sábado, 31 de março de 2012

1 240 - os 1ºs. cabos-milicianos que passaram por oficiais...

Entrada do campo militar de Santa Margarida 
(em cima) e (ex-furriel) Viegas com a farda nº. 1 (1974) 



A chamada Licença de Normas foi gozada entre 18 e 28 de Março de 1974, mas, por razões que agora a memória deixa escapar, forma prolongadas até 22 de Abril. Alguns de nós (ao tempo 1º.s cabos milicianos e aspirantes a oficiais milicianos) fizemos serviços neste intervalo e numa dessas viagens, eu com o Neto, à civil e no SIMCA 1100 dele, fomos mandados parar num stop da GNR, entre o Tramagal e a estação de caminho de ferro.
Parou o Chico Neto. Parou e puxou da carteira, na qual se mostrava a fotografia com a farda nº. 1, de casaco cinzento e chapéu de pála, camisa branca e gravata, sem se notarem as divisas. Parecia um oficial.
O praça da GNR pareceu-nos algo atrapalhado e a transpirar e, inopinadamente, bateu o tacão das botas, fez a palada com todos os esses e erres e soltou um  «desculpe, pode seguir».
Se o Neto ficou estupefacto, mais eu fiquei. Ele não era propriamente peco a carregar no pedal e viajávamos em velocidade acima da regra. A multa era inevitável, embora não conviesse. Os GNR´s, de quem se esperava a multa, porém nem sequer chegaram a ver os documentos.
Lá fomos embora, para o RC4 - pois se faziam já horas, e apertadas... -, interrogando-nos sobre a razão de tal comportamento dos GNR´s. Só lá percebemos, quando comentámos o caso e o Garcia nos disse do que seria a graça: «Eles pensaram que vocês eram oficiais!!!...».
E como assim? Pois, era fácil: era a foto com a farda nº. 1. Igual à dos oficiais e que tínhamos de tirar para o bilhete de identidade militar!
Anos depois, já civil, eu mesmo viria a usar o truque: mostrar disfarçadamente a fotografia, na carteira dos documentos, quando as forças policiais mos pediam. Era logo saudado com palada e mandado embora.
- FOTO: A foto com farda nº. 1 era obrigatória e tirada numa das duas casas fotográficas de Santa Margarida. O mesmo casaco, a mesma camisa, a mesma gravata e o mesmo boné eram usados» por milhares de militares. Usavam-se molas a roupa para as apertar, por trás. 

sexta-feira, 30 de março de 2012

1 239 - Cavaleiros do norte em Salazar, Quibaxe e Úcua

Carmona (agora Uíge), Quitexe (Dange), Aldeia Viçosa e Úcua na rota 
dos Cavaleiros do Norte. Emblema do Esquadrão de Cavalaria 401 (em baixo)



Há 37 anos, aprontavam-se uns para gozar férias e outros, no terreno, estabeleciam contactos, a vários níveis, com os movimentos emacipalistas. Por Carmona, eram diários e «concretizados em reuniões de Estados Maiores conjuntos, à 4ª.-feira».
O Livro da Unidade, referindo-se a este período, dá conta que «tem-se verificado uma boa aceitação das medidas militares tomadas», o que, conclui, «tem sido a origem do clima de paz que se vive no distrito». A redacção é do comandante Almeida e Brito, ao tempo o responsável pela Zona Militar Norte (ZMN), que cita este grupo de trabalho como «um exemplo para terceiros», pelo que «a mesma está a ser itinerante».
«Dentro deste contexto, houve contactos a vários níveis, com os Movimentos das áreas de Salazar, Quibaxe e Úcua». Este último caracterizou-se mesmo por «um patrulhamento conjunto das forças do Esquadrão de Cavalaria 401 e a 2ª. CCAV. 8423», realizado a 31 de Março de 1975.

quinta-feira, 29 de março de 2012

1 238 - Ora lá adeus, que vamos de férias e luandar...

Cruz e Viegas na avenida do Quitexe. Atrás, o bar dos praças (1974)


A 29 de Março de 1975, um sábado, aprontei-me eu de serviço no BC12, fazendo vésperas da ida de férias, para as quais preparei a minha pequena mala preta - na qual ainda hoje guardo a correspondência angolana. 
Ao outro dia, com o Cruz, voaria de Carmona para Luanda (que luxo!!!) e por lá estaríamos (e estivemos) alguns dias, antes de viajar para o sul, até Nova Lisboa (agora Huambo), Benguela e Lobito (como destinos principais).
Férias, que bom!!!
A Carmona desse tempo fervia de pequenos e repetidos incidentes (nada que a tropa não controlasse, mas sempre criando alguns  constrangimentos) e murmúrios, engravidada de pequenos e dispensáveis boatos, e o aroma de férias animava-nos. 
Luanda era uma cidade onde tinha criado e multiplicado alguns afectos e muito desejada pelo seu bulício social - bulício e animação nem sequer bulidas pelas repetidas (e algumas vezes violentas) escaramuças entre movimentos emancipalistas.
O pouso iria ser (e foi) o Katekero, no largo Serpa Pinto, bem pertinho da baixa e onde já tinha «ficha». Para lá tinha ligado, pelo telefone dos CTT de Carmona. 
O Cruz aprontava-se, também! Os dias próximos da cosmopolita Luanda iam ser nossos. E as noites!! E as gentes que por lá eram colo das nossas melhores amizades. Não nos iria faltar apetite para luandar. E assim seria!

quarta-feira, 28 de março de 2012

1 237 - A última ida da Vista Alegre, Ponte do Dange e Quitexe



Ponte do Dange, vista do aquartelamento da 3ª. CCAV. 8423 (1975)

A 28 de Março de 1975, uma quinta-feira (hoje se fazem 37 anos), foi o PELREC de viagem a Vista Alegre e Ponte do Dange, por onde se guarnecia a 1ª. CCAV. (a do capitão Castro Dias), escoltando o comandante Almeida e Brito e o 2º. comandante, que finalmente tínhamos: o capitão José Diogo Themudo. Que era apresentado às tropas e às tropas se apresentava.
A véspera, fôra dia de ida ao Quitexe, onde estava a 3ª. CCAV. (a do capitão José Manuel Fernandes), pela mesma razão e por lá passámos de novo, sem sequer parar. Julgo que tenha sido esta a última vez que senti os cheiros da vila-mártir de 1961 e nossa casa de 9 meses - de 6 de Junho de 1974 a 2 de Março de 1975.
O capitão Themudo chegara dias antes a Carmona, convidado por Almeida e Brito, para assumir essas funções, de que o BCAV. 8423 estava «órfão» desde o embarque. Logo ficou comandante interno, desde 24 de Março - porque Almeida e Brito, também interinamente, passou a comandar a Zona Militar Norte (ZMN). 
Ambas as guarnições (principalmente a malta da 1ª. CCAV.) pediam notícias sobre a evolução próxima do batalhão. Quando vamos?, para Carmona, para Luanda, para Lisboa, era a questão essencial daquele tempo - sem que nós pudéssemos responder
Expectava-se muito, por esse tempo - e especulava-se... - sobre a iminente rotação para Luanda, onde o BCAV. 8423 era desejado pela RMA, já desde Fevereiro. E só a 26 deste mês, recordemos, foi decidida a nossa ida para o BC12, em Carmona. Nada se sabia, porém, por estes dias,  e só em Agosto o batalhão, inteiro, rodou para a capital. Até lá, muita coisa iria acontecer na ZMN.
Ver AQUI, a chegada do capitão 
Themudo, na primeira pessoa.

terça-feira, 27 de março de 2012

1 236 - O fado, as balas, os morteiros e os porcos...

Rodoflo Tomaz, 1º. cabo rádio-montador da CCS do 
BCAV. 8423, aqui como «gestor» da mini-vara do BC12(1975)

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RODOLFO TOMAZ
Texto


Estávamos em Carmona, era o ano de 1975, e os tempos eram difíceis, principalmente durante o mês de Junho.
A guerra entre FNLA e MPLA começou no dia 1 e, azar o meu, estava de cabo de dia e tinha pela frente um dia complicado, com delicada missão para cumprir: levar de comer ao antigo posto da PIDE, na cidade de Carmona. Faço o destaque porque, como se devem lembrar, o BC12 era num alto, já fora da cidade, na saída para o Songo. 
Os morteiros começaram a ouvir-se cerca das 5,30 da manhã. Eu e outros companheiros, ao ouvi-los, confundimo-los com o som de pancadas e pensava eu ser resultado da borga da noite que se expirava, com o Domingos estofador a cantar o fado (e muito bem), ao estilo de Fernando Farinha, não se esquecendo do pormenor de cantar com as mãos nos bolsos.
Eu e outros, cheios de sono, gritámos: "Calem-se, deixem-nos dormir, para esta noite já chega!...".
Engano nosso!
Só depois alguém observou clarões que se viam por cima dos portões das casernas, devido a ser ainda noite. Eram os morteiros a rebentar na cidade, com os reflexos a chegaram ao BC12. Por volta do meio dia, chegou a hora do aperto, para 12 a 15 homens em cima de uma Berliet, com os tachos e panelas debaixo dos bancos.
Eu não era operacional mas também dei o meu contributo. As ordens foram dadas, bala na câmara e prego a fundo na recta, onde o fogo era cruzado. Mesmo assim, ouviram-se algumas balas a assobiarem, felizmente sem consequências. Mais difÍcil foi o regresso, pela recta que deveria ter mais de um quilómetro, creio eu - de Carmona para o BC12 -  e se nos acontecesse algo seria difícil, mas muito difícil mesmo, termos ajuda dos nossos companheiros. 
Os porquinhos da foto ajudaram-nos a matar a fome, por estes dias! Lembram-se? 
Estas histórias - e muitas mais -  vamos nós certamente recordar no próximo encontro dos Cavaleiros do Norte,  no dia 2 de Junho de 2012. Até lá!
RODOLFO TOMAZ

segunda-feira, 26 de março de 2012

1 235 - Armas portuguesas para os movimentos - 2 (FIM)

Militares da 2ª. CCAV. 8423, reconhecendo-se os furriéis miicianos Martins (a vermelho) e Mourato (amarelo). Alguém pode ajudar a identificar os restantes?

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JOÃO MACHADO
texto

Continuado, de ontem
(...) Aqueles soldados não mereciam chegar a Luanda sem armas, mascarados de soldados. Tinham sido eles que «refilavam mas cumpriam», que «estavam cansados mas iam», que «estavam a dormir mas acordavam» e rram ainda, não nos podemos nunca esquecer, aqueles soldados que, firmes no seu posto, na revolução do 25 de Abril, aceitaram embarcar para Angola, numa comissão de serviço militar, cerca de dois meses depois daquela data, devidamente enquadrados, instruídos e disciplinados, sem nunca ter ouvido da boca deles o slogan que em todo o lado se ouvia “Nem mais um soldado para as Colonias”.
Mais existirá para contar, por nós e por outros que também sentiram na pele a Guerra de África, não só quando começou mas também como decorreu e também como acabou, Aqui, fomos todos nós - Cavaleiros do Norte - testemunhas, porque estivemos lá quase até à data da independência.
- Mas... valeu a pena o esforço?
Talvez!
Tudo o que custa a conquistar tem mais valor, a amizade, a união o companheirismo, podem ser o resultado desse esforço em conjunto. Não é por acaso que, depois de tanto tempo decorrido, ainda trocamos palavras e abraços quando nos encontramos e é com alegria e alguma emoção que recordamos muitos daqueles esforçados tempos vividos.
- Valeu a pena o sacrifício?
Tenho a certeza de que tudo o que vivemos e passámos influenciou, talvez até sem darmos por isso, a nossa conduta e maneira de ser perante a vida. O sacrifício ajuda muito a conhecermo-nos a nós próprios, do que somos capaz e até onde podemos ir.
Estou-me a lembrar que aprendi na instrução militar em Penude (no CIOE de Lamego) que quando dizíamos “eu não posso mais” ainda fazíamos pelo menos outro tanto, ou mais, com muito sacrifício, é certo, mas cada vez mais admirados com as capacidades que íamos descobrindo em nós próprios e que não conhecíamos.
- Valeram a pena as dificuldades passadas?
Aqui, tenho muitas dúvidas, que têm vindo a aumentar ao longo dos anos, principalmente quando penso na nossa passagem por Angola. Olhem para trás e tentem recordar-se do que era Luanda quando chegamos, de como ficou quando partimos e do que será hoje (no meu caso, só pelo que me contam). É aqui que só tenho uma resposta para me conformar relativamente a todas às dificuldades passadas: “Felizmente tudo correu bem…”.
Resta saber se por acaso, porque o merecemos ou porque as soluções encontradas foram efectivamente as melhores. Mas regozijo-me, porque o nosso objectivo principal foi alcançado: Fomos todos e viemos todos.
Um grande abraço para todos
JOÃO MACHADO
- MACHADO. João Francisco Pereira Machado, alferes miliciano de Operações Especiais (Ranger´s), da 2ª. CCAV. 8423. Aposentado a administração fiscal e residente em Lisboa.
- CIOE. Centro de Instrução de Operações especiais, aquartelado em Penude (Lamego).

domingo, 25 de março de 2012

1 234 - Armas portuguesas para os movimentos - 1

Alferes Machado nas piscinas de Carmona (em cima) e capitão José DiogoThemudo (em baixo)


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JOÃO MACHADO
Texto

Ainda não tinha lido a mensagem do sr. Coronel de Cavalaria Reformado José Diogo Themudo, 2º. Comandante do Batalhão de Cavalaria 8423 em que servimos, no cumprimento da maior parte do nosso Serviço Militar.
Quando a li, não pude deixar de voltar a ler… e reler, pensando no que está escrito no parágrafo que se refere ao cumprimento da nossa missão em terras de África. 
Diz: «Todos nós nos entregámos da melhor forma que sabíamos e podíamos às nossas missões e tarefas. Ainda hoje penso, muitas vezes, se valeu a pena o esforço, o sacrifício e as dificuldades por que passámos. Terá sido a melhor solução? Teria havido outra solução naquela altura? Não sei. Não podemos voltar atrás…”.
É verdade! Este pensamento não é exclusivo, vem-me muitas vezes à cabeça, principalmente quando recordo os acontecimentos vividos em Carmona. Foram tempos difíceis, em que talvez nem nos tivéssemos apercebido da verdadeira realidade da situação que vivemos.
Agora, sinto termos andado em cima de um gigantesco barril de pólvora, maior do que o paiol de munições do BC12 - que sempre me custou deixar inteiro, mas foi melhor assim. 

Pensando conscientemente no contexto em que vivemos naqueles últimos tempos e na célebre coluna militar de desactivação da Zona Militar Norte - que, infelizmente, só acompanhei até Salazar e grande parte do percurso em ambulância, cheio de dores -, não posso deixar de sentir um arrepiozinho e pensar que... “felizmente tudo correu bem ”. 
Recordo-me de, na madrugada de um desses últimos dias,  estando de serviço de oficial de dia, ter chegado alguém, cuja presença não era usual àquela hora da madrugada no quartel, que, depois dos devidos cumprimentos militares, me tentou explicar, caminhando lado a lado pela parada do BC 12, no sentido da porta de armas para o refeitório, que a FNLA e a UNITA reclamavam às altas patentes (militares ou políticas, não sei) o nosso armamento, que pretendiam que lhes fosse entregue em Carmona, alegando que o MPLA estava a ficar com todo o que ia sendo deixado em Luanda e eles achavam-se com direitos iguais, nas zonas que controlavam militarmente. 
Esta situação talvez não fosse descabida de todo e poderia muito bem vir a acontecer por ordens superiores e em prol de um tratamento de igualdade para com todos os movimentos, pretendendo-se, assim, mais um contributo para a tão pretendida paz na descolonização. Assim dizia o meu interlocutor, ainda, não sei se exactamente por estas palavras. 
Também não me lembro exactamente das palavras que usei na resposta, nem de onde veio a coragem para as proferir, mas foram sentidas no seu significado, quando pude manifestar a minha opinião: «Entregar a minha arma? Isso seria a ultima coisa que faria no cumprimento do meu serviço militar». Entregaria, sim, porque não era minha, mas a farda do Exército Português essa não vestiria mais. Iria para Luanda, mas como civil e, então, agradeceria a escolta de comandos, pára-quedistas, apoios aéreos etc., que, a verificar-se esta situação, já estaria prometido e possivelmente já planeado, mas o melhor mesmo seria o regresso de avião. Nós tínhamos os nossos soldados e eu, sendo um deles, era em quem confiava. Talvez não tivessem sido por acaso as palavras que o nosso comandante de Batalhão me dedicou no final da comissão e que tenho orgulho de citar: «tornou-se  sobretudo notório no todo coeso que conseguiu dos homens que directamente comandou». 
JOÃO MACHADO
Continua amanhã
Mensagem do capitãoJosé Diogo Themudo: ver AQUI
- MACHADO.João Francisco Pereira Machado, alferes miliciano de Operações Especiais (Ranger´s). Aposentado a administração fiscal e residente em Lisboa.

sábado, 24 de março de 2012

1 233 - Encontros dos «zalalas» com a FNLA, em Vista Alegre...

Rodrigues em Vista Alegre, com elementos do FNLA (1975)


Os primeiros contactos “amigáveis” da 1ª. CCAV. 8423 com elementos da FNLA, já tinham acontecido em  Zalala e naturalmente continuaram em Vista Alegre - para onde a companhia rodou a 25 de Novembro de 1974. Foi nesta data que, oficialmente, assumiu a responsabilidade da (sua) nova zona de acção - que incluía o nuclear aquartelamento da Ponte do Dange.

Os contactos aumentaram em Vista Alegre. 

«Já eram bastantes, mas não tão genuínos, nem comparados com os de Zalala», recorda o (ex-furriel) Rodrigues, admitindo que «provavelmente tinha sido recrutadas à última da hora» - os homens da FNLA.Já apareciam em grupos e com fardas e melhor armamento. E tudo correu sem grandes problemas, paz para que concorreu o facto de por lá não haver presença dos outros movimentos, o MPLA e UNITA - ou, a haver, era muito reduzida.

As escaramuças a valer, recorda o Rodrigues, «estavam reservadas para mais tarde, para o palco de Carmona». E de que maneira! 

sexta-feira, 23 de março de 2012

1 232 - O Marcos e os primeiros dias da Polícia Militar

Cine Moreno, em Carmona, mesmo em frente à
Rádio Clube do Uíge (em cima). O Marcos (em baixo)

A animosidade da população civil de Carmona para com os militares não foi de todo surpreendente, mas teve circunstâncias bem difíceis logo nos primeiros dias da chegada dos Cavaleiros do Norte - a 2 de Março de 1975. Pessoalmente, ainda hoje não entendo bem tal diferença, ou tal ódio!, e os dramáticos acontecimentos do primeiros dias de Junho (quando milhares deles foram salvos da morte, por mor da intervenção enérgica e corajosa da guarnição) menos me ajudam a compreender.
«As muitas quezílias entre a população civil e as NT», e cito o Livro da Unidade, "levaram à constituição de um serviço de PM nas ruas da cidade». E houve mesmo necessidade de «promulgar novas NEP», de modo a «garantir a melhor apresentação do pessoal militar» e, por este meio, e volto a  citar o LU, «prever a resolução» de tais quezílias.
Não foi espantoso que, devido às minhas habilitações militares, fosse um dos furriéis milicianos escolhidos (ou nomeados)  para a equipa de PM´s - que fiz muitas vezes, ora com o Almeida e o Francisco, ou o Marcos, o Hipólito, o Madaleno, talvez com outros.
Os primeiros dias foram muito, muito difíceis. Passávamos nas ruas da cidade e éramos insultados: cobardes, traidores e canalhas, era mínimos com que nos mimoseavam, entre cuspidelas para o chão (gesto ao tempo muito ofensivo) e outros palavrões do vernáculo popular. 
Aqui, lembro o Marcos, sempre muito impulsivo e reactivo, por vezes difícil de controlar, como uma vez no Cinema Moreno - quando uns jovens civis «testaram» o seu estado civil, o baptizaram do que não era (até era solteiro) e a confrontação física esteve iminente. Dois deles foram levados ao BC12, onde prestaram contas e foram mandados embora.
- MARCOS. João Manuel Lopes Marcos, soldado atirador de cavalaria, do Pêgo (Abrantes).
- NEP. Normas de Execução Permanente.
- NT. Nossas Tropas.
- PM. Polícia Militar.

quinta-feira, 22 de março de 2012

1 231- Eurípedes Jacinto Peralta Pavanito, cavaleiro de Santa Isabel

Eurípedes? Quem é?!!!! Pavanito??? Pfffff!!!.... Difícil!!! Vamos lá a saber quem é: é um (antigo) soldado condutor da gloriosa guarnição de Santa Isabel, a da 3ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano José Paulo Fernandes. A última, a do adeus, no já distante dia 10 de Dezembro de 1974.
Pavanito, assim por lá era conhecido,  foi «militar aprumado, brioso e leal», qualidades que o fizeram, naturalmente, «merecer a admiração os seus próprios camaradas». Mereceu também um louvor do comandante, que lhe exaltou as qualidades de «militar disciplinado e correctíssimo», que «enfrentou com espírito de missão apreciável todas as situações vividas pela Companhia», sendo por isso, «digo de ser apontado como exemplo, em público louvor».
A foto é de 2011, do encontro de Torres Vedras, e por ela se vê como Eurípedes Pavanito está bem de vida, de ar bem saudável e os etc´s que fazem um homem feliz. Feliz foi também, ele, por Santa Isabel e depois pelo Quitexe e Carmona, pois era «estimado por todos e desejado de muitos», por ser, como sublinha o louvor, «extremamente zeloso do material que lhe tem sido confiado».
- PAVANITO. Eurípedes Jacinto Peralta Pavanito, soldado condutor da 3ª. Companhia. Reside na  Quinta do Conde (Sesimbra). Erradamente, já aqui foi identificado com o apelido Pestana (em vez de Peralta). 

quarta-feira, 21 de março de 2012

1 230 - Furriel mecânico Dias, louvor e castigo...

Eusébio, Dias e Velez, três furriéis de Zalala

Trago aqui hoje o Dias, que foi furriel por Zalala e passou por Vista Alegre e Carmona, antes de chegar a Luanda e voltar a Lisboa. Foi mecânico-auto e de tal forma «eficiente e cuidado» que mereceu louvor do capitão Castro Dias, que comandou a 1ª. Companhia do BCAV. 8423, a de Zalala. 
O louvor é de Agosto de 1975, quando, já em Luanda, se faziam vésperas da viagem para casa, e sublinha «o zelo demonstrado no seu trabalho, a prontidão na sua execução e o seu espírito de servir» que, enfatiza o documento, «constituem, só por si, motivo de consideração e apreço do comando directo que serviu, tornando-se merecedor da distinção ora conferida».
As sublinhadas qualidades de Manuel Dias foram razão para «tornear todas as dificuldades surgidas» e «recuperar permanentemente o material seu cargo», conseguindo, por isso, «superar os esforços que a este (material) era pedido, quer devido ao muito uso, quer devido às condições dos itinerários em que eram obrigados a actuar esses meios». Referia-se o autor do louvor, certamente, à dificílima e perigosíssima picada para Zalala a e outros troços à volta do aquartelamento.
O furriel mecânico Dias é um caso insólito dos Cavaleiros do Norte. Foi louvado, como reportamos, e punido. Na verdade, a ordem de serviço nº. 51 dá conta de ter sofrido 10 dias de detenção. Porquê? Vá lá saber-se!
- DIAS. Manuel Dinis Dias, furriel miliciano mecânico auto, da 1ª. CCAV. 8423. De Lisboa.

terça-feira, 20 de março de 2012

1 129 - Os 83 anos do capitão Luz!

Alferes Garcia e Ribeiro, capitão Leal (médico) e tenente Luz

O nosso «mais velho» está em vésperas de fazer 83 anos: o tenente Luz. Que agora é capitão e aposentado. Foi chefe de secretaria do BCAV. 8423, «disciplinado, de lealdade e correcção inexcedíveis, de elevadas qualidades  militares, de total dedicação pelo serviço, dotado de excelente educação e civismo», como dele diz o louvor do comandante Almeida e Brito. Subscrevo.
Vem hoje aqui porque, por este tempo de 1975, foi ele condecorado com a Medalha Militar Comemorativa das Campanhas do Exército Português, com a legenda ANGOLA 1963 - 64 - 65. Tal assim vem descrito na Ordem de Serviço 45 do BCAV. 8423.
Ao tempo, por este tempo de Março de 1975, fazia o tenente Luz uns jovens 46 anos!!! Era uma criança, ao lado do (mesmo) cidadão que, no dia 28, fará 83!!!, de saúde convalescida de uma violenta queda que, já este ano, a 14 de Janeiro, o atirou um mês para o hospital. Fez fractura do colo do fémur da perna esquerda e agora anda de canadianas. 
«Parece estar tudo a correr bem, mas o caso é imprevisível», disse-nos o capitão Luz, falando da (sua) ida ao Encontro dos Cavaleiros do Norte e ansioso por estar operacional a 2 de Junho, para não faltar. A 19 de Maio, terá um outro (de outra gente da sua tropa), em S. Pedro de Moel. 
«Tenho esperança que, se Deus quiser, lá estarei...», disse ao blogue.
A malta da CCS espera-o, tenente Luz!!! Mesmo de canadianas. Inté!
- LUZ. Acácio Carreira da Luz, capitão do SGE, aposentado. Reside na Marinha Grande e é o Cavaleiro do Norte de mais idade: 83 anos,a  28 de Março de 2012.

segunda-feira, 19 de março de 2012

1 208 - O soldado do Batalhão de Cavalaria 8423


A 18 de Março de 1974 entrámos em gozo das chamadas Licenças de Normas e todo o pessoal foi «minuciado» de papelada de mentalização para o que nos esperava na guerra colonial para que nos preparávamos. «Ser-se de cavalaria não é ser-se melhor nem pior, é ser-se diferente.Ser-se do RC4 é obedecer ao lema «Perguntai ao inimigo quem somos?».
Vale a pena recapitular a imagem que nos era «vendida» pela acção psicológica, no sentido de aceitarmos e exercermos o aprumo permanente, o asseio irrepreensível, a pontualidade em extremo, a dedicação até ao sacrifício, o interesse total, educação firme e  valentia até ao destemor, para que fossemos «soldado do BCAV. 8423 e daqueles a quem o inimigo, ao perguntar quem és, te acha diferente».
Honrai a Pátria, que a Pátria vos contempla; O soldado português é dos melhores do  mundo; O Exército Português é o espelho da nação; Cultiva as virtudes que te solicitarem para te impores como verdadeiro soldado; Aprumo e atavio; Pontualidade e vontade firmes; Dedicação e interesse; Disciplina e respeito total», eram  alguns dos dogmas que nos foram «vendidos» para reflexão no período das Licenças das Normas.
Hoje, 38 anos depois, não se evita um sorriso, na memória que fazemos da nossa generosidade de então. E por muito esforço que faça (e fiz) não consigo recordar as emoções sentidas, muito menos a meditação que era sugerida no documento. Os tempos também eram outros, como a idade.

domingo, 18 de março de 2012

1 207 - Aventuras com o Mota Viana em Lamego...

A largada foi para lá de Moimenta da Beira, até Penude (em 1973). 
Mota Viana (em 2012) 



Trago aqui, a esta memória dos Cavaleiros do Norte, a figura de um companheiro de Lamego, que a vida depois levou a Angola, no 8423: o Mota Viana. 
Na noite de um sábado para domingo de Julho de 1973, foi a famosa largada. A do do 2º. curso de operações especiais desse ano, em Lamego. Fomos todos de olhos vendados e mãos amarradas nas costas, em viaturas militares, desde Penude e até Moimenta da Beira, e descarregados no mato para lá da vila.
Sempre fui desenrascado nestas coisas e consegui desamarrar as mãos, ainda no quartel, o que me permitiu deslocar a venda e, mesmo de noite, criar orientações. Voltei a amarrá-las e, quando fui «largado», apesar de ameaçado de que estava num talude íngreme, deixei arrancar a viatura e calmamente tirei a venda e logo apanhei o caminho e fui ajudar outros companheiros da prova.
Era noite, bem de noite e muito escura, para aí uma duas horas da manhã e andavam por ali, aos gritos e à procura de destino, muitos dos militares largado. Um deles era o Mota Viana. Quiçá, de todos nós, quem menos gostava da tropa.
Orientámo-nos em grupos, até Moimenta e, aqui, fomos à GNR, que nos indicou o caminho de Lamego. Não havia placas, ou não as vimos. Fizemos um grupo de 5 ou 6 e fomos caminhando, caminhando... Doía-nos o corpo, cansavam-se-nos os pés e alguns deles já tinham bolhas, pelo que foi penosa a caminhada. Ao alvorecer, numa aldeia de Ferreirim, o grupo já estava limitado a mim, ao Mota Viana, ao Zacarias e ao Gonçalves. A fome foi morta pela generosidade de uma família que saía para a missa das 7 horas e seguimos viagem. Em Ferreirim, fartos da caminhada, lembrou-se o Mota Viana de «arranjar um carro». E houve a tentação de uma ligação directa num Carocha estacionado na rua. Desistimos..., seguindo a caminhada pela estrada de asfalto, quando a devíamos fazer pelos matos. Foi quando arranjámos boleia, antes de Britiande e poupámos uns bons quilómetros, já que o homem da carrinha de caixa aberta nos foi levar ao monte, entre Cepões e Penude - muito perto de um posto de controle, à ponte do rio Balsemão - de onde subíamos para o quartel.
O Mota Viana, por qualquer razão, não concluiu o curso, foi atirador de cavalaria e Cavaleiro do Norte de Zalala, na 1ª. CCAV. 8423.
Ver AQUI
- MOTA VIANA. Fernando Manuel da Mota Viana, furriel miliciano atirador de cavalaria. Natural e  residente em Braga, onde é comercial do sector gráfico.
- ZACARIAS. Zacarias Rosário Ramos. De Ovar, foi furriel miliciano de Operações Especiais na Guiné.
- GONÇALVES. Joaquim Ferreira Gonçalves. De Chaves, foi furriel miliciano de Operações Especiais na Guiné.

sábado, 17 de março de 2012

1 206 - O adeus ao alferes Hermida e furriel Farinhas

Alferes milicianos Ribeiro, Cruz,Garcia e Hermida 
(em cima) e furriéis Farinhas e Viegas (em baixo) 

O mês de Março de 1975, em termos de CCS, foi de mudança para Carmona e adaptação ás exigências urbanas, e também de adeus a dois companheiros:ao alferes Hermida e o furriel Farinhas, ambos por razões de natureza disciplinar.
O alferes Hermida era oficial de transmissões, na altura já com 28 para 29 anos (nascido em 1946). Acumulava com responsabilidades na área da acção psicológica, era casado e estava acompanhado da esposa. Não me recordo das razões disciplinares, mas foi punido com 3 dias de prisão disciplinar, agravados para 8, no Comando de Sector do Uíge - em Janeiro de 1975 e ainda no Quitexe.
O furriel Farinhas era sapador, do pelotão do alferes Ribeiro, e foi punido com 5 dias de prisão disciplinar agravada, agravados para 10, no Comando de Sector de Uíge. Também no mês de Janeiro e no Quitexe.
Não foram muitas as punições do BCAV. 8423, ao longo dos 15 meses de comissão, mas, no mesmo Janeiro, cinco soldados foram igualmente castigados:
- CCS: José M. F.Lobo, com 20 dias de prisão disciplinar agravada (agravada para 30, no Comando de Sector).
- 2ª. CCAV.: Samuel Pereira de Oliveira, condutor, com 4 guardas.
- 3ª. CCAV.: Constantino Oliveira Santos, Cristiano Manuel  Jorge Fernandes e António Francisco Tomás, todos atiradores de cavalaria e todos com 5 dias de prisão disciplinar agravada).
- HERMIDA. José Leonel Pinto de Aragão Hermida, alferes miliciano de transmissões. Engenheiro aposentado, residente na Figueira da Foz.
- FARINHAS. Joaquim Augusto Loio Farinhas, furriel miliciano sapador. Era de Amarante e faleceu a 14 de Julho de 2005. vítima de doença do foro oncológico.
  

sexta-feira, 16 de março de 2012

1 205 - O 16 de Março e os Cavaleiros do Norte...



A Revolta das Caldas, ou intentona, foi a 16 de Março de 1974 - hoje se completam 38 anos. O dia correspondeu ao primeiro, depois da visita inspectiva ao BCAV. 8423. Era sábado e a 18 (2ª.-feira) entrámos no gozo das chamadas Licença das Normas.
Ao tempo, os meios de comunicação estavam longe, muito longe, da velocidade de hoje e, por mim, apenas soube de tal à noite, no telejornal. E foi uma enorme surpresa, como é de calcular.
E o que foi a Revolta das Caldas? Dispensando o pormenor, foi uma resposta de militares do RI5 (da Caldas da Raínha) à demissão dos generais Francisco da Costa Gomes e António de Spínola dos cargos de Chefe e Vice-Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas. Outra versão aponta o acto como reacção à sessão de obediência ao Governo por parte da esmagadora maioria dos oficiais-generais e da hierarquia das Forças Armadas, no dia 14 de Março, quatro horas antes de Costa Gomes e Spínola serem demitidos, por se recusarem a comparecer. Outras interpretações, dão a revolta como o movimento precursor do 25 de Abril, a Revolução dos Cravos que derrubou o regime de Marcelo Caetano. Seria, pois, uma tentativa frustrada de golpe de Estado e cerca de duas centenas de oficiais, sargentos e praças foram detidos antes de chegarem a Lisboa, por forças leais ao governo.
A relação do movimento com o BCAV. 8423 teve a ver, apenas, com o facto de alguns oficiais milicianos terem estado detidos nas instalações que os 1ºs. cabos milicianos (futuros furriéis) ocupavam no RC4 - o que soubemos apenas depois de chegarmos da Licença das Normas, a 29 de Março de 1974. Ou até talvez depois.
- IMAGEM. Capa do Diário de Notícias 
com a notícia da Revlta das Caldas.

quinta-feira, 15 de março de 2012

1 204 - O dia da inspecção e da emboscada...



O PELREC, já em Angola. Alferes Garcia (o primeiro da direita, em pé) e 
furriéis Neto (o primeiro, da direita, em baixo) e Viegas (o sexto, da esquerda, de pé)


O PELREC estava preparadíssimo para o que desse e viesse da visita inspectiva de 15 de Março, mas nesse dia foi «colocado» como IN de outros pelotões e teria de «voar» sobre minas de armadilhas, com petardos e granadas a rebentaram no espaço e nos ouvidos da tropa que se preparava para a guerra de Angola.
Formados na parada do Destacamento, recebemos ordens do aspirante Garcia: «A ordem de operações é assim, assim e assado, têm de progredir por aqui e por acolá... Eu vou para tal parte!!!....». E pôs-se a andar.
Não nos disse, mas desconfiámos. Murmurou o Neto: «Vamos ser emboscados...». Também me parecia e chamámos os já 1º.s cabos, o Soares (o mais rebelde de todos...), o Ezequiel, o Albino, o Almeida (o mais velho de nós todos, mais dois anos...), o Pinto, o Vicente, todos chefes de equipa.
 «Vamos ser emboscados!!! Reage-se assim e assim, actua-se assado, atenção à voz de comando!!!...». E lá palavreámos a teoria parida da nossa prática instrutória de Lamego, com os tiques, os gritos, os golpes, os sinais, a forma de evoluir no terreno, os silêncios desses momentos, o olhar de lince que tudo tem de ver em redor e mais a frente e ao lado.
Lá fomos, pé sem tropeçar em arames e armadilhas, até que o Hipólito, de vista larga, desconfiou: «É acolá!...».
E era!
Era meio da manhã, já o pão barrado de manteiga se desfazia no estômago, e foi à frente o Neto, com mais dois ou três soldados. «Vamos mandar uma equipa, por ali e atacamos por acolá, tal e tal...», sugeriu ele. E assim foi. 
O grupo do Vicente fez de isca, mostrou-se e chamou atenções. O IN, a coçar a barriga na arriba da mata camuflada de muita vegetação, de arbustos e de sobreiros, esperava só que entrássemos na zona de fogo, que era um trilho muito estreito, rodeado de silvados e árvores dobradas, que faziam uma espécie túnel sobre quem por lá passasse. E era onde iríamos passar, onde seríamos massacrados. 
Só que o IN mordeu a isca e foi ele o atacado. Pelas costas e de lado, não teve por onde fugir e caiu no trilho que ele próprio tinha armadilhado. 
Pum, pum, pum, trã-tã-tã-tã-tã-tã-tã-tã..., o silvo das balas de instrução, o estourar das granadas ofensivas a encherem o trilho de poeirada, o ar a cheirar a pólvora seca e o IN apanhado com as calças na mão.
Ainda agora estou a ver o supremo gozo dos pelrec´s!, a delirar de prazer, pela partida pregada ao IN. De tal não gostou tanto o Garcia, que foi um dos emboscados e por uns dias gelou relações com os seus soldados. É que nunca acreditaram que eles não nos tivesse avisado. E não tinha.
- SOARES. Fernando Manuel Soares 1º. cabo, residente no Laranjeiro. O segundo, de bigode e do lado esquerdo da foto, em baixo.
- EZEQUIEL. Ezequiel Maria Silvestre, 1º. cabo, residente em Almada.
- ALBINO. Albino dos Anjos Ferreira. 1º. cabo, residente em Casal de Cambra.
- ALMEIDA. Joaquim Figueiredo de Almeida. 1º. cabo. já falecido, de Penamacor. O primeiro, em cima, do lado esquerdo.
- PINTO. João Augusto Rei Pinto,  1º. cabo, residente em Corroios (Seixal). O terceiro, a contar da direita, em cima.
- VICENTE. Jorge Luís Domingos Vicente, 1º. cabo. já falecido, de Alcanena. O primeiro da esquerda, em baixo, de bigode.
Ver AQUI

quarta-feira, 14 de março de 2012

1 203 - Encontro 2012 dos Cavaleiros do Norte do Quitexe

Casa da Vessada, em Paredes (Porto). Aqui se vão encontrar os 
Cavaleiros do  Norte do Quitexe e respectivas  amazonas, a 2 de Junho de 2012



Cavaleiros do Norte do Quitexe, atenção: Dia 2 de Junho, o encontro de 2012 é em Paredes (do Porto), na Quinta da Vessada, mesmo no parque da cidade onde o Monteiro faz pela vida e dorme o sono dos aposentados e eternamente enamorados. É ele quem organiza! 
Dia 2 de Junho, não esquecer!
O Monteiro era o mordomo de 2011, mas a vida atrasou-lhe a «operação». Adiou-a para este ano e, a  dar conta nas imagens que aqui mostramos, está a caprichar. O sítio parece abrir o apetite e não vão faltar emoções e saltos da palavra e do verbo, não se fecharão os olhos que vêem saudades desenhadas na alma e os corações que sentem a saudade dos tempos de 1974 e 1975.
O Monteiro «furrielou» nos Cavaleiros do Norte. Era um pé da trempe de furriéis do PELREC, que o Garcia comandava, com competência e sempre solidário, sem alguma vez cuidar de mostrar os galões de alferes. Era ele (mais dado a papéis), era eu e era o Neto.
O Monteiro já não é maçarico nestas coisas. Organizou o terceiro encontro, a 27 de Setembro de 1997, em Penafiel. Com missão cumprida, sem falhas!
Não tardará, entretanto, que a malta comece a receber o convite oficial (com a ordem de operação), mas os mais avisados já pode ir apontando 2 de Junho na agenda.
Os contactos para as necessárias inscrições são os do Monteiro: telefones 966724685, 912730350 e 255776765, email josemonteiro_@hotmail.com

terça-feira, 13 de março de 2012

1 202 - Os soldados maiores do aspirante Garcia...

Militares do PELREC do BCAv. 8423: Viegas, Francisco, Pinto, Caixarias 
e Garcia (em cima), Leal, Moreira (?), Hipólito, Aurélio, Madaleno e Neto


A 13 de Março de 1974, por volta do meio dia, o aspirante a oficial miliciano Garcia alertou-nos para a especificidade especial da semana de instrução que decorria desde 2ª-feira e era a última, antes do chamado período de férias de 10 dias - as Licenças de Normas, que antecipavam a partida para o ultramar.
«O pelotão tem de mostrar o que vale...», disse o Garcia, solene, imperativo, de rosto juvenil e quase imberbe (como os nossos), não querendo ficar mal na fotografia cujo flash se aproximava. E o que era, o que não era? Pois era a inspecção de instrução operacional, que estava marcada para o dia 15, uma sexta-feira.
O pelotão do aspirante Garcia, o futuro PELREC, era solidamente disciplinado, garboso, sem uma falha na marcha, ou na progressão, no assalto, ou no patrulhamento pela Mata do Soares que se fazia passar pela selva angolana. Sentia-se preparado, capaz, competente, fisicamente apto e mentalmente forte.
Horas de muita conversa - a psic.... -, nos dias de Santa Margarida, ditavam essa certeza. Eram rapazes simples, disciplinados, de boa educação, bons ouvintes do verbo com que lhes enchíamos a alma jovem, que se preparava  para a guerra. O Garcia, que se levedava de entusiasmo na messe de oficiais, fazendo elogios repetidos do seu pelotão - que era «o melhor, o melhor de todos!!!!...» -, dele fazendo lendas e glórias, viria a ficar bem no retrato de 15 de Março de 1974 quando, galgando um monte da Mata do Soares, em silêncio, sem um recuo, como gamos, agéis, ligeiros e valentes, os PELREC´s fizeram um golpe de mão ao grupo fiscalizador, liderado pelo coronel Lobato Faria.
Aqui estivesses tu, ó Garcia, e iria abaixo uma imperial! Ou duas!!! Ou três!!!
Os nossos companheiros, recorda-te lá, tinham orgulho por serem do (teu) PELREC!  Marchavam de joelhos bnem no alto e de botas bem batidas no chão. Tinham orgulho e garbo. Batiam a palada «à Lamego, à ranger» - assim lhes insistíamos nós, glorificando-lhe a alma e a vaidade. Ser do PELREC do 8423 era ser soldado maior. 

segunda-feira, 12 de março de 2012

1 201 - O Aurélio, que era atirador e cortador de cabelos...

Hipólito, Monteiro, Almeida, e Vicente (em cima), Garcia,
Leal, Neto e Aurélio (Barbeiro) na caserna do PELREC, no Quitexe (1974)

O Aurélio era atirador e barbeiro. Bom praça!!! Não pela condição de militar (que era), mas pela de cidadão e companheiro. Cortava cabelos, e até ameaçava dar umas tesouradas nas orelhas!, com a mesma ligeireza com que, amochilado e de G3 na mão, galgava as picadas vermelhas de Angola ou o um trilho mais medonho, por assustador e misterioso, na densa floresta uíjana.
Tinha palavra solta, o Aurélio! O Barbeiro!! Não a fechava, fosse por medo (que não tinha, de nada!) ou pelo que quer que fosse. Dir-se-ia, até, que era um pouco pró refilão, demasiado respondão para o feitio dos furriéis - que eram gente da mesma criação, da mesma idade, do mesmo ano, ele lá das barbas do Zêzere, nós (eu e o Neto) aqui pelas do Águeda e da pateira. 
Porque era refilão, digamos assim..., estava sempre na mira de quem punha a braçadeira verde, de serviço. Ora porque chegava a destempo da formaturas, com  a velha desculpa de estar no corte dos cabelos; ora, porque... sim! Um dia, quisemos (eu e o Neto) experimentar-lhe a paciência. E impedimos, por alguns minutos (poucos), que fosse rendido num serviço.  Ui, ui, ui..., espumou o Aurélio, que deveria ter alguma contratada (e sabíamos nos qual era). Veio ele dizer, mal-disposto e chateado que nem um perú, que não podia fazer o serviço, que o compromisso dele era «ir fazer o cabelo ao capitão». Pois que fosse (e não era), que dissesse ele ao capitão que o tínhamos impedido de ir! Que até lá íamos com ele!
Não quis.
Minutos depois, de propósito, encontrámo-nos com ele, no Topete, onde, em grupo de amigos, estava a  mastigar frango de churrasco carregado de piri-piri (ginguba, por lá assim se chamava) e a emborcar Cucas atrás de Cucas. «Então, ó barbeiro, já fez o cabelo ao capitão?», perguntei-lhe eu.
Que, sim senhora, tinha ido a casa dele, mas ele que o dispensara, por causa das dores nas cruzes, e que, por via disso, viera ali ao Topete. A filha do capitão, que era professora e mãe solteira, tal coisa viera dizer-lhe à porta. «Não querem comer?», perguntou ele, a desviar a conversa.
Sentámo-nos, eu e o Neto, comemos e bebemos, mais um frango e outro, uns dixotes e umas palavrões, olhem-me para aquela mulata, olhem pr´aquela, quando o Neto lhe diz: «Sabe, ó Barbeiro, você  vai levar uma porrada. Mentiu, para se safar do serviço! O capitão não está nada em casa, está ali na varanda da messe».
O Barbeiro corou, ligeiramente, mas não se desfez: «Foi a filha que eu disse que disse, não foi o capitão».  
Combinado, aproximou-se o Garcia, com a mesma lata: «Tenho de participar de ti. Mentiste...», disse-lhe. Aó, o Aurélio estremelicou. «Ó meu alferes, então... , mas!!!...».
O Garcia desmanchou-se e lá o pôs à vontade: «Para a próxima, também me convidas...». E fez-lhe entender que tinha sido alvo de uma brincadeira.
Não sei se estou certo, ó Barbeiro, mas isto não foi no dia dos teus 23 anos, a 23 de Fevereiro de 1975.
- GARCIA. António Manuel Garcia, alferes miliciano de operações especiais (Ranger´s). Faleceu a 2 de Novembro de 1979, vítima de acidente. Era de Pombal, Carrazeda de Ansiães.
- MONTEIRO. José Augusto Guedes Monteiro, furriel miliciano (Ranger´s). De Marco de Canaveses e residente em Paredes. Aposentado dos Transportes Colectivos do Porto e empresário.
- NETO. José Francisco Rodrigues Neto, furriel miliciano (Ranger´s). De Águeda, aposentado e empresário.
- ALMEIDA. Joaquim Figueiredo de Almeida, 1º. cabo atirador de cavalaria. Natural de Penamacor, faleceu a 28 de Fevereiro de 2009, vítima de doença.
- VICENTE. Jorge Luís Domingos Vicente, 1º. cabo atirador de cavalaria. Natural de Alcanena, faleceu a 21 de Janeiro de 1977, vítima de doença.
- HIPÓLITO. Augusto de Sousa Hipólito, 1º. cabo de reconhecimento e informação. Emigrante em França.
- LEAL. Manuel Leal da Silva, soldador atirador de cavalaria. De Pombal, faleceu a 18 de Junho de 2009, vítima de doença súbita.
- AURÉLIO. Aurélio da Conceição Godinho Júnior, o Barbeiro. Soldado atirador de cavalaria, de Pias (Ferreira do Zêzere). empresário comercial. 

domingo, 11 de março de 2012

1 200 - O Cabo Chico dos Caçadores do Quitexe!...


Igreja da Mãe de Deus do Quitexe, em 2012

_________________________
ANTÓNIO CASAL DA FONSECA
Texto


Ontem à noite, falei ao telefone com o meu amigo Cabo Chico, o carpinteiro oficial da CCS do 3879! Ligou-me ele de Viana, bem pertinho de Luanda, onde faz pela vida e exactamente na mesma profissão em que era exímio no Quitexe.

Foi mobilizado quando já nada o fazia prever, a escassos meses de terminar o tempo de serviço militar. Mexeu-se quanto pôde, revoltou-se e indignou-se, mas faltou-lhe o argumento/cunha e lá foi como todos nós! A sua alcunha – convém não esquecer que o seu nome é Albino -, nasceu precisamente do tempo de serviço que já contava, e que era do conhecimento de toda a CCS, inclusive do Comando. Atendendo a esta situação usufruiu, curiosamente, de alguma liberdade de expressão que a outros não era tolerada. 
O seu humor e ironia eram de fino requinte e, aliados à sua extrema educação e sentido de companheirismo, fizeram dele dos mais respeitados militares da CCS. Sem ponta de exagero!

Descreveu-me a Angola de agora, comparando-a com a de então, mas sem entrar em grandes detalhes – ficará para Maio, disse!

Quando no decorrer da conversa lhe confessei que no passado verão quase estive com um pé em Angola, com um empresário amigo, respondeu-me de imediato: «Nem penses, pá!!! Seria um grande erro na tua vida! Revisitei Ambrizete, onde estivemos, que agora é Nzeto, tirei fotos a tudo quanto era sítio, e sabes o que me sobrou?! Tristeza, angústia e desolação, não pela diferença física do espaço, que é naturalmente atroz, mas pelo vazio que se sente na alma! Há coisas que não conseguimos recuperar, meu amigo, e oxalá consigamos guardar as boas memórias, porque delas também nos alimentamos, por estranho que possa parecer!

Foi pouco mais ou menos com estas palavras, se não exactamente estas que, nostalgicamente e sempre no seu discurso pausado, me transmitiu o seu estado de alma, justificando-me assim o porquê de não se ter ainda deslocado ao Quitexe, conforme eu já lhe sugerira em outros contactos. Não me deu nenhuma novidade, já que é também este o meu pensamento!

E para final de contacto rematou: olha amigo, agora vou ali ao bar da frente beber umas cervejinhas frescas porque está um calor do caraças!..., neste campo, tudo continua igual…, é o que tem de melhor!

E lá foi o Cabo Chico saciar-se com umas cervejolas angolanas, tal como fazia na cantina do Quitexe e onde punha em prática os seus dotes de excelente conversador, de que não perdeu o jeito!

Desta vez, não precisarei de ler a sua mensagem enviada de Angola, já que planeou a sua vida para poder estar de novo connosco, após alguns anos de interregno! Ainda bem Cabo Chico, lá te esperamos!
ACF
2/03/2012

sábado, 10 de março de 2012

1 199 - O 2º. comandante e o novo médico do batalhão

Alferes Machado 2ª. CCAV.) e capitães Falcão e 
Themudo, na varanda interior do edifício do comando do BC12

Algures, por um dos dias de Março de 1975, o BCAV. 8423 deixou de estar «órfão» do 2º. comandante. Apresentou-se o capitão Themudo, que foi exercer essas funções - vagas desde as vésperas da nossa partida para Angola.
Ornelas Monteiro, major de cavalaria, era o oficial que exerceria essas funções e, por isso, se apresentara no CAV.. 8423, em Santa Margarida, a  4 de Fevereiro de 1974. Mas «por motivos imperioso de serviço» e por solicitação do Movimento das Forças Armadas, acabou por não nos acompanhar e, isso sim, foi deslocado, nas vésperas do embarque, para o Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné (Bissau).
Actualmente com 72 anos, é coronel reformado e, em 2010, enviou uma cativante mensagem para o encontro dos Cavaleiros do Norte. Ver AQUI.
O batalhão, ao tempo, foi também «reforçado» com o médico Carlos Ferreira,e destacado em diligência do Hospital Militar de Luanda.
- THEMUDO: José Diogo da Mota e Silva Themudo, capitão de cavalaria. Mora em Lisboa e é coronel aposentado.
- FERREIRA. Carlos Augusto Monteiro da Silva Ferreira, alferes miliciano médico. Não consegui apurar a sua localização. Terá 66 para 67 anos.

sexta-feira, 9 de março de 2012

1 198 - A 2ª. CCAV. 8423 de Aldeia Viçosa para Carmona

Letras e Mourato na messe de sargentos de Carmona (1975)

A 2ª. CCAV. 8423 rodou para Carmona entre 2 e 11 de Março de 1975, abandonando Aldeia Viçosa - onde chegara a 10 de Junho do ano anterior. Ida do Campo Militar do Grafanil. E aqui chegada de Lisboa, a 4 do mesmo mês. Depois de Santa Margarida.
A companhia era comandada pelo capitão miliciano Cruz e, já no Grafanil, foi completada com um grupo de mesclagem: 36 homens angolanos, militarmente formados no RI 20. Já em Aldeia Viçosa, teve mais reforço: o GE 222.
As tarefas da guarnição militar de Carmona eram, assim, principalmente assumidas pela CCS e 2ª. CCAV. 8423, gente pouca para tantos serviços. Poucos mais militares sobravam no BC12 e, na ZMN, não seriam tantos assim. E, como por aqui já foi dito, os grupos de mesclagem tinham passado à disponibilidade e os GE sido desactivados. E havia uma cidade para segurar.
Não se queixou a guarnição e, com sacrifícios de monta (no plano pessoal e físico), tudo se foi fazendo e garantindo. Por mim, recordo estar de serviço (24 horas) quase dia-sim-dia-não, sendo muito vulgar sair de sargento de dia ou da guarda e, ao outro dia, fazer policiamento militar.
A tropa, embeiçada pela cidade e pelo que ela oferecia, aceitou a missão com serenidade e desbloqueava emoções nas tardes e noites carmonianas. Tropa bem instalada, quer no BC12 e melhor nas messes, como se vê na imagem.
- LETRAS. António Carlos Dias Letras, furriel miliciano de operações especiais (Ranger´s), da 2ª. CCAV. 8423. Empresário do ramo do mobiliário, residente em Palmela.
- MOURATO. Abel Maria Ribeiro Mourato, furriel miliciano vagomestre, da 2ª. CCAV. 8423. Aposentado da administração fiscal e residente em Vila Viçosa, onde é eleito da Assembleia de Freguesa de S. Bartolomeu.