quinta-feira, 15 de março de 2012

1 204 - O dia da inspecção e da emboscada...



O PELREC, já em Angola. Alferes Garcia (o primeiro da direita, em pé) e 
furriéis Neto (o primeiro, da direita, em baixo) e Viegas (o sexto, da esquerda, de pé)


O PELREC estava preparadíssimo para o que desse e viesse da visita inspectiva de 15 de Março, mas nesse dia foi «colocado» como IN de outros pelotões e teria de «voar» sobre minas de armadilhas, com petardos e granadas a rebentaram no espaço e nos ouvidos da tropa que se preparava para a guerra de Angola.
Formados na parada do Destacamento, recebemos ordens do aspirante Garcia: «A ordem de operações é assim, assim e assado, têm de progredir por aqui e por acolá... Eu vou para tal parte!!!....». E pôs-se a andar.
Não nos disse, mas desconfiámos. Murmurou o Neto: «Vamos ser emboscados...». Também me parecia e chamámos os já 1º.s cabos, o Soares (o mais rebelde de todos...), o Ezequiel, o Albino, o Almeida (o mais velho de nós todos, mais dois anos...), o Pinto, o Vicente, todos chefes de equipa.
 «Vamos ser emboscados!!! Reage-se assim e assim, actua-se assado, atenção à voz de comando!!!...». E lá palavreámos a teoria parida da nossa prática instrutória de Lamego, com os tiques, os gritos, os golpes, os sinais, a forma de evoluir no terreno, os silêncios desses momentos, o olhar de lince que tudo tem de ver em redor e mais a frente e ao lado.
Lá fomos, pé sem tropeçar em arames e armadilhas, até que o Hipólito, de vista larga, desconfiou: «É acolá!...».
E era!
Era meio da manhã, já o pão barrado de manteiga se desfazia no estômago, e foi à frente o Neto, com mais dois ou três soldados. «Vamos mandar uma equipa, por ali e atacamos por acolá, tal e tal...», sugeriu ele. E assim foi. 
O grupo do Vicente fez de isca, mostrou-se e chamou atenções. O IN, a coçar a barriga na arriba da mata camuflada de muita vegetação, de arbustos e de sobreiros, esperava só que entrássemos na zona de fogo, que era um trilho muito estreito, rodeado de silvados e árvores dobradas, que faziam uma espécie túnel sobre quem por lá passasse. E era onde iríamos passar, onde seríamos massacrados. 
Só que o IN mordeu a isca e foi ele o atacado. Pelas costas e de lado, não teve por onde fugir e caiu no trilho que ele próprio tinha armadilhado. 
Pum, pum, pum, trã-tã-tã-tã-tã-tã-tã-tã..., o silvo das balas de instrução, o estourar das granadas ofensivas a encherem o trilho de poeirada, o ar a cheirar a pólvora seca e o IN apanhado com as calças na mão.
Ainda agora estou a ver o supremo gozo dos pelrec´s!, a delirar de prazer, pela partida pregada ao IN. De tal não gostou tanto o Garcia, que foi um dos emboscados e por uns dias gelou relações com os seus soldados. É que nunca acreditaram que eles não nos tivesse avisado. E não tinha.
- SOARES. Fernando Manuel Soares 1º. cabo, residente no Laranjeiro. O segundo, de bigode e do lado esquerdo da foto, em baixo.
- EZEQUIEL. Ezequiel Maria Silvestre, 1º. cabo, residente em Almada.
- ALBINO. Albino dos Anjos Ferreira. 1º. cabo, residente em Casal de Cambra.
- ALMEIDA. Joaquim Figueiredo de Almeida. 1º. cabo. já falecido, de Penamacor. O primeiro, em cima, do lado esquerdo.
- PINTO. João Augusto Rei Pinto,  1º. cabo, residente em Corroios (Seixal). O terceiro, a contar da direita, em cima.
- VICENTE. Jorge Luís Domingos Vicente, 1º. cabo. já falecido, de Alcanena. O primeiro da esquerda, em baixo, de bigode.
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