BATALHÃO DE CAVALARIA 8423. Os Cavaleiros do Norte!!! Um espaço para informalmente falar de pessoas e estórias de um tempo em que se fez história. Aqui contando, de forma avulsa, algumas histórias de grupo de militares que foi a Angola fazer Abril e semear solidariedade e companheirismo! A partir do Quitexe, por Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange e Songo! E outras terras do Uíge angolano, pátria de que todos ficámos apaixonados!
quarta-feira, 31 de março de 2010
Montanha Pinto foi presidente da Câmara Municipal de Carmona
Recordei-me que Montanha Pinto ainda era vivo ao tempo, que fôra presidente da Câmara Municipal de Carmona e fizera notável obra de qualificação urbanística da cidade. E que, além de deputado na Assembleia Nacional, da Ala Liberal, fôra funcionário público e empresário agrícola e tinha mais uma mão-cheia de dados curriculares que na altura me espantaram e agora não recordo.
Agora, o António Casal - que tirocinou transmissões pelo Quitexe antes dos Cavaleiros do Norte, fez-me chegar recortes do jornal O Século - edição de 22 de Junho de 1954. Há quase 56 anos!!
Título da 1ª. página: «Portugal Ultramarino - Angola. Número especial dedicado à província de Angola, aquando da visita do Presidente Craveiro Lopes».
A reportagem, bem recheada de fotos, abrange toda a ex-colónia e fala, até, da construção do novo Clube Recreativo do Uíje, da construção do Grande Hotel do Uíje (com fotos) e outras curiosidades. E, principalmente, de toda a economia, riqueza e o visível progresso da província que nós viríamos a conhecer 19 anos depois.
Obrigado, ó Casal!
Se clicarem na imagem, ela aumenta
e podem ler o que está escrito.
Chuvas deixaram 2 511 pessoas do Uíge sem abrigo
Os municípios do Uíge, Songo, Púri, Negage e Quitexe foram os mais afectados. Também foram danificadas 13 escolas, nove igrejas e a ponte do rio Zadi, entre a capital da província e Ambuíla.
Notícia da TPA, AQUI.
terça-feira, 30 de março de 2010
Uíge precisa de ampliar serviços penitenciários
Os responsáveis do Ministério do Interior referiram também a necessidade de um centro de acolhimento de estrangeiros que entram e permanecem ilegalmente na província (através do posto fronteiriço) e preocupações com a rede de marcação, equipamento e meios técnicos operativos de apoio e socorrismo. E a necessidade de uma escola do 1º. e 2º. ciclo do ensino secundário, para facilitar a formação académica dos polícias e dos seus familiares.
Notícia de 18 de Março, DAQUI.
Os patrulhamentos mistos em Carmona e as guarnições da ZMN
A 28 de Março de 1975, a guarnição do BCAV. 8423 foi reforçada com um Grupo de Combate da 3ª. CCAV., que continuava no Quitexe. A extinção da ZMN e a consequente saída dos quadros que asseguravam os seus serviços, obrigou a reenquadramentos - numa altura em que, para além dos Cavaleiros do Norte, apenas havia tropa em Sanza Pombo (a 1ª. Companhia do BCAÇ. 4911) e no Negage (a CCAÇ. 4741). Aqui, para além da base aérea.
A experiência que por então vivíamos nos patrulhamentos mistos à cidade e pontos-chave, decorria sem problemas de maior - graças, principalmente, à receptividade dos militantes dos três movimentos e à postura dos militares portugueses. Que, nas ruas de Carmona, resistiam à tentação de ceder na resposta aos insultos gratuitos de alguns cidadãos.
Ocorre-me uma cena, na Rua do Comércio, por volta da meia-noite de um desses patrulhamentos, quando duas senhoras «vomitaram» impropérios contra a tropa portuguesa.
«Traidores, bandidos, canalhas...», foram alguns do epítetos que tivemos de ouvir. Sem reagir! Castrando a emoção! Menos o Marcos, que saltou do Unimog, num momento reactivo que só foi dominado pela agilidade com que foi agarrado. Em frente das senhoras, que batiam com as costas nas palmas das mãos, gritando e protestando injúrias. Um dia aqui contarei o que, no mesmo local, aconteceu com uma delas, filhos e sobrinhos - nos dramáticos primeiros dias de Junho de 1975. Todos socorridos no BC12.
- ZMN. Zona Militar Norte.
-Vicente. Jorge Luís Domingues Vicente, 1º. cabo atirador de cavalaria. Natural de Vila Moreira. Faleceu em meados dos anos 90.
- LEAL. Manuel Leal da Silva, soldado atirador de cavalaria, de Caxarias (Pombal). Faleceu subitamente, a 18 de Junho de 2007.
segunda-feira, 29 de março de 2010
Os dias de Santa Margarida a «fazer» os Cavaleiros do Norte
Hoje, se fosse no ano de 1974, estaríamos de regresso ao Destacamento do Regimento de Cavalaria 4, em Santa Margarida - com a Licença de Normas já gozada. Era sexta-feira e ficámos a saber que a viagem para Angola tinha datas de embarque marcadas para fins de Maio e princípios de Junho, em sucessivos voos para Luanda, companhia a companhia.
Fomos jantar a Abrantes!
Esse fim de semana passei-o em Santa Margarida - nomeado numa escala que achei irracional mas que tive de aceitar. Acabei por fazer um serviço do Neto - que aproveitou a «boleia» para voltar a Águeda, para os braços da Ni e o conforto da família e dos amigos.
Foi um fim de semana algo atípico e também de conhecimento mais íntimo dos oficiais milicianos, qu´iam ser nossos irmãos de destino: o Ribeiro, sapador; o Sampaio, da 1ª. Companhia; o Pedrosa, da 3ª; o Periquito, da 2ª., todos atiradores de cavalaria.
A 31 de Março, era domingo, assisti à missa na capela do Campo Militar e dei aos pés uns bons pares de quilómetros, até à beira de Malpique. À noite, fui ao cinema - onde à saída reencontrei um antigo companheiro de Penude, do Centro de Instrução de Operações Especiais, o CIOE (Ranger´s) - o aspirante a oficial miliciano Augusto Rodrigues. Em pé de cerveja, à beira do balcão, vim a saber dos outros AOM do BCAV. 8423: o Mário Jorge Sousa (1ª. CCAV), o Machado (da 2ª.). E o Garcia, com quem eu tirocinava como 1º. cabo miliciano.
Outros 1ºs. cabos milicianos já eu conhecia: o Letras, o Pinto, o Reina. E o Neto e o Monteiro, da CCS como eu. Todos instruendos do CSM de Lamego. A família dos Cavaleiros do Norte construía-se assim, como estes pequenos e crescentes afectos.
domingo, 28 de março de 2010
A chegada do capitão Silva Themudo, 2º. comandante do BCAV. 8423
O BCAV. 8423 estava sem 2º. comandante desde a chegada a Angola, pelo facto de o major da cavalaria José Luís J. Ornelas Monteiro, nomeado para o cargo, ter sido «desviado» para o CCFAG.
Silva Themudo não demorou tempo a conhecer a sua área de comando e, a 27 de Março, foi ao Quitexe - onde estava ainda estava a 3ª. Companhia, comandada pelo capitão miliciano Fernandes. No dia seguinte, foi a Vista Alegre e Ponte do Dange, onde a 1ª. CCAV. estava em missão, sob o comando do capitão Castro Dias.
Sucediam-se pelos últimos dias de Março, as reuniões com os dirigentes dos três movimentos emancipalistas, confirmadas nos encontros dos Estados Maiores, às 4ªs.-feiras. As novas que nos chegavam, davam conta da boa aceitação das medidas militares tomadas e que, cito do Livro da Unidade, constituíam «um exemplo para terceiros». As reuniões passaram mesmo a ser itinerantes e, dentro desse contexto, houve contactos a vários níveis, com os movimentos das áreas de Salazar, Quibaxe e Úcua - este último com patrulhamento conjunto do ECAV 401 e da 2ª. CCAV. do 8423, no dia 31 de Março.
sábado, 27 de março de 2010
O soldado que levou cassete com a gravação do jantar de despedida da família
sexta-feira, 26 de março de 2010
O primeiro patrulhamento misto da cidade de Carmona
de Carmona, um dos sítios por onde passou o patrulhamento misto de faz hoje 35 anos.
Forças mistas no BC12, em cima, fazendo ordem unida
O dia 26 de Março de 1975 foi de rotina civil, até às 17/18 horas - correndo a cidade num jipe militar, para lhe conhecer alguns recantos. Não por acaso. Às 20, tínhamos de estar no BC12 para iniciar os chamados patrulhamentos mistos - com as forças do MPLA (FAPLA´s), UNITA (ELNA) e FNLA (FALA). Os primeiros! Havia alguma ansiedade da nossa parte, muito respeito e nervosismo - até alguns temores. Há dias que alguns angolanos (foto) estavam instalados no BC12, numa das casernas, e eram olhados com alguma desconfiança. Eram, afinal, os nossos «inimigos» de ontem! Ir fazer patrulhamentos conjuntos, que Deus nos acompanhasse!
quinta-feira, 25 de março de 2010
Os dias de Carmona...
A cidade deu-nos cosmopolitismo que engravidou muitos entusiasmos e devaneios. Foi pasto para os nossos gostos e gozos, até delírios! Carmona era uma malha urbana de vistas largas, rasgada em espaços amplos, de muitos verdes, atraente e quase volupiosa, por onde se andava e por todo o lado se achava resposta ao que precisávamos e queríamos.
quarta-feira, 24 de março de 2010
A operação miliar ao Vale da Sanda no ano de 1965
terça-feira, 23 de março de 2010
O Bairro Montanha Pinto, casa dos furriéis e sítio de sangue e morte
segunda-feira, 22 de março de 2010
A popular Casa Transmontana de Carmona...
Fala-se muito na popular Casa Transmontana, na Carmona de há 35 e mais anos, vá lá saber-se porquê. Cada um terá as suas razões, mas dizia-se que era uma espécie de estação de serviço, com exclusivo de «mudança de óleos». O que não explica nada à minha curiosidade. Ou pouco.
Lembro-me, todavia, de, uma vez ou outra, nos sentarmos na esplanada que ali se vê, para saborear alguma nocal frequinha com ginguba..., e vermos entrar e sair gente - sempre com passo apressado e sorrisos de boca larga. E de uma noite, por ali perto - que era perto da PSP, se me lembro bem... - ter havido zaragata da grossa, na rua e metendo gente de várias cores; e nomes que se chamavam em vozearia alta e que eu não entendia.
De ver uma mulher cor de ébano e a abanar a anca, sacudindo as missangas e a falar como se fosse para a lua, aos berros de uma euforia estranha, percebendo-se bem que era para uma madame branca, de cabelos alourados de água oxigenada. De esta chamar nomes feios ao que, suponho eu, seria o seu senhor marido. E que ela, a mulher cor de ébano, zaragateando para a oxigenada e sempre a abanar a anca, saracoteando-se, se fez de gazela a correr rua abaixo, fazendo batuque no peito e a gritar como se fugisse de trovoada.
Que nós, por ali aperaltados de manga curta e civil, nos fartámos de rir. E mudámos de «estação de serviço», para não apanharmos alguma gripalhada nos motores. E ficámos a saber o mesmo.
domingo, 21 de março de 2010
Porque hoje é domingo!... Um domingo quitexano!!
Antes de irmos para Carmona, era preciso mais aprumo e asseio militar. Afinal, íamos para a cidade. Ora uma "faxina" à roupa não ficava nada mal. E qual era o melhor dia? Claro, o domingo.
As traseiras do quarto dos rádio-montadores, no Quitexe, tinham, como se pode ver, uma torneira com água. A casa de banho ficava à direita. Estávamos muito bem acompanhados pelos furriéis Pires e Mosteias, ambos sapadores e da CCS, cujo quarto ficava mesmo por cima da minha cabeça.
Quantas conversas entre sapadores e rádio-montadores por aqui se tiveram! Quantos segredos até hoje e de então ficaram guardados!!! Quantos momentos de grande companheirismo e amizade, que só na tropa se conseguem viver!!!
Por tudo isso, todos nós estamos a aguardar pelo próximo convívio - que será lá para o fim do mês de Maio. A 29 - o dia em que partimos para Angola.
Todos gostam de pôr as memórias em dia.
RODOLFO TOMÁS
sábado, 20 de março de 2010
As danças étnicas que puseram os Cavaleiros do Norte em sentido
A foto faz-me recordar uma noite de sustos na messe de oficiais (que foi a dos sargentos da CCS do BCAV. 8423) do Bairro Montanha Pinto. O plantão nocturno começou a ouvir barulhos e gritos estranhos do lado de uma pequena sanzala, do mesmo de onde foi tirada esta foto. O da estrada que ia para o Quitexe e de um campo de futebol. Já a noite ia alta e bem alta.
Eu e o Neto éramos, digamos, os únicos operacionais por lá «estacionados» na messe, mas eu não estava. Foi ele de imediato chamado, pois sabia-se lá o que seria aquilo?! Poderia ser um qualquer ritual étnico, ou porventura um «ensaio» de ataque à tropa - já havia muitos antigos combatentes na cidade... - e havia avisos sobre a nossa maior atenção para tudo o que fosse anormal.
Aumentavam os barulhos, a batucada galgava o bréu da noite, pareciam guerreiros os gritos que silvavam pelo ar fora e começou a ver-se, ao longo, o clarão de uma fogueira enorme.
«Que m... é esta?!...», interrogou-se o Neto, com os companheiros do reforço.
A malta que dormia foi toda acordada e posta em guarda. Atacada, poderia ser a messe, mas teria defesa. Ai isso teria!
Resolveu o Neto tirar dúvidas e, com dois ou três militares e as precauções devidas, galgou um carreiro que por ali havia até, já na pequena sanzala, descobrir o que era: festejava-se qualquer coisa de famílias e a gritaria e a batucada não passava, afinal, de um qualquer samba tribal, ritmado pelas tradições da etnia e de homenagem a um qualquer Deus.
Muito nos rimos, eu e o Neto, quando cheguei da ronda de PU, sem saber de nada e já depois das 8 da manhã. «Tu sabes lá, pá!!! Tu sabes lá o qu´era aquilo!!!...», explicava-se o Neto. E notava-se no olhar um resto de esgar de ansiedade. «Era festa lá dos gajos, mas a gente sabia lá!... A gente sabia lá, pá...».
O melhor da noite do susto, está visto, foi mesmo ir ver as danças que desnudavam os seios das raparigas mais novas e puseram a tropa em sentido. Em sentido figurado!! E perceber, afinal, que não havia ataque nenhum. O Neto é que não pregou olho nesssa noite, mesmo depois de ter visto o que viu! Ou se calhar por isso mesmo!
sexta-feira, 19 de março de 2010
A malta que ia para a borga e os cinemas de Carmona
A messe de Carmona semeou-nos de sonhos e de lazeres. A foto, mostra o Pires (de Bragança) montado na mini-mota que por lá foi de vários donos e certamente em saída para alguma comezaina na cidade, lá para o Escape, o Xenú ou os pica-paus do Bar do Eugénio. O «menino» vestido de branco é o «imaculado» Francisco Neto, o furriel-irmão de Águeda - que ao tempo andava perdido de amores pela sua Ni, sua mulher de hoje.
Ambos vestidos à civil e pelo ar da carruagem (ou da mota...), duvido que o dia não fosse de borga - quem sabe se alguma saída para o Transmontano, ou uma ida ao cinema - onde, numa qualquer data, vimos o impensável "O Último Tango em Paris», no Cine Moreno, frente ao Rádio Clube do Uíge.
O Pires era mais recatado, mas sempre ansioso por uma boa passeata na cidade, «a ver as grinas...». O Neto, sempre muito mais expressivo e exuberante, às vezes até quase volupioso, fazia-se de mestre-rua aos menos atrevidos nas noites carmonianas, noites que faziam medrar desejos nos olhos e alma dos rapazes da guarnição.
Leio aqui a minha nota deste dia de 1975, como hoje Dia do Pai: «Nasceu o Zé, há um ano». O Zé Fernando é meu sobrinho e ao tempo também já meu afilhado, baptizado semanas antes de eu embarcar para Luanda. Hoje, é também meu compadre e treina o Náutico de Viana, clube que o fez atleta campeão nacional de remo. E internacional. E quase olímpico. A graça é que nesta quarta-feira de Março de 1975, muito provavelmente em algum frágil momento de nostalagia, associei o cinema ao meu sobrinho e afilhado: eram ambos Moreno. Um de nome, o cinema; outro de apelido, o sobrinho. E passaram-se 35 anos!
quinta-feira, 18 de março de 2010
A faca de mato do Marcos num jogo de futebol de Carmona
«O cronista não é dos que fazem do rancor ao futebol - ou do amor... - um estandarte de intelectualidade e pseudo-progressivismo: joga a bola por brincadeira e vai aos campos de futebol, para se distrair. Ontem, porém, foi (fui) polícia num campo de futebol, em Carmona.
E sabe-se, eu sei, que por detrás do futebol é que as coisas são: são como são. Avisado estava eu e os meus companheiros Almeida a e Marcos para o que poderia acontecer no campo do Futebol Clube do Uíge: bocas, agressões verbais, chatices. Para estarmos atentos e seguros. Para não reagirmos a esse tipo de provocações.
Assim foi ontem, num domingo em que o tempo até ameaçou chuva, pelo final da amanhã. Mas desanuviou ao princípio da tarde desse dérbi, com o Sporting do Negage - o Benfica-Sporting do sítio. O jogo decorria no pelado, com as habituais dúvidas nas leis do jogo fora do campo e a PU a circular ao longo das linhas laterais, por onde se viam alguns militares, muito poucos..., mas muitas bocas do público, ofendendo os tropas. Curiosamente, ou talvez não, principalmente vindas de compatriotas europeus.
A sede levou-nos a um pequeno bar, por lá improvisado: três nocais. Não no-las quiseram servir. Afinal serviram, com desdém que nos ofendeu. «Olhe lá, tá a gozar connosco?...», perguntei eu. Se não estavam, parecia. Seguiu-se uma altercação pouco simpática, algumas palavras azedas, um nervosismo evidente. O Marcos era especialista em puxar da faca de mato e, quando reparei, tinha-a encostada a um outro europeu. A situação controlou-se, mas não sem uma posterior queixa no BC12. Contra nós, claro.
Hoje, já fui chamado e dei explicações ao capitão Oliveira, que me espetou um correctivo. Eu tinha, disse-me ele, que «honrar a farda... e não permitir abusos que pusessem em causa a tropa».
O que se lê acima tem data 18 de Março de 1975 e refere-se à tarde da véspera, de um jogo de futebol do campeonato provincial, durante o qual ouvimos as que não queríamos. Hoje, memoriando esse momento futebolístico, recordo umas trocas de piropos, uns empurrões e um maninho de bocas que nos provocavam, de cabr... e car... para cima. E recordo a protecção dada à arbitragem, no final do jogo. Jogo de que não lembro o resultado. E não posso deixar de sublinhar a atenção e agilidade do Marcos que, num ápice de lince, sem hesitar, puxou da faca de mato, neutralizou o fulano que nos ofendia e ameaçava e, com esse gesto, terá evitado uma turbulência de consequências imprevistas. Era assim, aos Marços de 1975, por Carmona... num domingo de ir ao futebol.
quarta-feira, 17 de março de 2010
A cidade onde nos (des)fazíamos em rolos de carne cor de ébano
A messe de oficiais do Bairro Montanha Pinto, a casa azul frente ao Carocha branco, passou para os sargentos e por lá se instalou a rapaziada do Quitexe. Estava a um pulinho do centro da cidade, até lá se ia e de lá se vinha a pé, e era nosso pouso certo de muitas horas de ócio e prazer.
O de escrever, por exemplo! Ou de uma boa partida de cartas ou de dominó e de largas conversas sobre tudo e nada; e fartas mesas de ementas que o Neto, o nosso «eterno» gerente da messe, aprimorava em melhorar a cada refeição. E de muitas leituras.
Reli(a) por esta altura de 1975 o 2º. volume da antologia «Contos Portugueses do Ultramar», de Amândio César, e actualizava diariamente a minha multiplicada correspondência. De Luanda, chegavam recados do Alberto a falar-me do pasto de saias que nos endrominava o juízo e o desejo. De Portugal, muitos recados de saudades! Ele eram aerogramas, ele eram cartas... que eu lia e relia, sôfrego e atento!!!
Aos fins de tarde de Carmona, galgavam-se as sombras que tingiam as casas das cores do pôr-do-sol e nós lá íamos piscar olhos para a Rua do Comércio, palmilhar a avenida Portugal a cheirar cios e encher as esplanadas da nossa sede. E a Transmontana, quem se lembra?!!!
Não era raro, devorararmos um bife com ovo a cavalo no Escape; ou darmos uma saltada ao Shop-shop, ao Chave d´Ouro, ao Safari ou a outro qualquer dos muitos bares e esplanadas da cidade que nos somavam vida! Ou ao Diamante Negro, ali pertinho do Café Arouca e do campo do Recreativo do Uíge, por onde nos (des)fazíamos em rolos de carne cor de ébano! E por hoje aqui me fico!
terça-feira, 16 de março de 2010
O 16 de Março de 1974
Dia 16 de Março de 1974! Era um sábado e nós, os futuros Cavaleiros do Norte, gozávamos o primeiro dos dez dias da Licença de Normas - que anteciparia a viagem para Angola, ainda sem data marcada. Nessa madrugada, um grupo de militares saiu do RI5, nas Caldas da Rainha, e marchou sobre Lisboa, depois de prender o comandante, o segundo comandante e três majores.
Os revoltosos avançaram para derrubar o Governo, mas a subvelação não avançou noutras unidades e foram interceptados à entrada de Lisboa, pela Artilharia 1, pela Cavalaria 7 e pela GNR. Ao chegar perto do local, a coluna rebelde inverteu a marcha e regressou ao quartel das Caldas da Rainha, que foi imediatamente cercado por Unidades da Região Militar de Tomar.
Foi, digamos, o pré-25 de Abril! Que chegaria 40 dias depois!
Por mim, só soube de tal à noite, a ver o telejornal do café Império, aqui ao lado. E fiquei sem perceber grande coisa! Nem por aqui, na minha terra de Ois da Ribeira, alguém poderia ou saberia esclarecer algo que fosse.
Ao outro dia, domingo, apressei-me a ir a Águeda, de comboio, para comprar o jornal e lá vim a saber do que se passaram segundo a visão jornalística do tempo. O que, valha a verdade, não me deu qualquer esperança quanto ao futuro próximo: ir para Angola! Assim como fomos!
Foi há 36 anos!
Passado um ano, fazíamos em Carmona os primeiros «ensaios» para o que seria o (então futuro) exército de Angola. Que nunca chegou a ser!
Mulher com 9 filhos abandonada pelo marido
segunda-feira, 15 de março de 2010
Ir do Quitexe a Carmona, para ver como paravam as modas...
A malta que tinha menos posses, como eu, aproveitava a boleia de uma Mercedes que ia buscar o Correio ao SPM e, assim, sempre passeávamos durante o dia, para conhecermos melhor os cantinhos à casa e ver como paravam as modas pela cidade!
Era muito vulgar vermos os nossos colegas chegar, ou melhor, passar nos Unimogues e Berliet com o taipal nas traseiras (para defesa) e a famosa metralhadora (Breda?). Apesar de não ser operacional, e talvez por isso mesmo, sentia muita pena de os ver passar pela cidade, muito empoeirados.
Valia-lhes a juventude!!!
RODOLFO TOMÁS
domingo, 14 de março de 2010
O dia da segurança mista na festa da FNLA em Carmona
A 14 de Março de 1975, fomos convocados para um serviço muito especial: fazer a segurança das festas do feriado da FNLA, no dia seguinte. Mais: seriam feita com as forças dos três movimentos emancipalistas. O que nos deixou algo preocupados.
sábado, 13 de março de 2010
O PELREC QUE ERA "IN" E FOI VER FUTEBOL NA TELEVISÃO
sexta-feira, 12 de março de 2010
A messe de sargentos, que era de oficiais, do Bairro Montanha Pinto
A rapaziada da classe de sargentos ficou magnificamente instalada na messe de oficiais de Carmona, no bairro Montanha Pinto. Furriéis com sargentos e uma pequeníssima «guarnição de praças», que ficou alojada no casa de madeira nas traseiras.
As instalações eram magníficas e nós estávamos ali mesmo no «meio» da cidade, sem necessidade de baldas para a conhecer - assim cumpridas fossem as nossas tarefas militares, no BC12: escala de serviços correntes e, no que me tocou, também a chamada PU que tantos amargos nocturnos traria. Por estes dias, foi a estreia e a coisa até nem correu mal. Mas era evidente, sentia-se, vivia-se, cheirava-se... um crescente ressentimento e mau-estar da comunidade europeia relativamente aos militares. Como ainda ontem aqui contámos.
Os meus apontamentos da época referem uma «reunião com o cmdt». Creio ter sido nesta altura que, numa conversa muito informal no seu gabinete do BC12, o comandante Almeida e Brito nos alertou para a iminência de problemas e da possibilidade de passarmos a fazer patrulhamentos mistos, com forças do ELNA, das FAPLA e das FALA.
O alferes Garcia, com a sua proverbial tranquilidade, lá nos disse que «não vai ser nada, andámos a ser preparados para isso...». Como ele gostava de repetir, sempre de sorriso largo e franco, que «foi para isso que nos andámos a preparar». Não nos ajudou em nada, é óbvio, esta serena e sapiente observação, mas consolou-nos. Fiquei a saber, por estes dias, que ia formar uma das três equipas de PU - no meu caso, com o Almeida e o Marcos, dois bravos do PELREC.
- ELNA. Exército de Libertação Nacional de Angola, da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).
- FAPLA. Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
- FALA. Forças Armadas de Libertação de Angola, da União Nacional para a Idependência Total de Angola (UNITA).
- PU. Polícia de Unidade, o mesmo que Polícia Militar.
Governador Mawete João Baptista sugere monumento na Baixa do Cassange
quinta-feira, 11 de março de 2010
Cuspidelas aos militares do BCAV. 8423 de Carmona
A 11 de Março de 1975 registou-se em Portugal uma tentativa falhada de golpe militar, organizada pelo general António Spínola, ex-Presidente da República, aliado à Força Aérea e ao chamado Exército de Libertação de Portugal (ELP), por oposição ao Comando Operacional do Continente (COPCON) e à Liga de Unidade e Acção Revolucionária (LUAR).
O objectivo, sabe-se agora, apontava na tentativa de pôr fim ao governo do 1º. Ministro Vasco Gonçalves, que, lembremo-nos, era defensor de um regime socialista avançado - coisa que nós nem sequer, ao tempo, conhecíamos bem. Lá sabíamos nós o que era isso!!! A missão foi abortada e o golpe foi dado como falhado.
Carmona, nesse dia e alheia às movimentações militares de Lisboa, recebia a restante 2ª. Companhia da Cavalaria - a de Aldeia Viçosa, comandada pelo capitão miliciano José Manuel Cruz. O primeiro Grupo de Combate (pelotão) chegara no dia 2, com toda a CCS, e já se movimentava na cidade - a «receber» desdéns e comentários bem desagradáveis da população civil europeia. Tal qual a malta da CCS...
É "histórica", para nós e por um destes dias, a reacção de uma mãe de família, com filhos e sobrinhos, que se passeava na Rua do Comércio e escarrou ostensivamente para o chão, como se fosse para cima de nós, militares... - um episódio que, ao conhecimento de hoje, seria emblemático da menos boa relação entre a sociedade civil e os militares do BCAV. 8423 - todos os dias industriados para não reagir a provocações.
«Traidores, filhos da p..., cab...», foi o mínimo que nos chamou, ante a raiva do Marcos e do Madaleno, que comigo seguiam para a aula de condução, na Escola de Condução do Uíge - onde eu próprio viria a tirar a minha carta. No mesmo sítio e por ali perto, no cruzamento que dava para a praça da ZMN, viríamos nós a recolher alguns civis a fugir da guerra que lavrava na cidade nos dramáticos dias de Maio e Junho. E, entre eles, vejam lá... a tal família. A vida tem destas coisas!...
quarta-feira, 10 de março de 2010
A inauguração da Missão Católica do Quitexe
terça-feira, 9 de março de 2010
A apresentação de especialistas em Santa Margarida
A 4 de Março de 1974, começaram a apresentar-se em Santa Margarida a maior parte dos especialistas que iriam formar o BCAV. 8423 - completando o seu quadro de efectivos. Ele, eram os escriturários, os enfermeiros, os homens das transmissões e das oficinas, os condutores, os sapadores (estes, não estou certo..). Era a família que se formava.
O nosso poiso do Destacamentou mudou, soubemo-lo logo nessa 2ª.feira (dia 4), e continuava a instrução e a azáfama de quem se preparava para uma guerra de guerrilha e tinha de estar fisica e mentalmente bem preparado.
Surpreendiam-se alguns (novos) amigos cabos milicianos pela dinâmica e tranquilidade com que evoluía o PELREC - todo ufano e garboso, sempre que desfilava em marcha de treino ou se mostrava aos novos companheiros bem preparado, «à ranger», sem falhar um acerto de passo ou recuar a qualquer exercício mais difícil.
O PELREC evoluía noite e dia - mais de dia... - pela Mata do Soares, preparando golpes de mão e emboscadas, como reagir activa ou passivamente; como enfrentar um perigo, uma surpresa, o deflagrar de uma granada, o rebentar de um petardo, o som estridente e ameaçador de uma rajada de G3. A nada fugiam os pelrec´s, embora com um ou outro desenfianços daqueles dois ou três, ou quatro!, que sempre trocam o passo e se fazem diferentes, pela mais vulgar chico-espertice. Mas era coisa que não nos escapava e a que o Neto puxava orelhas e eu sermões, com a cumplicidade (e ordens) do então aspirante Garcia.
O PELREC crescia como uma família!
segunda-feira, 8 de março de 2010
Outros Cavaleiros do Norte, do Quitexe a Carmona e a Luanda
Não foram esquecidos os companheiros que, não sendo atiradores, enfermeiros, sapadores, mecânicos, gente das transmissões, escriturários, condutores, também - e muito bem.. - faziam parte da família dos Cavaleiros do Norte instalados no Quitexe.
Aqui vão eles, com a nossa continência ao companheirismo que todos multiplicaram na enorme família quitexana, depois carmoniana e luandina.
- 1º.s CABOS: Manuel da Costa Vieira (clarim), Manuel Augusto da Silva Marques (carpinteiro) e Vitor Manuel da Cunha Vieira (auxiliar de serviços religiosos, sacristão).
- SOLDADOS: José António Cardoso Caetano e Gracindo da Purificação Queijo (clarins), António Santana Cabrita (básico) e Júlio S. Plácido (caixeiro),
Outros companheiros poderão ter passado pela CCS do BCAV. 8423, em regime de substituição temporária. Deles, não temos registo.
O Quitexe de hoje visto pelo Jornal de Angola
O município do Dange-Quitexe, a principal “porta de entrada”, por terra, para quem vai ao Uíge, passando pela província do Bengo, já foi das localidades que mais contribuiu para o desenvolvimento da região.
Quitexe também é famoso por dispor de dois locais turísticos, a Lagoa do Feitiço e o rio Tsamba, cujas histórias arrepiantes, contadas pelos mais velhos, obrigam qualquer pessoa a respeitá-los e a cumprir rituais impostos.
Dange-Quitexe, com 3.872 quilómetros quadrados e mais de 33 mil habitantes, tem três comunas, Aldeia Viçosa (24 quilómetros), Vista Alegre (a 60) e Cambamba (86). Acabado o conflito armado, que afectou o desenvolvimento da região, a administradora municipal procura soluções para a localidade voltar a ser o que já foi. Maria Cavungo disse ao Jornal de Angola estar preocupada com o estado das vias de acesso às demais localidades do município, defendendo que a maioria das infra-estruturas deve ser reabilitada e devidamente apetrechada.
Aposta também na construção de mais empreendimentos sociais, como escolas, postos e centros de saúde e no fornecimento de energia eléctrica e de água.
Foto e texto José Bule. Ver completo, DAQUI.
domingo, 7 de março de 2010
Os primeiros dias de Carmona...
O Escape, restaurante já desde há muito conhecido dos «desenfianços» do Quitexe, passou a ser paradeiro usual da tropa financeiramente mais abonada - que pelos arredores aproveitava para espreitar as belezas que enchiam os olhos - as belezas que por ali se passeavam, bem decotadas e de pernas ao leú, ou as que mercavam nas várias lojas da rua do Comércio, na avenida de Portugal, nas principais áreas comerciais e nas muitas esplanadas e bares da cidade. E lá surgiam os pecados do desejo, os consolos de vista que nos enfeitiçavam, sempre que nos dávamos a olhar para as meninas do liceu. Ou outras quaisquer!
A outro nível, o comandante Almeida e Brito - com a guarnição bem instalada no BC12 e mas messes da cidade - foi cumprir protocolo e dinamizar empatias: a 5 de Março de 1975 visitou o Governador do Distrito, o Bispo da Diocese e os Juízes do Tribunal de Carmona.
sábado, 6 de março de 2010
As mágoas e saudades que se afogavam no bar dos soldados
Também me lembro que não eram só os soldados que frequentavam o bar. Ás vezes, muitas vezes, também apareciam alguns furriéis. Sim, porque era preciso procurar a cervejinha mais fresca. E lá estava o bar dos soldados, na rua principal do Quitexe, para sarisfazer esses desejos.