ANTÓNIO FONSECA
Texto
Domingo, dia 6 de Agosto de 1972, foi dia de (quase) todos comparecermos na eucaristia dominical na Igreja do Quitexe. Não porque se tratasse de um dia especial mas, sim, porque o nosso capelão, o tenente Roque, nos pediu que não faltássemos. O certo é que a igreja se encheu, o que deve ter surpreendido o padre Albino, não muito habituado a ver tanta tropa junta na casa de Deus.
Era impossível resistir ao apelo do nosso tenente, pessoa por quem sempre tivemos uma grande estima e, tal como fez o padre Albino, dava conselhos a uns e outros, principalmente aos que sempre cumpriram o seus deveres de católicos do outro lado do Atlântico e temiam perder o “hábito”! É que ali era diferente e alguns sentiam-se perdidos e até receosos de não conseguirem cumprir à risca os mandamentos por que tanto zelavam nas aldeias, vilas e cidades da sua proveniência.
Quem realmente tinha fé e fazia questão de comparecer às missas dominicais, quase sempre arranjava maneira de não faltar. Muitos me impressionaram pela sua persistência, principalmente os meus colegas de transmissões, o Capela e o Nunes. O primeiro, não perdia uma oportunidade para me chamar à atenção sempre que eu faltava, quase desfiando o rosário de todos os mandamentos e as consequências para os não cumpridores; o segundo, já casado e pai, demonstrava em actos e palavras uma formação pessoal e católica acima da média. Contido e sempre senhor das suas convicções, chegava a irritar alguns com a sua educação. Nunca se lhe ouviu um palavrão e corava sempre que ouvia um mais ousado, o que lhe terá causado o rubor das faces milhares de vezes.
Voltando ao capelão Roque, com quem conversei e ri, não muitas mas algumas vezes, lembro-o como militar e sacerdote, mas principalmente como Homem que nos cumprimentava sempre com a sua mão madura, sempre disposto a dar o seu conselho fiável. A alguns, serviu de ombro em momentos mais difíceis, sem reclamações e demonstrando sempre o porquê da sua presença no batalhão. Fez parte do percurso das nossas vidas em terras do Quitexe e em boa hora se atravessou nos nossos destinos.
Foi este Homem que nos solicitou que ouvíssemos a missa no Quitexe, e ainda hoje estou convencido que o fez, também, para causar boa impressão ao padre Albino. A solicitação foi feita individualmente, em conversa com todos os que com ele se cruzaram nas (poucas) artérias da vila e até nos bares do Topete ou do Pacheco.
Aquando da organização do 1º. encontro, em 1990, envidei esforços para o reencontrar, mas as frágeis tecnologias de então não mo permitiram. Em passeio, calcorreei a terra e a paróquia onde exercia, mas desconhecendo-o. No Funchal, talvez até tenha passado pela rua que, desde 2009, tem o seu nome. São as voltas da vida!
Faleceu a 01/9/2006, aos 62 anos, e sei que deixou uma obra impressionante. Assim é relatado por quem com ele privou nos últimos anos de vida, testemunhos que me encheram de orgulho. E de muita saudade, devo-o dizer! Como obra, deixou em todos os que com ele partilharam terras quitexanas, principalmente os que a ele, por razões distintas recorreram. Até um dia, meu Tenente!
ANTÓNIO CASAL FONSECA
- ROQUE. Padre Manuel Romão Roque Aveiro, era pároco nas Comunidades Paroquiais da Ribeira Grande e Piquinho (Machico), quando faleceu, a 1 de Setembro de 2006, aos 62 anos.
1 comentário:
O Batalhão de Cavalaria 1917 que pelo Quitexe estagiou entre 1967 e 1969 teve o previlégio, sim o previlégio, de ter um capelão o Padre Sanches Pires que por tudo o que se lhe conhece foi e continua a ser uma pessoa invulgar. Dotado de uma suprema sabedoria para lidar com as pessoas e as ocasiões. É o nosso grande animador dos convívios anuais. Pequeno na estatura mas muito grande em sabedoria. Em Castelo Branco gere o grande complexo escolar " O Raposinho" com cerca de 300 alunos e mais de 60 colaboradores.Nunca faltou a um dos nossos convívios.
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