de guerra.
O BCAV. 8423, porém, por causa da Revolta das Caldas, teve dez dias que se fizeram por mais de um mês e foi nos quartos que os 1ºs. cabos milicianos que «dormiram» alguns dos oficiais de intentona. Assim nos disseram.
Fomos chamados (eu e o Neto), na tarde de 19 de Abril e por uma via inusual: através da então Escola Central de Sargentos, que por Águeda preparava futuros oficiais. E lá fomos nós, a 20 de Abril - um sábado, despedindo-me eu de minha mãe, que mercava na praça de Águeda, tendo o cuidado de ir vestido à civil, para não suscitar constrangimentos entre o povo. O SIMCA 1100 do Neto voou até Santa Margarida.
O tema das conversas, todas mais ou menos camufladas, tinha, evidentemente, a ver com o golpe das Caldas (a 16 de Março), que nós não entendíamos muito bem. Chegámos já depois do almoço, feito em Abrantes - o Neto era sempre adepto de chegar o mais tarde possível, ao meu contrário, que era amante de chegar sempre cedo - e lá ficámos a saber, já em Santa Margarida, que éramos os primeiros milicianos e que, entrando de serviço na manhã de domingo, iríamos passar a noite de domingo para segunda-feira a receber o pessoal que chegaria. Assim foi! E a satisfazer a maior curiosidade de todos: a partida da CCS para Angola seria a 27 de Maio. E iríamos fazer o IAO a partir de 3 de Maio!
- IAO: Instrução Altamente Operacional, período de preparação real.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
O meu primeiro dia de tropa...
Há 37 anos, hoje se completam, era véspera de eu assentar praça. Não me lembro muito bem, mas certamente foi um dia a imaginar muitos cenários e a gerir expectativas. Prevenindo-me para factos e emoções.
Era Abril de 1973 e ia no oitavo mês de luto pela morte de meu pai, já trabalhava e essa minha partida gerava alguns constrangimentos familiares, pessoais e afectivos.
Mas não havia como escapar e eu não também quis, teimosamente, beneficiar de qualquer apoio que, em qualquer grau, m´evitasse ir à tropa. E à guerra!!! Gente próxima, bem se disponibilizou para isso. Mas teimoso e orgulhoso, aí me pus eu, faz hoje 37 anos, em traje de ir para a guerra.
Nunca me arrependi, nem nos duros tempos de Lamego (nas Operações Especiais que me fizeram Ranger), muito menos na recruta da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém. Ou sequer nos tempos de Santa Margarida - onde se fez a família dos Cavaleiros do Norte.
No bornal e fresquinhas como alface saída da horta, levava recomendações de família e amigos e a memória a rebobinar conversas de meu pai - que me falava de coisas de quando ele, nos anos 40, se fizera magala, chegando a 1º. cabo enfermeiro: "Cumpre sempre as ordens, discute-as só quando tiveres certezas e depois de as cumprires!». Assim julgo ter feito.
Hoje, 37 anos depois, se me perguntarem, direi que valeu à pena ir à tropa. Que gostei. Que, entre virtudes e defeitos, boas e más memórias, dramas e glórias, me fiz melhor. Melhor, com a solidariedade dos muitos companheiros que, de 23 de Abril de 1973 a 8 de Setembro de 1975, foram gente do meu dia-a-dia, dividindo-se e/ou multiplicando-se comigo.
Não tivesse ido e ainda hoje me sentiria um cidadão menor! Ainda hoje, melhores dos meus amigos, são amigos da tropa. De Portugal e de Angola!
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Oa rádios-montadores que faziam de tudo e mais alguma coisa...
terça-feira, 20 de abril de 2010
O atirador de cavalaria Almeida que se fez padeiro...
E como era bom o casqueiro amassado e cozido pelo padeiro Almeida, no forno da CCS!
segunda-feira, 19 de abril de 2010
A mensagem que foi forjada para a coluna terrestre passar para Luanda
A dada altura, estava eu a comandar o Batalhão, pois o tenente-coronel Almeida e Brito tinha entrado de férias, começámos a entregar algumas infraestruturas aos três movimentos : MPLA, FNLA e UNITA.
Para tirarmos a salvo esses refugiados, organizamos um transporte aéreo e uma coluna com destino a Luanda. No transporte aéreo, seguiram os mais "perigosos", assim como alguns civis - nomeadamente mulheres e crianças. Do aeroporto, tinham-me dito que no avião só cabiam 100 pessoas incluindo nesses 100, algumas crianças. Só que, na hora de embarcar as pessoas nas viaturas de transporte para o aeroporto, foi completamente impossível controlar quem ia e quem ficava. Uns diziam que só queriam ir despedir-se dos seus familiares e outros, de facto, queriam era fugir. Assim embarcaram no avião mais de 150.
A coluna terrestre "encalhou" no Negage, porque a FNLA não nos queria deixar passar. Dizia que aquela gente ia para Luanda e que, depois de se armar, regressaria a Carmona para se vingar da derrota sofrida. Depois de termos informado o Comando de Sector da situação e para que não houvesse mais derramamento de sangue, este forjou uma mensagem assinada por Ngola Kabango, que era Ministro em Luanda e era dos quadros da FNLA , que autorizava a nossa passagem. E assim a coluna lá seguiu o seu destino sem mais quaisquer problemas. Que será feito dessa gente? Uns terão ficado sempre por Luanda, outros talvez tenham regressado mais tarde.
Pequenas histórias passadas há 35 anos.
Um abraço para todos
JOSÉ DIOGO THEMUDO
domingo, 18 de abril de 2010
Palestras orentadoras para as primeira eleições depois de Abril
sábado, 17 de abril de 2010
Férias em Nova Lisboa e as primeiras eleições em Portugal
sexta-feira, 16 de abril de 2010
O homem das transmissões aos berros no meio da emboscada...
quinta-feira, 15 de abril de 2010
A chegada do capitão José Diogo Themudo a Carmona
O BCAV. 8423 esteve sem 2º. Comandante até Março de 1975, quando chegou a Carmona o capitão José Diogo da Mota e Silva Themudo. Substituiu o major José Luís J. Ornelas Monteiro - que se apresentara em Santa Margarida, a 4 de Fevereiro de 1974, que nós mal conhecemos e que, nas vésperas do embarque da CCS para Luanda (a 29 de Maio), foi requisitado pelo MFA «por motivos imperiosos de serviço» e por cá ficou.
Reencontrámos, agora, o capitão José Diogo Themudo, já coronel e aposentado, que nos conta como foi parar a Carmona. Na primeira pessoa:
«Em Janeiro de 1975, fui mobilizado pela segunda vez para Angola. O meu destino era Silva Porto, para substituir um capitão que ia regressar à metrópole. Mas, quando cheguei a Luanda, fui informado que todas as tropas de Silva Porto já tinham regressado e que, portanto, já não ia substituir ninguém. Pedi, então, para regressar à metrópole, o que me foi negado, pois tinha sido o último oficial a chegar a Angola e podia fazer falta».
Continua o coronel Themudo, a contar a sua história angolana: «Instalei-me na messe de oficiais e de quando em vez passava pelo Quartel General, para saber se havia notícias. Estive na praia durante um mês. Por um feliz ou infeliz acaso, certo dia fui ao aeroporto despedir-me de um camarada de armas e encontrei também por lá o então Tenente-Coronel Almeida e Brito, que me convidou para 2º. Comandante do Batalhão».
O capitão José Diogo Themudo, que então se sentia «farto de nada fazer» em Luanda, resolveu aceitar o convite, «apesar das funções serem de major e eu ainda ser capitão». E, no dia seguinte, lá foi com Almeida e Brito ao QG/RMA e resolveram a situação.
Sem demora, estava em Carmona no Batalhão de Cavalaria 8423. Deixavam os Cavaleiros do Norte de estar órfãos do 2º. Comandante.
- QG/RMA. Quartel General da Região Militar de Angola.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Comunas do Qutexe com ajuda alimentar
A alegria estampada no rosto de Luís Alexandre Joaquim, um menino de sete anos, era contagiante. Recebeu, domingo último, da Associação de Jovens Angolanos Provenientes da República da Zâmbia (AJAPRZ), material didáctico e uma pasta escolar. Quem também saltou de alegria foi a pequena Mingota, que também recebeu material didáctico e uma pasta escolar.
“Estamos muito alegres. Agora já não vamos mais levar os cadernos nas mãos”, disse Juliana André, aluna da escola primária da comuna de Cambamba, a cerca de 88 quilómetros do Quitexe.
Conflitos entre o MPLA e a FNLA na cidade de Carmona
Os dias de Abril de 1975, em Carmona, foram assombrados por repetidos incidentes entre militantes dos movimentos emancipalistas - a que a tropa portuguesa ia dando «resposta», procurando conciliar forças. Mas o destempero de alguns dos (ex)combatentes exorbitava-se muitas vezes e começou a não ser invulgar ter de intervir em «força».
Luanda multiplicava-se em incidentes inter-movimentos e Carmona sentia-se minimamente segura, mas a guarnição via, aos poucos, confirmarem-se as sábias e experientes palavras de «aviso» do comandante Almeida e Brito: «Os problemas vão cá chegar...».
À boca pequena, e normalmente nas noites de serviço, sussurravam-se «coisas» entre a tropa miliciana graduada, furriéis e alferes - estes, por ouvirem nas messes o que a parada desconhecia. Os patrulhamentos mistos, normalmente sem problemas, começaram a ser pasto de pequenas escaramuças e os Cavaleiros do Norte muitas vezes eram maltratados e ofendidos nas ruas da cidade, por europeus que nos apontavam dedos em riste e acusavam de traidores. Repetiam-se pequenos tumultos, cada vez mais graves e entre os movimentos!
Reporto o Livro da Unidade, sobre a intervenção das Forças Armadas Portuguesas: «Houve que fazer intervenção a conflitos diversos, o mais grave deles a 13 de Abril, na própria cidade, aquando uma acção de fogo entre o MPLA e a FNLA, através de elementos das duas forças militares». Fez ontem, 35 anos!
E de tal monta se foram repetindo os incidentes que a guarnição foi de imediato reforçada, para «obstar tais inconvenientes e para cumprir uma intensa actividade de patrulhamentos mistos». A 14 de Abril (faz hoje 35 anos), chegou um grupo de combate do BCAÇ. 5015 e, na noite de 15 para 16, um outro - este da 3ª. CCAV., ao tempo ainda no Quitexe.
A sul, eu e o Cruz vagabundeávamos por Nova Lisboa e cidades limítrofes, em gozo de férias que ainda hoje nos deixam adoçar a boca. Sempre atentos à Emissora Oficial de Angola, para saber notícias do país que estava a nascer em berço de alguns tumultos.
- BCAÇ. 5015. Batalhão de Caçadores 5015, cumpriu comissão em Angola entre 1974 e 1975, com instalações na Damba (CCS), Chimacongo (1ª. CCAÇ.), Mucaba (2ª. CCAÇ.) e Quivuenga (3ª. CCAÇ.). Desconheço a que companhia pertencia o grupo de combate.
terça-feira, 13 de abril de 2010
Agência do Banco BIC na cidade de Uíge (antiga Carmona)
O presidente do Banco BIC, Fernando Teles, garantiu que, com a abertura do novo balcão, há a possibilidade do empresariado local obter crédito.
"O nosso objectivo é continuar apoiar os pequenos agricultores e outros ligados à pecuária, assim como os empresários e funcionários da província do Uíge", disse, pedindo, para o efeito, melhor colaboração entre empresários e o banco.
Os meus dias de Nova Lisboa !!!...
Por lá, em Nova Lisboa, moravam os irmãos Miranda, meus companheiros de escola primária - o Óscar (que a vida levou a combatente da UNITA e, depois, apanhado da justiça em Portugal) e o Nélson (que por cá também conheceu uns lados menos bons). Filhos de Zulmira e Óscar.
E o Orlando Rino, com bar no bairro de Santo António, junto ao campo militar - onde petisquei fartas panquecas, molhadas a jarros de vinho branco. Com ele, fui ao Lobito, numa epopaica viagem de automóvel que teve um stop "militar" de combatentes de um movimento, uns quilómetros adiante do Alto Hama, serra abaixo no caminho de serrania para a beira-mar. Ainda hoje estou para saber onde levava ela a arma com que enfrentou a "turba" que nos assaltava.
Com ele moravam a mulher Paula, já com dois dos três filhos; e os sogros Figueiredo e Leontina. Foi uma festa, na casa do bairro de Santo António!!! Leontina lembrava-se do que eu tinha esquecido: uma irmã dela, na nossa aldeia ribeirense, tinha dado uma queda com um carrego de erva à cabeça, partira uma perna e fôra eu, pelos meus 12/13 anos, quem a ajudara nessa aziaga tarde de inverno. E lá ia mais um copo de branco, a cada lembrança que se avivava.
O Cruz, bem mais contraído que eu, deliciava-se no viver destas parlengas adocidadas pelo sabor do chão da terra ois-da-ribeirense. E lá ia mais um copo de branco!
E as minhas férias militares, em Abril de 1975!!
segunda-feira, 12 de abril de 2010
As transmissões e a operação na mata da Serra do Quibinda
As transmissões eram essenciais, fossem lá elas falhar quando fosse necessária uma evacuação, um socorro, uma comunicação urgente. As saídas para operações, os patrulhamentos, ou para as mais vulgares escoltas, não dispensavam o homem da rádio.
A minha primeira operação na mata angolana, pela serra de Quimbinda adentro, foi de três dias - com dois grupos de GE´s. E bem sei e lembro as aflições de deixar de ter o Racal TR28 a comunicar com o Quitexe, a partir da manhã do segundo de três dias. E o medo, o constrangimento, a boca que se fazia roxa de morder os lábios enquanto se palmilhavam os trilhos da mata, carregando a mochila, de arma aperrada e olhos bem abertos, a querer ver o que não... queria. Entre a vida e o temor do sangue e da morte.
Ao terceiro dia, numa clareira já perto da fazenda Vamba, lá esticámos as antenas, tentando comunicar com o Quitexe. Qual quê?!!! Quando finalmente a comunicação foi conseguida, não havia acerto de senhas - não sei já porque coisa! Falei em linguagem claro, sem códigos, aflito! «Sou fulano, pá!...».
Não me percebia o operador, ou não reconheceu! Foi um drama! Havia legítima dúvida de identidade, há para aí 30 horas que não havia contactos, sabe-se lá o que teria acontecido, se não estaria prisioneiro!
Finalmente, lá nos entendemos. E fomos transportados pelo Pelotão de Morteiros, comandado pelo Alferes Leite, açoreano - que não me deu palavra até que chegámos ao aquartelamento. Eu e uns 40 e tantos GE´s. O Racal TR28 lá voara os éteres dos céus de Angola, com a mensagem que nos «evacuou». Estão a ver a importância das trasmissões. Aqui lhes presto a minha continência.
domingo, 11 de abril de 2010
Os dias de Nova Lisboa e as preocupantes notícias de Carmona...
sábado, 10 de abril de 2010
António Carlos Fernandes de Medeiros
Foi lembrado no Encontro dos Cavaleiros do Norte, de 12 de Setembro de 2009, e o seu passamento faz-nos lembrar quanto de passageira é a nossa vida terrena, que quantas vezes nem saboreamos e valorizamos bem. Dele lembro, o ar sempre sereno, sempre sério e afável, sempre me parecendo cúmplice (por responsável) com a nobreza da missão que desempenhava.
A família, se nos lê, que receba o abraço solidário dos Cavaleiros do Norte - neste comentário de saudade que editamos constrangidos, por ser portador da dor e do luto da morte. Até, Medeiros! Até à ressureição!
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Residências no Quitexe para antigos combatentes
A ministra da Família e Promoção da Mulher, Genoveva da Conceição Lino (foto), procedeu ontem (8 de Abril) no Quitexe, ao lançamento da primeira pedra para a construção de residências destinadas a antigos combatentes, veteranos de guerra e viúvas.
Aa acção enquadra-se no "Projecto Kussanguluka", em parceria com o Consórcio Comandante Loy, que prevê a construção de 3800 casas na província do Uíge e para este grupo alvo.
Dados de Angola Press,
O blogue tem um ano, vejam lá!!!...
A 9 de Abril de 2009, Quinta-Feira Santa, cheguei a casa depois de mais um dia de trabalho e seroei a ver imagens fotográficas da tropa. Senti um mar de emoções e saudades!!! Comentei algumas peripécias que a memória m´ajudou e disse-me a senhora minha mulher, a provocar-me: «Olha, faz um blogue!!!...».
Ajudou-me ela na empreitada, por ser eu leigo absoluto na matéria blogueira, e gostei do que vi! E, de contente por não me doer um dente, fiz passar a mensagem a meia dúzia de companheiros da tropa, daqueles que ficam para toda a vida.
Hoje, passado um ano, com postagens diárias, mais de 81 000 visitas e um encontro de Cavaleiros do Norte pelo meio e outro já na soleira da porta, ainda por aqui andamos a contar histórias do que foi a nossa passagem pela Angola que todos aprendemos a amar.
Não vou pôr foguetes, não vou... Mas vou beber uma taça!!! Aos garbosos Cavaleiros do Norte!!! E a todos quantos comigo assinam esta «crónica» diária.
Quem quiser ir ver o primeiro post, pode ir aqui: http://cavaleirosdonorte.blogspot.com/2009/04/o-furroel-milicano-em-angola.html
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Governador do Uíge elogia modernização das Forças Armadas
Paulo Pombolo fez este elogio durante a abertura da 16ª. reunião do Conselho Superior do Exército, no Quartel General da Região Militar Norte, sob orientação do Chefe do Estado Maior do Exército, general Jorge de Barros Nguto.
Dias de Luanda e vésperas de voar para Nova Lisboa...
Os dias de Luanda eram vividos com grande enstusiasmo, até sofreguidão!!! O facto de podermos dispôr de uma viatura, facilitava a nossa mobilidade e era um «ver-se-te-avias» de galgar a cidade e a ilha, pulando para a restinga, pisar a areia quente da praia e... saltar à ilha do Mussúlo, olhando a cidade que como que se fazia despedir do nosso deslumbramento - num «até já» que nos escaldava as emoções e apetites.
A semana pós-páscoa de 1975 - a 30 de Março!!... - foi passada num corre-corre intenso, nem um dia sem encontrar um vizinho de Portugal ou um amigo, deixando para as noites quentes de Luanda o saciar das nossas fomes da idade. Um dia, ao cimo da avenida Álvaro Ferreira, perto do Palácio do Governo, dei de caras com o Carlos Sucena, aqui de Águeda e que por lá cumpria a sua comissão de serviço. Éramos amigos de escola e matámos saudades à volta de cerveja fersquinha, servida em copos de bazuca.
Carmona, a 340 quilómetros, ressacava dos incidentes de Luanda e outras cidades, acautelando-se em patrulhamentos cada vez mais regulares e intensos -na sua malha urbana. Disse tive eco por companheiros que, de passagem pela capital, rumavam em Lisboa, para férias.
A CCS do BCAV. 8423 recebeu o alferes miliciano João Carlos Lima Cabral, para substituir José Leonel Pinto de Aragão Hermida (ver AQUI). A 2ª. CCAV. passou a ter novo enfermeiro - o 2º. sargento miliciano Manuel Alcides da Costa Eira, que esteve no Encontro da CCS, a 12 de Setembro de 2009.
Em Luanda, faziam-se vésperas para o nosso voo aéreo para Nova Lisboa. Em férias com o Cruz!
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Palavras para quê? Aí está o convite para o encontro de 2010!!!...
O correio trouxe-me hoje a «novidade» que eu já sabia: a 29 de Maio a cavalaria do Quitexe e de Carmona (e Luanda) vai juntar-se em Ferreira do Zêzere, precisamente no dia em que, em 1974, partimos para Angola. Há 36 anos!!! O calendário não podia, realmente, ser mais justo para esta gente amiga que por Angola fez companheirismo multiplicado por todos estes anos: no mesmo dia do mês em que partimos, lá estaremos nós a confraternizar, a partilhar camaradagens, a dividir afectos e a somar paixões!
Dito isto desta maneira, até parece que é bonito. E é!!!... Só quem vive estes momentos os pode entender. Que não falte a malta!!!
O desafio é, então, que cada Cavaleiro do Norte - da CCS!!! - chame mais um amigo, para que sejamos mais que em 2009!
Os contactos de organização são com o (ex-alferes) Ribeiro, pelos telefones 912670944, 241897377 e email jaimeroribeiro@gmail.com. E com o Aurélio (o Barbeiro), pelos 917299792 e 249391337, e o Vicente Alves (condutor), pelos 968555090 e 274898456.
terça-feira, 6 de abril de 2010
Incidentes...
A verdade, porém, é que, principalmente entre eles, vivia-se um clima de «desconfiança». Afinal, eram três movimentos que tinham combatido o exército português, mas antipatizavam-se em notórias diferenças. Os incidentes de Luanda e Salazar apressaram alguns outros na província do Uíge - onde o BCAV. 8423 era praticamente a única força militar portuguesa. E a FNLA a força emancipalista mais dominante, muito protestada pelo MPLA. Com homens em armas.
Hoje, 36 anos depois, é provavelmente mais visível, para nós, o fosso que se então se cavava entre os movimentos, alimentado em constantes incidentes - principalmente entre o MPLA e a FNLA.
O Livro da Unidade refere que «os incidentes de Luanda vieram em ressaca até Carmona, dando origem a que houvesse que fazer intervenção a conflitos diversos».
Recordo, de Luanda e dos primeiros dias de Fevereiro de 1975, incidentes que levaram à morte de um capitão e de um alferes miliciano portugueses, perto do mercado do Bairro de S. Paulo. O capitão miliciano era andebolista do Sporting (de Lisboa) e ambos foram abatidos quando tentavam uma conciliação. Rapidamente a notícia se espalhou e as FAP quiseram retaliar, mas foram impedidas pelos comandos militares.
Eu estava em Luanda nesse dia, tinha passado no local (à civil) pouco tempo antes e fui interpelado por homens armados e aparentemente drogados, que me saíram na frente, sob um edifício que passava por cima da rua. Queriam deter-me, ia eu para o bairro da Cuca, visitar a Benedita e o Mário. Conhecia bem o local, onde praticamente ia sempre quando estava em Luanda - não só para visitar Benedita e Mário, como o (PSP) José Martinho e, nos primeiros meses, também o conterrâneo Custódio, soldado sapador. E, inevitavelmente, ir ao bacalhau do Vilela.
Lá me safei... mas na altura sempre a supor que levaria um tiro pelas costas, enquanto galgava a estrada no Toyota do Albano Resende. Ainda agora, ao lembrar-me deste momento, sinto um arrepio pelas costas acima.