ANTÓNIO CASAL FONSECA
Texto
“Ó pá, preciso de falar contigo, aguenta aí um minuto”, gritei eu para o Domingos!
Falou ele:
«Pronto, já sei que me vais dizer para eu enviar uns textos para o blog do Viegas! Eu bem sei que devia, e até gostava muito, mas diz-me cá onde é que eu vou arranjar tempo para isso!?... Não consigo, pá, mesmo que eu queira! E até me custa, tás a ver…, tanto mais que o Viegas até é um gajo porreiro e merecia que eu colaborasse com ele! Mas quê, o dia só tem 24 horas, eu trabalho 26 e precisava de 30!!! E quem me trata das vinhas, quem vindima, quem faz o vinho?! E ainda por cima, vê lá tu, o melhor vinho da região…, do puro, do lavrador! E tudo sai das minhas mãos… estás a vê-las ?…, calejadas?! Eu não paro, sabes como é…, fui criado assim! Ah, tás para aí a rir…, tás?!..., então passa lá à minha adega que vais ver se não é assim como eu digo!
Ai se eu tivesse tempo!... Se eu tivesse tempo enviava textos e fotos lá para o Viegas, para toda aquela malta do 8423 ler. E olha que eu tinha, e tenho, cada história daqueles tempos, com malta fixe, malta do caraças, que nem calculas! Um dia até tive uma história com uns dentes de marfim que eram para o Jonas Savimbi! Atenção, dentes de elefante…, não eram para ele fazer implantes!... Um dia, quando tiver tempo, hei-de contar!
Tinha lá malta muito porreira, fossem oficiais, sargentos ou praças! Era uma família, mas atenção que eu era muito exigente…, sempre fui…, e comigo não havia baldas e irresponsabilidades! Ainda hoje sou assim! Eles podiam sempre contar comigo, mas em contrapartida eu também podia contar sempre com eles! Aí, deixa que te diga, tive sempre rapaziada à altura dos acontecimentos! Depois tivemos aquela passagem da zona de mato para a urbana, que não foi nada fácil. Mas o pessoal esteve sempre à altura, embora com momentos muito tensos. Tantas histórias haveria para contar dos tempos de Carmona! E olha que em algumas situações tivemos que ter um domínio do caraças!... E para falar de Carmona teria de falar do Menezes, que também era alferes…, aquele ali das Cortes que tem um restaurante!...aquele que descarregou uma vaca na Av. Principal de Leiria. Queria entrar com ela no café Soraya, lembraste do episódio?! Achava que ela tinha os mesmos direitos que as outras! Grande maluco!
Agora, nos conflitos internos, comigo qualquer tensão era desanuviada! Em segundos pá…, e á minha maneira…com uma graçola no momento! Como hoje…, sabes como é!
No almoço deste ano, ali no casarão, que até foi cinco estrelas, a malta fartou-se de desfiar episódios daqueles tempos! Lembro-me de tudo, esta cabecinha não falha nada…é um computador!
Olha pá, se eu me reformasse entretanto – vamos ver como param as modas neste país -, dedicava-me mais à internet para mandar uns bitaites e escrever umas coisas. A minha Companhia tem malta fixe, que até podia colaborar com o blog! Olha que seria bem interessante!
Quando contactares o Viegas, diz-lhe que a minha vida é assim! Aliás, ele sabe bem que eu sou um moiro de trabalho!…, encontrei-me muitas vezes com ele em Águeda quando eu andava por lá! Ainda sou dos que fazem alguma coisa por este país!!!... Diz -lhe que mando um abraço! Olha pá, tenho que me ir embora, porque é quase uma da manhã e ainda tenho que ir engarrafar vinho! Ah pois…estás ar admirado ?..., não tenho a tua vida…daqui a pouco estou a pé! Até amanhã!!!»
E lá foi o Domingos, ex-alferes de Aldeia Viçosa, um ícone na terra que o viu nascer, passo acelerado e ainda cheio de energia, como se o dia estivesse a raiar! E nem me deixou espaço para lhe dizer ao que ia, e que nada tinha a ver com a tropa nem com o blog. Ele é assim mesmo!
E sempre com um sorriso que dá gosto ver!!!
ANTÓNIO CASAL FONSECA
- DOMINGOS. Domingos Carvalho de Sousa, alferes miliciano atirador de cavalaria, da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa. Técnico comercial e empresário agrícola, em Marrazes (Leiria).
1 comentário:
Ora aquí está um homem que merece que o ajudem, nos textos é claro. Tambem merece que se faça umas provas de vinho. Eu disse provas não disse beber vinho. Caro Domingos não será que tem por aí um amigo com um gravador na mão? Um grava, o outro, você, conta as histórias e o amigo do gravador, se calhar já é reformado, transcreve as suas memórias... e nós ficamos a divertirmo-nos com a leitura das suas aventuras no passado! È uma sugestão que fica a cargo do amigo Casal.
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