A Luanda dos dias de Agosto de 1975 era de ferro e fogo e sucediam-se os «ataques» entre elementos dos movimentos. Os que tinham, ficado, depois da chamada Batalha de Luanda, a 9 de Julho - «ganha» pelo MPLA, que escorraçara a FNLA e a UNITA da capital.
A violência e insegurança alastravam pela cidade e não era raro os próprios militares portugueses serem alvo de intervenções menos ortodoxas. E começou a faltar comida. Cito o general Gonçalves Ribeiro, no seu livro «Vertigem da Descolonização»:
«A Cruz Vermelha Internacional já, desde fins de Junho de 1975, fazia distribuição de grandes quantidades de alimentos e também vestuário e medicamentos a habitantes dos musseques, a desalojados e a hospitais, socorrendo-se de pessoal voluntário que minha Mulher integrou, acompanhada de Luísa Cardoso, Teresa Almendra e Maria da Piedade Alves Cardoso, até à partida para Lisboa.
A população portuguesa vivendo, como a esmagadora maioria dos angolanos, num meio de insuportável violência e de todos os desmandos que lhe estavam associados, passou também a sentir carências de toda a ordem até ao limite da falta de alimentos. Com o quotidiano devastado, refeições esporádicas e esperanças anuladas, aquela comunidade começou a sentir-se enclausurada, em especial nas terras do interior, e deu início a um movimento sem retorno quer para Luanda, na procura de avião ou barco, quer para fora de Angola».
Estes sentimentos eram manifestados por amigos nossos, civis. E nós próprios, militares, sentimos os perigos da insegurança urbana e a escassez de alimentos. Nesta altura, e já desde Carmona, corria por nossa conta (sargentos e oficiais) a alimentação - ainda que abonada. Não houve restaurante que não corressemos, em Luanda, á procura de almoço ou jantar.
Um dos locais preferidos era a Portugália, restaurante da baixa de Luanda, ao lado do Jornal de Angola. Na zona havia outros locais de «culto» da tropa: o Paris Versailles, Pólo Norte, Amazonas, Baleizão, a Biker, a Mutamba, entre outros.
2 comentários:
Como é bom falar destes nomes todos Portugália, Mutamba, ai ai ai ... não há lenço que chegue. Mais uma aventura da CCS em terras africanas. Estavamos no Grafanil quando num belo fim de tarde apareceu na caserna da rapaziada da CCS/Bcav 8423 um condutor(?) e disse alto e em bom som; malta quem quizer ir a Viana jantar venha comigo. Muitos de nós ficamos a pensar; onde será que ele nos leva? Foram apenas alguns muitos outros ficaram pensativos e com receio, eu fui um deles. No outro dia, tambem alinhei. O transporte era feito por um "belo" autocarro, ao qual já não estavamos habituados por causa dos bancos e suspenção, mas sem luzes. "Tudo ao molho e fé em Deus". À entrada de Viana havia umas bombas de gasolina que tambem era restaurante. Não iamos mais longe, era mesmo ali que matavamos a fome, pois o rancho era quase impossivel. Era comida liofilizada, chamavam eles, ou seja era preciso por de molho todos os condimentos para crescerem no tacho. Ainda se lembram?
A Portugália era ao tempo de 1967/69 chamada de sexta secção militar por analogia com as cinco que realmente existiam. Quando se perguntava por alguém militar, a resposta era: provavelmente está na sexta secção.
Provavelmente, digo eu, era talvez a cervejaria mais frequentada nesse tempo pelos militares que ali à volta tinham quase todos os locais para passar o tempo ou de utilidade como era o caso dos correios.
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