Alavrito e Fonseca (BCAÇ. 3879) no Quitexe de 1972
ANTÓNIO FONSECA
Texto
Estive à conversa com o Alvarito, também ele ex-radiotegrafista, e lá vieram as histórias sobre Quitexe. Principalmente, as vividas na casa que albergava o pessoal de transmissões.
«Tivemos muita sorte com as instalações!...», disse-me ele, com aquele riso malandro e ansioso por me contar as suas aventuras! Como se eu as não soubesse! Na verdade, sem ser um luxo, tinha excelentes condições de habitabilidade. Não me recordo que alguma vez tenha faltado água no chuveiro, por exemplo. E se tal aconteceu, não me apercebi. Para ser mais exacto, ali não faltava rigorosamente nada. Talvez por isso um oficial miliciano tenha movido influências para correr dali connosco - episódio que um dia abordarei.
E até as “negras sensuais e bonitas” Maria e Joana apreciavam a “estalagem”, razão, suponho, porque lá dormiam ou pernoitavam não raras vezes! E em ambiente de festa, a avaliar pelos risos e gargalhadas que atravessavam as finas paredes das divisões! O que se passava por lá, não sei porque nunca vi, mas que a coisa era animada… lá isso era!
E as noitadas na varanda, onde quase se madrugava num desfiar de sentimentos - alegrias, tristezas, amores e desamores!? E também sonhos que cada um acalentava para depois do serviço militar, mencionando sempre terna e apaixonadamente o nome dos seus amores. Passados 37 anos, quando olho nos olhos estes casalinhos já avós e de cabelos brancos, dá-me uma enorme vontade de rir! E porquê?! Porque me vêm à memória todas aquelas conversas cheias de romantismo e de promessas de amor que se faziam ali naquele cantinho do Quitexe! Ainda hoje, as lindas senhoras me perguntam “como se portavam eles por lá ?”, o que os desconcerta e faz transpirar…de medo! Melhor, de pânico!...
Ah…, agora é que eu descobri porque é que o Zé Carlos, no almoço deste ano, fazia mímica e retorcia o bigode, enquanto me pontapeava as canelas, a coberto da mesa!...
ANTÓNIO CASAL FONSECA