Hipólito, Monteiro, Almeida, e Vicente (em cima), Garcia,
Leal, Neto e Aurélio (Barbeiro) na caserna do PELREC, no Quitexe (1974)
Tinha palavra solta, o Aurélio! O Barbeiro!! Não a fechava, fosse por medo (que não tinha, de nada!) ou pelo que quer que fosse. Dir-se-ia, até, que era um pouco pró refilão, demasiado respondão para o feitio dos furriéis - que eram gente da mesma criação, da mesma idade, do mesmo ano, ele lá das barbas do Zêzere, nós (eu e o Neto) aqui pelas do Águeda e da pateira.
Porque era refilão, digamos assim..., estava sempre na mira de quem punha a braçadeira verde, de serviço. Ora porque chegava a destempo da formaturas, com a velha desculpa de estar no corte dos cabelos; ora, porque... sim! Um dia, quisemos (eu e o Neto) experimentar-lhe a paciência. E impedimos, por alguns minutos (poucos), que fosse rendido num serviço. Ui, ui, ui..., espumou o Aurélio, que deveria ter alguma contratada (e sabíamos nos qual era). Veio ele dizer, mal-disposto e chateado que nem um perú, que não podia fazer o serviço, que o compromisso dele era «ir fazer o cabelo ao capitão». Pois que fosse (e não era), que dissesse ele ao capitão que o tínhamos impedido de ir! Que até lá íamos com ele!
Não quis.
Minutos depois, de propósito, encontrámo-nos com ele, no Topete, onde, em grupo de amigos, estava a mastigar frango de churrasco carregado de piri-piri (ginguba, por lá assim se chamava) e a emborcar Cucas atrás de Cucas. «Então, ó barbeiro, já fez o cabelo ao capitão?», perguntei-lhe eu.
Que, sim senhora, tinha ido a casa dele, mas ele que o dispensara, por causa das dores nas cruzes, e que, por via disso, viera ali ao Topete. A filha do capitão, que era professora e mãe solteira, tal coisa viera dizer-lhe à porta. «Não querem comer?», perguntou ele, a desviar a conversa.
Sentámo-nos, eu e o Neto, comemos e bebemos, mais um frango e outro, uns dixotes e umas palavrões, olhem-me para aquela mulata, olhem pr´aquela, quando o Neto lhe diz: «Sabe, ó Barbeiro, você vai levar uma porrada. Mentiu, para se safar do serviço! O capitão não está nada em casa, está ali na varanda da messe».
O Barbeiro corou, ligeiramente, mas não se desfez: «Foi a filha que eu disse que disse, não foi o capitão».
Combinado, aproximou-se o Garcia, com a mesma lata: «Tenho de participar de ti. Mentiste...», disse-lhe. Aó, o Aurélio estremelicou. «Ó meu alferes, então... , mas!!!...».
O Garcia desmanchou-se e lá o pôs à vontade: «Para a próxima, também me convidas...». E fez-lhe entender que tinha sido alvo de uma brincadeira.
Não sei se estou certo, ó Barbeiro, mas isto não foi no dia dos teus 23 anos, a 23 de Fevereiro de 1975.
- GARCIA. António Manuel Garcia, alferes miliciano de operações especiais (Ranger´s). Faleceu a 2 de Novembro de 1979, vítima de acidente. Era de Pombal, Carrazeda de Ansiães.
- MONTEIRO. José Augusto Guedes Monteiro, furriel miliciano (Ranger´s). De Marco de Canaveses e residente em Paredes. Aposentado dos Transportes Colectivos do Porto e empresário.
- NETO. José Francisco Rodrigues Neto, furriel miliciano (Ranger´s). De Águeda, aposentado e empresário.
- ALMEIDA. Joaquim Figueiredo de Almeida, 1º. cabo atirador de cavalaria. Natural de Penamacor, faleceu a 28 de Fevereiro de 2009, vítima de doença.
- VICENTE. Jorge Luís Domingos Vicente, 1º. cabo atirador de cavalaria. Natural de Alcanena, faleceu a 21 de Janeiro de 1977, vítima de doença.
- HIPÓLITO. Augusto de Sousa Hipólito, 1º. cabo de reconhecimento e informação. Emigrante em França.
- LEAL. Manuel Leal da Silva, soldador atirador de cavalaria. De Pombal, faleceu a 18 de Junho de 2009, vítima de doença súbita.
- AURÉLIO. Aurélio da Conceição Godinho Júnior, o Barbeiro. Soldado atirador de cavalaria, de Pias (Ferreira do Zêzere). empresário comercial.
1 comentário:
Viegas:
Jinguba é amendoim. O tal picante,e que picante, é jindungo!
Já lá vão uns anitos,não é verdade?!
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