quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Os furriéis milicianos da CCS dos Cavaleiros do Norte (1)


A guarnição da CCS do BCAV. 8423 tinha 15 furriéis milicianos. Hoje, apresentamos quatro deles.
- PIRES: José dos Santos Pires, furriel miliciano de Transmissões - do lado esquerdo, na foto de cima. Natural e residente em Bragança. Aposentado da GNR.
- ROCHA. Nélson dos Remédios da Silva Rocha, furriel miliciano de Transmissões. Natural e residente em Valadares (Vila Nova de Gaia). Técnico de Vendas.
- MORAIS. Norberto António Ribeirinho Carita de Morais, mecânico-auto - à esquerda, na foto de baixo. Natural de Niza e residente em Elvas, onde é quadro superior da Estação Nacional de Plantas.
- LOPES. António Maria Verdelho da Silva Lopes, enfermeiro, natural e residente em Vendas Novas, onde é funcionário de Finanças.

A (não) vitória do Buraquinho na S. Silvestre do Quitexe....

Estrada principal do Quitexe, por onde passou a S. Silvestre de 1974

Andava eu totalmente varrido de ideia sobre a prova de S. Silvestre do Quitexe e eis que, providenciais, apareceram o Tomás e o Buraquinho a refrescar-me a memória. E como, ao lê-los, estou a ver aquela noite da (não) vitória do Buraquinho.
Eis a divinal narrativa, na primeira pessoa:
«Eu, Alfredo Coelho (Buraquinho), vou contar a história da corrida de S. Silvestre, na noite de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro de 1975, de uma terça para a quarta-feira, às 00,00 horas. A corrida começou na entrada da picada de Zalala até à messe dos oficiais, no Quitexe.
Eu também participei e tinha que fazer das minhas, para ser o vencedor. E, então, o que é que eu fiz? Como os enfermeiros tinham que acompanhar a corrida, na ambulância, combinei com o 1º. cabo enfermeiro Gomes e o soldado maqueiro Moreira (o Penafiel) que quando a corrida começasse, eu isolar-me-ia e entrarria na ambulância, sem que fosse detectado pelo resto dos atletas.
A ambulância vinha à frente, com outras viaturas militares a fazer escolta e a iluminar a estrada até ao Quitexe, porque não havia luz eléctrica. Ao chegar próximo da casa do administrador, onde estavam oficiais e o administrador a ver a corrida, eu então saltei da ambulância e comecei a correr, e quem me via só dizia «força Buraquinho, és o primeiro!!!...».
O problema é que cometi um erro, que foi virar na segunda rua do Quitexe quando deveria virar na terceira, onde ficava o bar do Rocha. Mas cheguei à meta em primeiro lugar e o capitão Oliveira começou logo a bater palmas e a gritar: “É o Buraquinho, é da CCS!...».
Só que tudo ficou em águas de bacalhau, após a chegada do segundo que, naturalmente, denunciou a minha chegada forjada e o capitão Oliveira ficou desanimado por ser um militar da 2ª. companhia e não da CCS, como ele pensava.
Sabem quem foi o 1º. classificado? Foi o Fernando, conhecido por Spínola, que era da 2ª. Companhia de Cavalaria».

O Buraquinho contou, está contado. Ele era assim e agora, ao lê-lo, senti-me voado na ampulheta do tempo e estou a «ouvir» os comentários feitos à pitoresca bravata desportiva do inimitável Buraquinho!!! Só mesmo ele! E a cara zombeteira do Buraquinho, a passear-se no final da (não) corrida.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Antevéspera da passagem de ano de 1974 para 1975

Noite de passagem de ano de 1974 para 1975. Da esquerda para a direita,
Lopes, Viegas, Ribeiro (com a garrafa na mão), Bento e Flora.
Rocha (à esquerda de Lopes), Carvalho, Grenha Lopes e NN. À frente, de cócoras,Reino. Atrás, ao balcão, Guedes (civil) e 1º. sargento Aires


Dezembro, dia 30 de 1974, véspera da passagem de ano de 1974 para 1975. A ordem de serviço lá me aprontou para sargento de dia ao batalhão na noite dita especial. Era uma inevitabilidade! Esperadíssima.

Tornou-se demasiado previsível a nomeação, numa altura em que o relacionamento entre os pares da classe de sargentos andava esfriada. É desse tempo uma «revolta» dos milicianos, descontentes com alguns tratamentos recebidos e tornou-se famoso o grito de guerra do furriel Machado: «Beduínos!!!...». Um grito de raiva, contra a discriminação a que os milicianos se sentiam sujeitos, com a cumplicidade de alguns iguais.

Acreditam que a maioria dos furriéis se recusaram a comer ao mesmo tempo, na mesma mesa, com alguns comensais da messe de sargentos? Pois foi! E acusados ao capitão Oliveira, lá foi o trio de ferro: Neto, Viegas e Machado. Fazer a defesa da justiça!

A 31 de Dezembro de 1974, lá me apresentei a serviço para a noite de passagem de ano. Não sei porquê, ainda hoje penso que alguém acreditava, ao tempo, que eu iria infringir os regulamentos e faltar ao serviço. Só se eu fosse tolo!

A classe de sargentos da CCS dos Cavaleiros do Norte















O grupo de sargentos do quadro da CCS do BCAV. 8423 era formado por quatro profissionais. A relação dos furriéis milicianos com eles era de respeito, mas às vezes menos ortodoxas. Até tumultuosas. Tivemos as nossas coisas e algumas não foram boas de assoar. Talvez uma questão de filosofias de vida, de formação militar, de diferença de idades, sei lá!
Os quatro eram estes:
- MACHADO: Luís Ferreira Leite Machado, 1º. sargento ajudante, trabalhava na secretaria do Comando do Batalhão. É o da foto da direita. Falamos dele em http://cavaleirosdonorte.blogspot.com/2009/11/o-sargento-ajudante-luis-machado.html.
- AIRES, Joaquim António de Aires, 1º. sargento mecânico-auto. É o da foto do meio. Ver em http://cavaleirosdonorte.blogspot.com/2009/05/boa-vida-do-quitexe.html.
- LUZIA: José Claudino Fernandes Luzia, 1º. sargento, chefe da secretaria da CCS. É o da foto a cores.
- BARATA. João da Conceição Unas Barata, 1º. sargento, trabalhava o Gabinete de Operações. Não consegui foto dele.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Os oficiais milicianos da CCS do BCAV. 8423

Alferes milicianos da CCS do BCAV. 8423: Ribeiro, Cruz, Garcia e Hermida
Tenente Luz, alferes Ribeiro e Hermida, tenente Mora, alferes Cruz,
capitão Oliveira, alferes-médico Campos e capitão-médico Leal


Os oficiais da CCS do Batalhão de Cavalaria 8423 dividiam espaços, no Quitexe, com os do Comando do Batalhão, cada qual nas suas tarefas e obrigações. Eram quem mais de perto lidava connosco, quem mais de nos tinha de ouvir e aturar. E nós obedecer.
Os oficiais da CCS eram os seguintes:
- Comandante: Capitão António Martins Oliveira. Foi depois major e comandante do DRM de Aveiro. Já faleceu.
- Adjunto do Comandante: Tenente José Eloy Borges da Cunha Mora. Já faleceu.
- Comandante do PELREC: Alferes miliciano António Manuel Garcia, de Operações Especiais (Ranger´s). Já faleceu, em 1979/80, era inspector da Polícia Judiciária.
- Comandante do Pelotão de Transmissões: José Leonel Pinto de Aragão Hermida. Reside na Figueira da Foz.
- Comandante do Pelotão de Sapadores: Jaime Rodrigues Picão Ribeiro, engenheiro. Residente no Tramagal.
- Comandante do Pelotão de Mecânicos-Auto: José Albano de Araújo Sousa Cruz, engenheiro mecânico, residente em Santo Tirso.

A vida de um soldado vista pelo José Frangãos


O José Frangãos numa das entradas do Quitexe, em 1974, junto à placa

O Frangãos, bom alentejano de Cuba - e por Cuba era popularmente conhecido no Quitexe... - era 1º. cabo mecânico da CCS do BCAV. 8423 e mandou um poema para o blogue e várias fotos de Carmona.
Aqui fica o poema, que ele nos disse ter sido «feito algures em terras angolanas».

A VIDA DE SOLDADO

A vida de soldado que levei / Lá por terras de Angola / Pequei, sofri e chorei / Ao chegar àquela hora
Picadas esburacadas / Moscas mosquitos foi chato / Unimogs e espingardas / E ao redor tudo era mato
Farda e rosto coberto / De pó chuva ou lama / O meu coração aberto / Sonhava em quem me ama
Sempre com o corpo cansado / Pensava como é triste / Esta vida de soldado / Mas que em todo o mundo existe

O Frangãos - o famoso e simpático Cuba da "ferrugem"... - termina com desejos de "um Santo Natal e Próspero Ano Novo de 2010" para todos os Cavaleiros do Norte. Aqui ficam eles.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O alferes capelão do Quitexe...

Igreja da Mãe de Deus do Quitexe nos anos 70 do século XX


O Batalhão de Cavalaria 8423 tinha um alferes capelão, o padre José Ferreira de Almeida. Ele me absolvirá, mas não tenho especiais recordações dele - além de o saber recatado, relativamente novo e de o ver, muitas vezes, em conversas de pé de orelha com soldados. Não ganhei intimidade com ele, vá lá saber-se porquê.
O alferes capelão missionaria em outras localidades, além do Quitexe, e certamente deveria ir às outras companhias do BCAV. 8423, onde provavelmente se demoraria dias seguidos, e as suas permanências na vila seriam espaçadas e curtas - talvez muitas vezes coincidentes com as nossas saídas, em operações, escoltas, patrulhas, fiscalização rodoviária, férias. A nossa principal referência religiosa - a minha, pelo menos... - eram a missão e a paróquia. E os momentos de maior reflexão eram na Igreja da vila, a da Mãe de Deus do Quitexe, onde ao tempo paroquiava o Padre Albino Capela.
O alferes capelão Almeida seria o conforto psicológico de muitos rapazes, que na fé encontravam resposta às suas dúvidas e aos seus desassossegos. Na Palavra que espalhava, achariam o milagre da sua paz espiritual. Sempre que o via, estava ele em pé de conversa com militares - principalmente praças.
Acabou a comissão no Quitexe em Dezembro de 1974 e dele agora não consegui saber nada. Um abraço para ele, se nos ler.

Oficiais do Comando do Batalhão de Cavalaria 8423

Comandante Almeida e Brito e capitão Falcão em 1995 (Encontro de Águeda)


Vários amigos me têm perguntado se, entre tanta informação, que aqui tem sido debitada sobre o Batalhão de Cavalaria 8423, não seria possível relembrar o nome de oficiais sargentos e praças. Claro que é e já várias vezes isso nos ocorreu. Mas, na verdade, achámos pouco interessante. Até mesmo desinteressante.
Afinal, não é. Isto é: é. É interessante! Disseram-me vários Cavaleiros do Norte. Vamos por partes e hoje apresentamos o Comando do Batalhão, que estava instalado no Quitexe - onde ficava a guarnição da CCS e o Pelotão de Morteiros 4281.
- Comandante: Tenente Coronel Carlos José Saraiva de Lima Almeida e Brito. Atingiu a patente de general e faleceu a 20 de Junho de 2003, durante um passeio em Espanha.
- 2º. Comandante: Major de Cavalaria José Luís J. Ornelas Gonçalves. Pouco tempo esteve connosco, desviado para o Comando-Chefe das Forças Armadas em Angola. Foi substituído, em Março de 1975, pelo capitão de Cavalaria José Diogo da Mota e Silva Themudo.
- Oficial Adjunto: Capitão de Cavalaria José Paulo Montenegro Mendonça Falcão. Em 1995, era Tenente-Coronel e residia em Coimbra.
- Oficial de Reabastecimentos: Alferes miliciano José Alberto Alegria Martins de Almeida. Substituiu Gaspar José F. Carmo Reis, julgado incapaz para o serviço militar, e chegou ao Quitexe em Julho de 1974. Licenciado em Economia e Arquitectura e empresário, é natural de Oliveira de Azeméis e reside em Albufeira - dividindo a sua actividade empresarial por Portugal e Marrocos. É Cônsul de Marrocos no Algarve.
- Chefe de Secretaria: Tenente Acácio Carreira da Luz, natural e residente na Marinha Grande. Atingiu a patente de capitão.
- Oficial Médico: Capitão Manuel Soares Cipriano Leal, reside em Fafe. Acabou a comissão em Novembro de 1974.
- Oficial Médico: Alferes miliciano António Honório de Campos. Substituiu Manuel Leal.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Futebol do Quitexe homenageou o Portugal do Mundial de 66

As equipas perfiladas no campo de futebol de 6 do Quitexe (1966).
Clicar na imagem, para a ampilar


Ontem, aqui falámos de futebol e, nem de propósito, ontem mesmo nos chegou uma mensagem de José Lapa (foto ao lado), que pelo Quitexe passou entre 1965 e 1967, integrado na CCS do Batalhão de Artilharia 786.
O ano foi de ouro para o futebol português, com Eusébio a deslumbrar o mundo com os seus nove golos do 3º. lugar do Mundial de Inglaterra, e no Quitexe, nada melhor, para a animar a psico da malta da guarnição, que um torneio de futebol de 6.
A foto, conta-nos José Lapa, é de 28 de Agosto de 1966 e tem a particularidade de ter sido tirada num campo onde mais tarde foi construído o Clube de Quitexe. Curiosamente, o Clube onde, em 1974, passou o filme sobre a vida de Eusébio.
O programa da Acção Psicológica, em 1966, organizou o Torneio de Futebol O Magriço, que começou a 11 de Agosto. Não há memória dos vencedores (ou vencidos), mas lembra José Lapa que o torneio foi de homenagem ao brilhante comportamento da Selecção Nacional em Inglaterra.
Tomaram parte as seguintes equipas:
- FERRUGEM: Constituída por mecânicos e especialidades afins.
- CONDUTORES: Condutores-auto.
- MATA: Agrupando o pessoal dos grupos de combate.
- PAPÉIS: Pessoal das Secretarias e Comando.
- TRANSMISSÕES: Pessoal desta especialidade.
- MORTEIROS: Militares do Pelotão de Morteiros 1064.
- INTENDÊNCIA: Militares do Destacamento de Intendência 1003.
- RESTO DO MUNDO: Todas as especialidades não integradas nas outras equipas.

Corrida de S. Silvestre, cinema e jogos de futebol no Quitexe


O Quitexe do final do ano de 1974 teve cinema e uma corrida de S. Silvestre - da qual não me lembro minimamente, valha a verdade.
Mas realizou-se a prova, assim descreve o livro do batalhão, e realizaram-se também jogos de futebol - para os quais me emprestou umas botas o Alípio Canhoto, condutor da CCS. Eram do irmão, atirador da 3ª. CCAV. Ele, Alípio, mo lembrou há dias.
Sobre o futebol, e no campo do Quitexe, calhou defrontarmos um adversário temível, com avançado altamente goleador - assim rezava a lenda do tempo. Rifado em marcação, coube-me a mim prender tão indomável marcador de golos e a verdade é que me dei bem com a tarefa. Sequei-o, como de diz... O que nem foi difícil. Fazia ele muitas fintas - chicuólinas, assim lhe chamávamos... - e parava eu na frente dele. Fosse ele para a esquerda, fosse para a direita, voltava sempre ao meio, onde eu deixava a minha atlética figura em posição de corpo presente e na qual ele invariavelmente (em)batia. Não passava, assim, o Eusébio do Quitexe, e muito menos a bola... - o que muito o exasperou, a ponto de abandonar o campo... desiludido.
Morta esta minha «epopaica» e quase furtiva carreira de futebolista-militar - seguramente efémera... -, apostava-se entre os furriéis do «contra»: o Viegas vai ou não vai estar de serviço na noite de passagem de ano?

sábado, 26 de dezembro de 2009

Mensagem de Natal do Comando da Zona Militar Norte

Comando da Zona Militar Norte e do Sector do Uíge, em Carmona (1974)

A 26 de Dezembro de 1974, o comandante do BCAV. 8423 esteve no Comando da Zona Militar Norte e Comando de Sector do Uíge, em Carmona (foto), retribuindo a mensagem de Natal recebida nas vésperas.
A mensagem referia, por exemplo, que «nesta quadra em que em todo o mundo se deseja PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA VONTADE, juntemos os nossos esforços para que, em ANGOLA, se consiga essa paz e, indiferentes a ofensas e calúnias, com a consciência tranquila, prossigamos confiantes e serenos até ao fim, para que possamos dizer, com satisfação e orgulho: MISSÃO CUMPRIDA».
Assim era e viria a ser, apesar dos pequenos incidentes que começaram a surgir, depois do «noivado» feliz das primeiras semanas de contactos entre as forças armadas e os membros dos movimentos emancipalistas. Não tanto pelo Quitexe, é bom dizer, mas nalguns outros pontos do território angolano.
A mensagem natalícia referia ainda «a certeza de estarmos a cumprir uma alta missão, ajudando a construir, em paz, um novo país de espressão portuguesa».
Por nós, Cavaleiros do Norte, e vista a situação a 35 anos de distância, temos a certeza de, ao nível das nossas responsabilidades, termos contribuído para uma Angola melhor!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal dos Cavaleiros de Aldeia Viçosa, Vista Alegre e Ponte do Dange

Aldeia Viçosa em 1968 (foto de José Oliveira »César»)

O dia de Natal de 1974, «dividiu-o» o comandante Almeida e Brito (TC) por Aldeia Viçosa, onde a 2ª. CCAV. 8423 fazia a sua missão, desde Junho. E Vista Alegre e Ponte do Dange, para onde, recentemente, fora transferida a 1ª. CCAV. 8423, ida de Zalala.
Almoçou a comitiva de comando em Vista Alegre, consoando com os comandados do capitão Castro Dias; e jantou em Aldeia Viçosa, onde capitaneava o miliciano José Manuel Cruz. Dir-se-ia que eram visitas formais, por ser Natal... Não eram. A presença do mais alto comando do batalhão inspirava sempre mais confiança e tinha efeito psicológico muito forte na guarnição. E Almeida e Brito não era sequer daquele género de comandantes que eram, porque... eram! Era mesmo comandante à séria, rigoroso, garboso, exigente, disciplinador, inspirador de confiança, carismático! Não era indiferente a ninguém e pela zona de acção dos Cavaleiros do Norte contavam-se lendárias acções da sua passagem de anos antes, como oficial de operações!
No Quitexe, o meu dia de Natal de 1974 - depois de largar a braçadeira verde de sargento de dia, foi passado entre as habituais largas conversas bar de sargentos e, pelo meio da tarde, a dar respostas ao meu rol de epístolas recebidas. Estive na porta da Igreja, onde celebrava o padre Capela, não entrei (estava cheiíssima) mas nesse dia, em piedosa mentira, fiz saber para a família que tinha estado na missa de Natal!
Falou-se ontem à noite nisso, aqui em casa, e não escapei do (in)suspeito comentário de minha irmã Maria Dulce: «Deves ter ido à missa, deves...». E do sempre observador gracejo da mãe Maria Dulce, de 89 anos: »Eu lembro-me de tu
escreveres isso. Escreveeeeeste!!!...». Como quem diz, «escreveste mas foste tanto à missa como eu fui para padre».

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A noite de consoada do Natal de 1974

Mesas da consoada de Natal no Quitexe, 24 de Dezembro de 1974.
Sou o único de camuflado. Estava de serviço. Em baixo, ao centro,
calvo, o Comandante Almeida e Brito
Noite de Natal de 1974! Consoada no refeitório dos praças do Quitexe e toda gente encalorada do clima e da emoção. Juntas, a CCS e a 3ª. CCAV., dias antes chegada de Santa Isabel. E bacalhau...
O dia correu calmo, quanto aos serviços correntes, embora com alguma nostalgia na alma de muitos de nós. A saudade bem se entendia mais viva e sentida neste dia tão especial, dia de família e de emoções que não se contam. Por lá andava o Papélino, a nossa mascote, a quem perguntei o que era o Natal dele! Foi-me contando natais que ele não vivera, mas sonhara... - de tantas vezes ouvir contar! Fazia de conta.
A noite da consoada foi feliz! Sabia-se que podíamos estar tranquilos na comunhão da mesa natalícia, pois era certo o companheirismo que medrava entre as forças armadas e os movimentos emancipalistas - o ex-IN. E havia, instintivo, o sentimento de que seria a última velada de armas da tropa portuguesa, por terras de Angola! De que nós éramos actores! Via-se alegria e emoção, nos rosto dos soldados, soldados de qualquer patente, sabendo-se construtores de um novo país que estava para nascer.
Falou o comandante Almeida e Brito, chegado de Lisboa nas vésperas. Ouvido em silêncio e emoção. A tropa consoou feliz! Duas centenas e meia de homens, cada qual com uma ementa de saudade no peito, tiveram a sua consoada africana. Em Angola, no Quitexe, faz hoje 35 anos!!!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O Natal do Buraquinho para todos os Cavaleiros do Quitexe

O Buraquinho e a mulher, em tempo de amores frescos (1974/75)


Ligou-me o Buraquinho, no intervalo das suas funções de empresário de restauração. Viu o rosto bonito de Florinda no post de ontem e aí me ligou ele, feliz da vida e troca o passo, contando maravilhas da licenciada em psicologia clínica que a vida lhe deu como filha. E do filho, Rodrigo como ele, de 15 para 16 anos e patinador artístico internacional. «Internacional, ó Viegas....», fez ele questão de me sublinhar.
Mas o que ele verdadeiramente queria, o que ele queria mesmo a sério, era desejar, aqui no blogue, um Natal muito bom, muito feliz, muito amigo, de muitas esperanças no futuro, para todos os Cavaleiros do Quitexe. «Põe-me lá isso, ó Viegas...».
Cá está, ó Buraquinho! No teu e no nome de todos os Cavaleiros do 8423!

A véspera da noite Natal de 1974

Noratlas, avião da Força Aérea Portuguesa. Terá sido num
modelo parecido com este que viajei de Luanda para Carmona, há 35 anos.

Quitexe, 23 de Dezembro de 1974. Estou chegado de um «desenfianço» a Luanda e descontraído - por me saber solidarizado pelos bons amigos que me cobririam a «fuga», assim fosse necessário. Tinha correio de Portugal, muito correio, ora no SPM, ora na caixa postal. Da família e de amigos, tinha diariamente muitos aerogramas e cartas - que devorava rapidamente e a todas respondia.
Era uma segunda-feira e a chegada ao Quitexe aconteceu por volta das 10 horas da noite, voando de Luanda para Carmona num Noratlas da Força Aérea (em boleia combinada) e depois, em viagem de automóvel, para o nosso pouso operacional. Não dormi sem ler notícias de Águeda, no jornal Soberania do Povo - lá chegado nessa tarde e datado das vésperas. Fiquei a saber da morte do engº. Carlos Rodrigues, que fôra professor da minha escola, presidente da Associação de Futebol de Aveiro e, a esse tempo, indigitado para Delegado da Direcção Geral de Desportos. Fôra ele quem, em discurso inflamado e em nome dos aguedenses, recebera Manuel Alegre, a 11 de Maio, quando o poeta regressou do exílio da Argélia. Vi e assiti eu e viram também centenas de aguedenses.
Saboreio a vitória (3-0) do Recreio de Águeda no nacional da 3ª. divisão de futebol, sobre o Febres, e fico a saber que Carlos Fabião, Chefe do Estado Maior do Exército, visitou a Escola Central de Sargentos, em Águeda - onde falou da descolonização.
Avivo memórias e saudades, lendo correio de casa, da família e dos amigos. Minha mãe a lembrar-me o Natal que viveria sozinha!!! Minhas irmãs com os consolos de época! As Sameiros com palavras de conforto e incentivo, a Fernanda, a Fátima, a Zita, a Zézita, o Fernando, o Zé Carlos, o Filipe, o António Augusto, o Manuel Almeida (meu amigo e instruendo em Lamego) ... O Salvador, o Custódio e o Zé Pimenta que jornadeavam a sua tropa por Angola; o meu primo Aldírio, o António Melo e o Dinis, na Guiné! Outros, porventura... Faltava-me o correio da caixa postal, fechada naquela hora de segunda-feira - e onde eu esperava correspondência com algum «calor», mas que só veria na 3ª. feira.
Vou do bar dos sargentos para dormir e passo em frente à secretaria da CCS, onde vou satisfazer a minha curiosidade e confirmar o que "já sabia". Inevitavelmente, lá estava a minha nomeação para 24 de Dezembro de Natal: sargento de dia ao batalhão. Eu sabia!!! Alguém me queria tramar!! Alguém esperava que eu faltasse!!
Às 8 horas da manhã dessa 3ª. feira de véspera natalícia, bem escanhoado, de botas impecavelmente engraxadas e camuflado sem um vinco, apresentei-me ao oficial de dia, garboso e firme, para um serviço de 24 horas.
Consoei o Natal de braçadeira verde no braço!!!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O Natal de 73 de três Cavaleiros do Norte «fugidos» de Santa Margarida

Furriéis Neto, Viegas e Monteiro no Quitexe de 1974

O Natal de 1974 foi o primeiro que vivi fora de casa. E logo tão longe! A mais de 8 000 quilómetros e sem os sons dos sinos da torre daqui ao lado de minha casa, sem o cheiro das ruas e das flores e dos campos de Ois da Ribeira. E sem os amigos! Sem a neve e o frio, as fogueiras da lareira da cozinha da famíla... Sem o beijar do menino que se ia buscar à manjedoura do presépio da igreja de Santo Adrião, na missa do dia.
O de 1973 fôra vivido a «correr», chegados de Santa Margarida - onde, na véspera, nos apresentámos no Regimento de Cavalaria 4, eu o Neto e o Monteiro, idos do Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE) de Lamego. Logo quiserem por-nos de serviço mas reagiu o Neto, sempre impulsivo e de coração solto: «Nem pensam nisso. Vamos passar o Natal a casa...».
Que não, que ia «sair à ordem» a nossa nomeação, tínhamos de ficar - assim nos ameaçaram.
Pois «castiguem-nos, façam lá o que quiserem, mas nós é que vamos embora...», ameaçou o Neto, determinado e corajoso. Falando por ele e por nós, ambos bem mais cordatos: «Pior castigo não poderemos ter, que o de ir para a guerra!...», gritou ele, a espumar de alguma raiva.
A «coisa», em Santa Margarida, começou pelo sargento de dia - um furriel miliciano de bigode farto e pernas tortas - e chegou ao oficial de dia. Pois que «tínhamos de ficar de serviço», diziam eles. Não ficámos.
«Com ou sem autorização, vamos embora...», refilou o Neto . E virou as costas, porta fora. Saímos com ele mas voltámos e lá nos deram os passaportes. Já ao fim da tarde de faz amanhã 36 anos, viemos no velho SIMCA 1100 do Neto, sempre a carregar no acelerador, era a gasolina a 4$50 o litro, e virados a norte, a Águeda - de onde o Monteiro arranjou boleia para o Porto, onde o iria buscar um irmão, ido de Marco de Canaveses (a sua terra).
Ao outro dia, era véspera de Natal de 1973 e não sabíamos se seria o último. O nosso destino era a guerra colonial. Mas chegámos até hoje, 36 anos depois!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A soltura do inimitável Buraquinho...

A ordem de serviço que fala do Buraquinho (em baixo) e a filha,
no Encontro de 12/Set./2009. Clicar nas imagens para as ampliar

O Buraquinho deu-me, no Encontro de Águeda, a Ordem de Serviço que dá conta do cumprimento da sua pena, por participação minha. Aqui reproduzo a ordem de soltura. Valha a verdade que o assunto não me constrange nada, pois agi - ao tempo que deu origem à participação - no uso pleno e consciente da autoridade que me era exigida e se impunha. Estava de sargento-dia.
A minha versão da «história», que foi participada e provada em pleito da justiça militar, não é coincidente com a do Alfredo Coelho, o Buraquinho. O que não admira. Também não importa. Não me orgulha o feito, nem me constrange; nem por isso deixei de respeitar o inimitável Buraquinho. Tanto que ficámos amigos, até hoje - sem sequelas, ele; sem remorsos, eu.
Ao tempo, na irreverência dos 21 para 22 anos, nem sempre damos conta das nossas responsabilidades mas por mim, com o recato que devo ao falar de mim - e aqui faço a minha declaração de interesses... - sempre me senti disciplinado, leal e solidário. E, valha a verdade, alguns amargos de boca senti e sofri por isso nos longos mais de 15 meses da comissão angolana.
O Buraquinho, nos dias de hoje, empresário de restauração em Custóias, vive ainda a sua paixão pela morena de Angola que lhe ganhou amores e de quem tem dois filhos: uma licenciada em Filosofia (que se vê na foto, tirada no Encontro de Águeda, a 12 de Setembro deste ano) e um adolescente que estuda. Com uma curiosidade: a mulher tem o meu apelido.
Hoje, 35 anos depois, estou seguro que faria exactamente o mesmo, em igual situação. Seria provavelmente bem mais "refinado", ó Buraquinho. Parabéns pelos filhos que tens e fica-te com esta certeza: és a única pessoa no mundo de quem alguma vez participei! Olha que é uma honra!!!!
- BURAQUINHO. Alfredo Rodrigo Ferreira Coelho, 1º. cabo analista de águas. Empresário de restauração e residente em Custóias.

domingo, 20 de dezembro de 2009

A operação na Baixa do Mungage com um Grupo Especial

Alferes Leite, comandante do Pelotão Morteiros 4281 (à direita, de pé). À
direita dele, estão os também alferes Ribeiro e Garcia, ambos da CCS
do BCAV. 8423 e a brindar

A 20 de Dezembro de 1974, iniciou-se a saída do Pelotão de Morteiros 4281, do Quitexe para Carmona. Era comandado por um alferes miliciano açoriano (Leite?) e dele, do pelotão, recordo uma evacuação feita a um dos Grupos de GE, depois de uma operação militar de três dias na Baixa do Mungage, que eu integrava.

A dificuldade de comunicações, na maior parte do tempo da operação, levou a que se levantassem suspeitas e medos quanto ao destino dos militares europeus. O que teria acontecido para deixarem de fazer os contactos de rádio? Teria sido algo de tão grave que o impedissem de os estabelecer? A operação era a nível de batalhão e o grupo GE, sem contactos com a «base», optou por, azimute a azimute, prosseguir ... com duas noites de selva que não deram para pregar olho. Os grunhidos de animais e o piar de algumas aves fizeram delas uma tormenta inenarrável e sofrida.

A falta de ligações, afinal devia-se apenas à densidade da mata e, ao abrir da manhã do terceiro dia e já muito perto do final da operação, lá conseguimos o contacto com a base. Chegados à fazenda do destino, foi de espanto a reacção do alferes do Pelotão de Morteiros, por ver tão poucos militares europeus (brancos) entre mais de 30 naturais.

Foi por Novembro de 1974 esta operação, que registou um incidente com um encarregado de uma fazenda - que ameaçava agredir contratados bailundos. Chegados ao Quitexe e depois de banho e jantar, caí na cama por horas que chegaram à manhã seguinte. Na verdade, há três noites que não pregava olho!

sábado, 19 de dezembro de 2009

As morenas do Liceu Salvador Correia de Sá na baixa de Luanda

Baía e baixa de Luanda em 1974


A 19 de Dezembro de 1974, «desenfiado» eu do Quitexe, pus-me aos sóis e prazeres de Luanda. Não por muito tempo, apenas uns diazinhos e mesmo estes sempre a correr. Estava o Natal a bater à porta e, «aproveitando» uma boleia num avião militar, lá voei eu o Negage para a capital - onde havia galinhas no choco!
Um amigo que a morte já levou, o Alberto, tinha sido meu companheiro de escola e estava ao tempo em serviço na Base Aérea de Luanda. Por lá, pela capital, acamaradava comigo noite adentro, depois de um bom frango de churrasco e uns pares de canhângulos no Floresta. Depois, era ver-nos como passarinhos fora do a gaiola, a libertinar-nos por lá, cultivando «amizades» temporárias. Não escapariam também umas mariscada no Amazonas, na Portugália, no Mutamba ou no Paris Versailles, ou até um saltinho ao Pólo Norte e à ilha - que eram verdadeiros «sacrários» para satisfazer os nossos prazeres de boca. Depois, eram os bares da baixa luandina... onde, feitos de irmãos gémeos, pingávamos paixões por duas morenas do Liceu Salvador Correia de Sá.
A «coisa» estava pegava e da história resta-nos o constrangimento de lembrar a mentirazinha com que iludíamos as cachopas: seriamos nós irmãos gémeos, filhos de um casal de fazendeiros do norte que tinham falecido num acidente. E tínhamos duas irmãs no princípio da adolescência, a estudar como internas no Colégio dos Salesianos, no Estoril.
A fazenda, inevitavelmente, era para os lados do Quitexe e era para a Caixa Postal 12 que ela(s) escrevia(m) - para mim e para o meu irmão gémeo, quando ele se libertava das tarefas militares na base aérea. Quando era correio dele, lá tinha eu de lho enviar para Luanda e ele mandar-me a resposta para o Quitexe, para eu reenviar para Luanda - para uma das morenas. Quando se encontrava com elas na capital, lá me desculpava da minha ausência na fazenda do norte. Tolices da idade..
Desgosto meu (e dele) foi eu ter chegado a Luanda em Agosto de 1974 e elas, por ordem dos pais, já terem regressado a Portugal - coisa decidida em poucos dias, viajando nas célebres pontes aéreas dos retornados. Delas, sei que uma é enfermeira de saúde pública e moradora na área de Lisboa. Da outra, nunca mais soube.
- ALBERTO. Alberto Fernando Dias Ferreira, 1º. cabo especialista da Força Aérea, natural de Fermentelos. Posteriormente licenciado em Economia, era quadro do Estado e (por duas vezes) foi vereador da Câmara Municipal de Águeda - numa delas sendo candidato a presidente Já faleceu.
- CANHÂNGULO. Copo grande de cerveja; uma caneca grande, por cá.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O comandante Almeida e Brito e o boato...


O Quitexe militar encheu-se, pelo Dezembro de 1974 fora, de um boato que dava o comandante Almeida e Brito como preso em Lisboa - para onde tinha ido (vindo) de férias. De onde choveu o boato, não sei. Nem como nasceu. Mas multiplicou-se como espuma.
Havia, por isso, alguma exectativa da parte da guarnição: Vem, não vem? Volta, não volta? Quem saberia responder? Pois, ninguém. Nem nós, os militares menos graduados da guarnição, nos atrevíamos a pôr a questão dessa forma. Fosse a quem fosse!
O absurdo foi que, para surpresa minha, alguém me indiciou como autor do «boato» e por ele tive de responder ao próprio tenente-coronel Almeida e Brito, dias depois do Natal - quando me chamou ao gabinete e me pôs a questão de forma directa. Respondi-lhe à minha maneira (não vou reproduzir a conversa...) e devo ter sido convincente.
Nesse dia, por razões que levariam tempo a explicar, confirmou-se uma interessante cumplicidade entre ambos - que foi gerida de forma fidalga até ao nosso último encontro, em Setembro de 1997, em Penafiel. Para trás, estavam alguns «conflitos»: os da diferença de pontos de vista de comandante e comandado, sentindo-se este por vezes injustiçado.
A vida civil levou-nos a vários encontros: por Coimbra (onde foi 2º. comandante da Região Militar Centro), por Lisboa (2º. comandante geral da GNR) e por Évora (comandante da Região Militar Sul). E nos encontros de confraternização da CCS e do BCAV. 8423. Era um senhor!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Amores e infidelidades marcadas em relógios de papel...


As coisas do amor tem das suas... coisas! As paixões são criadoras, engenhosas, audazes... Não há por aí quem não já, por uma vez que seja, não tenha tido a sua aventura... ilegal e infiel! Aos tempos de jovens de 21 para 22 anos, quem não se deixou embriagar pelos apetites do cio, pelos ardores da paixão, pelo risco de desafiar o perigo?!
O Uíge de 1974 e 1975 fazia bulir as guarnições militares, mas não só: também fervia de calores, e não eram só físicos - os do sol que queimava a tez e fazia escorregar suores corpo abaixo. Também eram os da paixão e do pecado. Sei de quem (mas não digo...) se casamentava em noites e manhãs de histórias irrepetíveis e aqui incontáveis, transpiradas em vales de lençóis que, a falarem, desnudariam algumas virtudes.
O truque era simples, mas aparentemente genial: os «namorados», em pecado mortal pela situação marital de um deles, alugaram, cada qual, o seu apartado postal e, sem gastar sequer o selo, trocavam recados de amor e convites para desnovelarem os seus cios. Simples, como o mais simples. Acordasse ele ávido de desejos e levava carta ao apartado, simulando buscar correio. O preciosismo estava em não mostrar envelope, caso lá não houvesse. Para ninguém desconfiar. O mesmo faria o par do pecado, ambos lá deixando e buscando recados feitos em corações desenhados num relógio.
A seta apontava a hora da «visita»: uma, duas, três, dez... as que fossem. Passadas as 12, duplicava o ponteiro desenhado no papel - invariavelmente uma toalha de mesa, disfarçando um qualquer rabisco de eventual e casual conversa de amigos. O outro ponteiro, indicava o quarto (de hora), se fosse o caso. A meia hora, significava porta aberta à meia noite. Os três quartos de hora revelavam encontro em local certo da cidade!
O esquema era genial e sempre funcionou. Eram amores e cios, que fizeram mais feliz gente que trocava afectos e tórridas paixões, sob a graça do pecado! Mas quem nunca pecou?

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O PELREC na linha de fogo da picada de Isabel Maria

Fazenda Isabel Maria em 2009. Foto de Luís Fernando (net)

O dia 14 de Dezembro de 1974 foi o da conclusão da chegada e instalação da 3ª. Companhia no Quitexe. Oriunda da Fazenda de Santa Isabel e comandada pelo capitão miliciano José Paulo Fernandes, aí estava ela, no âmbito da mutação do dispositivo militar do BCAV. 8423.
A transferência vinha a ocorrer desde 10 de Dezembro e é bom recordar, 35 anos depois, a emoção que por esses dias se vivia no Quitexe - entre os militares. Emoção que todos rodeava, envolvia e unia, em abraços de camaradagem e sólida amizade que nos transfigurava e multiplicava a confiança no futuro próximo. A saída das companhias operacionais das suas zonas de acção, significava, para nós, a preparação do regresso a Portugal - embora ainda nos esperassem nove meses do dia do nosso regresso - que por essa altura todos sonhávamos estar muito mais próximo.
A vila já vinha a conhecer alguns combatentes, principalmente da FNLA - movimento predominante na zona do Uíge - e trocavam-se semelhanças de datas e operações. Ficámos a saber, por exemplo, que no mês de Agosto teríamos estado sob mira de um grupo, na picada para a fazenda Isabel Maria. O momento foi-nos comentado ao pormenor e, na verdade, bem sentíramos nós o «cheiro» do IN, na subida de uma picada que sempre nos atemorizava - rampeada para cima e para baixo, com zonas de onde, à pedrada, nos poderiam «abafar». O pormenor foi narrado infímamente, a ponto de nos descreverem pormenores da camisa do camuflado e da boina em vez de quico, que indevidamente um de nós usava.
Contou-nos um combatente da FNLA que o ataque só não aconteceu porque, reagindo a um qualquer «aviso», uma equipa do PELREC saltou de imediato do Unimog e os assustou com o apontar de dilagramas. Apontar para... ninguém!!! Verdade ou lenda, não teremos nunca a certeza. Mas bem «cheirámos» o perigo, nesse princípio de manhã de Agosto de um dia de 1974.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O D. Juan do Quitexe que foi do Cais do Sodré...

Rua principal do Quitexe, que era a estrada Carmona-Luanda

Não sei bem por que carga d’água, em quase todas as Companhias havia um Don Juan altamente empenhado em deixar a sua marca. A minha não fugiu à regra, não sendo preciso esperar muitos dias para que os tiques de conquistador começassem a dar nas vistas!
Bastaram cinco minutos de conversa no Topete, para que o “pavão” exibisse as suas asas, disparando um palavreado cheio de filosóficos floreados de conquistador nato! As palavras saíam-lhe pelo canto da boca, tornando-se quase imperceptíveis, reforçando assim o seu tique de “malandreco”! O vocabulário, esse era repleto de palavras “estranhas” e com muitos estrangeirismos à mistura, para enfatizar ainda mais! E ainda estava na introdução, porque os feitos seriam bem explanados à medida que desenvolvia o seu monólogo! Sempre de cigarro em riste e pronto a disparar umas fumaradas, ali estava ele nas suas sete quintas, convencido de que todos se tinham rendido ao seu charme! Até dava um estalido com a boca a cada chupadela de cigarro! Mas que classe!...
Ao fim de quase uma hora de espectáculo, perguntei-lhe de que zona do país era oriundo, como se não estivesse já devidamente informado! A resposta saiu-lhe pausada, mascada e misturada com o fumo do cigarro, enquanto olhava para mim de soslaio: «Olha pá, nasci, fui criado e sempre vivi no Cais do Sodré – já ouviste falar?!...».
«Hum… com que então do Cais do Sodré… Faltava-me agora esta ave rara cheia de tiques – deve ser dos que põem o Tejo a correr para a nascente!...», resmunguei eu para dentro! Assustei-me só de pensar que tinha de o gramar todos os dias com as suas histórias, como se fosse um castigo. Curiosamente, o pessoal já se dispunha em U para ouvir as suas narrativas, fazendo fé em todas as suas palavras! Fazia lembrar as palestras da recruta, mas aí tudo o que ouvimos nos foi útil! Era um espectáculo, o homem até ficava inchado! Mas como costuma dizer-se, nem tudo o que parece é!
A realidade, afinal, tinha duas faces bem distintas, e toda aquela pose servia, também, para disfarçar muita angústia e alguma insegurança. Uma verdade, a mais negra, soube-o da sua boca, é que ele não tinha rigorosamente ninguém, apesar de uma vida muito e bem (?) preenchida até ao momento do embarque para terras de Angola! A outra verdade, a de Don Juan, soube-a pela boca de um colega, seu amigo na vida civil. Era mesmo um Don Juan e figura bem conhecida no Cais do Sodré!
No Quitexe, não deixou os seus créditos por “mãos” alheias e não tardaram a aparecer por ali quatro ou cinco imitadores mas, diga-se, desprovidos de pinta! Afinal, um profissional… é sempre um profissional! Libertinagens à parte, foi sempre um companheiro correctíssimo e exímio nas suas funções – Operador de Mensagens! Mas houve excessos que não estavam nas suas previsões e, à sua atribulada saída do Quitexe, seguir-se-ia o risco de não embarque para o “puto”! Foi difícil, mas conseguiu, com uma cunha que meteu alguns galões e que surgiu sabe-se lá de onde! Foi um êxito conseguido a ferros!
Com muito empenho e persistência, consegui “dar com ele”, ao fim de 37 anos! A minha ida ao Cais do Sodré, não tinha surtido efeito! Do lado de lá estava o meu amigo Martins, o já avô babado a perguntar uma boa meia dúzia de vezes se era mesmo eu! Ainda “senhor” dos seus tiques de voz, lembrou-me estes episódios Quitexanos que de imediato “ameacei” narrar, mas com as devidas omissões! Irá conferir na net, para salvaguardar o seu currículo – logo avisou! Os pormenores, iremos recordá-los num almoço prometido para breve e que terá o Quitexe como pano de fundo! Sempre o Quitexe!

ANTÓNIO CASAL

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O Matos e o Letras da Companhia de Aldeia Viçosa

Aldeia Viçosa, em foto de Ivo Morgado (2007, da net). Matos (de azul)
e Letras, dois furriéis da 2ª. CCAV, 8423



Aldeia Viçosa era logo depois do Quitexe, na estrada do café, para quem ia de Carmona (Uíge) para Luanda. Por lá estava estacionada a 2ª. CCAV. 8423, sob comando do capitão miliciano José Manuel Cruz. Faz hoje 35 anos, viu regressar a guarnição da Fazenda Luísa Maria - nessa data extinto.
Por lá fazia vida de secretaria o Mário Matos, que comigo jornadeou em terras de Lamego, fazendo-se ao curso de Operações Especiais (Rangers). Uma qualquer contingência do tempo, que não lembro, levou-o a atirador de cavalaria. É o Matos de Anadia, aqui ao lado - o homem que memorizou todos os números mecanográficos de todos os militares da Companhia. Ainda hoje entraria no Guiness Book.
A 2ª. CCAV. era também a do Letras, «ranger» que se fez em Lamego e Penude, no (também meu) segundo turno de instrução de 1973. Meão de altura, mas de fibra que sobrava, o Letras não voltava costas a um perigo que lhe aparecesse pela frente e dele lembro, nas breves conversas de quando eu passava por Aldeia Viçosa (mais eu por lá, que ele pelo Quitexe), sempre me dizer que «aquilo fez-no bem...». Aquilo, era o curso de especialização, os «rangers» - que nos preparam física, mental e tecnicamente para o que nos esperaria uma comissão como a que os levou a Angola.
E do salto do pau em Penude, no último dia do curso - quando, aos olhos da família e da namorada, não quis falhar um milímetro e quase me atropelou no salto. Outros tempos, ó Letras!! Os de Setembro de 1973!
- MATOS. Mário Augusto da Silva Matos, furriel miliciano atirador de cavalaria, fucnionário administrativo, natural e residente em Anadia.
- LETRAS. António Carlos Dias Letras, furriel miliciano de Operações Especiais (Rangers). Empresário comercial, residente em Setúbal.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Os panfletos da acção psicológica distribuídos na mata e sanzalas

Andei a escarafunchar os meus alfarrábios e cliquei na net, por me ter subido à memória a lembrança dos panfletos que eram distribuídos pela mata e nas aldeias de Angola, procurando sensibilizar as populações autóctones para as vantagens de se aproximarem da tropa. Que me lembre, os Cavaleiros do Norte poucos terão distribuído - talvez mesmo nenhum.
O que me lembra - e bem... - é de uma vez (quero jurar que na sanzala do Quimucanda!) fui insistentemente abordado por um idoso, que por ali andava com uma molhada de papéis embrulhada num pano sujo, mal falava Português e insistentemente nos acenava com gestos tímidos.
O dr. Leal dava consultas e distribuía medicamentos pelo povo da sanzala, com aquela bondade e carinho, muito mais que sacerdócio, que tanto o caracterizava, sorrindo e dando palmadas nas crianças, e a insistência do idoso despertava-nos cada vez mais atenção. Por certro, devia querer que lhe desse a ração de combate - pois era isso habitual. Pensei eu... Mas eu já não tinha a minha, dada a alguém lá da sanzala.
A certa altura, dirigi-me a ele - mostrando-me interessado em meter conversa. Só que ele falava dialecto que eu não conhecia e acabámos por entender-nos apenas por linguagem gestual e com ajuda dos mais pequenitos lá da aldeia. O que ele queria mostrar, afinal, era uns panfletos da acção psicológica, dando-nos, com eles na mão, conta do gosto de ter abandonado a mata, algures e num qualquer tempo, para se enquadrar na vida comunitária.
«Os tropa, és boa...», disse ele, sorrindo de vergonha.
Valeu-lhe essa abertura e simpatia, sempre tímida e muito envergonhada, para uma consulta atenta do dr. Leal, que lá lhe deixou uma bolsa de medicamentos para «sarar os doença...».

sábado, 12 de dezembro de 2009

O encarregado que não distribuía o que devia pelos trabalhadores...

Uma picada para as fazendas de café da zona do Quitexe.
Foto de Luís Fernando, de 2007 (net)

O processo de descolonização vivia-se por esta altura de Dezembro de 1974 com nuances que envolviam alguns incidentes entre e com civis. Nomeadamente em fazendas, onde o relacionamento entre os trabalhadores e os encarregados (normalmente europeus) nem sempre era pacífico.
As envolventes reinvindicativas cresceram, com ou sem razão - e não a vamos nós ajuizar... - e não raras vezes eramos chamados a intervir. Como no caso que vou recordar, apontado para estes dias daquele ano.
Um trabalhador bailundo chegou à administração civil do Quitexe, fugido de uma fazenda e queixando-se de agressões e de roubos. Podendo a memória trair algum pormenor, a lei então vigente concedia direitos aos trabalhadores que não estariam a ser cumpridos. O que nem seria assim tão invulgar. A distribuição de géneros alimentícios, por exemplo, seria mal pesada e não era a favor dos trabalhadores.
Numa fazenda registou-se uma revolta e a reacção patronal foi dura. Por alguma razão fugiu o bailundo, galgando a mata e as picadas, ligeiramente ferido e trazendo a mensagem do arbítrio. Fomos mandados lá, na madrugada seguinte, e ainda demos conta desse tipo de «operação», que conferimos sob violenta contestação do encarregado e do pessoal branco - que também o havia, embora em pouco número.
Fôramos avisados do eventual ilícito, fomos portadores da legislação e, a dado momento, no fulgor quase juvenil do nosso sentido de justiça, exibimo-la ao encarregado. Que reagiu muito mal, com insultos e ameaças. Poupando pormenores, levámo-lo para o Quitexe e não foi da melhor maneira para ele. Entregue à administração civil, não soubemos o que lhe aconteceu - constando-se por lá que teria ido preso para Carmona e que lá o haviam soltado.
Nesse dia, porém, os trabalhadores bailundos receberam o que tinham a receber para o período de trabalho seguinte.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Comissões Locais de Coordenação Civil-Militar do Quitexe

A vila do Quitexe em 2008, numa foto de Ivo Morgado (net)


A expectativa dos militares do BCAV. 8423, por estes dias de Dezembro de 1974, mantinha-se em alta. A chegada da 3ª. CCAV., que operara na zona de acção da Fazenda Santa Isabel, fermentou esperanças. Na verdade, o reposicionamento do dispositivo militar era entendido como um caminho para... Lisboa.

O dobrar de acções dos militares europeus, resultante da passagem a licença registada dos grupos de mesclagem - acções em escoltas, patrulhamentos e «policiamentos»... - não foi causa de qualquer efeito negativo. Por mim, e pelo grupo de furriéis - que muito acaloradamente discutíamos o evoluir da situação, embora sem informações concretas - entendíamos esse esforço como necessário e assumido com serenidade. Até porque, ausentes os grupos mesclados, a verdade é que os entendimentos inter-militares eram muito maiores. E não havia o risco de atritos entre africanos e europeus.

Ao tempo, vivia-se em clima de paz e foram reestruturadas as Comissões de Contra-Subversão, consideradas desnecessárias. Procurava-se agora mais estreitamento das relações entre civis e militares e passaram a chamar-se Comissões Locais de Coordenação Civil-Militar, identificadas pela sigla CLCCM. A do Quitexe teve consequências a partir de 11 de Dezembro de 1974. Faz hoje 35 anos!




quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Vista Alegre na Zona de Acção dos Cavaleiros do Norte

Vista Alegre, entre Aldeia Viçosa e Ponte do Dange, Zona de Acção do BCAV. 8423

Vista Alegre, vila que se seguia(e) a Aldeia Viçosa - depois do Quitexe - na estrada para Luanda, de quem vai de Carmona (Uíge). A saída definitiva da CCAÇ. 4145/72 (para a capital angolana), que começou a processar-se a 21 de Novembro de 1974, levou a que para lá se mudasse a 1ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão Castro Dias.
A rotação da Companhia concluiu-se a 25 de Novembro, incluindo do a ocupação do Destacamento da Ponte do Dange. A Fazenda de Zalala ficou para trás na história da ocupação militar portuguesa - conforme estava previsto. Assim como a do Liberato.
Os meios auto do BCAV. 8423 eram reduzidos para as necessidades e, como refere o Livro da Unidade, «a rotação do dispositivo militar começou a ser efectivada à custa de verdadeiros sacrifícios». A concretização destes movimentos era devidamente planificada e implicava a extinção de aquartelamentos. Era feita com a responsabilidade e a alegria de quem se sabia fazer parte da história.

- VISTA ALEGRE. Foto de Ivo Morgado (net)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A chegada ao Quitexe da 3ª. Companhia, a de Santa Isabel

Placa militar de Santa Isabel, instalada pela CCAV. 1705

A 9 de Dezembro de 1974, era véspera da chegada da 3ª. Companhia a Quitexe. A retracção do dispositivo militar levou ao seu abandono do aquartelamento de Santa Isabel - ocupado pelas formas armadas portuguesas desde 1961/62.
Registava-se, por este tempo, alguma euforia entre a tropa. O abandono das posições na «mata», inspiráva-nos confiança num regresso breve a Portugal. A chegada dos companheiros de Santa Isabel e a anterior deslocação de parte da 1ª. CCAV, de Zalala para Vista Alegre e Ponte do Dange, favoreciam a nossa convicção: entrámos na fase decrescente da comissão. Mas, como por aqui já foi dito, não seria assim: ainda teríamos pela frente mais de oito meses.
A 9 de Dezembro de 1974, começava a chegar a 3ª. CCAV. e outro motivo nos incentivava: voltávamos a ter o convívio diário de amigos e companheiros que, de minha parte, tínhamos ganho em Lamego (nos Ranger´s) e em Santa Margarida (no período de formação do Batalhão, entre Janeiro e Maio de 1974).

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O outro capitão Oliveira da missão militar em Angola

Aquartelamento do BC12, em Carmona (Uíge), fachada principal vista
do lado da cidade. Foto dos anos 2000 (net)

Ir a Carmona e não conhecer o BC12, era um nosso pecadilho velho, mestiçado do permanente desejo de o visitar. As mais das vezes, quando «fugíamos» para a cidade, ora era para ir ao cinema ou (raramente) ao Comando de Sector.
O aquartelamento ficava fora da malha urbana, na saída para o Songo, e não era curial por lá passar. A passagem do Pelotão de Morteiros 4281 para lá, aguçou o apetite de o conhecer. O que aconteceu em data incerta de Dezembro de 1974.
A visita foi de «médico», mesmo muito breve, com entrada favorecida pela Casa da Guarda e espreitadela à parada, onde um grupo de militares fazia exercícios físicos e decorriam as actividades normais da guarnição. Demos a volta ao refeitório e, à saída, conhecemos um outro capitão Oliveira - que não o comandante da CCS do BCAV. 8423.
Ouvimos falar de Alquerubim e aguçou-se-nos a curiosidade. Alquerubim é freguesia de Albergaria-a-Velha, separada de Águeda pelo Rio Vouga. Aqui de casa a Alquerubim, em linha recta, não são mais de quatro quilómetros. Eramos quase vizinhos...
Claro que, dentro dos limites, meti conversa e vim a saber mais: o (novo) capitão Oliveira, na altura com os seus bons 50 e tal anos, era residente em Alquerubim mas nascido no Sobreiro de Valongo do Vouga - freguesia de Águeda. A boleia que nos levara do Quitexe não podia esperar muito e tivemos de abreviar a conversa, mas ficou o contacto - depois intensificado durante o período que coabitámos no BC12 - a partir de Fevereiro de 1975.
- BC12. Batalhão de Caçadores 12, unidade militar de Carmona (Uíge). A CCS e parte do BCAV. 8423 esteve no aquartelamente entre 2 de Março e 4 de Agosto de 1975, dia da saída para Luanda.