- LOPES. António Maria Verdelho da Silva Lopes, enfermeiro, natural e residente em Vendas Novas, onde é funcionário de Finanças.
BATALHÃO DE CAVALARIA 8423. Os Cavaleiros do Norte!!! Um espaço para informalmente falar de pessoas e estórias de um tempo em que se fez história. Aqui contando, de forma avulsa, algumas histórias de grupo de militares que foi a Angola fazer Abril e semear solidariedade e companheirismo! A partir do Quitexe, por Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange e Songo! E outras terras do Uíge angolano, pátria de que todos ficámos apaixonados!
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Os furriéis milicianos da CCS dos Cavaleiros do Norte (1)
- LOPES. António Maria Verdelho da Silva Lopes, enfermeiro, natural e residente em Vendas Novas, onde é funcionário de Finanças.
A (não) vitória do Buraquinho na S. Silvestre do Quitexe....
Eis a divinal narrativa, na primeira pessoa:
«Eu, Alfredo Coelho (Buraquinho), vou contar a história da corrida de S. Silvestre, na noite de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro de 1975, de uma terça para a quarta-feira, às 00,00 horas. A corrida começou na entrada da picada de Zalala até à messe dos oficiais, no Quitexe.
Eu também participei e tinha que fazer das minhas, para ser o vencedor. E, então, o que é que eu fiz? Como os enfermeiros tinham que acompanhar a corrida, na ambulância, combinei com o 1º. cabo enfermeiro Gomes e o soldado maqueiro Moreira (o Penafiel) que quando a corrida começasse, eu isolar-me-ia e entrarria na ambulância, sem que fosse detectado pelo resto dos atletas.
A ambulância vinha à frente, com outras viaturas militares a fazer escolta e a iluminar a estrada até ao Quitexe, porque não havia luz eléctrica. Ao chegar próximo da casa do administrador, onde estavam oficiais e o administrador a ver a corrida, eu então saltei da ambulância e comecei a correr, e quem me via só dizia «força Buraquinho, és o primeiro!!!...».
O problema é que cometi um erro, que foi virar na segunda rua do Quitexe quando deveria virar na terceira, onde ficava o bar do Rocha. Mas cheguei à meta em primeiro lugar e o capitão Oliveira começou logo a bater palmas e a gritar: “É o Buraquinho, é da CCS!...».
Só que tudo ficou em águas de bacalhau, após a chegada do segundo que, naturalmente, denunciou a minha chegada forjada e o capitão Oliveira ficou desanimado por ser um militar da 2ª. companhia e não da CCS, como ele pensava.
Sabem quem foi o 1º. classificado? Foi o Fernando, conhecido por Spínola, que era da 2ª. Companhia de Cavalaria».
O Buraquinho contou, está contado. Ele era assim e agora, ao lê-lo, senti-me voado na ampulheta do tempo e estou a «ouvir» os comentários feitos à pitoresca bravata desportiva do inimitável Buraquinho!!! Só mesmo ele! E a cara zombeteira do Buraquinho, a passear-se no final da (não) corrida.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Antevéspera da passagem de ano de 1974 para 1975
Dezembro, dia 30 de 1974, véspera da passagem de ano de 1974 para 1975. A ordem de serviço lá me aprontou para sargento de dia ao batalhão na noite dita especial. Era uma inevitabilidade! Esperadíssima.
Tornou-se demasiado previsível a nomeação, numa altura em que o relacionamento entre os pares da classe de sargentos andava esfriada. É desse tempo uma «revolta» dos milicianos, descontentes com alguns tratamentos recebidos e tornou-se famoso o grito de guerra do furriel Machado: «Beduínos!!!...». Um grito de raiva, contra a discriminação a que os milicianos se sentiam sujeitos, com a cumplicidade de alguns iguais.
Acreditam que a maioria dos furriéis se recusaram a comer ao mesmo tempo, na mesma mesa, com alguns comensais da messe de sargentos? Pois foi! E acusados ao capitão Oliveira, lá foi o trio de ferro: Neto, Viegas e Machado. Fazer a defesa da justiça!
A 31 de Dezembro de 1974, lá me apresentei a serviço para a noite de passagem de ano. Não sei porquê, ainda hoje penso que alguém acreditava, ao tempo, que eu iria infringir os regulamentos e faltar ao serviço. Só se eu fosse tolo!
A classe de sargentos da CCS dos Cavaleiros do Norte
O grupo de sargentos do quadro da CCS do BCAV. 8423 era formado por quatro profissionais. A relação dos furriéis milicianos com eles era de respeito, mas às vezes menos ortodoxas. Até tumultuosas. Tivemos as nossas coisas e algumas não foram boas de assoar. Talvez uma questão de filosofias de vida, de formação militar, de diferença de idades, sei lá!
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Os oficiais milicianos da CCS do BCAV. 8423
Tenente Luz, alferes Ribeiro e Hermida, tenente Mora, alferes Cruz,
capitão Oliveira, alferes-médico Campos e capitão-médico Leal
A vida de um soldado vista pelo José Frangãos
O Frangãos - o famoso e simpático Cuba da "ferrugem"... - termina com desejos de "um Santo Natal e Próspero Ano Novo de 2010" para todos os Cavaleiros do Norte. Aqui ficam eles.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
O alferes capelão do Quitexe...
O Batalhão de Cavalaria 8423 tinha um alferes capelão, o padre José Ferreira de Almeida. Ele me absolvirá, mas não tenho especiais recordações dele - além de o saber recatado, relativamente novo e de o ver, muitas vezes, em conversas de pé de orelha com soldados. Não ganhei intimidade com ele, vá lá saber-se porquê.
O alferes capelão missionaria em outras localidades, além do Quitexe, e certamente deveria ir às outras companhias do BCAV. 8423, onde provavelmente se demoraria dias seguidos, e as suas permanências na vila seriam espaçadas e curtas - talvez muitas vezes coincidentes com as nossas saídas, em operações, escoltas, patrulhas, fiscalização rodoviária, férias. A nossa principal referência religiosa - a minha, pelo menos... - eram a missão e a paróquia. E os momentos de maior reflexão eram na Igreja da vila, a da Mãe de Deus do Quitexe, onde ao tempo paroquiava o Padre Albino Capela.
O alferes capelão Almeida seria o conforto psicológico de muitos rapazes, que na fé encontravam resposta às suas dúvidas e aos seus desassossegos. Na Palavra que espalhava, achariam o milagre da sua paz espiritual. Sempre que o via, estava ele em pé de conversa com militares - principalmente praças.
Acabou a comissão no Quitexe em Dezembro de 1974 e dele agora não consegui saber nada. Um abraço para ele, se nos ler.
Oficiais do Comando do Batalhão de Cavalaria 8423
domingo, 27 de dezembro de 2009
Futebol do Quitexe homenageou o Portugal do Mundial de 66
Corrida de S. Silvestre, cinema e jogos de futebol no Quitexe
sábado, 26 de dezembro de 2009
Mensagem de Natal do Comando da Zona Militar Norte
A mensagem referia, por exemplo, que «nesta quadra em que em todo o mundo se deseja PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA VONTADE, juntemos os nossos esforços para que, em ANGOLA, se consiga essa paz e, indiferentes a ofensas e calúnias, com a consciência tranquila, prossigamos confiantes e serenos até ao fim, para que possamos dizer, com satisfação e orgulho: MISSÃO CUMPRIDA».
Assim era e viria a ser, apesar dos pequenos incidentes que começaram a surgir, depois do «noivado» feliz das primeiras semanas de contactos entre as forças armadas e os membros dos movimentos emancipalistas. Não tanto pelo Quitexe, é bom dizer, mas nalguns outros pontos do território angolano.
A mensagem natalícia referia ainda «a certeza de estarmos a cumprir uma alta missão, ajudando a construir, em paz, um novo país de espressão portuguesa».
Por nós, Cavaleiros do Norte, e vista a situação a 35 anos de distância, temos a certeza de, ao nível das nossas responsabilidades, termos contribuído para uma Angola melhor!
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Natal dos Cavaleiros de Aldeia Viçosa, Vista Alegre e Ponte do Dange
No Quitexe, o meu dia de Natal de 1974 - depois de largar a braçadeira verde de sargento de dia, foi passado entre as habituais largas conversas bar de sargentos e, pelo meio da tarde, a dar respostas ao meu rol de epístolas recebidas. Estive na porta da Igreja, onde celebrava o padre Capela, não entrei (estava cheiíssima) mas nesse dia, em piedosa mentira, fiz saber para a família que tinha estado na missa de Natal!
Falou-se ontem à noite nisso, aqui em casa, e não escapei do (in)suspeito comentário de minha irmã Maria Dulce: «Deves ter ido à missa, deves...». E do sempre observador gracejo da mãe Maria Dulce, de 89 anos: »Eu lembro-me de tu escreveres isso. Escreveeeeeste!!!...». Como quem diz, «escreveste mas foste tanto à missa como eu fui para padre».
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
A noite de consoada do Natal de 1974
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
O Natal do Buraquinho para todos os Cavaleiros do Quitexe
Ligou-me o Buraquinho, no intervalo das suas funções de empresário de restauração. Viu o rosto bonito de Florinda no post de ontem e aí me ligou ele, feliz da vida e troca o passo, contando maravilhas da licenciada em psicologia clínica que a vida lhe deu como filha. E do filho, Rodrigo como ele, de 15 para 16 anos e patinador artístico internacional. «Internacional, ó Viegas....», fez ele questão de me sublinhar.
Mas o que ele verdadeiramente queria, o que ele queria mesmo a sério, era desejar, aqui no blogue, um Natal muito bom, muito feliz, muito amigo, de muitas esperanças no futuro, para todos os Cavaleiros do Quitexe. «Põe-me lá isso, ó Viegas...».
Cá está, ó Buraquinho! No teu e no nome de todos os Cavaleiros do 8423!
A véspera da noite Natal de 1974
Às 8 horas da manhã dessa 3ª. feira de véspera natalícia, bem escanhoado, de botas impecavelmente engraxadas e camuflado sem um vinco, apresentei-me ao oficial de dia, garboso e firme, para um serviço de 24 horas.
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
O Natal de 73 de três Cavaleiros do Norte «fugidos» de Santa Margarida
O Natal de 1974 foi o primeiro que vivi fora de casa. E logo tão longe! A mais de 8 000 quilómetros e sem os sons dos sinos da torre daqui ao lado de minha casa, sem o cheiro das ruas e das flores e dos campos de Ois da Ribeira. E sem os amigos! Sem a neve e o frio, as fogueiras da lareira da cozinha da famíla... Sem o beijar do menino que se ia buscar à manjedoura do presépio da igreja de Santo Adrião, na missa do dia.
O de 1973 fôra vivido a «correr», chegados de Santa Margarida - onde, na véspera, nos apresentámos no Regimento de Cavalaria 4, eu o Neto e o Monteiro, idos do Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE) de Lamego. Logo quiserem por-nos de serviço mas reagiu o Neto, sempre impulsivo e de coração solto: «Nem pensam nisso. Vamos passar o Natal a casa...».
Que não, que ia «sair à ordem» a nossa nomeação, tínhamos de ficar - assim nos ameaçaram.
Pois «castiguem-nos, façam lá o que quiserem, mas nós é que vamos embora...», ameaçou o Neto, determinado e corajoso. Falando por ele e por nós, ambos bem mais cordatos: «Pior castigo não poderemos ter, que o de ir para a guerra!...», gritou ele, a espumar de alguma raiva.
A «coisa», em Santa Margarida, começou pelo sargento de dia - um furriel miliciano de bigode farto e pernas tortas - e chegou ao oficial de dia. Pois que «tínhamos de ficar de serviço», diziam eles. Não ficámos.
«Com ou sem autorização, vamos embora...», refilou o Neto . E virou as costas, porta fora. Saímos com ele mas voltámos e lá nos deram os passaportes. Já ao fim da tarde de faz amanhã 36 anos, viemos no velho SIMCA 1100 do Neto, sempre a carregar no acelerador, era a gasolina a 4$50 o litro, e virados a norte, a Águeda - de onde o Monteiro arranjou boleia para o Porto, onde o iria buscar um irmão, ido de Marco de Canaveses (a sua terra).
Ao outro dia, era véspera de Natal de 1973 e não sabíamos se seria o último. O nosso destino era a guerra colonial. Mas chegámos até hoje, 36 anos depois!
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
A soltura do inimitável Buraquinho...
no Encontro de 12/Set./2009. Clicar nas imagens para as ampliar
Hoje, 35 anos depois, estou seguro que faria exactamente o mesmo, em igual situação. Seria provavelmente bem mais "refinado", ó Buraquinho. Parabéns pelos filhos que tens e fica-te com esta certeza: és a única pessoa no mundo de quem alguma vez participei! Olha que é uma honra!!!!
- BURAQUINHO. Alfredo Rodrigo Ferreira Coelho, 1º. cabo analista de águas. Empresário de restauração e residente em Custóias.
domingo, 20 de dezembro de 2009
A operação na Baixa do Mungage com um Grupo Especial
A 20 de Dezembro de 1974, iniciou-se a saída do Pelotão de Morteiros 4281, do Quitexe para Carmona. Era comandado por um alferes miliciano açoriano (Leite?) e dele, do pelotão, recordo uma evacuação feita a um dos Grupos de GE, depois de uma operação militar de três dias na Baixa do Mungage, que eu integrava.
A dificuldade de comunicações, na maior parte do tempo da operação, levou a que se levantassem suspeitas e medos quanto ao destino dos militares europeus. O que teria acontecido para deixarem de fazer os contactos de rádio? Teria sido algo de tão grave que o impedissem de os estabelecer? A operação era a nível de batalhão e o grupo GE, sem contactos com a «base», optou por, azimute a azimute, prosseguir ... com duas noites de selva que não deram para pregar olho. Os grunhidos de animais e o piar de algumas aves fizeram delas uma tormenta inenarrável e sofrida.
A falta de ligações, afinal devia-se apenas à densidade da mata e, ao abrir da manhã do terceiro dia e já muito perto do final da operação, lá conseguimos o contacto com a base. Chegados à fazenda do destino, foi de espanto a reacção do alferes do Pelotão de Morteiros, por ver tão poucos militares europeus (brancos) entre mais de 30 naturais.
Foi por Novembro de 1974 esta operação, que registou um incidente com um encarregado de uma fazenda - que ameaçava agredir contratados bailundos. Chegados ao Quitexe e depois de banho e jantar, caí na cama por horas que chegaram à manhã seguinte. Na verdade, há três noites que não pregava olho!
sábado, 19 de dezembro de 2009
As morenas do Liceu Salvador Correia de Sá na baixa de Luanda
A 19 de Dezembro de 1974, «desenfiado» eu do Quitexe, pus-me aos sóis e prazeres de Luanda. Não por muito tempo, apenas uns diazinhos e mesmo estes sempre a correr. Estava o Natal a bater à porta e, «aproveitando» uma boleia num avião militar, lá voei eu o Negage para a capital - onde havia galinhas no choco!
Um amigo que a morte já levou, o Alberto, tinha sido meu companheiro de escola e estava ao tempo em serviço na Base Aérea de Luanda. Por lá, pela capital, acamaradava comigo noite adentro, depois de um bom frango de churrasco e uns pares de canhângulos no Floresta. Depois, era ver-nos como passarinhos fora do a gaiola, a libertinar-nos por lá, cultivando «amizades» temporárias. Não escapariam também umas mariscada no Amazonas, na Portugália, no Mutamba ou no Paris Versailles, ou até um saltinho ao Pólo Norte e à ilha - que eram verdadeiros «sacrários» para satisfazer os nossos prazeres de boca. Depois, eram os bares da baixa luandina... onde, feitos de irmãos gémeos, pingávamos paixões por duas morenas do Liceu Salvador Correia de Sá.
A «coisa» estava pegava e da história resta-nos o constrangimento de lembrar a mentirazinha com que iludíamos as cachopas: seriamos nós irmãos gémeos, filhos de um casal de fazendeiros do norte que tinham falecido num acidente. E tínhamos duas irmãs no princípio da adolescência, a estudar como internas no Colégio dos Salesianos, no Estoril.
A fazenda, inevitavelmente, era para os lados do Quitexe e era para a Caixa Postal 12 que ela(s) escrevia(m) - para mim e para o meu irmão gémeo, quando ele se libertava das tarefas militares na base aérea. Quando era correio dele, lá tinha eu de lho enviar para Luanda e ele mandar-me a resposta para o Quitexe, para eu reenviar para Luanda - para uma das morenas. Quando se encontrava com elas na capital, lá me desculpava da minha ausência na fazenda do norte. Tolices da idade..
Desgosto meu (e dele) foi eu ter chegado a Luanda em Agosto de 1974 e elas, por ordem dos pais, já terem regressado a Portugal - coisa decidida em poucos dias, viajando nas célebres pontes aéreas dos retornados. Delas, sei que uma é enfermeira de saúde pública e moradora na área de Lisboa. Da outra, nunca mais soube.
- ALBERTO. Alberto Fernando Dias Ferreira, 1º. cabo especialista da Força Aérea, natural de Fermentelos. Posteriormente licenciado em Economia, era quadro do Estado e (por duas vezes) foi vereador da Câmara Municipal de Águeda - numa delas sendo candidato a presidente Já faleceu.
- CANHÂNGULO. Copo grande de cerveja; uma caneca grande, por cá.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
O comandante Almeida e Brito e o boato...
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Amores e infidelidades marcadas em relógios de papel...
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
O PELREC na linha de fogo da picada de Isabel Maria
O dia 14 de Dezembro de 1974 foi o da conclusão da chegada e instalação da 3ª. Companhia no Quitexe. Oriunda da Fazenda de Santa Isabel e comandada pelo capitão miliciano José Paulo Fernandes, aí estava ela, no âmbito da mutação do dispositivo militar do BCAV. 8423.
A transferência vinha a ocorrer desde 10 de Dezembro e é bom recordar, 35 anos depois, a emoção que por esses dias se vivia no Quitexe - entre os militares. Emoção que todos rodeava, envolvia e unia, em abraços de camaradagem e sólida amizade que nos transfigurava e multiplicava a confiança no futuro próximo. A saída das companhias operacionais das suas zonas de acção, significava, para nós, a preparação do regresso a Portugal - embora ainda nos esperassem nove meses do dia do nosso regresso - que por essa altura todos sonhávamos estar muito mais próximo.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
O D. Juan do Quitexe que foi do Cais do Sodré...
Bastaram cinco minutos de conversa no Topete, para que o “pavão” exibisse as suas asas, disparando um palavreado cheio de filosóficos floreados de conquistador nato! As palavras saíam-lhe pelo canto da boca, tornando-se quase imperceptíveis, reforçando assim o seu tique de “malandreco”! O vocabulário, esse era repleto de palavras “estranhas” e com muitos estrangeirismos à mistura, para enfatizar ainda mais! E ainda estava na introdução, porque os feitos seriam bem explanados à medida que desenvolvia o seu monólogo! Sempre de cigarro em riste e pronto a disparar umas fumaradas, ali estava ele nas suas sete quintas, convencido de que todos se tinham rendido ao seu charme! Até dava um estalido com a boca a cada chupadela de cigarro! Mas que classe!...
Ao fim de quase uma hora de espectáculo, perguntei-lhe de que zona do país era oriundo, como se não estivesse já devidamente informado! A resposta saiu-lhe pausada, mascada e misturada com o fumo do cigarro, enquanto olhava para mim de soslaio: «Olha pá, nasci, fui criado e sempre vivi no Cais do Sodré – já ouviste falar?!...».
«Hum… com que então do Cais do Sodré… Faltava-me agora esta ave rara cheia de tiques – deve ser dos que põem o Tejo a correr para a nascente!...», resmunguei eu para dentro! Assustei-me só de pensar que tinha de o gramar todos os dias com as suas histórias, como se fosse um castigo. Curiosamente, o pessoal já se dispunha em U para ouvir as suas narrativas, fazendo fé em todas as suas palavras! Fazia lembrar as palestras da recruta, mas aí tudo o que ouvimos nos foi útil! Era um espectáculo, o homem até ficava inchado! Mas como costuma dizer-se, nem tudo o que parece é!
A realidade, afinal, tinha duas faces bem distintas, e toda aquela pose servia, também, para disfarçar muita angústia e alguma insegurança. Uma verdade, a mais negra, soube-o da sua boca, é que ele não tinha rigorosamente ninguém, apesar de uma vida muito e bem (?) preenchida até ao momento do embarque para terras de Angola! A outra verdade, a de Don Juan, soube-a pela boca de um colega, seu amigo na vida civil. Era mesmo um Don Juan e figura bem conhecida no Cais do Sodré!
No Quitexe, não deixou os seus créditos por “mãos” alheias e não tardaram a aparecer por ali quatro ou cinco imitadores mas, diga-se, desprovidos de pinta! Afinal, um profissional… é sempre um profissional! Libertinagens à parte, foi sempre um companheiro correctíssimo e exímio nas suas funções – Operador de Mensagens! Mas houve excessos que não estavam nas suas previsões e, à sua atribulada saída do Quitexe, seguir-se-ia o risco de não embarque para o “puto”! Foi difícil, mas conseguiu, com uma cunha que meteu alguns galões e que surgiu sabe-se lá de onde! Foi um êxito conseguido a ferros!
Com muito empenho e persistência, consegui “dar com ele”, ao fim de 37 anos! A minha ida ao Cais do Sodré, não tinha surtido efeito! Do lado de lá estava o meu amigo Martins, o já avô babado a perguntar uma boa meia dúzia de vezes se era mesmo eu! Ainda “senhor” dos seus tiques de voz, lembrou-me estes episódios Quitexanos que de imediato “ameacei” narrar, mas com as devidas omissões! Irá conferir na net, para salvaguardar o seu currículo – logo avisou! Os pormenores, iremos recordá-los num almoço prometido para breve e que terá o Quitexe como pano de fundo! Sempre o Quitexe!
ANTÓNIO CASAL
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
O Matos e o Letras da Companhia de Aldeia Viçosa
A 2ª. CCAV. era também a do Letras, «ranger» que se fez em Lamego e Penude, no (também meu) segundo turno de instrução de 1973. Meão de altura, mas de fibra que sobrava, o Letras não voltava costas a um perigo que lhe aparecesse pela frente e dele lembro, nas breves conversas de quando eu passava por Aldeia Viçosa (mais eu por lá, que ele pelo Quitexe), sempre me dizer que «aquilo fez-no bem...». Aquilo, era o curso de especialização, os «rangers» - que nos preparam física, mental e tecnicamente para o que nos esperaria uma comissão como a que os levou a Angola.
domingo, 13 de dezembro de 2009
Os panfletos da acção psicológica distribuídos na mata e sanzalas
O que me lembra - e bem... - é de uma vez (quero jurar que na sanzala do Quimucanda!) fui insistentemente abordado por um idoso, que por ali andava com uma molhada de papéis embrulhada num pano sujo, mal falava Português e insistentemente nos acenava com gestos tímidos.
O dr. Leal dava consultas e distribuía medicamentos pelo povo da sanzala, com aquela bondade e carinho, muito mais que sacerdócio, que tanto o caracterizava, sorrindo e dando palmadas nas crianças, e a insistência do idoso despertava-nos cada vez mais atenção. Por certro, devia querer que lhe desse a ração de combate - pois era isso habitual. Pensei eu... Mas eu já não tinha a minha, dada a alguém lá da sanzala.
A certa altura, dirigi-me a ele - mostrando-me interessado em meter conversa. Só que ele falava dialecto que eu não conhecia e acabámos por entender-nos apenas por linguagem gestual e com ajuda dos mais pequenitos lá da aldeia. O que ele queria mostrar, afinal, era uns panfletos da acção psicológica, dando-nos, com eles na mão, conta do gosto de ter abandonado a mata, algures e num qualquer tempo, para se enquadrar na vida comunitária.
«Os tropa, és boa...», disse ele, sorrindo de vergonha.
Valeu-lhe essa abertura e simpatia, sempre tímida e muito envergonhada, para uma consulta atenta do dr. Leal, que lá lhe deixou uma bolsa de medicamentos para «sarar os doença...».
sábado, 12 de dezembro de 2009
O encarregado que não distribuía o que devia pelos trabalhadores...
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Comissões Locais de Coordenação Civil-Militar do Quitexe
A expectativa dos militares do BCAV. 8423, por estes dias de Dezembro de 1974, mantinha-se em alta. A chegada da 3ª. CCAV., que operara na zona de acção da Fazenda Santa Isabel, fermentou esperanças. Na verdade, o reposicionamento do dispositivo militar era entendido como um caminho para... Lisboa.
O dobrar de acções dos militares europeus, resultante da passagem a licença registada dos grupos de mesclagem - acções em escoltas, patrulhamentos e «policiamentos»... - não foi causa de qualquer efeito negativo. Por mim, e pelo grupo de furriéis - que muito acaloradamente discutíamos o evoluir da situação, embora sem informações concretas - entendíamos esse esforço como necessário e assumido com serenidade. Até porque, ausentes os grupos mesclados, a verdade é que os entendimentos inter-militares eram muito maiores. E não havia o risco de atritos entre africanos e europeus.
Ao tempo, vivia-se em clima de paz e foram reestruturadas as Comissões de Contra-Subversão, consideradas desnecessárias. Procurava-se agora mais estreitamento das relações entre civis e militares e passaram a chamar-se Comissões Locais de Coordenação Civil-Militar, identificadas pela sigla CLCCM. A do Quitexe teve consequências a partir de 11 de Dezembro de 1974. Faz hoje 35 anos!
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Vista Alegre na Zona de Acção dos Cavaleiros do Norte
Vista Alegre, vila que se seguia(e) a Aldeia Viçosa - depois do Quitexe - na estrada para Luanda, de quem vai de Carmona (Uíge). A saída definitiva da CCAÇ. 4145/72 (para a capital angolana), que começou a processar-se a 21 de Novembro de 1974, levou a que para lá se mudasse a 1ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão Castro Dias.
A rotação da Companhia concluiu-se a 25 de Novembro, incluindo do a ocupação do Destacamento da Ponte do Dange. A Fazenda de Zalala ficou para trás na história da ocupação militar portuguesa - conforme estava previsto. Assim como a do Liberato.
Os meios auto do BCAV. 8423 eram reduzidos para as necessidades e, como refere o Livro da Unidade, «a rotação do dispositivo militar começou a ser efectivada à custa de verdadeiros sacrifícios». A concretização destes movimentos era devidamente planificada e implicava a extinção de aquartelamentos. Era feita com a responsabilidade e a alegria de quem se sabia fazer parte da história.
- VISTA ALEGRE. Foto de Ivo Morgado (net)
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
A chegada ao Quitexe da 3ª. Companhia, a de Santa Isabel
Registava-se, por este tempo, alguma euforia entre a tropa. O abandono das posições na «mata», inspiráva-nos confiança num regresso breve a Portugal. A chegada dos companheiros de Santa Isabel e a anterior deslocação de parte da 1ª. CCAV, de Zalala para Vista Alegre e Ponte do Dange, favoreciam a nossa convicção: entrámos na fase decrescente da comissão. Mas, como por aqui já foi dito, não seria assim: ainda teríamos pela frente mais de oito meses.
A 9 de Dezembro de 1974, começava a chegar a 3ª. CCAV. e outro motivo nos incentivava: voltávamos a ter o convívio diário de amigos e companheiros que, de minha parte, tínhamos ganho em Lamego (nos Ranger´s) e em Santa Margarida (no período de formação do Batalhão, entre Janeiro e Maio de 1974).