sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O delator que punha o rabinho entre as pernas...

O edifício do comando da CCSdo BCAV. 8423, visto da estrada Carmona-Luanda

Quitexe, edifício do comando da CCS do BCAV. 8423. Ali se decidia o que nós queríamos e não queríamos. Ali se afixavam as ordens de serviço - que muitas (in)justiças publicavam, a Bem da Nação. A porta da direita era a do gabinete do capitão Oliveira, comandante da companhia.
Ali fomos chamados a prestar contas, em dada altura, o Machado, o Neto e eu. Por razão de minudências persecutórias que sempre aconteciam na tropa, denunciadas por desfavor de alguém. Nenhum de nós era «boa peça», verdade seja dita..., tínhamos as nossas «coisas», mas éramos seguramente gente solidária e companheira de todas as horas.
Entre tanta gente, como eram os cerca de 200 homens que se aquartelavam por ali, sempre havia preferências e proximidades pessoais. Mas nunca deveria existir a perseguição avulsa e disfarçada. E foi isso que o Machado, com a sua sempre exuberante capacidade reivindicativa, expôs em conversa nua de preconceitos, em conversa de bar de sargentos mas que chegou aos sexagenários ouvidos do capitão Oliveira. E eu e o Neto a fazermos coro! Alguém lhos sussurrou!
Lá fomos nós chamados a contas e respondeu menos direito o Machado, à autoritária interpelação do oficial - no gabinete daquela porta que ali se vê. Respondeu de dedo no ar, em riste, explodindo nervos e revolta! Avantajou-se o Neto, sem poupar palavras! Aclimatizei eu o ambiente, coloquial mas corrosivo no verbo.
O «combate» foi duro, é verdade, mas fomos poupados à «ordem de serviço», que sempre apareceu em branco onde alguns desejaram ver os nossos nomes a vermelho, para «sujar» a caderneta militar. E lá o delator teve uma vez mais de pôr o rabinho entre as pernas...

3 comentários:

CAVALEIRO disse...

Eram uns furrieis do caraças, sempre amigos dos soldados e do lado deles, estou a lembrar-me de um levantamento de rancho, como eles estiveram do nosso lado...

Anónimo disse...

Havia muita malandrice nas ordens de serviço e protegiam-se os amigos a troco de uns copos...

Tomás disse...

Esta será talvez a foto mais desoladora que vi até agora. Ao fundo está o edificio onde funcionava a secretaria da CCS/BCAV8423. Que grandes recordações... A porta à direita era do Comandante da CCS, o Capitão Oliveira, ao centro a secretaria onde "nasciam" as, famosas, Ordens de Serviço e os maus eram sempre os milicianos. Nunca eram os profissionais da guerra. A porta mais à esquerda era onde funcionava a
4ª secção que mais tarde mudou para o edificio do Comando. Quem descia a rua à direita na esquina encontrava o café do Rocha, e que bons petiscos se comiam lá. Só para lembrar e aguçar o apetite,(depende da hora a que estejam neste Blog); Coelho à Caçador, Febras e Bifes acompanhados com batatas fritas e aqueles picles, que não era preciso pedir, o Bacalhau etc. E antes que isto se transforme numa receita de colinária, tinhamos do mesmo lado mas cá em cima, que não se vê, o tal depósito de fardamento que sofreu um grave acidente e que eu já fiz referência. Vai um grande abraço ao Vidigueira.