sábado, 24 de outubro de 2009

Os homens que gritavam pelo Neto e com armas na mão

Neto e Viegas, dois furriéis do Quitexe, com a aldeia Canzenda ao fundo.
O apelido Neto foi vulgarmente «confundido», por quem o supunha familiar
do presidente do MPLA (Agostinho Neto)



Os últimos dias de Outubro foram de algumas tensões na zona de acção do BCAV. 8423. Em particular, na zona administrativa do Quitexe.
Algumas vezes se tem discutido sobre qual a actividade mais perigosa: se a da guerrilha que se desenvolvia na mata, se a urbana. O BCAV. 8423 viveu as duas! A de mato com graus de intensidade que não se compararão aos dramáticos primeiros anos da guerra colonial, mas, como se costuma dizer, cada um sente as suas dores.
Nós sentimos as nossas e os últimos dias de Outubro de 1974 foram disso exemplo. Foram os de complicados patrulhamentos no asfalto e o desarmamento das milícias, como já aqui foi dito. Desarmamento muito mal aceite pelos povos, nomeadamente os das jurisdições administrativas do Quitexe e Aldeia Viçosa - que viam nos milícias a sua defesa a eventuais ataques. Não que se acreditasse muito na sua eficácia, bem pelo contrário - havia até a ideia de uma certa promisquidade com o chamado IN. Mas havia sensibilidades muito específicas pelo meio, medos de vinganças e de algumas delas se soube. E a tropa, valha a verdade, não chegava a todo o lado. E onde chegava, nem tudo corria bem!
Por esta altura, o PELREC foi várias vezes chamado a intervir e quase sempre acontecia um problema: confundia-se o apelido Neto, o furriel, com Agostinho Neto, o líder do MPLA. E a zona era da FNLA. Valia-lhe, e valia-nos, a cor do Neto furriel para desfazer dúvidas. Como a de um destes dias finais de Outubro de 1974, no Tabi (ou no Caunda?), quando a meio da tarde regressávamos de uma missão na Quimucanda, com paragem na fazenda Pumbassai. Fomos intimidados por um grupo armado, que se aprestava a roubar as armas aos milícias da aldeia - antecipando-se ao desarmamento. Digo-vos que não foi fácil!!
«Esnéeeneto, Esnéeeneto, Esnéeeeto!!!...», gritavam.
O que supôs, inicialmente, ser uma exultação pacífica, rapidamente se percebeu ser inamistosa e recordo a prontidão do cabo Vicente, a encostar a G3 a um dito IN. E nem vou narrar a escaramuça, que foi tão rápida quanto perigosa.
«Nunca mais é Novembro!...», disse-me o Neto, nessa noite, enquanto devorávamos um bife com ovo a cavalo, no restaurante do Pacheco.
O Neto vinha de férias dias depois...
- PELREC. Pelotão de Reconhecimento, Serviço e Informação, da CCS. É aqui muitas vezes referido, por eu próprio o integrar e, naturalmente, o conhecer melhor que qualquer outro. As sucessivas referências não diminuem, em nada, a capacidade operacional, a aptidão e o garbo militar de qualquer outro pelotão do BCAV. 8423. Todos iguais, porventura melhores que o PELREC.

1 comentário:

Anónimo disse...

Brava gente e sem complexos de qualquer ordem...