Angola foi um tempo e um chão de perfumes e emoções novas, para tantos jovens (como eu) que deixaram o calor e o afecto das suas casas e famílias, dos amigos e paixões da cá, para voarem ao encontro de um destino que nos estava marcado, desde anos para trás. Mas desconhecido!
Angola foi tempo e espaço de ganho de novas e profundas amizades, que perduram no tempo, até 35 anos depois!, noivadas e casadas com o futuro que agora conhecemos e vivemos! E nada melhor que uma amizade sólida e solidária, que não pergunta porquê quando se tem de dar e afirmar em actos.
O Cruz, o furriel Cruz, é uma dessas singulares e sólidas amizades que a tropa em Angola «pariu» para o futuro de hoje. Mais velho um ano, era o nosso «mais velho». Vivido na capital Lisboa, sabia e tinha histórias que eu não poderia ter - ido de uma aldeia, ainda que povoação litoral (Ois da Ribeira, perto de Águeda). Histórias que partilhávamos em longas e bonacheiras conversas das tardes e noites quitexianas, depois carmonianas.
Alguma razão, de intimidades e afectos, nos levou a gozar as férias juntos - em Abril de 1975. Corremos Angola, aos abraços de familiares e amigos, por Luanda, Nova Lisboa, Benguela, Lobito, Alto Hama, Silva Porto, Gabela!
Lembro-te Cruz, o quando tomando banho no Hotel Bimbe, de minha familiar Cecília, notaste o ferimento que eu tinha na coxa direita. O teu susto preocupado, a querer saber o que tinha sido. Um ferimento de bala, a noite de 23 para 24 de Agosto anterior. E como te confortaste quando te disse que tinha sido agarrado o atirador - obra da audácia permanente e coragem sólida e sempre solidária do (alferes) Garcia!
Que esteve ele (o atirador) detido o Posto 5, que o cabo Florindo (enfermeiro do Cartaxo) mal se vira para arrancar a bala da coxa, comigo deitado na sombra de um imbondeiro imenso, na Baixa do Mungage, por imperícia provocadas pelos nervos. De como eu a tirei, eu mesminho, quando a carne quente já desmaiava de dor!
Aqui te deixo, Cruz, recordando este episódio, a graça de te ter como amigo!
- Furriel Cruz. António José Dias Cruz, furriel miliciano de rádio-transmissões. Natural de Cardigos (Mação), mas ao tempo radicado em Lisboa, como hoje.
- Cabo Florindo. José Manuel Nunes Florindo, 1º. cabo enfermeiro. Natural do Cartaxo, era pegador de touros.
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