Edifício do Comando do BART. 786, no Quitexe (em cima) e crachat (em baixo)
JOSÉ LAPA
Texto
A 11 de Junho de 1965, depois de longa e penosa viagem, o Batalhão das Artilharia 786 chegou ao Quitexe onde, hoje, completa 10 meses de estadia.
Não estamos tão longe desse dia, que não possamos estabelecer um confronto, meditar um pouco e sentir a alegria de um trabalho duro, mas largamente compensador! Quando chegámos, o Quitexe era uma terra triste que ensaiava finalmente, com base no esforço das Unidades que nos antecederam , o regresso à vida que conheceu antes dos dias fatídicos de 1961. A nossa presença trazia uma mensagem de fé, de confiança e boa vontade, que a "Vila do café" sentiu, aceitou e compreendeu. Tão evidente era o nosso desejo de trabalhar, de levar a bom termo a missão que aqui nos trouxe, que houve entre a população civil uma não menos evídente vontade de colaborar. Assim. enquanto as Forças Armadas levaram, dia e noite, a todos os recantos da ZA, uma presença firma mas isenta de ódios, na que foi a "Vila mártir" a população apagava, aqui e ali,os últimos vestígios de destruição, abria as portas que o terrorismo fechara e alindava a sua Vila! Essa conjugação de esforços, essa perfeita união entre militares e civis, tinha, forçosamente, de dar os seus frutos. A população nativa, refugiada nas matas sob a ameaça dos seus "libertadores", começa a acreditar nas Forças Armadas e,mais do que isso , sente que lhe oferecem incondicionalmente, a liberdade, o direito à vida que procurou, em vão, durante 5 anos de falsas promessas. Receoso, a princípio,apresenta-se um pequeno número que vai engrossando na medida em que, á mata,chegam notícias do acolhimento que lhe é dispensado.
Voltam as sanzalas a ladear as estrada par Carmona, o capim é substituido pelas culturas indígenas e, ao domingo, já o Quitexe nos oferece um ar de festa, nas cores garridas dos trajes e no barulhento e tradicional batuque que o nativo não dispensa.
A Vila tem hoje, incontestávelmente, um aspecto mais limpo, mais cor, mais alegria, outra vida! Não levamos a nossa modéstia ao ponto não aceitarmos a parte importante que essa transformação se deve ao Batalhão de Artilharia 786. Antes pelo contrário, a aceitamos, nos orgulhamos dela e sentimos que estes 10 meses de sacrifícios sem conta, hão-de constituir um do períodos mais belos da nossa vida.
JOSÉ LAPA
Abril de 1966