Cine Moreno, em Carmona, mesmo em frente à
Rádio Clube do Uíge (em cima). O Marcos (em baixo)
A animosidade da população civil de Carmona para com os militares não foi de todo surpreendente, mas teve circunstâncias bem difíceis logo nos primeiros dias da chegada dos Cavaleiros do Norte - a 2 de Março de 1975. Pessoalmente, ainda hoje não entendo bem tal diferença, ou tal ódio!, e os dramáticos acontecimentos do primeiros dias de Junho (quando milhares deles foram salvos da morte, por mor da intervenção enérgica e corajosa da guarnição) menos me ajudam a compreender.
«As muitas quezílias entre a população civil e as NT», e cito o Livro da Unidade, "levaram à constituição de um serviço de PM nas ruas da cidade». E houve mesmo necessidade de «promulgar novas NEP», de modo a «garantir a melhor apresentação do pessoal militar» e, por este meio, e volto a citar o LU, «prever a resolução» de tais quezílias.
Não foi espantoso que, devido às minhas habilitações militares, fosse um dos furriéis milicianos escolhidos (ou nomeados) para a equipa de PM´s - que fiz muitas vezes, ora com o Almeida e o Francisco, ou o Marcos, o Hipólito, o Madaleno, talvez com outros.
Os primeiros dias foram muito, muito difíceis. Passávamos nas ruas da cidade e éramos insultados: cobardes, traidores e canalhas, era mínimos com que nos mimoseavam, entre cuspidelas para o chão (gesto ao tempo muito ofensivo) e outros palavrões do vernáculo popular.
Aqui, lembro o Marcos, sempre muito impulsivo e reactivo, por vezes difícil de controlar, como uma vez no Cinema Moreno - quando uns jovens civis «testaram» o seu estado civil, o baptizaram do que não era (até era solteiro) e a confrontação física esteve iminente. Dois deles foram levados ao BC12, onde prestaram contas e foram mandados embora.
- MARCOS. João Manuel Lopes Marcos, soldado atirador de cavalaria, do Pêgo (Abrantes).
- NEP. Normas de Execução Permanente.
- NT. Nossas Tropas.
- PM. Polícia Militar.
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