sábado, 17 de outubro de 2009

O contador de histórias «Nós... no singular»

A velha Regminton foi milhares de vezes teclada para contar estórias urbanas vistas por um rural



Se houve coisa que repetidamente fiz pelo Quitexe, foi... escrever! Lia muito, é verdade, recebia o Jornal de Notícias de domingo e segunda-feira, lia o Expresso e também por lá chegavam A Bola e o Diário de Notícias (para a CCS). E eu «fabricava» cartas para as namoradas de Portugal. As de outros!
Já por aqui contei a história do Cabrita - que não sabia escrever mas queria escrever à namorada... - e nunca falei da minha face de contador de estórias. Uma manhã de domingo, na Paris Versailles, achei-me de conversa com RC, chefe de redacção de um jornal de Angola - vinha ele de fechar a edição. Falámos longamente, até à hora do almoço, ele sem sono e eu nas núvens porque me aliciou para escrever..., e ficou acertado que eu escreveria um crónica para o jornal. Assim fiz durante meses, uma vez por semana! Era um luxo, que me levava a escrever em stencil na velha máquina da CCS reservada aos relatórios do GE. E batia teclas para fazer «Nós... no singular», com histórias urbanas achadas nos meus dias de Luanda e que poetava em forma de prosa para cultivar o espírito e alimentar a alma. Uma vez fui apanhado pelo capitão Oliveira, denunciado por um companheiro de armas, que me acusava de andar a gastar o papel de cera da Companhia, que me estava distribuído por causa dos tais relatórios. Há sempre uns amigos destes!! Fomos a contas e sobravam folhas. É que eu, esperto que nem um alho e desconfiado de tanto interesse do camarada pelo que eu andava a fazer, comprara folhas em Carmona. Valiam bem os 340$00 (angolares) que recebia por semana... Ou 240? Acho que era isso! Certo, certo é que era literalmente gasto nos restaurantes e esplanadas da capital. Ou no Quitexe e depois em Carmona! Lá o ganhei, por lá ficou...

2 comentários:

Anónimo disse...

O "Fonxequinha" era bem poupado! Andou dois anos a seco -"só bebo Áugua qué munta boa" - e a dois meses de terminar a comissão, abriu os cordões à bolsa! Lá se foram todos os contos de réis em colares e tecidos das mais variadas cores - tecido a metro. Foram quilos e quilos para a sua mais que tudo!
E não admitia reparos ao seu modo de vida - e muito bem!
«Eu era muito burro!...", desabafou vinte anos depois! Foi lento mas chegou lá!
Coisas do amor...e do desamor!

Casal

CAVALEIRO disse...

Por onde é que andava este Viegas de agora, a fazer estes trabalhos e não colaborou no boletim do batalhão...