sexta-feira, 17 de abril de 2009

Eu e o Chico Neto, os furriéis gémeos do Quitexe!

Neto e Viegas, furriéis «gémeos» do BCAV 8423. Ambos
de Águeda e de Operações Especiais (Ranger´s)

Chico Neto e eu, os furriéis almas-gémeas do Quitexe. Tínhamos tudo de diferente e tudo de igual.
Ambos de Águeda, ele filho de empresário industrial e eu de agricultores bem modestos.
Ambos alunos da actual escola secundária Marques de Castilho (antiga industrial e comercial, a EICA, ao tempo), ele da indústria, eu do comércio.

Ambos do Pelotão de Reconhecimento e Serviços, ele mais impulsivo, eu mais mais racional.
Ambos furriéis Ranger, ele mais forte no tiro de precisão; eu mais capaz no de improviso!
Ambos formados no CIOE de Lamego, ele oriundo da infantaria, eu de cavalaria!
Ambos muito intervenientes no dia-a-dia da Unidade, ele mais arrebatador, eu mais soft (como se diria hoje) e preciso no debate de ideias.
Ambos muito reivindicativos, ele mais generoso no dia-a-dia com os soldados; eu mais exigente e imperativo!
Ambos solidários, ele mais mãos largas, eu mais coração aberto!
Ambos valentes (deixem passar esta gabarolice...). Se um diz esfola, outro diz mata!
A nossa primeira operação militar, pela mata adentro das redondezas (80, 90 quilómetros, 120?) do Quitexe, quebrou-nos os galhos do medo que nos roía a alma. No momento de saída do quartel, para os lados da Fazenda Luíza Maria, falámos alguns minutos com os soldados, iludindo os nossos medos.
Fomos francos com eles, nós éramos amigos deles e sentíamos troco desse sentimento: «Pode acontecer-nos tudo, foi para isto que nos preparámos em Santa Margarida. Não há que ter medo...», disse-lhes eu, como que numa avé-maria de esperança, ou num credo de convicção e fé para as oito/dez horas que tínhamos pela frente.

Ele quis apresentar o grupo ao Alferes Garcia, nosso comandante de pelotão. «Tenho de ser eu...», lembrei-lhe, invocando-lhe «hierarquias». Apresentei: «Meu alferes, dá licença?! Apresenta-se o Pelotão de Reconhecimento, Serviço e Informação». Blá, blá, blá!!! As normas!
Palada dada e recebida, estava o grupo em sentido na parada do aquartelamento, eram para aí umas quatro horas da manhã, com algum frio de cacimbo, quando ao Chico se lhe soltou a língua: «Meu alferes dá licença? Está apresentado um pelotão de ranger´s. Somos todos ranger´s!!!". A voz dele era firme, determinada, o rosto era um esgar em que adivinhava coragem, empolgando os cabos e soldados que connosco iam partir para um destino semeado de interrogações. Quem saberia se de sangue e dramas!
Fomos e viemos, suados de palmilhar quilómetros e de botas encharcadas da lama vermelha colada nos trilhos dos medos que galgámos, pela madrugada fora, até ao quase pôr do sol que nos espalmou alma, na chegada ao quartel!
Nesse dia, acreditem, já de banho tomado, ainda o sol se punha avermelhado nos céus de Angola, quando fomos tirar esta fotografia. Não me lembro o dia, por finais de Junho de 1974! Mas sei que, nessa noite, comi camarão pela primeira vez na minha vida! O Chico não quis vestir o camuflado, para se sentir «mais civil!».
Sempre fomos cúmplices, os dois, por toda toda a nossa jornada africana! Irmãos! Almas gémeas, em todas as diferenças!

- Alferes Garcia. António Manuel Garcia, natural de Pombal de Ansiães (Carrazeda da Ansiães). Oficial miliciano de Operações Especiais (Ranger) e nosso comandante de pelotão. Faleceu em 1977/78, era agente da Polícia Judiciária, num acidente de viação, entre Viseu e Mangualde.

1 comentário:

Anónimo disse...

Neto & Viegas, os insubmissos!!!
O mundo seria melhor, se fossem todos como vocês. O que é feito do Neto e do Viegas, já estão reformados?
Abraços..
Dias