Alferes Garcia e soldado Leal, dois «pelrec´s» já falecidos. Em baixo,a entrada do RC4,
em 2010. Ao fundo, a capela do campo Militar de Santa Margarida.
Sexta-feira, 22 de Fevereiro de 1974. Os futuros Cavaleiros do Norte concluem, na Mata do Soares, o período da chamada instrução especial. Os homens que ali chegaram primeiros dias de Janeiro, alguns ainda em Dezembro de 1973, já estão aptos a pegar numa GR, pôr bala na câmara, fazer ponto de mira e disparar. Desmontam a arma, limpam as peças, uma a uma, cuidadosamente, e voltam a montá-las. Já conhecem os perigos de um trilho armadilhado, de uma granada defensiva a explodir, já percebem o cheiro da morte. Ainda não estão prontos, mas estão... quase, para partirem para a guerra.
Os homens do BCAV. 8423 já sabem que o destino é Angola e bendizem-se pela sorte. Angola era, para a geração que se preparava, o melhor teatro de guerra possível. Mais «pacífica» que os perigos da diabolizada Guiné, ou da sacrificada Moçambique - de onde chegavam notícias aterrorizadoras. Que chegavam, com maior ou menor secretismo, mais ou menos escondidas pelos donos da pátria e das armas.
Os agora «cavaleiros» da guarnição de Santa Margarida vão gozar um dias de férias. Mais para os praças, menos para os futuros furriéis e alferes milicianos.
O Neto e eu, falando aos soldados PELREC num sítio da Mata do Soares por onde Cristo não tinha passado, confortamos-lhe a alma e estimulamos-lhes confiança. Aquilo, em Angola, não ia ser nada. Estávamos preparados. Preparadíssimos. Que gozassem os dias de férias, com as famílias, os amigos, as namoradas. É por estes dias que sei da paternidade do Leal, já casado e da criança que lhe crescia em casa, sem o colo do pai. Viria, eu, a ter especial empatia pelo Leal - que sempre a retribuiu.
Hoje, há 37 anos, abandonámos Santa Margarida com conforto de alma e sem dores que nos inquietassem o físico. Na verdade, Lamego dera-nos força física, competência técnica e destemor. Não exagero. E isso procurámos nós, com o futuro alferes Garcia, incutir no espírito dos nossos soldados. Hoje,. temos a certeza que comseguimos.
- GARCIA. António Manuel Garcia, alferes miliciano de Operações Especiais (Ranger´s). Natural de Pombal de Ansiães (Carrazeda de Ansiães». Faleceu a 2 de Novembro de 1979, vítima de acidente de viação.Era agente da Polícia Judiciária.
- LEAL. Manuel Leal da Silva, soldado atirador de Cavalaria. Natural de Pombal, faleceu a 19 de Junho de 2006, vítima de doença súbita.