Encontro de Águeda, com a esposa, a 12 de Setembro de 2009
O Tomás tem sido um dos animadores deste blogue, comentando com o propósito de quem tem memórias e companheirismo vivo. Dele me lembro bem, pela terras do Quitexe e de uma cena breve, no BC12, nos amargos e trágicos primeiros dias de Junho de 1975. A 3 ou 4.
Uma história curta: um dos refugiados na parada roubou comida a uma senhora, sabe-se lá porque fomes. Eu tinha chegado ao aquartelamento, com o PELREC - para uma breve refeição quente, pois estávamos estourados e esfomeados, depois de 49 ou 72 horas de muita tensão. Comemos juntos, no refeitório, e eu vim à parada ver o que se passava com aquele mar de gente, de mãos a abanar e estômagos vazios, que ali se refugiava. Muitos deles, centenas..., nós mesmos tínhamos levado da cidade.
Ao ver o homem a roubar a comida, pus-lhe a mão e houve um breve momento de tensão, que podia dar em tudo, menos em coisa pacífica. Aí, apareceu o Tomás - que por qualquer razão conhecia o sujeito.
«Meu furriel?!...», exclamou. E olhou-me com ar grave, a apertar os lábios, como que a pedir compreensão para o homem. Compreender, eu compreendia, mas muito imperativo (ainda hoje não perdi esse feitiozinho...), respondi-lhe de modos menos simpáticos. E fiz o que devia, para que a comida fosse devolvida. O homem que esperasse pela sua vez, a senhora tinha várias crianças ao lado dela e, por mim, eram prioridade absoluta.
Interveio o Tomás: «Posso arranjar-lhe comida?!...». Penso que distribuiu parte do almoço dele com o homem e eu e o PELREC voltámos à cidade, onde nos esperavam o cheiro da pólvora, os silvos das rajadas, o rebentamento de granadas, morteiros e obuses, os mil perigos de uma guerra urbana e muitas mortes entre combatentes da FNLA e MPLA. Algumas vi eu, ao vivo!
- TOMÁS. Rodolfo Hernâni Tavares Tomás, 1º. cabo rádio-montador. Residente em Lousada.
4 comentários:
Presumo que o amigo Tomás, como radiomontador, tenha gozado do privilégio de morar na vivenda! A varanda virada para o quintal, foi muitas vezes palco de grandes noitadas e onde não faltavam fados de Coimbra. Sons por vezes quase adormecidos, fruto das rondas intempestivas com que o Capitão nos presenteava. Aquelas noites tinham o condão de acabar em ceia bem bebida, onde os amantes de bebidas bem graduadas davam largas à sua sede.
O nosso guitarrista, professor de música agora reformado, lembrou-me à dias aquelas serenatas e o que sofria para atravessar a Vila de instrumento (guitarra) na mão!
Um dia falarei de uma dessas noites que nos enchiam a alma, onde a camaradagem era a palavra-chave.
Casal
Lamento muito meu amigo Casal mas de "vivenda" os radiomontadores não tinham nada.
1º Nunca ouve ou tivemos fados de Coimbra (mas que pena).
2º As nossas seias eram bem bebidas no bar do soldado ás vezes, outras vazes eram devido ao assalto que faziamos pelas traseiras do bar dos sargentos ou do bar dos oficiais (toma)...
3º Bem gostaria (EU) de ter por perto um professor de musica. Por estas e por outras e que estou ansioso pelos relatos do amigo Casal.
Amigo Viegas; estou admirado de como te lembras dessa passagem. Pois eu, sou sincero, não tenho ideia nenhuma, será que o teu diário está correto? É que eu tenho feito muitos comentários e poucas ou nenhumas confirmações tenho tido acerca dos factos. Será que te referes ao Sº Filipe? Homem negro que projectava o cinema no Quitexe? E, que eu, por convite do pai da "DUSOL", (lembram-se), fazia parceria com o "velhote" na projecção do cinema, duas a três vezes por semana? Estou a fazer referência a esta passagem porque como não era operacional o meu maior gozo era dar o melhor (ou se não mesmo, o máximo) conforto e prazer a todos os meus colegas fossem de que patente fossem, basta que, e é bom lembrar, cada bilhete custava 2,50 escudos, ou seja o preço de uma cerveja (não era Wisky). "Coisas que já lá vão mas que ainda cá estão".
Tomás:
Se fosse o Filipe, eu reconhecê-lo-ia na altura! Aliás, esse não faria o que o outro fez.
A Dussol mora em Vila Nova de Santo André, tanto quanto julgo saber. Mora lá também o Mosteias e, em Sines, o Zambujo. Lá, pertinho...
Sobre as (não) confirmações e comentários, não é de admirar: - somos de uma geração pouco dada a computadores. É da idade!! É bom não esquecer que somos quase sexagenários e nem toda a gente tem acesso a este tipo de ferramentas de informação!
Abraço!
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