segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O desmantelamento dos Grupos Especiais (GE) do Quitexe


Está a fazer anos, hoje mesmo: 19 de Outubro de 2009! 35 anos! O capitão Falcão, no seu jeito tranquilo de falar e com as precauções devidas, deu-nos indicação de um passo próximo: a desmantelação dos Grupos Especiais, os GE.
A CCS tinha dois e, recuando a Junho de 1974, recordo que a minha primeira operação militar em plena mata, pela serra de Quimbinda fora, foi precisamente com eles. Foi duro! A cada passo acelerado deles, tinha eu (único branco entre mais de 30 homens) de puxar toda a minha competência física e militar, adestrada nos Ranger´s, em Lamego, para não dar parte de fraco. Ao segundo dia de três, pelo tudo e pelo nada, lancei um desafio ao Chefe do GE: «Quem ficar para trás...». O tom era de ameaça e não digo o resto! Até ao final da operação, até quando fomos recolhidos pelo pelotão de Morteiros, ainda hoje acredito que, com essa coragem que escondia medo, ganhei o respeito do grupo.
A data de hoje assinala, vinha eu a dizer, o anúncio do desmantelamento dos GE. Que era preciso falar com os chefes, indagar da sua sensibilidade para esse facto. Sugerir-lhes comportamentos e ouvir-lhes a reacção, que a situação era delicada. Era a de homens que, de arma na mão, estariam do lado do Exército Português. E que iriam ficar desarmados. O mesmo iria acontecer aos milicianos que defendiam os aldeamentos.
Talvez hoje ninguém se lembre dessa gente! Mas eu lembro-me dos olhos de medo, com que ouviram os sussurros com que, quase em segredo, lhes segredámos o futuro próximo. Não sei bem porquê, mas ocorre-me o que aconteceu aos Comandos da Guiné. E também que em Julho de 1975 encontrei em Luanda um desses Chefes GE, agora como capitão e a exibir-me na Avenida D. João II, o lustro dos galões! «Agora, eu escomanda muitos home, esfurrié!...». Fomos à messe de sargentos beber umas cervejas!

1 comentário:

Tomas disse...

Lembro-me de um dia, seriam talvez 7 e qualquer coisa da manhã, quando sai da oficina "residência" para tomar o pequeno almoço no rancho geral. Foi quando subi a estrada que ligava Carmona a Luanda e quase em frente ao cinema, estou a falar do Quitexe, vi uma figura alta e todo atlético dizer alto e bom som, e com muitos copos à mistura; nosso cabo a guerra acabou e dando-me um abraço, de se tirar o chapeu, naquele momento parece que me tinha partido alguma costela. O João, creio ser esse o nome, naquele dia estava muito feliz, era chefe de grupo. Tudo isto aconteceu em Outubro. Já mais irei esquecer a felicidade que ele transmitia através das palavras, gestos e a comoção, das lágrimas que lhe corriam pela face negra da sua pele. (Tinham assinado o cessar fogo em Lisboa entre os partidos Angolanos).