quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Saudades do alferes Garcia...

Alferes Garcia, em cima, com Ricardo Cruz (filho do alferes Cruz) ao colo,
na varanda do edifício do comando do BC12, em Carmona

ANTÓNIO A. CRUZ *
Texto
Regressado de férias, ocupei-me a ler o site sobre o nosso passado de combatentes. E não posso, a quente, deixar de dizer aquilo que neste momento me vai na alma. Antes de mais, Viegas, as minhas mais sinceras felicitações e agradecimento pela excelente ideia e iniciativa.
Pertenci ao pelotão-auto, uma parte de um todo coeso e disciplinado que era o nosso Batalhão de Cavalaria 8423. Honra seja feita ao Comandante Almeida e Brito, que nos soube incutir, com mais ou menos sacrifícios, a dignidade, a disciplina e o companheirismo que sempre nos guiaram e nos permitiram regressar de cabeça levantada e com o sentido do dever cumprido.
Fiz grandes amigos em Angola. Na força da juventude, na adversidade e isolamento, desenvolvem-se laços de amizade que noutras condições seriam muito difíceis. Eu e minha esposa Margarida, que sempre me acompanhou, fizemos amigos que nunca esqueceremos e com alguns dos quais mantivemos - e mantemos - uma grande e verdadeira amizade.
Vou hoje recordar um dos mais próximos, que infelizmente já não se encontra entre nós e com quem a nossa amizade e convívio se manteve para além do ultramar.
O António Garcia, o alferes Garcia!! Valente, corajoso, amigo com quem todos podíamos contar, bem disposto e atento a tudo e todos, recordo-o a brincar com o meu filho Ricardo e, com grande brio e coragem, à frente do seu pelotão, à porta da messe de oficiais, disposto a fazer frente aos sublevados da companhia do Liberato.
Recordo as nossas idas às companhias de Vila Viçosa, Zalala, Santa Isabel e fazenda Vamba. Eu e os meus homens com a missão do controle de armas e viaturas, ele com os seus «pelrec´s» a zelarem pela nossa segurança.
Encontrámo-nos cá várias vezes, ou sempre que podíamos, e era com tanta paixão que falávamos de África que as nossas esposas se repetiam: «Vocês não sabem falar de outra coisa?...».
Fui com o José Alberto Alegria (o alferes Almeida) ao seu casamento, a Carrazeda de Ansiães, onde fomos recebidos de braços abertos. Penso que houve foguetes. O Garcia era mesmo assim. Com ele, a amizade tinha de ser sentida e vivida.
Mais tarde, estando a Margarida, como médica, a fazer o serviço à periferia em Carrazeda e não havendo facilidade de hospedagem, o Garcia e a Olga, sua esposa, não descansaram enquanto não dispusemos da casa de um familiar em Pombal de Ansiães. Que terra, que gente, que comezainas e felizes momentos passamos com ele e seus familiares e amigos.
De um momento para o outro, o jornal de todos os dias, friamente, trouxe a triste notícia da sua morte e fez-se o vazio. O Garcia morreu de acidente, em serviço - ao serviço dos outros como gostava de estar.
Jamais o esquecerei.
ANTÓNIO ALBANO CRUZ
- ANTÓNIO A. CRUZ. António Albano de Araújo Sousa Cruz, alferes miliciano mecânico. É engenheiro mecânico e é natural e reside em Santo Tirso.
- NOTA PESSOAL: Fui um dos homens que actuou sob o comando do Alferes Garcia. Já aqui, neste blogue, lhe prestei continência de saudade, de respeito e de homenagem! Fui um dos que, do PELREC, perfilou armas em frente à messe de oficiais do Quitexe para (irmos) fazer frente aos sublevados do Liberato! Foram momentos de grande tensão, de mil pensamentos a voar, de cá para lá, por todo o lado e para todos nomes e para toda a gente. Quero que se saiba que, debaixo do comando do alferes Garcia, nunca houve um passo atrás, um medo que nos fragilizasse, algo ou alguém que nos acobardasse. O PELREC sentia-se sempre maior, sob o comando do Garcia. Saudades, amigo!!! Sei que tenho procuração de todos nós, para te lembrar aqui!E sempre! - CV

2 comentários:

Anónimo disse...

Olhó Alferes Cruz!

Marta Garcia Tracana disse...

Conheço a fotografia do meu pai com o seu filho ao colo do álbum dele, sagradamente guardado em casa da minha mamã Olga.
É com imensa alegria que leio estas mensagens lindas sobre ele, mais uma peça do puzzle sobre a vida dele que, como deve compreender, desconheço totalmente. Um abraço da filha do Garcia, Marta.