segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O 1º. cabo Joaquim Figueiredo de Almeida

Hipólito, Monteiro, Almeida e Vicente (em cima), Garcia,
Leal, Neto e Auélio (Barbeiro), gente do PELREC da CCS do BCAV. 8423.
Almeida, Vicente, Garcia e Leal já faleceram


A 28 de Fevereiro de 2009, há dois anos, vítima de doença, faleceu Joaquim Figueiredo de Almeida - que foi  garboso e corajoso 1º. cabo atirador de cavalaria e integrou o o PELREC da CCS do BVAV. 8423.  Desde Santa Margarida, até ao Quitexe, por Carmona e Luanda.
Humilde, sempre prestável, disponível, sem medos...., o 1º. cabo Almeida foi mais que um atirador e um amigo. Foi encarregado do refeitório e padeiro - merecendo louvor público do comando do batalhão.
Morreu há dois anos! Que descanse em paz.
Ironia da vida, hoje faz 59 anos o Franciso Neto - que foi companheiro e irmão da minha jornada militar, desde os epopeicos e sacrificados tempos de instrução militar do CIOE, em Lamego - onde nos fizemos melhores soldados!!!... -, também passando por Santa Margarida, Quitexe, Carmona e Luanda. Até aos dias de hoje. Dei-lhe agora o telefonema da praxe! Está bem, matando os lutos da vida, porque sabe desafiar o futuro.
Ver AQUI.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

A CCS a fazer malas para o BC12 de Carmona

Aquartelamento do Quitexe, na avenida da vila. 
Entrada para a parada, parque de viaturas, refeitório e casernas


Os últimos dias de Fevereiro de 1975 forma vividos com alguma ansiedade na guarnição do Quitexe. A CCS, já se sabia, ia partir para Carmona - onde iria ocupar o BC12, com a 2ª. Companhia, a de Aldeia Viçosa. Era mais um passo na caminhada para o regresso, que todos cada vez mais desejávamos. Mal sabíamos o que no esperava.
O comandante Almeida e Brito multiplicava-se, por esse tempo, em reuniões na Zona Militar Norte: a 19, 20, 25, 26, 27 e 28 de Fevereiro, normalmente acompanhado pelo oficial adjjunto - o capitão José Paulo Falcão. A rotação do BCAV. 8423 estava em marcha. No Quitexe, iria ficar a 3ª. CCAV., a de Santa Isabel - que de lá viera em Dezembro de 1974.
As Companhias (subunidades), entretanto, «estavam a braços com grandes problemas, respeitantes às suas cargas», pelo que, como se lê no Livro da Unidade, o Comando do BCAV. 8423 «não realizou as visitas que do antecendente se verificavam». Assim se deu «liberdade de actuação» aos respectivos comandantes.
Nós, Cavaleiros do Quitexe, entretanto, fazíamos as malas para mais uma etapa da jornada de Angola: a mudança para o BC12, para Carmona.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

O Pelotão de Mecânicos e Condutores Auto-Rodas


O Pelotão do Parque-Auto era comandado pelo alferes Cruz (destacado 
a amarelo), com o 1º. sargento Aires (vermelho) e o furriel Morais (branco).
Clicar na imagem, para a ampliar

O Pelotão de Mecânicos Auto-Rodas era comandado pelo alferes miliciano Cruz, com colaboração do 1º. sargento Aires e o furriel miliciano Morais. E como era vital que não falhasse! Não falhasse (e não falhou) na segurança e manutenção das viaturas que rodavam pelas picadas do Uíge angolano. Não podiam  ter uma avaria, uma falha mecânica, sempre que viajávamos na mais simples escolta, ou na mais perigosa saída operacional.
E como era arriscado o "papel" dos condutores, sempre primeiros alvos das miras inimigas, quando evoluíamos nos troços mais densos da floresta (onde o IN se poderia esconder fora dos nossos olhos), ou na parte mas aberta dos troços que vomitavam poeira quente e vermelha para os nossos olhos e corpos, para o suor dos nossos frios de medo, para as nossas angústias.
O final de comissão foi tempo de louvor a esta equipa de companheiros fantásticos, boa parte deles na foto deste post.
«O conjunto de mecânicos auto-rodas da CCS/BCV constituiu equipa de trabalho, com espírito de entreajuda e sacrifício, procurando tirar o maior rendimento do seu labor, ao mesmo tempo que, torneando dificuldades inerentes ao muito uso das viaturas e às faltas constantes de sobressalentes, conseguiu que as mesmas obtivessem condições de utilização em tempo oportuno e sempre aceitáveis».
Aqui fica o elogio, lavrado pelo comandante Almeida e Brito, que, «não pretendendo distinguir uns, esquecendo outros» deixou vincado, no Livro da Unidade, o «público agradecimento do seu trabalho». 
Assinamos por baixo.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A 3ª. Companhia vai reunir em Torres Vedras

Grupo da 3ª. CCAV. 8423, de Santa Isabel. Encontro de
5 de Junho de 2010, em Coruche.
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A 3ª. Companhia do Batalhão de Cavalaria 8423 vai reunir-se a 4 de Junho, em Torres Vedras. A organização é do engº. José Paulo Fernandes, que, como capitão miliciano, a comandou - nas jornadas que levaram a guarnição por Santa Isabel, Quitexe e Luanda, pelos já algo distantes anos de 1974 e 1975.
O ponto de encontro será no estacionamento da Expotorres e o almoço será no Restaurante Valoásis, algures na estrada entre Torres Vedras e a Lourinhã. Constará de umas entradas, sopa de agrião, bacalhau com broa, fritada de carne e buffet de sobremesas. Terá um custo de 30 euros, para adultos, mas de dez para as crianças com menos de 12 anos. E nada pagarão as que tiverem menos de 6.
Para se chegar a Torres Vedras, deverá utilizar-se a auto-estrada A8. Quem vier de sul, provavelmente entrará em Lisboa pelo nó de Loures, local onde cruza com a CREL. Deverá sair ao quilómetro 36, onde diz Torres Vedras (sul).
Quem viajar de norte, tem várias ligações à A8, desde a A29 (que vem do Porto e liga directamente no nó de Leiria), até à A15, que vem de Santarém e liga no nó de Óbidos. Deverá sair ao quilómetro 43, onde diz Torres Vedras.
«A minha vontade é a de encontrar todos os militares desta companhia com as suas famílias, ou quem os represente. E mais gostaria de ver aqueles que, não tendo pertencido à 3ª. companhia do 8423, nela queira participar», disse o (ex-capitão miliciano) engº. José Paulo Fernandes, pedindo que «seja passada a informação».
Aqui está ela. Passada para todos quantos por aqui passam, pelo blog.
Quem o quiser contactar, aqui tem o telemóvel: 917 588 737.
Ver AQUI.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Sinto orgulho de ter sido militar do Exército Português

Aldeia Viçosa, vila assinalada no mapa, assim como Santa
Isabel e Dange (que é o Quitexe). João Machado (foto em
 baixo), assina depoimento sobre a jornada angolana dos Cavaleiros do Norte 

A G3 foi a primeira amante que tive quando cheguei a Angola. Aquela que davam aos cachopos de 21 anos, que muita gente agora trata por Defensores do Colonialismo. E o que é que as vezes sinto, perante certas conversas a que assisto e até a programas de televisão?! Vergonha ? Não tenho, mas às vezes ponho-me a pensar se irá haver historiadores honestos que contem a verdadeira história da DESCOLONIZAÇÂO. Até penso se não seria uma página negra na nossa história, comparada com a epopeia dos Descobrimentos.
Bem, mas isso foi só quando me cuspiram em cima, fardado, na cidade de Luanda, algures em Julho ou Agosto do ano de 1975 (se a memória não me falha), já não falando do apelidado de Batalhão Cueca, que, segundo ouvi dizer na altura, em Luanda, vinha em coluna de Henrique Carvalho, para Luanda, quando foi assaltado no caminho, suponho que pela UNITA, de tal modo que desde armamento às fardas tudo que quiseram lhe tiraram, tendo chegado a Malange em cuecas.
Ali lhe foram dadas novas (ou usadas) fardas.
Não haverá quem tenha coragem de divulgar esta história, se o foi efectivamente?
Às vezes, sinto orgulho de ter sido militar do Exército Português, de ter jurado a nossa bandeira - que é a mesma, ainda hoje - e defendido, com armas na mão, a nossa Pátria. Mas por vezes penso se não teria sido mais útil ter fugido para França, como tantos fizeram - hipótese que reconheço estar completamente de lado, considerando a educação que os meus pais me deram.
E qual foi a sorte de alguns miúdos da nossa geração, cujos nomes  estão escritos numa parede, ali para os lados de Belém?! Até há pouco tempo era guardada por uma sentinela, mas não sei como irá ser no futuro, com a crise económica.
Vamos ter mui para falar de Angola
JOãO MACHADO
Alferes Miliciano da 2ª. CCAV. 8423

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O leal, camarada e dedicado furriel Queiroz de Zalala

Furriel miliciano Plácido Queiroz e capitão miliciano
Davide Castro Dias, da 1ª. CCAV. 8423


O Queiróz é de Braga e foi Cavaleiro do Norte, servindo como furriel miliciano de Armamento Pesado, na guarnição de Zalala. Por lá jornadeou a 1ª. Companhia, comandada pelo capitão miliciano Castro Dias.
O Queiroz era rapaz de verbo fácil e companheiro dos bons, sempre regando de boa disposição os seus contactos pessoais. A vida fez-nos encontrar várias vezes, em idas minhas a Braga, e com ele tenho falado nos últimos meses, recordando peripécias da vida militar que nos levou ao Uíge angolano.
«Reúne também elevados dotes de camaradagem, lealdade e extrema dedicação, podendo desse modo dizer-se que as suas actividades militares, além de apreciadas por superiores, foram  admiradas pelos seus camaradas e subordinados», revela o louvor do comandante do BCAV. 8423, por proposta de Castro Dias, o comandante da subunidade de Zalala.
O Queiroz, que com a guarnição do Quitexe confraternizava regularmente - nas suas deslocações enquanto gestor da cantina zalalense -, foi também «pronto e eficiente» como auxiliar do 1º. sargento, missão (tal qual a de gestor da cantina) para as quais «não possuía aptidões especiais».
Mas, cito do louvor, superou dificuldades com «esforço e verdadeiro espírito de sacrifício» (...) «sempre dando provas inequívocas do maior interesse pelos serviços que lhe foram solicitados».
- QUEIROZ. Plácido Jorge de Oliveira Guimarães Queiroz, furriel miliciano de Armamento Pesado, aposentado, natural e residente em Braga.
-  CASTRO DIAS. Davide de Oliveira Castro Dias, capitão miliciano, comandante da 1ª. CCAV., a de Zalala. Proefssor aposentado, residente em Rio Tinto (Porto). Ver AQUI.
- SARGENTO. Alexandre Joaquim F. Panasco, 1º. sargento da secretaria da 1ª. CCAV. 8423, de Zalala.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O último dia da instrução especial de Santa Margarida

Alferes Garcia e soldado Leal, dois «pelrec´s» já falecidos. Em baixo,a  entrada do RC4,
em 2010. Ao fundo, a capela do campo Militar de Santa Margarida. 



Sexta-feira, 22 de Fevereiro de 1974. Os futuros Cavaleiros do Norte concluem, na Mata do Soares, o período da chamada instrução especial. Os homens que ali chegaram primeiros dias de Janeiro, alguns ainda em Dezembro de 1973, já estão aptos a pegar numa GR, pôr bala na câmara, fazer ponto de mira e disparar. Desmontam a arma, limpam as peças, uma a uma, cuidadosamente, e voltam a montá-las. Já  conhecem os perigos de um trilho armadilhado, de uma granada defensiva a explodir, já percebem o cheiro da morte. Ainda não estão prontos, mas estão... quase, para partirem para a guerra.
Os homens do BCAV. 8423 já sabem que o destino é Angola e bendizem-se pela sorte. Angola era, para a geração que se preparava, o melhor teatro de guerra possível. Mais «pacífica» que os perigos da diabolizada Guiné, ou da sacrificada Moçambique - de onde chegavam notícias aterrorizadoras. Que chegavam, com maior ou menor secretismo, mais ou menos escondidas pelos donos da pátria e das armas.
Os agora «cavaleiros» da guarnição de Santa Margarida vão gozar um dias de férias. Mais para os praças, menos para os futuros furriéis e alferes milicianos.
O Neto e eu, falando aos soldados PELREC num sítio da Mata do Soares por onde Cristo não tinha passado, confortamos-lhe a alma e estimulamos-lhes confiança. Aquilo, em Angola, não ia ser nada. Estávamos preparados. Preparadíssimos. Que gozassem os dias de férias, com as famílias, os amigos, as namoradas. É por estes dias que sei da paternidade do Leal, já casado e da criança que lhe crescia em casa, sem o colo do pai. Viria, eu, a ter especial empatia pelo Leal - que sempre a retribuiu.
Hoje, há 37 anos, abandonámos Santa Margarida com conforto de alma e sem dores que nos inquietassem o físico. Na verdade, Lamego dera-nos força física, competência técnica e destemor. Não exagero. E isso procurámos nós, com o futuro alferes Garcia, incutir no espírito dos nossos soldados. Hoje,. temos a certeza que comseguimos.
- GARCIA. António Manuel Garcia, alferes miliciano de Operações Especiais (Ranger´s). Natural de Pombal de Ansiães (Carrazeda de Ansiães». Faleceu a 2 de Novembro de 1979, vítima de acidente de viação.Era agente da Polícia Judiciária.
- LEAL. Manuel Leal da Silva, soldado atirador de Cavalaria. Natural de Pombal, faleceu a 19 de Junho de 2006, vítima de doença súbita.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Oa 4 leitões roubados ao Pelotão de Intendência


O 1º. aniversário do Pelotão de Intendência iria ser festejado com muita pompa, no dizer do alferes que o comandava. Foram comprados quatro magros leitões que, de imediato, passaram à fase de engorda.
Iriam (e foram) ser alimentados com produtos da xitaca, restos de comida do rancho geral e da messe de sargentos. Da messe de oficiais, não sobrava nada, diziam, por uma razão que não vem, hoje, ao caso.
Os leitões engordavam a olhos vistos, com um pêlo luzidio que dava gosto ver. De tal maneira, que passaram a ser alvo de cobiça por parte de quatro militares da CCS, que não viravam a cara a um bom petisco. Não havia nada a fazer, o destino dos suínos estava traçado! E não tardou muito que o primeiro caísse nas malhas do quarteto, com tal habilidade que nem o silêncio da noite os denunciou.
«O que é feito do porco, pá?..., como é que o gajo saiu?!...», interrogavam-se os proprietários, por não verem qualquer hipótese de fuga! E voltaram a interrogar-se mais três vezes, tantas quantos os suínos desaparecidos.

Não se conformaram os homens da Intendência e disso deram conta ao capitão! E dali saiu um auto a… desconhecidos! Apenas mais um de muitos autos levantados, alguns tão surreais e cómicos, com o devido respeito, que aqui não vou falar! Certo é que se consumaram as churrascadas, feitas pelas mãos de quem sabia – uma por semana! Mas, contaram-me, nem tudo foram rosas e um dos animais ainda bateu a pata antes de se entregar para repasto. Um dos elementos ter-se-á embrulhado com ele numa luta corpo a corpo, para impedir os grunhidos, acabando mordido e num estado tal que não havia margem para dúvidas: a luta tinha sido travada numa pocilga!
Quando já se acreditava em “crime perfeito”, quis o destino que um elemento do quarteto apanhasse uma bebedeira de “caixão à cova” e, ao exibir a sua valentia alcoólica no bar, exclamasse: «O pá, avance o primeiro que aguente cerveja com eu!…, e com um leitão assado, aberto e de churrasco ainda embocava mais c…….!!!...».
Ao furriel, a jantar mas atento aos excessos, não escapou o deslize e montou-lhe o cerco no dia seguinte, “espremendo-o” ao primeiro bocejo da manhã. Surpreendido e ainda com a boca a saber a papéis de música, logo ali confessou tudo!
«Ó mô furriel…,ó mô furriel!..., eu “esplico”!..., balbuciava o Neves. E explicou mesmo, sem sair da cama!
Afim de evitar punições disciplinares para o quarteto, faria de conta que nada sabia, desde que lhe pagassem os leitões. E pagaram, mas bem inflacionados! O dobro…, garantem ainda hoje! Mas antes assim!
O auto, esse ficou como todos os outros! Esquecido na gaveta!
ANTÓNIO CASAL

(CCS do BCAC. 3879)

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O alferes «Ranger» João Machado da Companhia de Aldeia Viçosa


João Machado foi alferes miliciano dos que não olhavam para trás  -  se o perigo espreitasse, se se tivesse de gritar uma ordem de combate, se se vivesse algum momento de medos e de frios. Se os cheiros da pólvora, ou os pavores da metralha nos enlutassem a alma, nos adormecessem o corpo ou anestesiassem a coragem.Coragem que nunca lhe faltou.
Jornadeou por Lamego, onde, no mesmo curso, vestimos o camufalado da instrução «Ranger». Liderou, depois, a escola de recrutas da 2ª. CCAV. 8423, como adjunto do capitão Cruz, em Santa Margarida, e daqui, por Lisboa e para Luanda, galgou os ares e os mares até Aldeia Viçosa - onde oficialou na guarnição da vila.
As suas qualidades de comando foram sublinhadas por Almeida e Brito, o tenente-coronel que liderou o BCAV. 8423 por terras do Uíge, dele falando como «um bom oficial», competência que, frisou, «sobretudo se tornou notória no todo coeso que conseguiu dos homens que comandou».
Comandou um grupo de combate da 2ª. CCAV. e as suas qualidades ampliaram-se na função de adjunto do Comandante da Companhia, «manifestando sempre a maior vontade e determinação nas situações que lhe foram impostas».
O sentido de servir e a extrema dedicação, «casou-os» com a enorme capacidade física e mental - que lhe deram lastro para, nos amargos dias de Carmona, ter «actuação de destaque». Em Junho de 1975, releio no Livro da Unidade, «no decurso dos graves incidentes, nova e mais abertamente pôs as suas qualidades à prova».
O alferes Machado, então soldado-cadete, foi contemporâneo do 2º. curso de Operações Especiais (Rangers), em Lamego. Com o Mário Sousa e o Pinto (1ª. CCAV.), o Letras (2ª.) e o Rodrigues (3ª.), o Garcia, o Monteiro, o Neto e o Viegas (CCS).  Por lá, como nós, sofreu as dores da alma e do corpo, que nos prepararam a para a guerra que íamos viver. Foi 24º. classificado do curso de oficiais milicianos, com 14,54 pontos de média final - tirada dos 13,70 de mérito escolar e 15,80 de mérito militar. Curiosamente, exactamente a meio dos 47 cadetes que ficaram Ranger´s. Oito, não o concluíram, passando atiradores de cavalaria.
Foi um dos bravos Cavaleiros do Norte e com ele ontem cavaqueei ao telefone, lembrando momentos e figuras da missão que nos levou a Angola. Acháramos-nos em 1995, 1995 e 1996 (nos encontros do BCAV.) e uma outra vez nas areias da praia de Santa Eulália, no Algarve. Ontem, disparámos sobre essas e muitas outras recordações e matámos, de uma cajadada, a emoção que nos faz saudosos de Angola e o gosto do pão do nosso próximo encontro.
- MACHADO. João Francisco Pereira Machado, alferes miliciano de Operações Especiais (Ranger´s), aposentado da administração fiscal e residente nas Amadora. Foto de 1995.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

O 1º. Encontro dos Cavaleiros do Norte, em 1994


O primeiro encontro dos Cavaleiros do Norte, depois do regresso de Angola (em Setembro de 1975), aconteceu em Águeda, na Estalagem da Pateira, a 9 de Setembro de 1995. Faziam-se 20 anos do nosso regresso de Angola.
O encontro foi de muitas emoções, que verteram lágrimas de saudade e alegria, nos abraços mil vezes repetidos entre rapazes que tinham selado fartas amizades e solidariedades nas terras do Uíge.
Quero dizer, e sem exagero ou deslumbramento, que me empenhei pessoalmente de forma exaustiva. Localizei a maior parte dos 93 militares do Batalhão que participaram a partir de centenas de telefonemas e de uma base de dados de... memória. Ora, fulano chama-se assim, é de tal parte, vê na lista telefónica. E quando não a tinha, ligava às informações. Semanas seguidas de serões do verão de 1994 foram passados assim. Gastei uma pipa de massa.
O Matos, da 2ª. CCAV., quis até fazer um peditório, mas recusei. A minha grande compensação foi sentir a alma e a de todos aqueles companheiros a ferver de alegria.
Podia recordar desse dia um mar de momentos mágicos. Vou lembrar o que se seguiu ao desta foto, onde apareço a ler mensagens de companheiros que não puderam estar. Falei das memórias de uma jornada africana que nos engradecera e orgulhara, citei Almeida e Brito como o comandante certo na hora certa. E, simbolicamente, chamei o Cabrita ao pequeno palco, para, ele que era o menos graduado de todos nós, entregar a Almeida e Brito uma peça de faiança de Águeda. Foi um momento simbólico e emotivo, ovacionado de pé. 
O Cabrita, nervoso, chegou-se ao pequeno palco e embaraçou-se com a peça de faiança na mão, ia deixando cair. Entregou-a «ao nosso comandante» e o abraço forte que trocaram simbolizou a irmandade que todos nós, sem saber, quiçá sem darmos por ela, tínhamos construído na nossa jornada de África.
A 9 de Setembro de 1994.
- ALMEIDA E BRITO. Carlos José Saraiva Lima Almeida e Brito, tenente coronel e comandante do BCAV. 8423. Atingiu a patente de general e faleceu a 20 de Junho de 2003.
- MATOS. Mário Augusto da Silva Matos, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 2ª. CCAV. 8423. Natural e residente em Anadia.
- CABRITA. António Santana Cabrita, soldado básico, natural de Alvor (Portimão). É empresário do sector da pesca, em Cascais.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A escolta na picada de Zalala


Aquartelamento de Zalala, por onde jornadeou a 1ª.
CCAV. 8423 - que ali foi a última guarnição das Forças Armadas Portuguesas


ANTÓNIO FONSECA
Texto

A partida para uma escolta era sempre bem alicerçada em planos e estratégias, nunca se sabendo como iria decorrer, por mais simples e inofensiva que à partida nos parecesse. Recordo uma escolta e protecção ao pessoal da Junta Autónoma de Estradas de Angola (JAEA), na picada para Zalala, numa zona de visibilidade reduzida e onde já se tinham registado alguns acidentes com viaturas militares. Creio, até, que se deveu também ao facto de ser considerado um local pouco seguro, e onde se teriam registado já alguns incidentes com o IN. Foi, se não me engano, a terceira vez que eu passei por aqueles lados, embora nunca tenha parado na picada, porque ao que íamos a isso não obrigava. E quanto mais depressa passássemos, melhor!
Pela primeira vez tive a noção dos perigos que continha e a fragilidade a que estava sujeito quem nela transitava - na minha única ida a Zalala, pouco depois de ter chegado ao Quitexe, fiz o percurso num espírito de “excursão”, apenas para cumprir uma missão a que me comprometera. Desta vez, senti na pele e na alma os receios e os perigos de que muitos falavam quando já se encontravam bem seguros na vila do Quitexe.
Parece que ainda estou a ver a vegetação que nos ladeava: alta, fechada e de difícil transposição.
«Isto é uma autêntico muro!,.., será que não estão ali a cinco metros a olhar para nós e a gozar o pagode?!», murmurei eu ao furriel, à espera que ele me dissesse que não, para me deixar mais tranquilo!
«Ó pá…, isto está controlado mas deves saber bem onde estamos!!!».
Não fora por acaso que, ao ordenar a posição de cada um, me mandasse sentar ao lado da roda do “burro de mato” com o rádio TR 28 camuflado. A meu lado, estava sempre o Canidelo, tão valente na mata como no refeitório, e que nunca se descolava de mim um minuto que fosse. Era o meu “guarda-costas”, lembrava ele ao alferes!

O dia decorreu sob um calor abrasador, que ainda tentou alguns a deitarem-se debaixo das viaturas, mas o rigor de quem mandava e tinha a responsabilidade de manter a segurança, não deixou pôr o pé em ramo verde. Qualquer “balda” seria sempre um risco e sinónimo de desrespeito para com o restante grupo. Foi também graças a essa rigidez disciplinar que todos voltámos, sempre, das escoltas e operações durante quase 27 meses!
Estávamos em Setembro/Outubro de 1972 e os principais alvos eram, naquele período, os fazendeiros, os seus trabalhadores e funcionários da Junta Autónoma de Estradas de Angola. E por eles, também, nunca nos poupámos a esforços!
ANTÓNIO FONSECA






quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Os exercícios finais da Escola de Recrutas do BCAV. 8423

Marco geodésico da Mata do Soares, nos arredores do Campo Militar de Santa Margarida, onde decorreram os exercícios finais da recruta do BCAV. 8423 (em cima). Neto e Veigas, num carro de combate do RC4

A 17 de Fevereiro de 1974, ao príncípio da noite desse domingo de que hoje se fazem 37 anos, lá partimos nós - o Neto e eu - para Santa Margarida, onde ao outro dia dia começar a chamada instrução especial, que encerrava a escola de recrutas. Os dias de campo, que se iriam estender pela conhecida Mata do Soares. Até 6ª.-feira seguinte, dia 22. E assim foi. A estrutura orgânica do Batalhão de Cavalaria 8423 já estava definida, na sa quase totalidade - sobrando meros pormenores. Por exemplo, não conhecíamos ainda, a esse tempo, quem seriam os futuros furriéis enfermeiro (o Lopes, de Vendas Novas) e rádiomontador (seria o Cruz). E faltavam os oficiais milicianos de reabastecimentos - que seria o alferes Gaspar José F. Carmo Reis, dado como «incapaz para o serviço militar» - e, se me lembro bem, o de transmissões, o alferes José Leonel Pinto de Aragão Hermida. Talvez outros, ainda.
A semana de campo não iria ser nada fácil, com exercícios fisicos e técnicos muuito exigentes, mas era para a guerra que aqueles jovens de então se preparavam e nada melhor, por isso, que adestrar o corpo e a alma ao que seriam os perigos que nos esperavam nas matas de Angola.
Os exercícios tácticos e de técnicas de combate desenvolveram-se na conhecida Mata do Soares, por onde alguns de nós sofreram as dores da preparação que nos tornariam os futuros e garbosos Cavaleiros do Norte.
Ver AQUI

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A preparação militar do BCAV. 8423 em Santa Margarida


PELREC, já em Angola. Alferes Garcia (1º. de pé, do lado direito) e furriéis Neto (1º. em baixo do mesmo lado) e Viegas (6º. da esquerda para a direira, de pé). 
Clicar na imagem, para a ampliar

Os meados de Fevereiro de 1974 foram de instrução nas matas de Santa Margarida, campo militar por onde se realizaram dezenas ou centenas de escolas de recrutas e se prepararam dezenas de milhares de nomes para a então chamada guerra do ultramar. Por lá passou o Batalhão de Cavalaria 8423, em semanas de alguma dureza, preparando corpos e almas para a missão que o destino lhe fadara: ir para Angola.
A instrução era realmente dura e nela, garbosos e irreverentes, davamos nós o nosso melhor, emprestando a nossa melhor sabedoria, a maior competência e resistência, para adestrar os companheiros praças que, chegados das suas terras, ali se «faziam» atiradores de cavalaria.
Os do futuro PELREC eram particularmente «apanhados» pela rigidez dos ensinamentos e treinamentos de técnicas de combate e de sobrevivência, de resistência à sede e à fome que aprenderamos no CIOE, em Lamego. Nesses dias duros, quiçá violentos, assim, em um ai..., se modelaram bravos soldados, companheiros sem um falha de coragem e de solidariedade - que tão úteis nos viriam ser em Angola.   
«Um destes dias vamos para a mata, para os exercícios finais», disse-nos um dia, na parada do Destacamento do RC4, por trás do cinema, o aspirante a oficial miliciano Garcia - que era já o nosso comandante de pelotão. Eram os dias decisivos que se aproximavam cada vez mais: o IAO.
- PELREC. Pelotão de Reconhecimentro Serviço e Informação, pelotão operacional da CCS.
- CIOE. Centro de Instrução de Operações Especiais, em Lamego - onde o aspirante e futuro alferes miliciano Garcia e os 1ºs. cabos  milicianos (futuros furriéis) Monteiro, Viegas e Neto tiraram a especialidade de Operações Especiais (Rangers´s).
- IAO. Instrução de Aperfeiçoamento Operacional, preparação militar pré-embarque para teatros de guerra.

O bravo alferes miliciano Carvalho de Aldeia Viçosa


O Carvalho era alferes miliciano atirador de cavalaria. E com um homem destes, ninguém se deve meter. Jornadeou por Aldeia Viçosa, sob o comando do capitão miliciano José Manuel Cruz - da 2ª. CCAV. 8423.
Ele mesmo, com o conhecimento e experiência que o oficialato lhe deu, liderou um pelotão que a Angola foi em missão de paz e de bem, mas que ainda teve de se enfrentar com os dramas e as tragédias que se adivinhavam de cada vez que, saltadas as vedações do aquartelamento de Aldeia Viçosa, se dirigiam às picadas de susto e às matas de medos do Uíge que era terra de guerra e de sangue. E depois em Carmona, nos amargos tempos de Junho de 1975.
O alferes Carvalho era um companheiro divertido, de piada solta, espírito alegre, aberto a qualquer brincadeira que desbloqueasse tensões na guarnição - genética que lhe fez, facilmente, conquistar as graças do pessoal.
«Disciplinado, cumpridor, soube transmitir estes predicados aos seus subordinados e restante pessoal da sua subunidade, o que muito contribuiu para facilitar a acção de comando em que se enquadrava», lê-se no Livro da Unidade.
Foi louvado pelo Comandante do BCAV. 8423, por proposta do capitão José Manuel Cruz, comandante da 2ª. CCAV. E o louvor, publicado na Ordem de Serviço 169, dá conta de um oficial miliciano  que «sempre soube cumprir as missões que lhe foram solicitadas no decorrer da sua comissão de serviço na RMA, quer no comando do seu grupo de combate, quer em outras quaisquer situações onde foi necessária a sua ajuda e trabalho».
Foi um bravo Cavaleiro do Norte, com amizade pessoal, que se «esticou» pela vida civil de ambos.
A minha continência, meu alferes!
- CARVALHO. Domingos Carvalho de Sousa, alferes miliciano
 atirador de cavalaria, natural e residente em Marrazes (Leiria). 
É técnico de vendas. Foto de 1994.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O ópio do povo que destressava os militares do Quitexe



Aqui se tem falado tanto de futebol, em vez de guerra, que me ponho hoje de «guarda» para voltar a falar desse ópio que transforma o povo e destressa pressões, à mistura com muitos nomes às santas das mães e às fiéis das mulheres.
António Casal, a propósito do que Eugénio Silva aqui veio falar de um craque do Quitexe, o Alvarito, veio aprazer-se a refrescar-lhe a memória.
Então, caro contemporâneo de Carmona e engenheiro da Sonangol, o Faruk, diz o Fonseca, era soldado e médio, baixo e possante. O Nelson (guarda-redes) e Victor (médio), eram ambos furriéis. Todos eram jogadores da então 2ª. Divisão Nacional, tal como o Alvarito que, curiosamente, era adversário de Victor. O Marinhense do Alvarito e o Caldas do Victor, pertenciam à mesma série.

Quanto ao boato do perecimento de Alvarito, ele ocorreu em 1973. E correu célere, qual internet nos nossos dias!
Eugénio Silva, por sua vez, vem presentar-nos com esta foto, do estádio dos Coqueiros, em Luanda, em 1972 ou 73, num jogo do Recreativo do Uíge contra o Benfica de Luanda, a contar para o campeonato provincial da segunda divisão, zona Norte.
O Alvarito, diz Eugénio Silva, certamente se recorda de nomes como Nelson, Fernando Correia, Ernesto, Hélder, Piscas, Caseiro, Acácio, Faruk, Victor e Silva. Quem lhe enviou a foto (a ES), foi o filho do Hélder.
Alvarito, o tal craque do Quitexe, é o último da direita, em baixo.

«Não me lembro do resultado deste jogo, mas o Recreativo do Uíge era muito forte!», comentou Eugénio Silva.
E, pronto, hoje não falámos de guerra!!
Mas fica o desafio para os especialistas: identificar estes fulaninhos que trocavam a farda e a espingarda pelos calções, pela camisola e as chuteiras e uma bola.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A extinção do Comando de Sector do Uíge


O Comando do Sector do Uíge (foto) foi extinto a 13 de Fevereiro de 1975 - faz hoje 36 anos, precisamente. Não tenho memórias especiais deste edifício, no qual estiveram instalados os Comandos do Sector e a logística que apoiava o enorme província do Uíge, cuja capital era Carmona.
O BCAV. 8423 passou a depender directamente da ZNN - em Luanda. Espalhava-se por Quitexe (CCS e 3ª. CCAV.), Aldeia Viçosa (2ª. CCAV,) e Vista Alegre  e Ponte do Dange (1ª. CCAV.). Há tempo que tinham sido abandonadas as fazendas de Zalala e Santa Isabel.
Por uma vez, estive lá em reunião do MFA e do encontro não tenho grandes recordações, pois tive um desaguisado com um oficial do movimento - que chegara de Luanda e nos mostrava planos atrás de planos, sobre a forma como deveriam agir os Cavaleiros do Norte. A «coisa» ia dando para o torto - porventura devido a alguma impertinência minha, que sempre reagia menos bem a imposições que achava mais arbitrárias. E nesta coisas, é bem sabido, quem se lixa é sempre o mexilhão. Se é que, no caso, nem tal  aconteceu.
Estou em crer que a 1ª. CCAV. 8423, depois de sair de Vista Alegre e Ponte do Dange e da passagem pelo Songo, esteve algum tempo instalada neste edifício.
Ver AQUI.
Ver AQUI.



sábado, 12 de fevereiro de 2011

O 2º. aniversário da comissão dos Artilheiros do Quitexe

Comemorou-se na CCS, num ambiente de festa e justificada alegria, o 2º. aniversário do Batalhão de Artilharia 786. O último domingo do mês de Maio de 1967 significava, para todos, o termo de uma obrigação de serviço que exigiu muitos sacrifícios, a meta que todos atingiram de cabeça erguida, o fim da comissão! Justificava-se, assim, o ar festivo que pudemos verificar em todas as manifestações incluídas no programa do dia, não tendo faltado, contudo,um momento de recolhimento e de saudade, expresso numa romagem ao cemitério da vila.
Após ter ouvido missa na capela do Quitexe, todo o pessoal do Comando, CCS e representações das CART´s, se reuniu, com as famílias e convidados, num almoço de confraternização. Saliente-se a presença do Governador do Distrito do Uige (e esposa), comandante interino do Sector I, comandante do AB 3, CEM do Sector I, 1º. e 2º. Comandantes do BCAÇ 3, administrador do concelho do Dange, alguns oficiais das Unidades vizinhas e representantes das fazendas da ZA.
Findo o almoço, aos brindes, foi enaltecida a notável acção desenvolvida pelo Batalhão ao longo de 24 meses de permanência na ZIN.
Cerca das 21 horas e dentro do programa do dia, realizou-se um serão recreativo que decorreu com a maior animação. O espectáculo, realizado ao ar livre, em recinto preparado para o efeito, reuniu a família militar (SubUnidades próprias e de reforço) e a população civil, em mais uma jornada de são companheirismo, de amizade e camaradagem, que esteve na base do éxito alcançado pelo Batalhão na sua passagem pelo Quitexe.
O espectáculo foi repetido na noite de 29, para o pessoal que não pudera estar presente na noite anterior, em virtude de imperiosos motivos de serviço.
A terminar, uma palavra de agradecimentoa quantos colaboraram, com dedicação e a melhor vontade, neste espectáculo que marcou o encerramento das actividades do Grupo Cénico do Batalhão.
JOSÉ LAPA
(foto)
Quitexe, 28 de Maio de 1967

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Apresentação formal do emblema do BCAV. 8423

A 11 de Fevereiro de 1974, no Destacamento do Regimento de Cavalaria nº. 4, em Santa Margarida, foi formalmente apresentado o emblema do Batalhão de Cavalaria 8423, servindo o lema «Perguntai ao Inimigo Quem Somos», que era (e é) «pertença das tradições da unidade mobilizadora».
O emblema do BCAV. 8423 era (é) em fundo preto (como se vê na imagem), definindo-se outras cores para as companhias operacionais: vermelha (1ª.), azul (2ª.) e castanho 3ª).
O então tenente-coronel Almeida e Brito, comandante do BCAV. 8423, que então se formava, escreveu no Livro da Unidade prosa que aqui recriamos em forma de entrevista, explicando o lema «Perguntai ao Inimigo Que somos» e o que era ser soldado do BCAV. 8423.
- P1: O que é ser-se de cavalaria?
- AB: Não é ser-se melhor, nem pior, é ser-se diferente. Ser-se do RC4, é obedecer ao lema «Perguntai ao Inimigo Quem Somos».
- P2: Como se poderá atingir a qualidade?
- AB: Com aprumo permanente, asseio irrepreensível, pontualidade em extremo, dedicação até ao sacrifício, interesse total, educação firme, valentia até ao destemor.
- P3: Assim se será, também, um soldado BCAV. 8423?
- AB: Assim se será um soldado do BCAV. 8423 e daqueles a quem o inimigo, ao perguntará quem és, te achará diferente.
- P4: Quais são as melhores virtudes de um soldado?
- AB: A resignação, a coragem fria, a disciplina, a confiança nos superiores e a subordinação. A anulação do interesse individual, perante o da colectividade. O que sabe o que quer, sem exigências e sem dúvidas, e se entrega con generosidade total, cumprindo e fazendo cumprir tudo o que envolve a palavra servir.
- P5: É também aquele que querer e sabe querer?
- AB: É aquele que querer e sabe querer e que tem por fim único servir bem, por enlevo a glória e por único móvel a honra e a dignidade.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A «psic» dos jogos de futebol do Quitexe

Futebol uma equipa da CCS. Em cima, Grácio, Gomes, Miguel (1º. cabo), Botelho
(Cubillhas), Miguel (furriel miliciano paraquedista), NN e Soares (em cima).
Miguel (condutor, ?), Mosteias, Lopes, NN, Monteiro e Teixeira (estofador).
Alguém pode ajudar a identificar os desconhecidos?




O tempo de Fevereiro de 1975, no Quitexe, foi também tempo de futebol - ora entre equipas do batalhão, ora contra formações civis. Os jogos do campo ao lado da estrada para Carmona, antes do quartel da OPVDCT, foram «batalhas» menos perigosas que as operações militares, mas disputados com ardor verdadeiramente guerreiro.  
O Livro da Unidade, relativamente a este período, dá conta que «a saída do oficial de acção psicológica (...) e a sua substituição, fez melhorar o panorama dos trabalhos inerentes àquela função, impulsionando-se a prática de jogos desportivos». E o futebol, obviamente, era rei.
Recordo-me, agora, de um jogo de um domingo à tarde, estava eu de piquete, de que não sei o resultado mas que envolveu umas breves escaramuças entre civis e militares, que implicaram a nossa intervenção  para aliviar os ânimos, que se exaltavam - depois de umas cucas, uma ekas ou umas fartas nokais bem bebidas, seguramente por excesso. Nada que não se resolvesse, com mais berro menos encontrão.
Antes dos Cavaleiros do Norte, de 1965 a 1967, conta-nos José Lapa que havia no Quitexe uma equipa que tinha as camisolas amarelas, com punhos e golas pretas, calção preto e meias também pretas. Os jogadores do Clube Desportivo do Quitexe eram todos, mas mesmo todos, militares do BART 786. Entre eles, havia um que sobressaía pela sua classe: o Zé Manel, atleta  do S.C.Beira-Mar, clube de Aveiro que na altura militava no segundo escalão do futebol nacional.
«Era um bom ponta-esquerda!», recodou José Lapa, acrescentando que «nesses anos, nos distritais, ficaram agrupadas as  equipas do C. D. Quitexe, Futebol Clube do Uige, Recreativo do Uíge e Sporting do Negage».
Quanto à agressividade, nos jogos no Quitexe, recorda José Lapa que «a coisa era mesmo real,aquilo era a tocar o rasgadinho que nem queira saber».
Ver AQUI.
E AQUI.
Também AQUI.
E AQUI.
- OPVDCT. Organização Provincial de Voluntários da Defesa Civil do Território, força paramilitar.
- Eka, Nocal, Cuca. Marcas de cerveja angolana.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Guião e emblema do Batalhão de Cavalaria 8423



Aos idos dias de Fevereiro de 1974, há 37 anos, jornadeavam os futuros Cavaleiros do Norte pelo Campo  Militar de Santa Margarida, sabendo já que o destino era Angola, mas desconhecendo o poiso da guarnição. Viria a ser no Quitexe, como todos depois soubemos. E em Zalala, em Aldeia Viçosa e Santa Isabel.
Os praças aprontavam especialidades, disparando e marchando os atiradores; batendo teclas os amanuenses e os escriturários; radiomontando os homens da transmissões, mecanizando-se os das oficinas (auto e de armamento) e conduzindo os condutores, enquanto os enfermeiros treinavam as seringas e termómetros, mercenava o carpinteiro e especializavam-se os cozinheiros em ementas, enquanto os sapadores treinavam a montagem e desmontagem de minas e armadilhas e os futuros homens do aprovisionamento faziam contas e simulavam compras.
Levedava-se o espírito de grupo.
Nos primeiros dias de Fevereiro, agora se fazem 37 aninhos - vejam lá como o tempo passa!!!!... - ficámos a conhecer o emblema da unidade. «Desejando-se desde o início instituir espírito de corpo no BCAV., de modo a que constituíssse num todo coeso, disciplinado e disciplinador, começou a idealizar-se o futuro emblema braçal, ao mesmo tempo que se desejou a sua plena identificação com a sua inidade mobilizadora», leio no Livro da Unidade.
O Unidade Mobilizadora era o Regimento de Cavalaria 4 (RC4), logo, inevitavelmente, o cavalo e o cavaleiro apareciam estampados no emblema, estilizados e simbolizando a força e capacidade de combate. Confesso que, pessoalmente, não gostei muito do emblema - quando a ideia nos foi mostrada pelo então aspirante miliciano Garcia, que nos perguntou do que achávamos. Mas, obviamente, nada valeu a opinião, pois quem mandava era quem decidia. E decidiu. Hoje, aqui o digo, olho para o emblema e arrepia-se-me o corpo e alegra-se-me a alma. Tive (tenho) orgulho de servir Portugal, sob  a nossa bandeira e o emblema dos (então) futuros Cavaleiros do Norte.
Já agora, imagina, quem o BCAV. 8423 epitetou de Cavaleiros do Norte? 
Voltaremos ao tema, por estes dias!  

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O futebol do Quitexe e o Alvarito do Recreativo do Uíge




EUGÉNIO F. SILVA
Texto

O blogue fez referência ao Alvarito que jogou no Clube Recreativo do Uíge. Eu conheci-o muito bem,  pelos golos que marcava. Era um grande goleador! Conheci também o guarda-redes Nelson, não sei se era ele o furriel; conheci um grande médio, alto, chamado Vítor; conheci outros jogadores deste clube, de que eu muito gostava, como o veloz Acácio, Faruk, Zé Alberto, Hélder, Faria, Ezequiel, Polainas, Duarte, Albertino, os guarda redes Lima, Rego, Durão e Ernesto, a maior parte deles eram militares.
O Clube Recreativo do Uíge era a equipa que eu mais gostava. Assisti a vários jogos por eles realizados!

Havia no Quitexe uma equipa que tinha camisolas amarelas e calções pretos, meias amarelas ou pretas, que disputava também o Distrital do Uíge, mas penso que o Celestino Viegas já não a encontrou quando esteve Quitexe! Diziam-me que era muito agressiva, quando perdia em casa. Eu nunca vi nenhum jogo em Quitexe, nem no Negage, via apenas em Carmona.
Fico contente por saber que o Alvarito está vivo, porque,  em 1972 ou 1973, eu tinha ouvido um colega de turma, filho de um dirigente do FC do Uíge, a dizer que ele tinha perecido numa frente de combate. Eu não acreditei. Agora, será ele que fracturou a perna? 
Sabem que o CRU e o FCU eram rivais de Carmona!

- EUGÉNIO F. SILVA. Engenheiro Gedofísico, na Sonangol, em Angola. Estudante do Liceu de Carmona (Uíge) em 1975. A sua família foi uma das recolhidas no BC12, aquando dos graves incidentes de Junho daquele ano.
Ver AQUI.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O fim das escoltas na estrada do café

Militares do PELREC da CCS do BCAV. 8423, que muitas escoltas fizeram: Almeida (1º. cabo, já falecido), Messejana, Dionísio, Soares (1º. cabo), Pinto e Florêncio (em cima), Vicente (1º. cabo, ja falecido), Viegas (furriel), Marcos e Leal (já falecido)

A 7 de Fevereiro de 1975, oficialmente, deixaram de ser feitas as escoltas à estrada do do café - a que ligava Carmona a Luanda e por onde passava muito tráfego de transportes de mercadorias. Era uma missão nem sempre feita em asfalto, pois por vezes tínhamos de ir a fazendas ou a zonas de floresta, apoiar os camionistas.
Era, em qualquer dos casos, uma tarefa muito desgastante e exigente, ora para o pessoal, ora mesmo para as viaturas. E, por estas, lá vinha sempre, e em tempo próprio, a competente manutenção do grupo oficinal, comandado pelo habilitado e sempre disponível alferes Cruz.
Cobríamos o percurso de meio de Carmona para o Quitexe e deste até Aldeia Viçosa. E sempre havia incidentes, de maior ou menos gravidade - nomeadamente com camionistas de longo curso, que transportavam enormes tonelagens de cargas, sempre cheios de pressa e muito renitentes ao controlo que fazíamos - o mais discreto possível. E eficaz, como tinha de ser.
Uma vez, entre Quitexe e Carmona, um motorista chegou a querer disparar sobre os militares e gerou-se uma situação muito constrangedora - pois teve de ser detido e entregue às autoridades civis, sob suspeita de fazer transporte de armas, camufladas em sacos de café.
A decisão de acabar com as escoltas foi, obviamente, muito bem recebida na guarnição - pois não!!!, pudera!!!... - mas infelizmente, meses depois, já quando os Cavaleiros do Norte estavam em Carmona, tiveram de ser retomadas. E, obviamente, tal não aconteceu pelas razões mais pacíficas.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A carreira de grande futebolista «perdida» no Quitexe

ALVARITO, militardo Quitexe. Equipa do Marinhense de  1970/71, que quase subiu à 1ª. divisão. Em cima, Pinto (treinador), Manuel Joaquim, Carlos Alberto, Vitor Manuel, Parada, José Morais, Ribeiro, Florival, Cardoso e Anacleto. Em baixo, Leitão, Jacinto, Cunha Velho, Naftal, Carapinha, Zeca e Alvarito

ANTÓNIO FONSECA
Texto

Quando escrevemos um texto, corremos o risco de omitir este ou aquele pormenor – também não se pode exigir demasiado da memória -, ou este ou aquele camarada d’ armas. Vem isto a propósito de aqui ter falado do Alvarito, que no Recreativo de Carmona espalhou o seu perfume futebolístico. E digo perfume, sem qualquer favor. Aliás, o termo nem é meu mas sim de quem o via actuar em campo!

Entretanto, recebi uma “reclamação” do meu amigo Matos que não esteve com meias medidas e interrompeu-me o jantar: «ouve lá ó amigo, eu também joguei no Recreativo e não falaste de mim!..., como é?!». Se diz que jogou é porque jogou…mas eu não me lembro, desculpa!
Hoje mesmo, liguei ao Alvarito e convidei-o para almoçar. Entre uma garfada e um copo, fomos desfiando recordações quitexanas, tanto quanto nos permitiu a nossa memória. Umas deixaram-no de boca aberta, outras deixaram-me de queixo caído. Tudo fruto da pirataria que os nossos 22 anos nos permitiam, mas que não posso aqui contar. Mas posso, isso sim, dizer que a minha Companhia tinha por lá outros craques, não tão “luminosos”, é certo, mas que não deixaram os seus créditos por pés alheios. Os furriéis Nelson e Victor, os soldados Silva e Matos, o “cambuta” do P. Morteiros, um outro que não recordo o nome e…o Alvarito. Todos jogaram no Recreativo de Carmona. Era um orgulho para a malta da CCS, mas não tanto para o Capitão que nunca viu com bons olhos o “sucesso” dos homens da bola. E demonstrou-o sempre que para isso teve oportunidade – e quando não tinha, inventava-a! «As coisas que aquela cabecinha ia buscar ao RDM!..., mas acredita que tenho saudades do homem! Éramos uns putos e lá tivemos de ser homens à força! Que tempos pá…que tempos!...», diz-me o Alvarito em tom nostálgico!
Ciente das suas capacidades, ansiava pelo regresso à então Metrópole, disposto a ser profissional, preparando-se técnica e fisicamente. O quintal da casa das transmisões era o seu ginásio, entre uma bananeira e um coqueiro, onde “forrava” o chão com dois ponchos. Tudo corria bem, até ao dia em que uma infantil brincadeira lhe fracturou um pé. Chorou convulsivamente, temendo o pior para o seu futuro no mundo do futebol. E assim aconteceu! O que podia e devia ser tratado, nunca o foi, convenientemente, apesar das atenções do Dr. Leal e de toda a equipa da enfermaria. Outros passos deviam ter sido dados, mas pesou, e muito, o facto de ser soldado “raso”, como viria a reconhecer, já no final da Comissão, o 2º. Comandante, que lhe reconhecia os dotes.

Passados todos estes anos, ainda cuida da mazela que, diz, lhe roubou o seu grande sonho! «Custou-me muito mas valeu a pena ter conhecido o Quitexe e muita malta fixe que lá morava! Se valeu!...», rematou ele, saudoso!