sábado, 27 de agosto de 2011

Os medos do Verão de 1975 em Luanda

Entrada do Campo Militar do Grafanil (foto de Jorge Oliveira)


Os últimos dias do Grafanil, campo militar nos arredores de Luanda, foram tudo menos normais. A guarnição dos Cavaleiros do Norte, a dias da data do regresso a Lisboa, fazia pela vida, sem actividade operacional mas todos os dias dando de cara com incidentes que iam roubando a tranquilidade de quem, indo no 15º. mês de comissão, o mais que queria era que chegasse o dia 8 de Setembro.
As comissões tinha sido reduzidas para este tempo, tendo em conta «as necessidades de responder aos compromissos tomados com os movimentos de libertação, no referente aos efectivos militares a estacionar em Angola», como se lê no Livro da Unidade. Por mim, fora dos compromissos que tinha de concretizar no BCAV. 8423, nas instalações do então já deslocado Batalhão de Intendência de Angola, no Grafanil, cirandava pela cidade de Luanda, essencialmente visitando conterrâneos que por ali se interrogavam quanto ao futuro próximo, entre a dúvida de ficar ou voltar para o «puto». 
O pequeno Daihatsu da FRAL (do Neto) era o transporte privilegiado e desses dias recordo uma azelhice automobilística minha, quando, ao volante do «mini», me aventurei na baixa da cidade e entrei em sentido proibido na rua da Portugália. Imaginem o «susto» do jovem furriel, encartado fazia poucos meses (de Carmona), quando se viu com todos os carros a «andarem ao contrário» e com o sinaleiro a apitar, a apitar... Que vergonha! E que medo!!! 
Ou, bem mais dramático, quando, no bairro de S. Paulo, fui interpelado por uma patrulha de independentistas, armados até aos dentes e que teimosamente não me queriam deixar passar, em pleno dia. Não foi fácil! Foi problemático. Tive medo!!!!
Notícias de Lisboa, via rádio, davam conta das labaredas revolucionárias que atropelavam a então chamada metrópole.
A 27 de Agosto (hoje se completam 36 anos), a Frente de Unidade Revolucionária (FUR), um dos muitos movimentos/partidos nascidos da revolução, promoveu, junto ao Palácio de Belém, uma grande manifestação de apoio a Vasco Gonçalves e a Costa Gomes. Ambos receberam os manifestantes com discursos mais uma vez com notórias diferenças de tom e de conteúdo. O Alberto Ferreira, cabo especialista da Força Aérea, já regressado a Águeda, dava-me conta do clima de pré-guerra civil que se vivia em Portugal. Era o verão Quente de 1975!




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