segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A indústria dos caixotes dos retornados...

Bichas para compra de bilhetes de avião e...

...caixotes com bens dos (chamados) retornados

Os últimos dias de Agosto de 1975, em Luanda, à mistura com os permanentes incidentes da cidade, foram convividos com uma florececente indústria: a de construção de caixotes. Os caixotes em que a comunidade europeia foi arrecadando tanto quanto podia, para mandar para a (chamada) metrópole.
Qualquer canto e qualquer esquina serviam para, o melhor que podiam, os cidadãos fabricarem os ditos caixotes e neles colocarem bens não perecíveis: mobílias, roupas, máquinas, eu sei lá..., tanta coisa. Até motorizadas, moto-serras e sei mesmo de um caso, meio caricato, do envio de uma...urna. Exactamente, um caixão funerário.
O êxodo das populações civis, nomeadamente as europeias, assumiu pelo mês de Agosto de 1975 adentro, dimensões enormes e o aeroporto de Luanda era «acampamento» permanente de milhares de pessoas à espera de uma «boleia» para Lisboa. Carregavam malas, caixas, caixotes e embrulhos de toda a forma, o mais que podiam. Eram principalmente mulheres e crianças. Os homens, julgo saber, não abandonavam seus bens imóveis e procuravam mandar a família para a Europa. Em segurança. Ou para o Brasil, soube depois. Na cidade, faziam-se bichas intermináveis, nas agências de viagens, para se tentar comprar o bilhete para Lisboa.
Eram vulgares os assaltos a casas e de rua. Escasseava a alimentação. Luanda era pólvora permanente e nós, os Cavaleiros do Norte, com data de regresso a Lisboa marcado para 8 de Setembro, no navio «Niassa». Afinal, víríamos de avião.

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