quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A madrugada de 1 de Junho de 1975 e a evacuação de Margarida e Ricardo

Chegada dos primeiros refugiados de Carmona à parada do BC12, na manhã de 1 de Junho de 1975


A. SOUSA CRUZ*

O dia 12 de Setembro de 2009, na Pateira de Fermentelos, foi um dia de muitas recordações e emoções fortes. Quando o Buraquinho falou na madrugada de 1 de Junho de 1975 e comecei a recordar esses tempos, perdi o controle. Valeu-me minha esposa Margarida, que me trouxe à realidade.
Disse na altura que gostava imenso de me recordar dos bravos companheiros que se prontificaram a ir à cidade num Unimog 404, buscar a Margarida e o Ricardo. Um já descobri, o Pais! Naquele dia 12 de Setembro! E os outros? Quem foi deles que, quando ao passar pelas escolas ou liceu de Carmona, ao sermos alvejados, se virou para mim e disse: «É dali que estão a atirar... eu vou acertar naqueles filhos da ...».
«Não atiramos, pois a guerra não era connosco«, disse eu.
Mantivemo-nos quietos, atrás do Unimog, uns 3 ou 4 minutos, que foram uma eternidade! E não havendo mais tiros, subimos novamente para o Unimog e arrancámos a toda a velocidade. Já próximos de casa ainda vimos um telhado a ir pelos ares. No regresso, ao passarmos pelo mesmo local, eu com o Ricardo ao colo, ao lado do condutor, e a Margarida debaixo do banco dos três ou quatro soldados e companheiros que nos acompanhavam, devíamos ter passado com tanto pressa que os que nos alvejaram devem ter pensado: «Os branco és é loucos!...».
Hoje, mais de 34 anos depois, temos a consciência de que se tivessemos respondido aos tiros a história daqueles dias seria outra.

- * CRUZ. António Albano Araújo de Sousa Cruz, alferes miliciano mecânico. É engenheiro mecânico, natural e residente em Palmeiró (Santo Tirso).
- MARGARIDA E RICARDO. Esposa e filho (bebé) do (então) alferes Cruz.

3 comentários:

Anónimo disse...

Foram dias terriveis e acho que o que os safou foi a coragem da malta mas também a manhosice do comandante que até deu armas avariadas aos movimentos... ,lembro-me que os furrieis e alferes se revoltaram com a ideia e ouve uma reunião na parada por causa disso; quem é que se lembra disto?

Viegas (ex-furriel miliciano) disse...

Houve realmente uma reunião muito apressada e agitada, de alguns furriéis com o comandante Almeida e Brito, no gabinete dele, no BC12. Lembro-me de ter participado o Neto, o Machado, eu, o Mosteias, o Pires do Montijo. De alferes, só me lembro do Garcia - o que não quer dizer que não tenham participado outros.
O Machado é que nos deu a notícia da transferência de armas, pois era mecânico de armamento. Mas a reunião foi curta. O comandante logo nos explicou a decisão e ficou toda a gente tranquila.

Tomas disse...

Peço desculpa, antecipada, mas estou convicto que no dia 1 de Junho de 1975o Comandante Carlos Almeida e Brito não estava connosco em Carmona pois tinha vindo de férias ao "puto". Quem comandou as operações foi o capitão(?)que representou o (papel) de 2º comandante, coisa que nunca tivemos oficialmente. Foi comentado na altura, que se lá estivesse o nosso comandante não tinha havido aquela escaramuça toda, e que durou cerca de 15 dias, com tantos refugiados dentro do quartel (cerca de mil mais ou menos). Só ao fim de duas semanas os refugiados de guerra dentro do quartel BC12, foram evacuados por nós para o aéroporto com destino a Luanda. Eu tambem "alinhei" numa escolta dessas.