segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A véspera do dia 13 de Outubro de 1974 no Quitexe

Parada da CCS do BCAV. 8423, no Quitexe, vista da capela, antes de 1974



Hoje, há 35 anos, também era obviamente véspera de Fátima. E todos se lembram das idas a Fátima a pé, cumprindo promessas que nos protegeriam dos perigos da guerra ultramarina. Havia algo de mais que fé nesse sacrifício físico que, de alguma maneira, nos aconchegava emoções psicológicas, na crente protecção divina que receberíamos. Talvez algo de esotérico.
Por mim, que sou católico, fiz questão de esclarecer minha mãe - que ao tempo era recém-viúva - para não assumir em nome de terceiros os dogmas da sua fé, por todo o amor que tivesse ao filho que partia para a guerra. Custou-lhe, eu sei, mas aceitou.
Vem isto ao caso por, faz hoje precisamente 35 anos, terem acontecido duas coisas por mim interessantes: recebi um aerograma de minha mãe, lembrando-me os seus terços de oração a Nossa Senhora de Fátima, para que tudo me corresse bem; e soube, por vias travessas e dentro do BCAV. 8423, que estava iminente o acordo de cessar fogo em Angola. O que confirmava uma informação lateral, de um militar familiar de pessoa amiga, que estava no QG, em Luanda.
Tive algum receio em comentar o assunto com os meus pares habituais e calei-o. Mas deu-se o caso de passar por mim o comandante Almeida e Brito, a quem inopinadamente pergunta sobre tal iminência. Olhou-me, de ar grave e severo, como quem está a pensar que «este gajo é maluco..» ou, então, «sabe mais do que deveria saber!...». E seguiu em frente, a bater o pingalim na calça verde da farda nº.1.
Seguir em frente, ele seguiu, mas não demoraram minutos até que pressurosamente fosse chamado ao seu gabinete.
«O que é que fazes na vida civil?...». Lá lhe respondi. «E para além disso?!...». Igualmente respondi. Mandou-me embora e logo me voltou a chamar, para me dizer só uma coisa: «Não falas nada disto!...». Assim fiz, mas, sem querer, confirmou-me ele o que eu queria saber, que ia haver cesssar fogo! E mostrou-me uma ficha, onde constava o meu nome com indicações de um trabalho meu, que tinha a ver com os Serviços Florestais das Talhadas, aqui ao lado de Águeda.

Vendo que o problema da floresta das Talhadas e Águeda ainda continua por resolver a contento popular, não deixa de ser irónico recuar estes 35 anos.

4 comentários:

QUITEXANO disse...

Caro Viegas, não te sabia tão católico e felicito-te pela elevada qualidade dos textos com que todos os dias nos vens lembrando os tempos do Quitexe. Por onde é que andavas nesse tempo, que nem colaborava no jornal do batalhão, ou colaboravas... Gostei muito particularmente desta explicação obre as idas a Fátima a pé. Assim visto,tem outro significado, mas era certo que as nossas mães e namoradas tinham de fazer essas promessas, era assim naquele tempo e ainda hoje vimos muita gente a pé nas estradas a caminhar para Fátima e a pagar promessas.

CAVALEIRO disse...

E pergunto eu, ó Viegas, o que fazias tu andes de ir para a tropa? andavas na política, ou quê... já que respondeste ao comandante também podes explicar agora.

Anónimo disse...

A exposição enviada em 1971 era acutilante, para não dizer forte e feia para a época! O lápis vermelho é que não esteve com meias medidas! Tudo aquilo era registado meu caro! Havia minas na picada...e no quartel!
Depois, lá vinham aquelas perguntas "ingénuas" de algibeira ao virar da messe ou de outra qualquer esquina!
Pelo que li, tudo ficou resolvido a 4 fevereiro de 74, mas pelos vistos, não a contento popular!

A. Casal

QUITEXANO disse...

Parece que já havia escutas naquele tempo, ao que parece. Mas faço mima a pergunta do Cavaleiro: qual era a tua actividade antes de ires para a tropa, ó Viegas?