sábado, 22 de outubro de 2011

1 042 - Sem disparos de armas mas com rajadas de palavras

Praia da Ilha de Luanda, em Setembro de 1974

A guerra angolana não me «fez» disparar tiros, para além dos de treino. Ou os de instrução, na carreira de dito do BC12, ao que era para ser (e nunca foi) o Exército de Angola, que seria formado por elementos dos  movimentos independentistas: MPLA, FNLA e UNITA.
Operações militares, escoltas, patrulhas apeadas ou motorizadas, em nenhuma situação disparei - embora tal fosse iminente, por mais de uma vez. Mas nem sequer tal aconteceu nos dramáticos primeiros dias de Junho de 1975, em Carmona.
Disparei, isso sim, foram muitas palavras, às rajadas e em centenas e centenas de cartas e aerogramas, ora no meu ofício pessoal, ora dando mão (e letra) a companheiros que tal queriam. E mantive um registo pessoal regular, que não diário, sobre as minhas «aventuras» angolanas. Algumas delas, até no requinte da dactilografia, em papel de cera (um luxo!!!,...), como o nº. 4 de uma série que chamei de "Sou Apenas Um Homem», na qual ia narrando algumas coisas provocadas pelos desejos da idade, ou pela vontade de debitar emoções no papel.
A 20 de Outubro de 1974 (como se vê no final deste dizer de hoje), no por mim pomposamente denominado Solar dos Rangers, no Quitexe, escrevia eu (entre outros preparos de que vou dispensar o leitor) que tinha andado a laurear o queijo por Luanda, onde me sentira «sozinho na cidade grande».
Há na história uma Salomé («sempre faminta de jogos lúbricos!!!...») e uma Mariluz (de «corpo esguio e moreno, de olhos grandes, que abria apetites e suscitava sonhos...») e conto eu (em «Sou apenas Um Homem» - parte 4) que se esquivou esta aos meus desejos, mesmo já quando «entre nós nascera uma doce intimidade».
Por outras palavras, levei com os pés. Até quando «andámos alguns dias, como duas crianças, brincando na Praia do Bispo ou na ilha, e mirando o mar calmo, por onde navegavam traineiras e se se confundia o infinito do firmamento com o beijar das águas azuis da costa do Mussúlo».
Quanto ao resto, fico por aqui. Estava em vésperas de fazer 22 anos.
- ASSINATURA. A minha letra da altura, no
final do texto de 4 páginas, do nº. 4 da Série
"Sou Apenas Um Homem». A narração refere-se
às minhas férias de Setembro anterior.
- SOLAR DOS RANGER´S. O quarto dos furriéis
Neto e Viegas, de Operações Especiais (Rangers).
- NOMES. São fictícios, mesmo no original.

2 comentários:

rodrigues disse...

existem relatos, que não devem ser publicados,um dia se o houver, vais ficar com notas, do que o cano da G-3 fez por essas paragens, tudo em minha defesa e dos Camaradas.Não foram tiros de instrução.

Anónimo disse...

Tão bonitinho o Menino nos Luandas. Que rica vida.
Ni Neto