BATALHÃO DE CAVALARIA 8423. Os Cavaleiros do Norte!!! Um espaço para informalmente falar de pessoas e estórias de um tempo em que se fez história. Aqui contando, de forma avulsa, algumas histórias de grupo de militares que foi a Angola fazer Abril e semear solidariedade e companheirismo! A partir do Quitexe, por Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange e Songo! E outras terras do Uíge angolano, pátria de que todos ficámos apaixonados!
segunda-feira, 9 de abril de 2012
1 249 - 3 anos e 1 248 postagens depois...
Há 3 anos, hoje se completam, era quinta-feira santa, e ocorreu-me lançar este blogue, para falar de um tempo memorável das nossas vidas e da história de Portugal e de Angola!
Aqui se publicaram, todos os dias, depoimentos, histórias e memórias de muitos de nós! Alguns momentos epopeicos aqui ficaram narrados. Outros mais dramáticos, que os sons e cheiros da guerra deixa/ra)m marcas e semearam algumas tragédias! Por aqui vamos continuar, por mais algum tempo! Com nova cara, por razões de eficácia informática. E o espaço continua disponível para que por bem, aqui queira deixar memórias, histórias e estórias. Uma mais divertidas, outras mais dramáticas e emotivas, afinal as que fizeram os 15 meses do Batalhão de Cavalaria 8423 em terras de Angola.
CELESTINO VIEGAS
- IMAGEM. Reprodução do post
nº. 1, de 9 de Abril de 2009.
Ver AQUI
domingo, 8 de abril de 2012
1 248 - Viagem para os dias (bons) de Nova Lisboa...
Cruz e Viegas, num miradouro do qual se via Nova
Lisboa (agora, Huambo), na estrada para a Caala (Roberto Williams)
Dias de Abril, 1975! Eu e o Cruz, já alambazados da vida boa e flautiada de Luanda, voámos na TAAG para Nova Lisboa! Lá fui surpreender familiares: a Cecília, marido e filhos. E ia rever minha madrinha Isolina, viúva de meu padrinho baptismal, Arménio Pires Tavares.
O voo foi rápido, sobrevoando a terra angolana com a curiosidade de quem descobre coisas novas, para o sul sem guerra, o sul de natureza generosa e bela, de terras de grande desenvolvimento, que nos enchiam os olhos e a alma, levedando o ego.
Lá chegado, fomos de táxi até ao Bimbe, hotel onde Cecília e Rafael (o marido) faziam pela vida, como proprietários e trabalhadores, depois de terem vendido a fazenda da Gabela - onde eu estiveram em Setembro. De propósito, pedimos ao taxista para nos levar pelos sítios mais atractivos da cidade, antes de chegarmos à avenida do hotel. Deslumbrámo-nos! A cidade era belíssima, moderna, de ruas e avenidas largas, grandes jardins, tudo de encher o olho. Grande e agradabilíssima surpresa!
Por Nova Lisboa também estavam primos de meu pai - o Manuel e o Zé Viegas, os filhos do tio Joaquim (a professora Ivone e o funcionário público Sérgio). E outros conterrâneos: o Orlando, o Miranda (pai dos meus amigos Óscar e Nélson). Iam ser (e foram) dias de grande intensidade social! Cheios de afectos e de carinho. Os dois militares do BCAV. 8423 tornaram-se meninos (muito) bem cuidados por familiares e amigos.
sábado, 7 de abril de 2012
1 247 - Dias do Uíge, aos primeiros de Abril...
Ponte do Dange (em cima) e Vista Alegre
Aos dias primeiros de Abril de 1975, era expectável que continuasse e se concluísse o programa de remodelação do dispositivo militar do Batalhão de Cavalaria 8423. Não foi bem assim.Os comportamentos, no terreno, dos movimentos emancipalistas, «resultantes do abandono de determinadas instalações militares», levou o comandante Almeida e Brito «a aguardar que se resolvessem, a alto nível, as questões pendentes e inerentes a esse abandono».
As escaramuças entre os militares dos movimentos repetiam-se, querendo eles marcar terreno, a seu modo e interesse político e militar, e tal comportamento provocava instabilidades, insegurança e muitos receios - nomeadamente da população civil. E não só a europeia, também a local.
Os patrulhamentos mistos - envolvendo tropas portuguesas e as da ELNA, FAPLA e FALA e que se efectuavam desde 26 para 27 de Março - procuraram evitar a deterioração da situação, mas não resolviam tudo. Sublinhe-se, aqui, o espírito solidário e competente dos militares portugueses envolvidos, pois nem sempre era fácil ultrapassar os constrangimentos criados pela evolução de uma força armada que envolvia quatro tendências, chamemos-lhe assim: as NT, as FAPLA, as FALA e o ELNA.
Só a 24 de Abril se desactivou Vista Alegre e Ponte do Dange, quando a 1ª. Companhia rodou para o Songo e com um destacamento temporário em Cachalonde.
- NT. Nossas Tropas (Forças Armadas de Portugal).
- FAPLA. Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, do MPLA (Agostinho Neto).
- FALA. Forças Armadas de Libertação de Angola, da UNITA (Jonas Savimbi).
- ELNA. Exército Nacional de Libertação de Angola, da FNLA (Holden Roberto).
sexta-feira, 6 de abril de 2012
1 246 - Os heróicos passos do Branco...
Alvarito e Passos Branco no Quitexe
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ANTÓNIO CASAL DA FONSECA
Texto
O Passos Branco é um leitor assíduo deste blog, onde de vez em quando deixa os seus comentários. Eu, que há tanto tempo ando para lhe dedicar um texto, logo haveria de o saber antes de o escrever! É que assim até pode parecer que falo e escrevo bem dele, apenas pela razão de por aqui andar com os mirones e assim limitar-me as ideias! Pois está o Passos Branco muito enganado, se pensava que eu vinha para aqui engraxá-lo e rotulá-lo como o melhor do mundo! É que nem pense!
Eu tinha lá a lata de dizer bem de um indivíduo que foi soldado na CCS do BCaç. 3879, magro, para não dizer franzino, e convencido que conhecia todas as picadas da área do Quitexe e Ambrizete?! Nem pensar, mas que as conhecia todas melhor que ninguém, disso nunca houve dúvidas! As curvas, descidas e subidas, e para elas alertava sentado no banco do unimog! E os cuidados que ele lançava, alertando para os perigos que vinham da mata, ali mesmo a escassos metros de nós!?
Se eu quisesse falar bem do Passos Branco, teria de lembrar o seu espírito voluntarioso, a sua disponibilidade nos momentos mais difíceis, apanágio dos valentes e dos que nunca viram a cara à luta! Nunca, em circunstância alguma se lhe notou um arrepio, e se o sentiu não o quis transmitir, tal era a sua fibra!
Se eu quisesse engraxar o amigo Branco, diria também que ele se congratulava com a minha presença nas escoltas! Não porque me desejasse tal risco mas porque entendia que um grupo em situações de perigosidade era mais coeso quando alicerçado pela amizade!
Muitas coisas eu diria do amigo Branco, tantas que me poriam horas a escrever! Diria, também, que foi um dos seres humanos que mais me impressionou durante toda a comissão, pela franqueza e postura, mas principalmente pela camaradagem que sempre demonstrou, até em situações bem adversas!
Agora, e mais a sério, dizer tudo isto acerca do Passos Branco não se trata de um favor que lhe presto mas sim de uma justiça. A sua coragem vai muito para além da demonstrada nas picadas e matas do Quitexe!
Outras “picadas” se seguiram, ao longo de décadas, como ele e eu bem sabemos, com uma coragem que só os heróis têm! E sempre no seu tom gaiato e brincalhão que lhe é tão peculiar e natural!
Desculpa lá ó Branco, mas se calhar até sinto inveja da tua coragem!!!
ANTÓNIO CASAL DA FONSECA
quinta-feira, 5 de abril de 2012
1 245 - Luandices e rotações no Uíge militar
Baía de Luanda, à noite (1974). Largo da Portugália,
um dos locais de culto da tropa portuguesa (em baixo)
Aos idos primeiros dias de Abril de 1975, andávamos (eu e o Cruz) a laurear o queijo por Luanda, feitos civis de férias e vida regalada, mas não parava a vida pelo território uíjano. Os Cavaleiros do Norte preparavam as últimas rotações e as consequentes saídas dos aquartelamentos do Quitexe (3ª. CCAV.), Ponte do Dange e Aldeia Viçosa (a 2ª. CCAV.).
A 4, o tenente-coronel Almeida e Brito retomou o comando do Batalhão, que interrompera para interinamente liderar a ZMN. Ficara o capitão José Diogo Themudo a comandar e continuou como 2º. comandante. A 6, hoje se completam 37 anos, foram anos, com o oficial-adjunto (o capitão José Paulo Falcão) de visita de trabalho a Vista Alegre, para preparar a rotação da Companhia do capitão Castro Dias - a que fora de Zalala.
Iriam para o Songo - o que só aconteceria a 24 de Abril.
Luanda continuava apetitosa para os nossos 22 anos e por lá fui tendo algumas novidades do processo militar e independentista, sem grandes pormenores e também sem grandes preocupações. Eram dadas por um oficial, que conhecia de Carmona e era familiar de amigos meus, os Resendes. De um desses encontros, recordo uma dramática situação: a da detenção de civis, supostamente levados para a praça de touros e de quem mais nada se sabia.
Por estes dias, já tínhamos avião da TAAG marcado para Nova Lisboa, lá para os dias 9 ou 10. Iria eu surpreender familiares e, depois em Benguela, o Cruz a bater à porta de amigos da sua natal terra de Cardigos.
- ZMN. Zona Militar Norte.
- TAAG. Transportes Aéreos de Angola.
quarta-feira, 4 de abril de 2012
1 244 - Zalala nos acampamentos do inimigo...
Furriel miliciano Rodrigues, da 1ª. CCAV. 8423, num
acampamento do IN dos arredores de Zalala (1974)
A 1ª. CCAV. 8423 foi a última guarnição portuguesa que ali aquartelou - até 25 de Novembro de 1974, quando rodou para Vista Alegre e Ponte do Dange -
e sabe Deus e já se esqueceram os homens do capitão Castro Dias quanto por lá terão sofrido.
e sabe Deus e já se esqueceram os homens do capitão Castro Dias quanto por lá terão sofrido.
A imagem mostra o furriel miliciano Rodrigues, num acampamento do IN nos arredores de Zalala, depois de mais uma operação no mato, de vários dias.
A progressão teve indetermináveis precauções e os perigos não deixaram de espreitar os corajosos homens que galgaram trilhos e picadas, passo a passo, pé ante pé e de ouvidos apurados, para não serem surpreendidos por alguma iminente emboscada. Mas, custando o que custou, «lá conseguíamos chegar...», como recorda o Rodrigues.
A progressão teve indetermináveis precauções e os perigos não deixaram de espreitar os corajosos homens que galgaram trilhos e picadas, passo a passo, pé ante pé e de ouvidos apurados, para não serem surpreendidos por alguma iminente emboscada. Mas, custando o que custou, «lá conseguíamos chegar...», como recorda o Rodrigues.
Algumas vezes, as operações eram feitas por etapas, para reconhecer o terreno e depois actuar, abrindo trilhos com catana pela selva virgem de Angola. E quando se chegava a um acampamento do IN, já dele não havia sombra ou cheiro.
«Nem viv´alma. De qualquer modo e já conhecedores dos caminhos, lá voltávamos, bem mais confiantes, para verificar se as zonas estavam mesmo livres e o certo é que estavam mesmo», recorda o Rodrigues. «Eles sabiam que tinha passado por ali gente de Zalala», frisou o ex-furriel miliciano Cavaleiro do Norte.
Eram tempos de 1974, os últimos da ocupação portuguesa.
- RODRIGUES. Américo Joaquim da Silva Rodrigues, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV. 8423. Aposentado, residente em Vila Nova de Famalicão.
- IN. Inimigo.
- IN. Inimigo.
terça-feira, 3 de abril de 2012
1 243 - Dias de Angola a luandar...
Baía de Luanda, nos anos 70 do século XX (foto da net)
A 31 de Março de 1975, já andava eu por Luanda na vadiagem de férias que dividia com o Cruz, e ocorreu-me ligar para Portugal, para a vizinha Celeste, que chamaria minha mãe, vizinha do lado, para eu lhe falar num dia muito especial da família: o da visita pascal. Que, na minha terra, ainda hoje é à... 2ª.-feira.
As ligações não eram fáceis como hoje, quando se tecla um telemóvel e no segundo seguinte se está no fim do mundo. Tínhamos de ir a uma estação de Correios e pedir a ligação, que não acontecia logo - poderia demorar horas. Aprazei-a para a hora do meio dia, acreditando que eu a senhora minha mãe estaria por casa. Chegou a ligação, falei com a vizinha Celeste, mas, azar!!!..., tinha minha mãe saído. Aproveitou Celeste para me perguntar pela irmã Benedita, que morava no bairro da Cuca, com o marido (Mário) e com a filha Fernanda (do eu ano) já casada e a morar fora.
Luanda fervilhava!
A restinga (a ilha de Luanda), o Amazonas, a Portugália, a Mutamba, a Paris Versailles, a ilha do Mússulo, eram pouso destes dias agitados e muito vivos de dois moçoilos idos de Carmona e que, por lá, dispensavam o camuflado e se vestiam de civil e civis se portavam no levedar da noite, com «pantagruélicas» almoçaradas e jantaradas nos Florestas e outros poisos da cidade. Olhem aqueles nomes de ali atrás.
De Lisboa, chegavam notícias das primeiras eleições, marcadas para 25 de Abril. António Spínola negava ter participado na intentona de 11 de Março, na sequência da qual o Governo Provisório (antes de Vasco Gonçalves) nacionalizara a banca e os seguros, institucionalizara o MFA e foi criado o Conselho da Revolução
Vasco Gonçalves tinha tomado posse com 1º. Ministro, a 26 de Março. AOC, MRPP e PDC foram suspensos pelo Conselho de Revolução.
Luanda «assistia» a regulares confrontos, mas a vida social continuava como se nada fosse. Praias, cinemas, restaurantes, locais de culto da vida nocturna, enchiam-se de vida. Luandava-se como se caminhasse para os paraísos da vida!
- AOC. Aliança Operária e Camponesa.
- MRPP. Movimento Reorganizativo do Partido do Proleteriado.
- PDC. Partido da Democracia Cristã.
segunda-feira, 2 de abril de 2012
1 242 - Os heróis, os desertores e os refractários...
Alferes Machado (2ª. CCAV) e capitão Castro Dias
(1ª. CCAV.) no Escape, em Carmona (1975)
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JOÃO MACHADO
JOÃO MACHADO
Texto
Há muita gente que diz que a nossa ida para Angola, principalmente depois do 25 de Abril, foi para beber uns copos e pentear macacos. É verdade, amigos!!! E para prová-lo junto fotografias “a beber uns copos” e a pentear macacos (com rabo, como podem ver na foto).
Porque não?
Nunca devemos é deixar de dizer alto e em bom som “EU CUMPRI O MEU SERVIÇO MILITAR “ e quem conhecer este bocadinho de espaço – Cavaleiros do Norte – onde vamos recordando algumas “traquinices” daqueles tempos, deverá ficar no mínimo na dúvida “Mas quem são (ou quem foram) aqueles putos? ”.
Sim, éramos miúdos, na maioria com 22/23 anos, com uma G3 nas “unhas”, com 100 munições 7,62 mm (20 na arma e 80 à cintura), mais duas granadas defensivas, e duas ofensivas, e alguns ainda traziam uma no dilagrama, e uma faca de mato. Não esquecendo os 3 ou 4 soldados que levavam as HK21, duas em regra com morteiros 60 I e um lança granadas. Tudo com as respectivas munições, é claro. Assim equipados andamos por terras do Norte de Angola.
Era moda na altura e nós andávamos na moda, porque não? Mas tudo isto era verdadeiro, não eram espingardas, balas e granadas de plástico, que se compram nas feiras.
A nossa actuação até foi motivo para conversa entre algumas patentes militares e políticas quando abordavam o tema, na altura também na moda, DESCOLONIZAÇÂO. Tudo o que andamos a fazer foi só por um motivo. Sabem qual foi? “JURAMOS A BANDEIRA PORTUGUIESA” e como Portugueses, comprometemo-nos a cumprir até ao fim esta brincadeira.
Mas, amigos e camaradas, não podemos é continuar a encobrir e a esquecer os heróis que fugiram, com o rabo entre as pernas, para fora do país. Onde estão os chamados então de refractários e desertores? Alguns até podemos saber quem são, outros andam encobertos, mas seria óptimo publicar esses nomes para os portugueses conhecerem. Escrevê-los mesmo num monumento, perto da Torre de Belém (em Lisboa), com os nomes dos que morreram em combate.
Pode ser que as referidas palavras – refractário e desertor – com o novo acordo ortográfico, já tivessem sido abolidas dos dicionários de Língua Portuguesa, quem sabe? Mas a Bandeira ainda é a mesma.
Um abraço.
João Machado
domingo, 1 de abril de 2012
1 241 - Novo, radiotelegrafista e louvado...
O Novo era mesmo novo, tinha 22 para 23 anos, e foi radiotelegrafista em Santa Isabel, na 3ª. CCAV., a do capitão miliciano José Paulo Fernandes. Depois, de 1974 para 1975, no Quitexe! Homem de «espírito franco e leal, disciplinado, correcto de trato e um incansável trabalhador».
Tais atributos foram-lhe apostos no louvor atribuído pelo comando da 3ª. CCAV., que lhe enfatiza a sua «dedicação e elevado espírito de sacrifício e meticuloso cuidado e zelo, que fez com que se distinguisse dos demais». Por isso mesmo, sublinha o louvor publicado na na ordem de serviço 167, foi apontado como «exemplo a todos os seus camaradas».
O documento também refere «uma perfeita compenetração da missão que lhe foi confiada, quer pelos seus actos, quer pelas suas palavras» . Pormenores que se revelaram «desde que principiou a servir a companhia».
- NOVO. José de Oliveira Novo, soldado radiotelegrafista da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel. A foto é de Junho de 2011.
sábado, 31 de março de 2012
1 240 - os 1ºs. cabos-milicianos que passaram por oficiais...
Entrada do campo militar de Santa Margarida
(em cima) e (ex-furriel) Viegas com a farda nº. 1 (1974)
A chamada Licença de Normas foi gozada entre 18 e 28 de Março de 1974, mas, por razões que agora a memória deixa escapar, forma prolongadas até 22 de Abril. Alguns de nós (ao tempo 1º.s cabos milicianos e aspirantes a oficiais milicianos) fizemos serviços neste intervalo e numa dessas viagens, eu com o Neto, à civil e no SIMCA 1100 dele, fomos mandados parar num stop da GNR, entre o Tramagal e a estação de caminho de ferro.
Parou o Chico Neto. Parou e puxou da carteira, na qual se mostrava a fotografia com a farda nº. 1, de casaco cinzento e chapéu de pála, camisa branca e gravata, sem se notarem as divisas. Parecia um oficial.
O praça da GNR pareceu-nos algo atrapalhado e a transpirar e, inopinadamente, bateu o tacão das botas, fez a palada com todos os esses e erres e soltou um «desculpe, pode seguir».
Se o Neto ficou estupefacto, mais eu fiquei. Ele não era propriamente peco a carregar no pedal e viajávamos em velocidade acima da regra. A multa era inevitável, embora não conviesse. Os GNR´s, de quem se esperava a multa, porém nem sequer chegaram a ver os documentos.
Lá fomos embora, para o RC4 - pois se faziam já horas, e apertadas... -, interrogando-nos sobre a razão de tal comportamento dos GNR´s. Só lá percebemos, quando comentámos o caso e o Garcia nos disse do que seria a graça: «Eles pensaram que vocês eram oficiais!!!...».
E como assim? Pois, era fácil: era a foto com a farda nº. 1. Igual à dos oficiais e que tínhamos de tirar para o bilhete de identidade militar!
Anos depois, já civil, eu mesmo viria a usar o truque: mostrar disfarçadamente a fotografia, na carteira dos documentos, quando as forças policiais mos pediam. Era logo saudado com palada e mandado embora.
- FOTO: A foto com farda nº. 1 era obrigatória e tirada numa das duas casas fotográficas de Santa Margarida. O mesmo casaco, a mesma camisa, a mesma gravata e o mesmo boné eram usados» por milhares de militares. Usavam-se molas a roupa para as apertar, por trás.
sexta-feira, 30 de março de 2012
1 239 - Cavaleiros do norte em Salazar, Quibaxe e Úcua
Carmona (agora Uíge), Quitexe (Dange), Aldeia Viçosa e Úcua na rota
dos Cavaleiros do Norte. Emblema do Esquadrão de Cavalaria 401 (em baixo)
dos Cavaleiros do Norte. Emblema do Esquadrão de Cavalaria 401 (em baixo)
Há 37 anos, aprontavam-se uns para gozar férias e outros, no terreno, estabeleciam contactos, a vários níveis, com os movimentos emacipalistas. Por Carmona, eram diários e «concretizados em reuniões de Estados Maiores conjuntos, à 4ª.-feira».
O Livro da Unidade, referindo-se a este período, dá conta que «tem-se verificado uma boa aceitação das medidas militares tomadas», o que, conclui, «tem sido a origem do clima de paz que se vive no distrito». A redacção é do comandante Almeida e Brito, ao tempo o responsável pela Zona Militar Norte (ZMN), que cita este grupo de trabalho como «um exemplo para terceiros», pelo que «a mesma está a ser itinerante».
«Dentro deste contexto, houve contactos a vários níveis, com os Movimentos das áreas de Salazar, Quibaxe e Úcua». Este último caracterizou-se mesmo por «um patrulhamento conjunto das forças do Esquadrão de Cavalaria 401 e a 2ª. CCAV. 8423», realizado a 31 de Março de 1975.
quinta-feira, 29 de março de 2012
1 238 - Ora lá adeus, que vamos de férias e luandar...
Cruz e Viegas na avenida do Quitexe. Atrás, o bar dos praças (1974)
A 29 de Março de 1975, um sábado, aprontei-me eu de serviço no BC12, fazendo vésperas da ida de férias, para as quais preparei a minha pequena mala preta - na qual ainda hoje guardo a correspondência angolana.
Ao outro dia, com o Cruz, voaria de Carmona para Luanda (que luxo!!!) e por lá estaríamos (e estivemos) alguns dias, antes de viajar para o sul, até Nova Lisboa (agora Huambo), Benguela e Lobito (como destinos principais).
Férias, que bom!!!
A Carmona desse tempo fervia de pequenos e repetidos incidentes (nada que a tropa não controlasse, mas sempre criando alguns constrangimentos) e murmúrios, engravidada de pequenos e dispensáveis boatos, e o aroma de férias animava-nos.
Luanda era uma cidade onde tinha criado e multiplicado alguns afectos e muito desejada pelo seu bulício social - bulício e animação nem sequer bulidas pelas repetidas (e algumas vezes violentas) escaramuças entre movimentos emancipalistas.
O pouso iria ser (e foi) o Katekero, no largo Serpa Pinto, bem pertinho da baixa e onde já tinha «ficha». Para lá tinha ligado, pelo telefone dos CTT de Carmona.
O Cruz aprontava-se, também! Os dias próximos da cosmopolita Luanda iam ser nossos. E as noites!! E as gentes que por lá eram colo das nossas melhores amizades. Não nos iria faltar apetite para luandar. E assim seria!
quarta-feira, 28 de março de 2012
1 237 - A última ida da Vista Alegre, Ponte do Dange e Quitexe
Ponte do Dange, vista do aquartelamento da 3ª. CCAV. 8423 (1975)
A véspera, fôra dia de ida ao Quitexe, onde estava a 3ª. CCAV. (a do capitão José Manuel Fernandes), pela mesma razão e por lá passámos de novo, sem sequer parar. Julgo que tenha sido esta a última vez que senti os cheiros da vila-mártir de 1961 e nossa casa de 9 meses - de 6 de Junho de 1974 a 2 de Março de 1975.
O capitão Themudo chegara dias antes a Carmona, convidado por Almeida e Brito, para assumir essas funções, de que o BCAV. 8423 estava «órfão» desde o embarque. Logo ficou comandante interno, desde 24 de Março - porque Almeida e Brito, também interinamente, passou a comandar a Zona Militar Norte (ZMN).
Ambas as guarnições (principalmente a malta da 1ª. CCAV.) pediam notícias sobre a evolução próxima do batalhão. Quando vamos?, para Carmona, para Luanda, para Lisboa, era a questão essencial daquele tempo - sem que nós pudéssemos responder
Expectava-se muito, por esse tempo - e especulava-se... - sobre a iminente rotação para Luanda, onde o BCAV. 8423 era desejado pela RMA, já desde Fevereiro. E só a 26 deste mês, recordemos, foi decidida a nossa ida para o BC12, em Carmona. Nada se sabia, porém, por estes dias, e só em Agosto o batalhão, inteiro, rodou para a capital. Até lá, muita coisa iria acontecer na ZMN.
Ver AQUI, a chegada do capitão
Themudo, na primeira pessoa.
terça-feira, 27 de março de 2012
1 236 - O fado, as balas, os morteiros e os porcos...
Rodoflo Tomaz, 1º. cabo rádio-montador da CCS do
BCAV. 8423, aqui como «gestor» da mini-vara do BC12(1975)
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RODOLFO TOMAZ
Texto
RODOLFO TOMAZ
Texto
Estávamos em Carmona, era o ano de 1975, e os tempos eram difíceis, principalmente durante o mês de Junho.
A guerra entre FNLA e MPLA começou no dia 1 e, azar o meu, estava de cabo de dia e tinha pela frente um dia complicado, com delicada missão para cumprir: levar de comer ao antigo posto da PIDE, na cidade de Carmona. Faço o destaque porque, como se devem lembrar, o BC12 era num alto, já fora da cidade, na saída para o Songo.
Os morteiros começaram a ouvir-se cerca das 5,30 da manhã. Eu e outros companheiros, ao ouvi-los, confundimo-los com o som de pancadas e pensava eu ser resultado da borga da noite que se expirava, com o Domingos estofador a cantar o fado (e muito bem), ao estilo de Fernando Farinha, não se esquecendo do pormenor de cantar com as mãos nos bolsos.
Eu e outros, cheios de sono, gritámos: "Calem-se, deixem-nos dormir, para esta noite já chega!...".
Engano nosso!
Só depois alguém observou clarões que se viam por cima dos portões das casernas, devido a ser ainda noite. Eram os morteiros a rebentar na cidade, com os reflexos a chegaram ao BC12. Por volta do meio dia, chegou a hora do aperto, para 12 a 15 homens em cima de uma Berliet, com os tachos e panelas debaixo dos bancos.
Eu não era operacional mas também dei o meu contributo. As ordens foram dadas, bala na câmara e prego a fundo na recta, onde o fogo era cruzado. Mesmo assim, ouviram-se algumas balas a assobiarem, felizmente sem consequências. Mais difÍcil foi o regresso, pela recta que deveria ter mais de um quilómetro, creio eu - de Carmona para o BC12 - e se nos acontecesse algo seria difícil, mas muito difícil mesmo, termos ajuda dos nossos companheiros.
Os porquinhos da foto ajudaram-nos a matar a fome, por estes dias! Lembram-se?
Estas histórias - e muitas mais - vamos nós certamente recordar no próximo encontro dos Cavaleiros do Norte, no dia 2 de Junho de 2012. Até lá!
RODOLFO TOMAZ
segunda-feira, 26 de março de 2012
1 235 - Armas portuguesas para os movimentos - 2 (FIM)
Militares da 2ª. CCAV. 8423, reconhecendo-se os furriéis miicianos Martins (a vermelho) e Mourato (amarelo). Alguém pode ajudar a identificar os restantes?
JOÃO MACHADO
texto
Continuado, de ontem
(...) Aqueles soldados não mereciam chegar a Luanda sem armas, mascarados de soldados. Tinham sido eles que «refilavam mas cumpriam», que «estavam cansados mas iam», que «estavam a dormir mas acordavam» e rram ainda, não nos podemos nunca esquecer, aqueles soldados que, firmes no seu posto, na revolução do 25 de Abril, aceitaram embarcar para Angola, numa comissão de serviço militar, cerca de dois meses depois daquela data, devidamente enquadrados, instruídos e disciplinados, sem nunca ter ouvido da boca deles o slogan que em todo o lado se ouvia “Nem mais um soldado para as Colonias”.
Mais existirá para contar, por nós e por outros que também sentiram na pele a Guerra de África, não só quando começou mas também como decorreu e também como acabou, Aqui, fomos todos nós - Cavaleiros do Norte - testemunhas, porque estivemos lá quase até à data da independência.
- Mas... valeu a pena o esforço?
Talvez!
Tudo o que custa a conquistar tem mais valor, a amizade, a união o companheirismo, podem ser o resultado desse esforço em conjunto. Não é por acaso que, depois de tanto tempo decorrido, ainda trocamos palavras e abraços quando nos encontramos e é com alegria e alguma emoção que recordamos muitos daqueles esforçados tempos vividos.
- Valeu a pena o sacrifício?
Tenho a certeza de que tudo o que vivemos e passámos influenciou, talvez até sem darmos por isso, a nossa conduta e maneira de ser perante a vida. O sacrifício ajuda muito a conhecermo-nos a nós próprios, do que somos capaz e até onde podemos ir.
Estou-me a lembrar que aprendi na instrução militar em Penude (no CIOE de Lamego) que quando dizíamos “eu não posso mais” ainda fazíamos pelo menos outro tanto, ou mais, com muito sacrifício, é certo, mas cada vez mais admirados com as capacidades que íamos descobrindo em nós próprios e que não conhecíamos.
- Valeram a pena as dificuldades passadas?
Aqui, tenho muitas dúvidas, que têm vindo a aumentar ao longo dos anos, principalmente quando penso na nossa passagem por Angola. Olhem para trás e tentem recordar-se do que era Luanda quando chegamos, de como ficou quando partimos e do que será hoje (no meu caso, só pelo que me contam). É aqui que só tenho uma resposta para me conformar relativamente a todas às dificuldades passadas: “Felizmente tudo correu bem…”.
Resta saber se por acaso, porque o merecemos ou porque as soluções encontradas foram efectivamente as melhores. Mas regozijo-me, porque o nosso objectivo principal foi alcançado: Fomos todos e viemos todos.
Um grande abraço para todos
JOÃO MACHADO
- MACHADO. João Francisco Pereira Machado, alferes miliciano de Operações Especiais (Ranger´s), da 2ª. CCAV. 8423. Aposentado a administração fiscal e residente em Lisboa.
- CIOE. Centro de Instrução de Operações especiais, aquartelado em Penude (Lamego).
domingo, 25 de março de 2012
1 234 - Armas portuguesas para os movimentos - 1
Alferes Machado nas piscinas de Carmona (em cima) e capitão José DiogoThemudo (em baixo)
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JOÃO MACHADO
Texto
Ainda não tinha lido a mensagem do sr. Coronel de Cavalaria Reformado José Diogo Themudo, 2º. Comandante do Batalhão de Cavalaria 8423 em que servimos, no cumprimento da maior parte do nosso Serviço Militar.
Quando a li, não pude deixar de voltar a ler… e reler, pensando no que está escrito no parágrafo que se refere ao cumprimento da nossa missão em terras de África.
Diz: «Todos nós nos entregámos da melhor forma que sabíamos e podíamos às nossas missões e tarefas. Ainda hoje penso, muitas vezes, se valeu a pena o esforço, o sacrifício e as dificuldades por que passámos. Terá sido a melhor solução? Teria havido outra solução naquela altura? Não sei. Não podemos voltar atrás…”.
É verdade! Este pensamento não é exclusivo, vem-me muitas vezes à cabeça, principalmente quando recordo os acontecimentos vividos em Carmona. Foram tempos difíceis, em que talvez nem nos tivéssemos apercebido da verdadeira realidade da situação que vivemos.
Agora, sinto termos andado em cima de um gigantesco barril de pólvora, maior do que o paiol de munições do BC12 - que sempre me custou deixar inteiro, mas foi melhor assim.
Pensando conscientemente no contexto em que vivemos naqueles últimos tempos e na célebre coluna militar de desactivação da Zona Militar Norte - que, infelizmente, só acompanhei até Salazar e grande parte do percurso em ambulância, cheio de dores -, não posso deixar de sentir um arrepiozinho e pensar que... “felizmente tudo correu bem ”.
Recordo-me de, na madrugada de um desses últimos dias, estando de serviço de oficial de dia, ter chegado alguém, cuja presença não era usual àquela hora da madrugada no quartel, que, depois dos devidos cumprimentos militares, me tentou explicar, caminhando lado a lado pela parada do BC 12, no sentido da porta de armas para o refeitório, que a FNLA e a UNITA reclamavam às altas patentes (militares ou políticas, não sei) o nosso armamento, que pretendiam que lhes fosse entregue em Carmona, alegando que o MPLA estava a ficar com todo o que ia sendo deixado em Luanda e eles achavam-se com direitos iguais, nas zonas que controlavam militarmente.
Esta situação talvez não fosse descabida de todo e poderia muito bem vir a acontecer por ordens superiores e em prol de um tratamento de igualdade para com todos os movimentos, pretendendo-se, assim, mais um contributo para a tão pretendida paz na descolonização. Assim dizia o meu interlocutor, ainda, não sei se exactamente por estas palavras.
Também não me lembro exactamente das palavras que usei na resposta, nem de onde veio a coragem para as proferir, mas foram sentidas no seu significado, quando pude manifestar a minha opinião: «Entregar a minha arma? Isso seria a ultima coisa que faria no cumprimento do meu serviço militar». Entregaria, sim, porque não era minha, mas a farda do Exército Português essa não vestiria mais. Iria para Luanda, mas como civil e, então, agradeceria a escolta de comandos, pára-quedistas, apoios aéreos etc., que, a verificar-se esta situação, já estaria prometido e possivelmente já planeado, mas o melhor mesmo seria o regresso de avião. Nós tínhamos os nossos soldados e eu, sendo um deles, era em quem confiava. Talvez não tivessem sido por acaso as palavras que o nosso comandante de Batalhão me dedicou no final da comissão e que tenho orgulho de citar: «tornou-se sobretudo notório no todo coeso que conseguiu dos homens que directamente comandou».
JOÃO MACHADO
Continua amanhã
Mensagem do capitãoJosé Diogo Themudo: ver AQUI
- MACHADO.João Francisco Pereira Machado, alferes miliciano de Operações Especiais (Ranger´s). Aposentado a administração fiscal e residente em Lisboa.
sábado, 24 de março de 2012
1 233 - Encontros dos «zalalas» com a FNLA, em Vista Alegre...
Rodrigues em Vista Alegre, com elementos do FNLA (1975)
Os primeiros contactos “amigáveis” da 1ª. CCAV. 8423 com elementos da FNLA, já tinham acontecido em Zalala e naturalmente continuaram em Vista Alegre - para onde a companhia rodou a 25 de Novembro de 1974. Foi nesta data que, oficialmente, assumiu a responsabilidade da (sua) nova zona de acção - que incluía o nuclear aquartelamento da Ponte do Dange.
Os contactos aumentaram em Vista Alegre.
«Já eram bastantes, mas não tão genuínos, nem comparados com os de Zalala», recorda o (ex-furriel) Rodrigues, admitindo que «provavelmente tinha sido recrutadas à última da hora» - os homens da FNLA.Já apareciam em grupos e com fardas e melhor armamento. E tudo correu sem grandes problemas, paz para que concorreu o facto de por lá não haver presença dos outros movimentos, o MPLA e UNITA - ou, a haver, era muito reduzida.
As escaramuças a valer, recorda o Rodrigues, «estavam reservadas para mais tarde, para o palco de Carmona». E de que maneira!
sexta-feira, 23 de março de 2012
1 232 - O Marcos e os primeiros dias da Polícia Militar
Cine Moreno, em Carmona, mesmo em frente à
Rádio Clube do Uíge (em cima). O Marcos (em baixo)
A animosidade da população civil de Carmona para com os militares não foi de todo surpreendente, mas teve circunstâncias bem difíceis logo nos primeiros dias da chegada dos Cavaleiros do Norte - a 2 de Março de 1975. Pessoalmente, ainda hoje não entendo bem tal diferença, ou tal ódio!, e os dramáticos acontecimentos do primeiros dias de Junho (quando milhares deles foram salvos da morte, por mor da intervenção enérgica e corajosa da guarnição) menos me ajudam a compreender.
«As muitas quezílias entre a população civil e as NT», e cito o Livro da Unidade, "levaram à constituição de um serviço de PM nas ruas da cidade». E houve mesmo necessidade de «promulgar novas NEP», de modo a «garantir a melhor apresentação do pessoal militar» e, por este meio, e volto a citar o LU, «prever a resolução» de tais quezílias.
Não foi espantoso que, devido às minhas habilitações militares, fosse um dos furriéis milicianos escolhidos (ou nomeados) para a equipa de PM´s - que fiz muitas vezes, ora com o Almeida e o Francisco, ou o Marcos, o Hipólito, o Madaleno, talvez com outros.
Os primeiros dias foram muito, muito difíceis. Passávamos nas ruas da cidade e éramos insultados: cobardes, traidores e canalhas, era mínimos com que nos mimoseavam, entre cuspidelas para o chão (gesto ao tempo muito ofensivo) e outros palavrões do vernáculo popular.
Aqui, lembro o Marcos, sempre muito impulsivo e reactivo, por vezes difícil de controlar, como uma vez no Cinema Moreno - quando uns jovens civis «testaram» o seu estado civil, o baptizaram do que não era (até era solteiro) e a confrontação física esteve iminente. Dois deles foram levados ao BC12, onde prestaram contas e foram mandados embora.
- MARCOS. João Manuel Lopes Marcos, soldado atirador de cavalaria, do Pêgo (Abrantes).
- NEP. Normas de Execução Permanente.
- NT. Nossas Tropas.
- PM. Polícia Militar.
quinta-feira, 22 de março de 2012
1 231- Eurípedes Jacinto Peralta Pavanito, cavaleiro de Santa Isabel
Eurípedes? Quem é?!!!! Pavanito??? Pfffff!!!.... Difícil!!! Vamos lá a saber quem é: é um (antigo) soldado condutor da gloriosa guarnição de Santa Isabel, a da 3ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano José Paulo Fernandes. A última, a do adeus, no já distante dia 10 de Dezembro de 1974.
Pavanito, assim por lá era conhecido, foi «militar aprumado, brioso e leal», qualidades que o fizeram, naturalmente, «merecer a admiração os seus próprios camaradas». Mereceu também um louvor do comandante, que lhe exaltou as qualidades de «militar disciplinado e correctíssimo», que «enfrentou com espírito de missão apreciável todas as situações vividas pela Companhia», sendo por isso, «digo de ser apontado como exemplo, em público louvor».
A foto é de 2011, do encontro de Torres Vedras, e por ela se vê como Eurípedes Pavanito está bem de vida, de ar bem saudável e os etc´s que fazem um homem feliz. Feliz foi também, ele, por Santa Isabel e depois pelo Quitexe e Carmona, pois era «estimado por todos e desejado de muitos», por ser, como sublinha o louvor, «extremamente zeloso do material que lhe tem sido confiado».
- PAVANITO. Eurípedes Jacinto Peralta Pavanito, soldado condutor da 3ª. Companhia. Reside na Quinta do Conde (Sesimbra). Erradamente, já aqui foi identificado com o apelido Pestana (em vez de Peralta).
Pavanito, assim por lá era conhecido, foi «militar aprumado, brioso e leal», qualidades que o fizeram, naturalmente, «merecer a admiração os seus próprios camaradas». Mereceu também um louvor do comandante, que lhe exaltou as qualidades de «militar disciplinado e correctíssimo», que «enfrentou com espírito de missão apreciável todas as situações vividas pela Companhia», sendo por isso, «digo de ser apontado como exemplo, em público louvor».
A foto é de 2011, do encontro de Torres Vedras, e por ela se vê como Eurípedes Pavanito está bem de vida, de ar bem saudável e os etc´s que fazem um homem feliz. Feliz foi também, ele, por Santa Isabel e depois pelo Quitexe e Carmona, pois era «estimado por todos e desejado de muitos», por ser, como sublinha o louvor, «extremamente zeloso do material que lhe tem sido confiado».
- PAVANITO. Eurípedes Jacinto Peralta Pavanito, soldado condutor da 3ª. Companhia. Reside na Quinta do Conde (Sesimbra). Erradamente, já aqui foi identificado com o apelido Pestana (em vez de Peralta).
quarta-feira, 21 de março de 2012
1 230 - Furriel mecânico Dias, louvor e castigo...
Eusébio, Dias e Velez, três furriéis de Zalala
Trago aqui hoje o Dias, que foi furriel por Zalala e passou por Vista Alegre e Carmona, antes de chegar a Luanda e voltar a Lisboa. Foi mecânico-auto e de tal forma «eficiente e cuidado» que mereceu louvor do capitão Castro Dias, que comandou a 1ª. Companhia do BCAV. 8423, a de Zalala.
O louvor é de Agosto de 1975, quando, já em Luanda, se faziam vésperas da viagem para casa, e sublinha «o zelo demonstrado no seu trabalho, a prontidão na sua execução e o seu espírito de servir» que, enfatiza o documento, «constituem, só por si, motivo de consideração e apreço do comando directo que serviu, tornando-se merecedor da distinção ora conferida».
As sublinhadas qualidades de Manuel Dias foram razão para «tornear todas as dificuldades surgidas» e «recuperar permanentemente o material seu cargo», conseguindo, por isso, «superar os esforços que a este (material) era pedido, quer devido ao muito uso, quer devido às condições dos itinerários em que eram obrigados a actuar esses meios». Referia-se o autor do louvor, certamente, à dificílima e perigosíssima picada para Zalala a e outros troços à volta do aquartelamento.
O furriel mecânico Dias é um caso insólito dos Cavaleiros do Norte. Foi louvado, como reportamos, e punido. Na verdade, a ordem de serviço nº. 51 dá conta de ter sofrido 10 dias de detenção. Porquê? Vá lá saber-se!
- DIAS. Manuel Dinis Dias, furriel miliciano mecânico auto, da 1ª. CCAV. 8423. De Lisboa.
terça-feira, 20 de março de 2012
1 129 - Os 83 anos do capitão Luz!
Alferes Garcia e Ribeiro, capitão Leal (médico) e tenente Luz
O nosso «mais velho» está em vésperas de fazer 83 anos: o tenente Luz. Que agora é capitão e aposentado. Foi chefe de secretaria do BCAV. 8423, «disciplinado, de lealdade e correcção inexcedíveis, de elevadas qualidades militares, de total dedicação pelo serviço, dotado de excelente educação e civismo», como dele diz o louvor do comandante Almeida e Brito. Subscrevo.
Vem hoje aqui porque, por este tempo de 1975, foi ele condecorado com a Medalha Militar Comemorativa das Campanhas do Exército Português, com a legenda ANGOLA 1963 - 64 - 65. Tal assim vem descrito na Ordem de Serviço 45 do BCAV. 8423.
Ao tempo, por este tempo de Março de 1975, fazia o tenente Luz uns jovens 46 anos!!! Era uma criança, ao lado do (mesmo) cidadão que, no dia 28, fará 83!!!, de saúde convalescida de uma violenta queda que, já este ano, a 14 de Janeiro, o atirou um mês para o hospital. Fez fractura do colo do fémur da perna esquerda e agora anda de canadianas.
«Parece estar tudo a correr bem, mas o caso é imprevisível», disse-nos o capitão Luz, falando da (sua) ida ao Encontro dos Cavaleiros do Norte e ansioso por estar operacional a 2 de Junho, para não faltar. A 19 de Maio, terá um outro (de outra gente da sua tropa), em S. Pedro de Moel.
«Tenho esperança que, se Deus quiser, lá estarei...», disse ao blogue.
A malta da CCS espera-o, tenente Luz!!! Mesmo de canadianas. Inté!
- LUZ. Acácio Carreira da Luz, capitão do SGE, aposentado. Reside na Marinha Grande e é o Cavaleiro do Norte de mais idade: 83 anos,a 28 de Março de 2012.
segunda-feira, 19 de março de 2012
1 208 - O soldado do Batalhão de Cavalaria 8423
A 18 de Março de 1974 entrámos em gozo das chamadas Licenças de Normas e todo o pessoal foi «minuciado» de papelada de mentalização para o que nos esperava na guerra colonial para que nos preparávamos. «Ser-se de cavalaria não é ser-se melhor nem pior, é ser-se diferente.Ser-se do RC4 é obedecer ao lema «Perguntai ao inimigo quem somos?».
Vale a pena recapitular a imagem que nos era «vendida» pela acção psicológica, no sentido de aceitarmos e exercermos o aprumo permanente, o asseio irrepreensível, a pontualidade em extremo, a dedicação até ao sacrifício, o interesse total, educação firme e valentia até ao destemor, para que fossemos «soldado do BCAV. 8423 e daqueles a quem o inimigo, ao perguntar quem és, te acha diferente».
Honrai a Pátria, que a Pátria vos contempla; O soldado português é dos melhores do mundo; O Exército Português é o espelho da nação; Cultiva as virtudes que te solicitarem para te impores como verdadeiro soldado; Aprumo e atavio; Pontualidade e vontade firmes; Dedicação e interesse; Disciplina e respeito total», eram alguns dos dogmas que nos foram «vendidos» para reflexão no período das Licenças das Normas.
Hoje, 38 anos depois, não se evita um sorriso, na memória que fazemos da nossa generosidade de então. E por muito esforço que faça (e fiz) não consigo recordar as emoções sentidas, muito menos a meditação que era sugerida no documento. Os tempos também eram outros, como a idade.
domingo, 18 de março de 2012
1 207 - Aventuras com o Mota Viana em Lamego...
A largada foi para lá de Moimenta da Beira, até Penude (em 1973).
Mota Viana (em 2012)
Trago aqui, a esta memória dos Cavaleiros do Norte, a figura de um companheiro de Lamego, que a vida depois levou a Angola, no 8423: o Mota Viana.
Na noite de um sábado para domingo de Julho de 1973, foi a famosa largada. A do do 2º. curso de operações especiais desse ano, em Lamego. Fomos todos de olhos vendados e mãos amarradas nas costas, em viaturas militares, desde Penude e até Moimenta da Beira, e descarregados no mato para lá da vila.
Sempre fui desenrascado nestas coisas e consegui desamarrar as mãos, ainda no quartel, o que me permitiu deslocar a venda e, mesmo de noite, criar orientações. Voltei a amarrá-las e, quando fui «largado», apesar de ameaçado de que estava num talude íngreme, deixei arrancar a viatura e calmamente tirei a venda e logo apanhei o caminho e fui ajudar outros companheiros da prova.
Era noite, bem de noite e muito escura, para aí uma duas horas da manhã e andavam por ali, aos gritos e à procura de destino, muitos dos militares largado. Um deles era o Mota Viana. Quiçá, de todos nós, quem menos gostava da tropa.
Orientámo-nos em grupos, até Moimenta e, aqui, fomos à GNR, que nos indicou o caminho de Lamego. Não havia placas, ou não as vimos. Fizemos um grupo de 5 ou 6 e fomos caminhando, caminhando... Doía-nos o corpo, cansavam-se-nos os pés e alguns deles já tinham bolhas, pelo que foi penosa a caminhada. Ao alvorecer, numa aldeia de Ferreirim, o grupo já estava limitado a mim, ao Mota Viana, ao Zacarias e ao Gonçalves. A fome foi morta pela generosidade de uma família que saía para a missa das 7 horas e seguimos viagem. Em Ferreirim, fartos da caminhada, lembrou-se o Mota Viana de «arranjar um carro». E houve a tentação de uma ligação directa num Carocha estacionado na rua. Desistimos..., seguindo a caminhada pela estrada de asfalto, quando a devíamos fazer pelos matos. Foi quando arranjámos boleia, antes de Britiande e poupámos uns bons quilómetros, já que o homem da carrinha de caixa aberta nos foi levar ao monte, entre Cepões e Penude - muito perto de um posto de controle, à ponte do rio Balsemão - de onde subíamos para o quartel.
O Mota Viana, por qualquer razão, não concluiu o curso, foi atirador de cavalaria e Cavaleiro do Norte de Zalala, na 1ª. CCAV. 8423.
Ver AQUI
- MOTA VIANA. Fernando Manuel da Mota Viana, furriel miliciano atirador de cavalaria. Natural e residente em Braga, onde é comercial do sector gráfico.
- ZACARIAS. Zacarias Rosário Ramos. De Ovar, foi furriel miliciano de Operações Especiais na Guiné.
- GONÇALVES. Joaquim Ferreira Gonçalves. De Chaves, foi furriel miliciano de Operações Especiais na Guiné.
sábado, 17 de março de 2012
1 206 - O adeus ao alferes Hermida e furriel Farinhas
Alferes milicianos Ribeiro, Cruz,Garcia e Hermida
(em cima) e furriéis Farinhas e Viegas (em baixo)
O mês de Março de 1975, em termos de CCS, foi de mudança para Carmona e adaptação ás exigências urbanas, e também de adeus a dois companheiros:ao alferes Hermida e o furriel Farinhas, ambos por razões de natureza disciplinar.
O alferes Hermida era oficial de transmissões, na altura já com 28 para 29 anos (nascido em 1946). Acumulava com responsabilidades na área da acção psicológica, era casado e estava acompanhado da esposa. Não me recordo das razões disciplinares, mas foi punido com 3 dias de prisão disciplinar, agravados para 8, no Comando de Sector do Uíge - em Janeiro de 1975 e ainda no Quitexe.O furriel Farinhas era sapador, do pelotão do alferes Ribeiro, e foi punido com 5 dias de prisão disciplinar agravada, agravados para 10, no Comando de Sector de Uíge. Também no mês de Janeiro e no Quitexe.
Não foram muitas as punições do BCAV. 8423, ao longo dos 15 meses de comissão, mas, no mesmo Janeiro, cinco soldados foram igualmente castigados:
- CCS: José M. F.Lobo, com 20 dias de prisão disciplinar agravada (agravada para 30, no Comando de Sector).
- 2ª. CCAV.: Samuel Pereira de Oliveira, condutor, com 4 guardas.
- 3ª. CCAV.: Constantino Oliveira Santos, Cristiano Manuel Jorge Fernandes e António Francisco Tomás, todos atiradores de cavalaria e todos com 5 dias de prisão disciplinar agravada).
- HERMIDA. José Leonel Pinto de Aragão Hermida, alferes miliciano de transmissões. Engenheiro aposentado, residente na Figueira da Foz.
- FARINHAS. Joaquim Augusto Loio Farinhas, furriel miliciano sapador. Era de Amarante e faleceu a 14 de Julho de 2005. vítima de doença do foro oncológico.
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