O paludismo era doença que não me assustava e até me fazia muita impressão como é que um indivíduo jovem e cheio de saúde se deixava cair numa cama! E ali ficava quase irreconhecível, sem forças para agarrar uma gata pelo rabo! Até que no dia 20 de Novembro de 1972, quando eu preparava o meu desenfianço de três dias para Carmona, onde com um amigo de escola iria dar umas voltas, fui surpreendido com algum mal-estar físico e uma falta de apetite que não era normal.
Aliás, muito anormal mesmo!
De imediato, fui falar com o amigo Alves, enfermeiro, que, sem papas na língua, logo me disse: «Ó pá, de certeza que isso é paludismo!..., é melhor não te desenfiares se não queres meter-te em chatices! Vai por mim Casal, ouve o que te digo!...».
Não lhe dei ouvidos e lá preparei a minha roupa para três dias, que não passava de meia dúzia de peças. Mas a noite foi penosa e começaram as voltas na cama, num desatino desgraçado!
Lá fui de novo à enfermaria à procura de qualquer coisa que me pusesse novo e me desse asas para voar até Carmona.
“Estás cheio de febre. pá..., onde é que pensas que vais?!», gritava-me o furriel enfermeiro Batalha e advertindo-me para as consequências.
Pronto, estava feito! Lá se ia a visita a um museu ou a uma exposição de pintura! Digo eu, já que não havia nada programado! “Meu furriel, se não for contra as normas deixe-me seguir o tratamento no meu quarto”!..., pedi-lhe, para me ver livre da enfermaria. E assim aconteceu durante dez penosos dias, só a medicamentos e água e sem forças para me colocar em pé. Como não baixei à enfermaria, entrei na escala de serviço como se estivesse são.
«Não te preocupes com os serviços que eu faço-os todos», aliviou-me o colega de quarto Aguiar, que viria a ser amigo para toda a vida!
Como se não bastasse, trazia-me todas as refeições à cama e até me mudava os lençóis ensopados em suor. Refeições que eu não conseguia comer e nem sequer cheirar! Ao fim de oito dias, finalmente, comecei a sentir fome e logo pensei que havia homem. A muito custo, levantei-me e saí para ir ao Topete, mas não andei mais de cem metros. A cambalear e a trocar as pernas, caí logo ali no carreiro que servia de atalho em frente à enfermaria!
“Estou f… lixado, querem ver que me vou desta para outra…assim sem mais nem menos!?”, disse eu, com voz sumida e sem perceber para onde fugira toda a minha força!
Fui socorrido pelo enfermeiro “Pilório” que com a ajuda do maqueiro “Estarreja”, me estendeu na cama. “Tás quase bom pá, para te levantares e teres fome é porque é coisa para só mais dois ou três dias!...», animava-me ele, já com alguma experiência mas a gozar o espectáculo, enquanto me limpava o suor da cara. O pior era o cigarro que ele tinha a dançar na boca e me atirava a cinza para cima!
E não se enganou, porque dois dias depois já estava pronto para outra, fresco que nem uma alface. A “exploração” de Carmona ficou para semanas depois, mas não correu nada bem! Foi de má memória!
A foto foi tirada no dia da minha “alta”, 30/11/72, por sugestão do Mário (rádio montador), que fez questão que a minha desgraça ficasse para a posteridade. Nove quilos tinham ido à vida! Obrigado Mário, podias era ter-me emprestado uns suspensórios!!!
ANTÓNIO CASAL FONSECA