Sanzala do Talabanza, mesmo à saída do Quitexe, na estrada para Carmona
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ANTÓNIO CASAL DA FONSECA
Texto
«O rescaldo da festa de fim de ano, no Quitexe, não foi assim tão sereno como tu contas!..., estás esquecido ou fazes-te?!», quase me acusa o Franco, à mesa, em almoço de há uma semana!
E lá me falou do Gonçalves, entre outros, e de excessos que aqui não ouso referir! E protagonizados por malta toda certinha, de ar angelical e incapaz de partir um prato!
Por estes pecadilhos, concluo eu, há malta que nos almoços anuais se remete a silêncios quase sepulcrais, ou pura e simplesmente se faz de desentendida! Ai os gajos!...
O Gonçalves, que não era visto desde o dia 31, e até já faltara a um serviço, começava a causar muita preocupação - era o epicentro de quase todas as grandes confusões geradas na Companhia.
Foi dada ordem para se passar a pente fino a sanzala Talabanza, à saída para Carmona, onde algumas vezes, ou quase sempre, pernoitava e até participava em rituais estranhos, sempre acompanhados de grandes quantidades de marufo e outras misturas explosivas! Um estilo de vida que o definhava, a olhos vistos, mas sempre com reparos de quem se preocupava com ele, embora pouco pudesse fazer.
Apesar dos constrangimentos causados pelas buscas, que alguns moradores não aceitaram de bom grado, a operação acabaria por dar os seus frutos.
Finalmente, o Gonçalves tinha sido encontrado – como se não se soubesse onde “morava”! - e arrancado à força dos braços da sua “negrinha”, como docemente lhe chamava. À força, não porque oferecesse resistência mas porque tinha os músculos presos, coisa por nós nunca vista.
Pelo que se contou, e ainda conta, a rapariguinha poderá mesmo ter passado a noite presa aos braços quase inertes e adormecidos do Gonçalves! O que terá sido uma decepção, imagino!
Ao certo, ninguém sabe que drogas (chamemos-lhe assim...) terá ingerido, mas que por pouco não se passou para o outro lado, é uma verdade!
Mas não havia nada a fazer, o Gonçalves era assim mesmo! Sempre alegre, vivia com demasiada intensidade, talvez demasiado depressa, mas sempre descurando as inevitáveis consequências. Quem o conhecia de perto e convivia com ele, conhecia-lhe bem os excessos. Nem as ameaças de uma transferência para outras zonas de Angola ou para o interior dos “arames de Zalala”, como ao tempo se dizia na gíria, alteraram o seu comportamento!
«A primeira quinzena do ano foi quase toda “à Benfica”!, lembra o Franco, que não os cumpriu os castigos…, porque os pagou!
«E bem caros pá, naquele tempo a 50$00, e 100$00 ao fim de semana!...», acrescentou!
Tiraram vantagem os mais cumpridores, claro, isentados que ficaram das escalas de serviço.
Enfim, eram as primeiras festas natalícias passadas longe da família e amigos, aos 21/22 anos de idade! Que se havia de fazer?!
A CASAL DA FONSECA
BCAÇ. 3879
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