frente. Monteiro, Pires (Montijo), Machado e Dias, de costas.
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O Fonseca era amanuense, especialidade que o tornava singular e «invejado» entre os furriéis do Quitexe. Mexia com papéis, orientava o SPM, trabalhava na secretaria do comando do batalhão, era um filósofo e tinha ideias sociais que ultrapassavam as nossas fronteiras de conhecimento.
O Fonseca era gente fixe, um introvertido/extrovertido que se empolgava com uma boa discussão política, mas a quem faltava sempre o «golpe de asa» para nos convencer: chegava à área, rematava, mas falhava o golo. Era a fragilidade que sempre lhe explorávamos, sem constrangimentos e quando se tratava de puxar a brasa para a nossa razão. Quantas e quão acaloradas discussões se levedaram no bar e messe de sargentos, despertadas pelo Fonseca, na sua indomada vontade de nos catequizar, provocando-o e violentando-o nós, aumentando as volumetrias do seu nervoso miudinho.
Um dia, disse-nos que quando viesse de férias, não voltaria ao Quitexe! Todos nos rimos! O Fonseca era lá capaz de ter a coragem de se fazer refractário! Como eu recebia muita correspondência, ele brincava muito comigo, com piadas que agora não vêm ao caso. Ironizava, satirizava, picava-me e lá respondia eu à letra, no melhor que eu podia!
Na véspera de vir de férias, e com essa ideia de ele não voltar esquecida por nós (pelo menos por mim), lá se encarregou ele, no bar do Rocha, de me lembrar: «Pago eu esta rodada e não nos voltamos a ver!...». Eu ri-me! E ele também! E a verdade é que ele não voltou!
Falei com ele há uns dez/doze anos e avivámos esse pormenor, ficando ele de me explicar o que acontecera - qual fôra a razão, ou a cunha... que o levara a não voltar ao Quitexe - mas isso não veio a concretizar-se! A cerveja do Rocha ainda hoje é a última.
Agora, com o Fonseca quase esquecido no tempo, mandou-me o Pires (do Montijo) uma foto na qual ele aparece. «Olhó Fonseca!!...». Como não recordá-lo aqui?! A sua figura alta e esguia, o cabelo sempre bem penteadinho que ele empurrava com um jogo de dedos, o bigodinho a tapar-lhe o beiço, o ar filosofal e quase aristocrata, o passo miúdo e apressado com que sempre ia e vinha da secretaria para o bar e a messe!. Ele lá teve as suas razões para se deixar ficar nas labaredas revolucionárias que se viviam por Lisboa!
- FONSECA. José Carlos Pereira da Fonseca, furriel
miliciano amanuense, natural de Lisboa.
3 comentários:
O Fonseca era uma peça do caraças, o que será feito dele? Eu zse não vsse a fotografia e o reconhecesse havia de ficar para o resto da vida sem me lembrar qyem era ele...
Este amigalhaço do Fonseca fez comigo a viagem para o Continente aquando das férias que eu vim cá passar em Janeiro de 1975. Ele também vinha cá passar umas férias.
Recordo-me que quando chegamos a Lisboa os escudos que eu tinha não eram muitos e esse bom amigo emprestou-me 100 ou duzentos escudos, não estou bem certo. A unica certeza é que nunca mais lhe pus a vista em cima e a divida ainda continua por saldar. Se um dia me apareceres não sei qual vai ser o valor com juros de 24 anos que me vais aplicar. Estejas onde estiveres amigo Fonseca, quero que estejas bem.
Monteiro
O monteiro tá a fazer mal as contas, cá para mim deve juros mas é de 34 anos, deve estar cheio de massa com a aplicação desse dinheiro...
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