BATALHÃO DE CAVALARIA 8423. Os Cavaleiros do Norte!!! Um espaço para informalmente falar de pessoas e estórias de um tempo em que se fez história. Aqui contando, de forma avulsa, algumas histórias de grupo de militares que foi a Angola fazer Abril e semear solidariedade e companheirismo! A partir do Quitexe, por Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange e Songo! E outras terras do Uíge angolano, pátria de que todos ficámos apaixonados!
segunda-feira, 31 de maio de 2010
A véspera dos macas...
Lá foram os bravos, os do Quitexe!!!
«Lá vão os bravos!!...», disseram-lhe quitexenses que foram nossos contemporâneos de Junho de 1974 a Março de 1975, virtualmente constrangidos, lamentosos... - como que se queixando da nossa ausência do seu futuro.
António Capela deu-nos esta notícia da reacção das gentes do Quitexe, ao nosso adeus à vila, orando de voz embargada e olhado com a expectativa de quem (os Cavaleiros do Norte) se sentiu surpreendido. «Afinal, aquela gente gostava de nós...».
Mais tarde, já em Carmona e na madrugada de 4 de Agosto de 1975, António Capela testemunhou o nosso adeus à cidade e ao Uíge, prantado que estava na Missão Católica: «Recordo-me muito bem! Vi-vos sair à rotunda do Negage e as lágrimas caíram-me pelos olhos abaixo».
Foram dias muito difíceis, os passados nos últimos meses do Uíge - dias dramáticos, perigosos, regados de sangue e polvilhados do cheiro da pólvora e da morte... - e muita gente chorou depois da nossa saída.
O testemunho de António Capela, agora relatando o afecto das gentes do Quitexe, foi como um pingo de mel no festivo e sentido Encontro de Ferreira do Zêzere. É um dos nossos maiores!
domingo, 30 de maio de 2010
Era uma missão de bem!...
CHEGADA A ANGOLA, HÁ 36 ANOS,
FAZ HOJE, DIA 30 DE MAIO DE 2010.
VER AQUI: http://cavaleirosdonorte.blogspot.com/2009/04/partida-e-chegada-angola.html
sábado, 29 de maio de 2010
O Encontro dos Cavaleiros do Norte em Ferreira do Zêzere
As fotos que mostramos são simbólicas, embora de má qualidade. Defeito meu, que me apetrechei mal para a missão. Aí estão, na de cima, o alferes Ribeiro, o capitão Luz (com a esposa) e o Aurélio (barbeiro), de careca desfocada, a assoprar as velas do Encontro de Cavaleiros do Norte.
Por mim, e por hoje, deixem-me mostrar (foto de baixo) os rostos de três bravos «pelrec´s» que eu já não via desde 8 de Setembro de 1975: o Albino Anjos Ferreira (de fato), o António e o Florêncio - os dois da esquerda. Foram homens de nunca virar a cara, de nunca camuflarem medos, de sempre assumirem de corpo inteiro a missão que nos levou a Angola. O gosto que me deu foi maior por todos nos termos reconhecido.
«E daquela vez, ó Viegas?!!!!...» sorriu-se, de malancrice quase envergonhada, o bom do António, sempre valente e forte, ante cada perigo que nos espreitasse - para nos falar de uma cena no Diamante Negro, fazíamos nós de Polícia Militar em Carmona. Um dia aqui contaremos a história.
Deixem-me agora dizer, só!!!!, que o encontro de hoje foi um hino de companheirismo e de festa. E já com data marcada para 2011!!! E 2012!!!
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Dias de Maio de 1975, agitados na cidade e no Uíge
Os últimos dias de Maio de 1975, em Carmona, foram muito agitados e de duvidosa contra-informação. Os boatos semeavam-se e colhiam-se com inverosível velocidade e era latente a diferença entre os que, do MPLA e da FNLA, discutiam direitos e posições de que eram árbitro as Forças Armadas Portuguesas.
Casos houve em que a tropa portuguesa - a única autoridade militar constituída e válida - era questionada pelos dirigentes dos movimentos. E pela população civil europeia. Sentiram-se momentos dramáticos e de impertinências injustificadas e injustificáveis.
A tropa, acusada de partidária - ora vejam lá... - teve algumas vezes de usar a força para impor ordem e segurança na cidade - nomeadamente quando se sentia desautorizada e alvo de atropelos. Ou quando civis eram molestados pelos militantes partidários, muito violentos e nalguns casos sanguinários. Porém - valeu-nos isso, sempre!!! -, a coesão das Forças Armadas Portuguesas galgou todas essas dificuldades - mesmo quando nos eram atribuídas culpas que não tínhamos.
Sucediam-se os patrulhamementos, na cidade e nos itinerários principai da província do Uíge - para que se prevenissem atropelos e banditismos. Sem um esmorecimento, sempre disciplinada e corajosamente. Embora com imensos sacrifícios da guarnição - que era pequena. Mas não houve, que eu saiba, um momento de desânimo, uma desistência, um instante em que alguém, da sociedade civil, ficasse privado da sua liberdade. Mas adivinhava-se que andava transmontana no ar.
Duas notas:
1- Faz hoje 36 anos,era véspera da nossa partida para Angola, adiada do dia 27 de Maio.
2 - Amanhã, em Ferreira do Zêzere, é dia de reencontro dos Cavaleiros do Norte. Exactamente 36 anos depois da nossa viagem aérea para Luanda. Como o tempo passa!
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Partida para Angola adiada por dois dias!
A meio da manhã, chega a informação que a viagem fôra adiada para quarta-feira seguinte, dia 29! Há reacções diferentes. Perto de mim, o Francisco Neto decide desde logo voltar a casa, em Águeda, e «desafiou-me» para tomarmos o comboio. O Benício, empregado da empresa do pai, nos traria na quarta-feira. Decidi não voltar a casa, veio ele - certamente já saudoso do colo da família e dos braços da Eunice.
O meu resto de dia, com o Pires de Bragança, o Rocha, o Farinhas e outros, foi passado pelo quartel e S. Miguel de Rio Torto - onde fomos ao restaurante por onde passáramos durante o IAO.
À noite, fomos jantar a Abrantes. De volta, já no quarto do RC4, no bloco onde estiveram detidos alguns oficiais do 16 de Março (Revolta das Caldas), li e escrevi anotações do dia, num bloco A4 de cartas. E dormi tranquilamente! Angola ficava para 29 de Maio!
-TAM. Transportes Aéreos Militares.
- IAO. Instrução de Aperferçoamento Operacional. Ou Instrução Altamente Operacional, como preferíamos dizer.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
A véspera da anunciada partida para Angola...
A 26 de Maio de 1974, era domingo! Foi um dia muito sossegado para mim, por aqui vivido na tranquilidade da aldeia onde ainda hoje vivo! Pelo adro da igreja, distraídamente,fui-me despedindo dos amigos que por lá me desejavam sorte na jornada de África.
Minha mãe caprichou no caldo do almoço e comemos rojões na velha cozinha de nossa casa. E acertámos que, de maneira nenhuma, faria ela promessa de ir a Fátima a pé, como era vulgar ao tempo - pelas graças de regressar são e salvo. Não por questões de fé (que tenho), mas por outras!
Pela tarde, dei uma volta apeada pela aldeia. Pelos locais da minha meninice, saudando este e aquele com quem me cruzava. Atirei falhas nas águas da pateira e, uma a uma, passei pelos cabeceiros das nossas poucas propriedades.
Pouco comi à noite, do escoado tradicional - despedindo-me de minha irmã Dulce e cunhado Zé, com a minha sobrinha e afilhada Susana ao colo - hoje também minha comadre e professora.
«Queres que te acorde?!...», perguntou-me minha mãe, na hora da deita. Que não, eu me levantaria. Ainda dei um salto ao café da Celeste, aqui ao lado, e embrulhei-me em lençóis, enquanto ouvia as badaladas da meia noite. Ia acordar às 5 horas da manhã e buscar-me vinha o pai do Neto. Os dois, íamos para Santa Margarida (foto) e daí para Lisboa. Para Angola! A viagem estava marcada para 27 de Maio, mas foi adiada dois dias!
terça-feira, 25 de maio de 2010
Os dois batalhões de Almeida e Brito - o 1917 e o 8423!
E o que temos nós, os garbosos e Cavaleiros do Norte, a ver como isso?! Pois temos!!! Ai temos, temos!!!... Para além de ser nosso antecessor no Quitexe, por onde jornadeou entre 1967 e 1969, o BCAV. 1917 teve o Comandante Almeida e Brito como oficial de operações - de 24 de Janeiro a 17 de Dezembro de 1968.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
As véspera da partida para Angola...
A 24 de Maio de 1974, uma 6ª-feira e vésperas de partir para Angola, juntaram-se alguns jovens amigos da minha terra no salão da Celeste, para as minhas despedidas «oficiais», regadas a cerveja e vinho tinto, com frango de churrasco - «petisco» que, vejam lá..., não era coisa muito vulgar por aqueles tempos. O churrasco era mesmo um luxo...
Todos com a mágoa e dor de me ver partir e com a não-explicação da minha «birra» de não aceitar proteção de cima: gente houve que se dispunha a «ajudar» a que eu não fosse mobilizado. O que teimosamente rejeitei, com a concordância absoluta de minha mãe, então recentemente viúva e agora com 89 anos!
A panqueca foi gravada em cassete e bem me deliciei eu depois a ouvi-la, nos tempos mais nostálgicos do Quitexe.
O registo (que lamentavelmente já não consigo ouvir, por deterioração da fita) anotava mitificações da minha carreira (!) militar, os endeusamentos da instrução de Lamego,algumas cantorias populares e efe-erre-ás, falava das miúdas amigas que por cá ficavam e das... pretas. As pretas e as mulatas de Angola, que antevíamos cheias de cio e dispostas a matar-nos desejos. Aquilo é que ia ser!!! Lá contei eu as minhas aventuras «guerreiras» e falei abundantemente dos meus companheiros de pelotão: o alferes Garcia, que eu adivinhava combatente destemido e comandante generoso; o Neto e o Monteiro, com quem aparelhava a furriel; os cabos e os soldados que connosco iriam jornadear em Angola. Estava cheio de moral. Sem medos!
Voltei a ver aquela malta em Setembro de 1975! E com estas histórias para contar e vem «enchendo» o blogue. Estas e outras!
domingo, 23 de maio de 2010
A chegada a Zalala, em 1961...
sábado, 22 de maio de 2010
A picada do Quitexe para Zalala
sexta-feira, 21 de maio de 2010
A chegada de Manuel Alegre em vésperas de ir para Angola
O que se falou de política naquele dia, depois da ida de Manuel Alegre para os Paços do Concelho. Conversa animada, prolixa, quase incendiária..., centrada nos militares e no governo de Palma Carlos - que incluía Álvaro Cunhal, Pereira de Moura e Sá Carneiro (ministros sem pasta) e Mário Soares (negócios estrangeiros). E em António de Spínola, Presidente da República. E nos soldados que se batiam no ultramar e nos que para lá iriam. Como eu!
Uma das sugestões mais apontadas era a de que não devia ir mais tropa e virem de lá, rapidamente, todos os que lá estavam. Não iria ser assim. A «graça» da chegada de Alegre tinha a ver com o facto de ele próprio ter estado em Angola, como alferes miliciano. A mesma Angola para onde eu ia. O embarque estava marcado para o dia 27 de Maio, daí a duas semanas.
A certa altura, reconhecendo-me alguns amigos no meio da multidão (foto) e sabendo que eu era militar, quiseram fazer de mim outro «herói» do momento, levantando-me ao ar. Confesso que não gostei da brincadeira mas acabámos a beber champarrion no Café Jardim - depois de ouvirmos Manuel Alegre a discursar na varanda dos Paços do Concelho.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Manter a ordem, a segurança e as vidas em Carmona
«Manteve-se permanentemente o patrulhamento nos centros urbanos e nos itinerários, especialmente em Carmona, considerada a área mais fulcral do distrito», pode ler-se no Livro da Unidade. Controlar itinerários, bem se entendia - pois eram posições estratégicas por cujo controlo lutavam, de armas em riste, os militantes armados de FNLA e MPLA. E quantas escaramuças se sucediam, nem sempre com a melhor paciência e tolerância para resolver!!!
As forças armadas portuguesas era solicitadas para tudo e mais alguma coisa e a guarnição era curta para as encomendas. Era-lhe exigido tudo, sem pessoal e sem contrapartidas. Estes 35 anos depois permitem-nos uma avaliação serena: as forças armadas portuguesas fizeram milagres para manterem a ordem, a segurança e as vidas!
quarta-feira, 19 de maio de 2010
A São Morais do Quitexe...
terça-feira, 18 de maio de 2010
O Encontro dos Cavaleiros do Norte é já dentro de dias...
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Os dias de partilha dos Cavaleiros do Norte
A dias do reencontro dos Cavaleiros do Norte e das paixões e emoções que sempre se engravidam para esse parto d´alegria, vale a pena lembrar que esse espírito - o da confraternização e o da partilha... - se viveu intensamente, sempre muito intensamente, por terras do Quitexe, de Carmona e de Luanda.
O aprumo e o atavio, a ordem, a disciplina, a pontualidade, a competência operaciomal, o não ter medo para enfrentar os medos foram virtudes que se multiplicaram intensamente entre os Cavaleiros do Norte - que sempre evoluíram conscientemente na sua missão de soberania e aceitaram e desenvolveram os desafios da transferência de poderes. Não foi pelo BCAV. 8423 que as coisas se complicaram.
Mas, paralelamente, «vadiou-se» muito, partilharam-se mesas e afectos, favoreceu-se a camaradagem, semearam-se e colheram-se cumplicidades. Eramos todos irmãos.
A foto é de uma tainada do PELREC, na caserna, nela se reconhecendo todos iguais: o soldado, o cabo e o furriel. Comia-se frango e bebia-se cerveja. O Neto, pela braçadeira, estava de serviço e a panqueca terá vindo a matar. O dia deveria ser de domingo, se olharmos para a indumentária do Monteiro. Assim se viviam os dias do Quitexe!
domingo, 16 de maio de 2010
Confrontos em Carmona e louvor do alferes miliciano Meneses
Os dias de Maio de 1975 foram tensos, em Carmona. Já tinham sido os de Março e Abril. A 13 de Abril, uma manifestação não autorizada resultou em confrontos entre elementos do MPLA e da FNLA, valendo a intervenção rápida das forças armadas portuguesas.
O comando da força era do alferes miliciano Meneses, que pôs cobro às acções de fogo, com metralhadoras ligeiras, com que os militantes africanos incendiaram a cidade. «Actuou de forma rápida, decidida e enérgica, não deixando dúvidas quanto à determinação do pequeno núcleo de tropas que comandava», como se lê no louvor que, por isso, lhe foi atribuído pelo comando do BCAV. 8423.
A manifestação não fôra autorizada - era muito vulgar acontecerem pequenos ajuntamentos avulsos, que incendiavam o ambiente e perigavam a segurança - e o uso de armas de fogo punha em causa não só a segurança dos intervenientes, como da população e das próprias forças armadas. Normalmente, aconteciam na via pública, avulsamente.
O louvor ao alferes miliciano Meneses sublinha ainda que «conseguiu a detenção de dois dos elementos em confronto» e o facto de «ainda, de imediato, ter feito abortar a manifestação».
Foi com estes homens de coragem, sem temer perigos, que os Cavaleiros do Norte impuseram a ordem na cidade, assim se «poupando» muitas vidas!
- MENESES. Manuel Meneses Alves, alferes miliciano da 2ª. Companhia do BCAV. 8423. Transferido em Fevereiro de 1975, do BCAÇ. 4519/73, que esteve em Cabinda (?). Reside em Leiria.
sábado, 15 de maio de 2010
Incidente na Rua do Comércio, com tiros vista...
As forças mistas que, está por agora a fazer 35 anos, se incrementavam em Carmona eram olhadas com desdém na capital do Uíge. Já por aqui o dissemos e refrescámos a memória ao ver a foto deste post, naquele cruzamento do Hotel Apolo - na rua do Comércio.
Havia por ali perto um bar muito frequentado pela tropa - suponho que o Chave de Ouro... . e numa noite das patrulhas das tropas mistas, alguém dos movimentos (não me recordo qual...) tentou reagir a tiro, a uma «bocas» que foram mandadas da parte de fora do bar. Por civis. As ditas «bocas» eram muito frequentes, eram hostis à tropa portuguesa, mas não eram menos para os militares dos movimentos que integravam as forças mistas. Agora, um elemento das ditas forças mistas apontar uma arma a civis, bom... o momento teve muito dramatismo.
Pegou o Almeida, muito atento, no cano da espingarda do militar africano e encostou-se a este o bom do Marcos, sempre muito ágil nas suas reacções ao perigo. Foram momentos muito tensos, de transpiração fria, de coração a saltar. Houve medos comungados pelos militares europeus e «branqueou-se» o africano que se aprontava a disparar e quase foi esbofeteado por um dos ses «chefes». Não sei o que aconteceria se houvesse disparo! Ou se a agressão entre africanos fosse levada à prática. Imaginem-se as consequências de um tiroteio num quadro destes.
O grupo regressou imediatamente ao BC12, o africano que quis disparar ficou detido na prisão do Posto da Guarda da porta d´armas e ao outro dia foi entregue ao movimento a que pertencia - sem que alguma vez mais soubessemos dele.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Ir de férias ao Quitexe...
Aos tempos do Quitexe, ir de férias era o sonho de qualquer um. E não estou a falar de férias no «puto» ou de quaisquer outras, quer fossem em Luanda, Carmona, ou em outra qualquer cidade da extensa Angola. Para muitos, gozar férias significava, principalmente, não ter de ir para o mato, estar-se nas tintas para as escalas de serviço e vestir-se à civil, o que até dava um certo gozo!
Diga-se a verdade, e por estranho que possa parecer, havia quem não tivesse possibilidades financeiras para sair da vila e gozar, no mínimo, meia dúzia de dias na cidade de Carmona. O valor que um praça recebia, mesmo poupadinho, não dava para ir longe. E para não falar dos que tinham deixado responsabilidades familiares na terra! Ah pois..., e na minha Companhia não eram poucos! Mesmo assim, nunca lhes notei um desalento! Sempre lhes reconheci uma precoce maturidade, talvez fruto das responsabilidades assumidas.
Outros, nossos colegas das outras companhias, vinham gozar as férias ao Quitexe, como se de um grande centro se tratasse. Para eles, era extremamente importante sair do isolamento e mudar os seus hábitos, por mais simples que fossem. Sabendo nós da importância que aquelas férias representavam, recebíamo-los, não com pompa mas de forma a proporcionar-lhes umas férias mais animadas.
Ora, era precisamente aqui que entravam os fados e outros momentos lúdicos. Deles, seria palco a Vivenda das Transmissões. Ver AQUI.
ANTÓNIO CASAL
1º. cabo rádio-telegrafista do BCAÇ. 3879
- PUTO. Gíria militar, para designar o território continental português (Portugal).
Companhia de Caçadores da 415 vai confraternizar em Condeixa
a verde claro, onde ficava o Quitexe.
A Companhia de Caçadores 415, que os antecedeu no Quitexe, nos difíceis e dramáticos anos de 1963 a 1965, vai reunir em convívio no dia 12 de Junho, em Condeixa.
A concentração será às 9,30 horas, nas bombas da GALP, e os interessados em participar podem contactar Fernando Pombo (telefone 243709251) e António Bicacro (919068303).
Os Cavaleiros do Norte, últimos militares portugueses a estar na vila do Quitexe, saúdam estes companheiros de missão, que semearam afectos que nós herdámos em 1974 e 1975.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
As guarnições de Aldeia Viçosa e Vista Alegre
Vista Alegre e Aldeia Viçosa passaram, em dias de Maio de 1975, a estar guarnecidas por militares do ELNA e das FAPLA, no cumprimento de um decisão da Comissão Nacional de Defesa. A 1ª. Companhia passara para o Songo e Cachalonde.
O princípio, se me lembro bem, era básico: gradualmente as forças dos movimentos de libertação, iriam ocupando as posições urbanas do exército português. Formava-se o exército nacional angolano.
Um dia deste mês, não recordo qual, lá fomos nós em coluna de asfalto, para uma visita de rotina do comando militar português - com «a especial intenção de verificar o cumprimento das missões determinadas» às forças lá instaladas. Visita rápida, que mal deu para olhar o Quitexe (na passagem). Mas deu para observar o desregramento comportamental das forças que por lá faziam a guarnição. Das diferenças que medravam entre eles e não escondiam, fazendo-se pasto incendiário dos tempos próximos. A paz - se era paz... - era claramente fictícia e não demoraram incidentes, alimentados em ódios tribais e com o sangue a molhar o chão de Angola, a enlutar famílias, a fermentar a guerra que viria a durar mais de 20 anos. Não o adivinharíamos, na altura!
Vagamente, lembro-de de o capitão Themudo - o nosso 2º. comandante - comentar na subida para o jeep: «Não sei o que vai acontecer, isto vai dar-nos água pela barba...». Foi proféctico.
- ELNA. Exército de Libertação Nacional de Angola, braço armado da FNLA.
- FAPLA. Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, do MPLA.
- THEMUDO. José Diogo da Mota e Silva Themudo, capitão de Cavalaria e 2º. comandante do BCAV. 8423. Actualmente, reside em Lisboa e é coronel reformado.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Soldado que vais para Angola...
«Soldado, vais para Angola, onde irás encontrar populações negras e mestiças, que são portuguesas como tu. Têm usos diferentes, religião que pode ser ou não a tua; falam, ou não, a tua língua e têm os seus dialectos próprios. Embora com estas possíveis diferenças, mantém-se unidos a Portugal e como portugueses querem viver.
Vais ajudá-los nos seus problemas, como tal respeita-os, e aos seus costumes. Lembra-te que são seres como tu, a sua família é como a tua. Então, poderás contar que estás a cumprir uma parte muito importamte da tua missão de combatente. De contrário, serás uma mau militar e estás a atraiçoar os ideais que a Pátria te impõe e que juraste solenemente defender e fazer cumprir».
O que deixo atrás transcrito é parte da documentação - de acção psicológica - distribuída aos militares do BCAV. 8423, no período de penúltima preparação operacional para Angola - antes dos dez dias de férias, a chamada licença de norma. Não consigo recordar o efeito psicológico que a mensagem então terá tido nos nossos espíritos. Provavelmente, não teremos dado grande importância.
A fatalidade que era a nossa ida à guerra, estigma com que crescemos desde a nossa infância (pela adolescência e juventude adentro), ter-nos-á aligeirado a preocupação. Mas não deixa de ser interessante, 36 anos depois, avaliar o que nos foi proposto e o que, já em Angola, foi cumprido. Não tenho dúvidas que os Cavaleiros do Norte estiveram à altura, honrando a farda, assumindo as suas responsabilidades e sendo portugueses maiores - num período que gerou uma nação nova. Angola!
terça-feira, 11 de maio de 2010
Perguntai ao Inimigo Quem Somos
Cavaram-se trincheiras, montaram-se acampamentos, socorreram-se «feridos», fizeram-se evacuações, assaltos e golpes de mão, patrulhas, operações e «roubos de fruta», desenfianços (como quem quer desafiar os riscos...), exercitou-se o corpo, fomentaram-se a disciplina, o aprumo e a ordem, cultivaram-se virtudes militares e, vejam lá, até se aprendeu a cozinhar e a coser (roupa). Foram dias de muita intensidade - quiçá, até, de alguma ansiedade, pois era a nossa última preparação para a guerra que nos esperava a partir de 27 de Maio.
O comando, repetidamente, fez distribuir documentação variada, incutindo mentalização adequada aos tempos que nos esperavam. Alguns slogans: «O soldado português é dos melhores do mundo», «O Exército Português é o espelho da Nação», «Suor da instrução é sangue que não corre», «Querer e saber querer», «Honrai a Pátria, que a Pátria vos contempla», «Cultiva as virtudes que te solicitarem, para te impores como verdadeiro soldado».
O lema do BCAV. 8423 vulgarizou-se no dia-a-dia: «Perguntai ao inimigo quem somos».
Pessoalmente, nunca gostei muito dele, por o achar simultaneamente vulgar e presunçoso. Mas quem era eu..., quem ainda hoje assim pensa?!
A 10 de Maio de 1974, uma 6ª. feira, terminou o IAO e o pessoal foi de semana, pouco passava do almoço. Agradável surpresa, seguida de rápida viagem no SIMCA 1100 do Neto, até aos sítios de Águeda, para os «adeus que vou pr´Angola» que se aproximavam.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Comício de Daniel Chipenda em Carmona
domingo, 9 de maio de 2010
O comício de um militar num café-restarurante de S. Miguel de Rio Torto
Hoje, o dia de hoje de 1974, foi o penúltimo do IAO, na Mata do Soares, e noite de um «desenfianço» a um café/restaurante de S. Miguel do Rio Torto. Vale a pena lembrar que se viviam, ao tempo, as labaredas mais acesas do entusiasmo popular com o 25 de Abril. Alguém nos pagou o jantar, nunca soube quem. E, com a abastança gastronómica e o que por lá se falou, chegámos tarde à «emboscada» dessa noite.
Houve «chá», por isso!!! Sermão e missa cantada!!! Do aspirante a oficial miliciano Garcia, comandante do PELREC - muito avesso a indisciplinas e rigoroso no cumprimento de deveres. Lá me expliquei como pude, justificando o deslumbramento porque nos deixámos tomar, embrulhando-nos no que para o povo era, ao tempo, sempre motivo de festa: a presença de militares. «O que é que queres? Não podia deixar envergonhar a tropa...», disse-lhe eu.
«Mas houve algum problema?...», interrogou-me o Garcia.
Pois, não houvera! Eu até dera uma parlenga muito séria sobre os méritos da tropa e as prováveis vantagens da revolução. «Não tinha hipótese de evitar que nos vitoriassem...», disse eu. E disse um dos soldados, não me lembro quem: «Ó meu aspirante, o nosso cabo miliciano fez um figurão, aquilo é que era a falar!...».
Convenceu-se o Garcia de tal mérito só, porém, quando, uma noite de serviço no Quitexe e meses depois, a história veio à baila. «Ainda hoje estou convencido que fui enganado...», argumentou o Garcia. Que não, «nem penses nisso». «Eu fiz até um verdadeiro comício...», regozijei-me. Na verdade, a sala do tal café-restaurante ouvira-me como nunca mais fui ouvido.
sábado, 8 de maio de 2010
Os fados do Quitexe...., fossem de Lisboa ou de Coimbra!
Os fados foram, em tempo de missão por terras do Quitexe, alguns dos momentos lúdicos que a tropa «produzia» para matar o tempo, ou as saduades. Ou para receber os companheiros que, de outras Companhias, faziam férias pela vila. O que era um luxo!
Deles, dos fados, era palco muitas vezes a Vivenda das Transmissões, aproveitando a varanda que dava para o quintal. Cientes de que não iríamos incomodar o sono de ninguém, lá se afinavam as cordas – vocais e instrumentais.
Faltava-nos uma guitarra portuguesa, mas com duas clássicas tínhamos a questão quase remediada. Também não éramos esquisitos!
Munidos de violas e com ar sério, entravam o Marinhas, hoje professor de música aposentado, e o Castro. As vozes estavam entregues ao Matos e ao Santos, no chamado fado de Lisboa, e ao Casal, no fado de Coimbra. Talvez não tenham sido grandes momentos musicais e não culpo apenas a falta de acústica! Certo, é que ninguém alguma vez reclamou e as cerca de três horas que durava, só não se prolongavam até de madrugada porque nos tinham sido impostos limites. E muito bem! E também porque às oito da manhã começava um novo dia, e às vezes bem austero.
Cabia-me o fel da abertura e o mel do encerramento do serão. Abria com Balada do Encantamento e fechava com Fado Hilário. Segunda reza a sobrevivente cábula, à minha conta eram treze, sempre alternados com fados de Lisboa e também alguns “solos” superiormente tocados pelo «quase» professor de música.
Tudo muito “puxado”, em directo, ao vivo, sem microfones ou truques manhosos. Nem playback, porque não estávamos ali para enganar ninguém! E também com algumas gafes à mistura, mas sempre bem disfarçadas.
Nada era deixado ao acaso, e até o aquecimento das vozes era uma imposição do Marinhas, ainda estudante de música mas já cheio de preciosismos e exigências. Com ele, era assim ou ponto final! Mas tínhamos de aguentar, não fosse ele o cérebro de tudo aquilo!
E muitas outras noites se seguiram, sempre com o mesmo objectivo, embora nem sempre fácil, atendendo aos compromissos de cada um.
Noites Quitexanas diferentes, com momentos lúdicos e despretensiosos e que, por horas, nos transportavam para a nossa terra, ficasse ela no local mais recôndito! É que o fado, seja de Coimbra ou de Lisboa, é indubitavelmente a canção nacional!..., e cantado no Quitexe deixava as suas marcas emocionais, para não dizer… lacrimais!...
Mas nada que umas nocais ou uns “sbells” não curassem, não estivéssemos nós em ambiente de festa!
ANTÓNIO CASAL
1º. cabo rádio-montador da CCS do
BCAC 3879, no Quitexe em 1972/73
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Uma ilha no mar da FNLA
Os primeiros dias de Maio de 1975, em Carmona e na província do Uíge, foram de crescente tensão - tensão fermentada em ódios que levedavam de dia para dia.
«Não esmorecendo, expondo os seus problemas mas cumprindo, começaram a verificar-se desautorizações e atropelos», refere o Livro da Unidade, citando o BCAV. 8423 como «alvo de vexames», as tropas portuguesas apelidadas de «partidárias» e consequentemente «vendo as suas actividades mal aceites, ainda que não suscitem quaisquer dúvidas quanto à sua isenção».
As diferenças entre MPLA e FNLA eram visíveis, quase se apalpavam, e eram permanentes as contendas, algumas «abrilhantadas» a fogo de armas, algum sangue e agressões físicas e morais. A tropa portuguesa, lê-se no Livro da Unidade, afirmava-se «viver-se numa ilha, no mar da FNLA, com todas as inconvenientes posições que daí advém».
Aos militares porugueses, ia valendo «a coesão criada e a disciplina vivida». Para impor a ordem, salvar vidas e bens, honrar a soberania que se aproximava do fim - a portuguesa - e procurando ajudar a criar as bases do novo país - Angola. Mas essa missão era muito mal entendida pelos dirigentes e militantes dos dois movimentos, já não falando da comunidade civil branca (europeia). Disso eram alvo permanente os militares da PM e das forças mistas.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
O 25 de Abril em S. Miguel de Rio Torto num casamento...
A 5 de Maio de 1974, um domingo, o PELREC galgou da Mata do Soares para os lados de S. Miguel de Rio Torto, onde algures iria «emboscar» um grupo de combate de uma das companhas operacionais. Vivíamos o IAO, a «coisa» era a sério.