O Pelotão de Reconhecimento, Serviço e Informação - que por lá baptizávamos e popularizávamos como PELREC, em sigla abreviada... - era o único pelotão operacional da CCS, todos os meses «casado» de serviços externos com um outro, que vinha em destacamento para o Quitexe.
Isto, na prática, queria dizer que duas ou três vezes por semana tínhamos patrulhamentos na zona, ou operações (numa dimensão regional e envolvendo outras companhias e batalhões). As missões eram religiosamente transmitidas pelo capitão Falcão, horas antes, e lá seguíamos nós, pelos ontens da madrugada mais próximos da saída, acordar soldados e cabos, para «preparar e arrancar». Aos modos «ranger´s», tudo tinha de ser feito em três minutos: acordar, vestir, equipar e estar em cima dos unimogs, já com a ração de combate. E a verdade é que pouco tempo depois, os bravos cavaleiros do PELREC estavam uns ases nessa rapidez. E tinham vaidade nisso.
A 17 de Outubro de 1974, a missão era para os lados do Destacamento de Luísa Maria e lá pernoitámos. Rezava a lenda que a mata ao fundo, chamada de Arvore Vaidosa, seria local de um acampamento da FNLA. Que até teria um subterrâneo. Se assim era, ou não, nunca o confirmámos. O mais perto que estivemos foi já em vésperas de 1975 e apenas encontrámos rastos do que teria sido uma pequena aldeia, já abandonada.
Este dia tem uma razão especial para aqui ser chamado. O Neves, dos lados de Sintra, era soldado do PELREC e, por sofrer de epilepsia, ficava sempre de reserva no quartel, em serviços internos. Nunca saía! Na prática, sendo ele atirador de cavalaria, como era, carregava o luto do «gozo» e brincadeiras dos companheiros do pelotão, que o constrangiam com a sua alegada inépcia militar. «Não vales nada, ó Neves... Nem para dar um tiro!», arrimavam-lhe eles, descuidando-se do respeito que ele lhes merecia. Nem era por mal, era por irreverência.
O António cansou-se de querer ir e foi neste dia. Deslumbrou-se com o cheiro da mata e dos bananais, de olhar os cafezais enormes, enormes de quilómetros, de entrar nas fazendas e ver os corpos de ébano das mulheres a bombalearem-se nos terreiros. De olhar e rir-se em gagalhadas felizes, com o saltar dos macacos de árvore em árvores, em gritos de cio!
Quis voltar mais vezes, voltar sempre!!! Mas não voltou mais! Uns dias depois, vítima da epilepsia que o ralava, disparou involuntariamente uma rajada na caserna e teve de ser observado por essa causa! Chorou sei lá quantas vezes por não mais ter ido!
- CAPITÃO FALCÃO: José Paulo Montenegro Mendonça Falcão, capitão e oficial de operações, de Coimbra. Encontrei-o há uns dez anos, já tenente coronel.
- NEVES: José Coutinho das Neves, soldado atirador do PELREC. Era da zona de Sintra.
- NEVES: José Coutinho das Neves, soldado atirador do PELREC. Era da zona de Sintra.
2 comentários:
Caro Viegas: vais escrever um livro,é? Ando a ler-te e a recordar os bons tempos que passámos em Angola, foi uma juventude que não se perdeu.
J. Carlos
Viegas: também passei por aqui, estive lá um mês e foi muito difícil, mas passou. Se calhar até lá nos encontrámos, sei lá.
António Luís
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