Casal e Mário no Quitexe, antes de uma revista às tropas
A revista às tropas, na CCS, era sempre motivo de preocupação. Não havia alferes, furriel ou praça que não fosse passado a pente fino! Farda, barba, cabelos, patilhas, etc., tudo teria de estar um brinco, não havendo margem para qualquer descuido.
Assim foi feito!
A foto foi tirada quando se fazia um compasso de espera pelo capitão, que viria acompanhado do oficial, sargento e cabo dia. Talvez viesse também o comandante, que era de poucas falas e deixava alguns a suar, só de os olhar! Nunca percebi bem porquê, mas era assim mesmo!
Satisfeito e convencido estava eu, a conversar com o Mário, o voluntário, fazendo fé na minha apresentação - bem escanhoado, roupa engomadíssima e sapatos a brilhar de graxa!
«Com tantos cuidados ainda levas um louvor…ou então ainda te f…., que é o mais certo!», gracejava o Mário, que se achava desobrigado da revista por estar de baixa!
Por volta das 11 horas, finalmente a revista! Sem o comandante, mas com o capitão bem áspero e a remexer tudo o que havia nos quartos, na esperança de pegar fosse pelo que fosse! E pegou mesmo! Começou logo pelo Nunes, alegando que não tinha feito a barba! Mas o Nunes tinha lá alguma barba?! Tinha apenas meia dúzia de pêlos no queixo e outros tantos no lugar de bigode, a que no dia-a-dia não dava valor! Pois é, mas eles realmente estavam lá a “rir-se” para o capitão!
O Mário, contente por estar isentado, levou uma ripada por três razões: por usar bigode sem autorização, andar de calções armado em havaiano e não estar fardado como se impunha! Estava de baixa, mas continuava militar!
Mas eu estava confiante, parecia o espelho da nação! Enganei-me, fui traído pelas mangas demasiado arregaçadas!´
«Você pensa que está na praia?!», questionava-me o capitão!
Até o Pinto, tão certinho, viria a ouvir uma piada por causa da foto da namorada!
«Ouça cá, o que é que ela está aqui a fazer ao pé da cama? Tem medo de dormir sozinho, tem?!, também a leva p’rá mata?!».
Fez-se o Pinto vermelho e gago, sem saber onde havia de se meter, e a engolir a saliva que já não tinha!
O Zé foi o último a ser confrontado com a revista minuciosa. Uma revista que, por razões várias, ultrapassou alguns limites e originou uma situação grave, das que nos deixam as pernas a tremer, de tão insólita, brusca e desconcertante! Dela falarei oportunamente.
Passada a revista, foi chamado o furriel de transmissões afim de mostrar a escala de serviço do seu pessoal, não tivesse algum trocado o serviço para dar corda às botas para Carmona, logo que terminasse a revista, o que não aconteceu!
O que encolerizou ainda mais o capitão!
Soube-se que a revista daquele dia tinha sido arrasadora, o que causou até algum mal-estar entre os oficiais e sargentos, “punidos”, veio a saber-se, com aparadelas de patilhas e cortes de cabelo. Para não dar nas vistas, soube-se também, foi-lhes concedida uma semana para regularizarem a sua apresentação! Os praças, como sempre, fizeram fila à porta da barbearia, para que todos vissem quem eram os incumpridores! Assim o disse o capitão, no seu tom pausado mas implacável, como era seu apanágio sempre que a vida lhe era madrasta! E como lhe estava a ser madrasta! Por sua exclusiva culpa…ou dos seus ímpetos!..., e mais não digo!!!
O comandante não terá ficado nada agradado com os resultados da revista, tendo estes sido amaciados e contornados com alguma frases e gargalhadas de ironia num seio restrito de oficiais! Soube eu, por acaso e recentemente, em amena conversa que lembrou factos de há 37/38/39 anos! Apesar de tudo, bons tempos, num tempo em que o cabedal aguentava tudo! Ou quase!
ANTÓNIO CASAL FONSECA
2 comentários:
Lembro-me das porradas pelo cabelo grande que eu usava..O A:Brito ia aos arames comigo...Tempos!!!
Manuel Pinto
Parabens e muitas felicidades grande ranger do 8423.
há 24 minutos
Ni Neto
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