Picada para o Liberato (foto de Luís Patriarca)
As picadas eram o nosso terror de muitos dias e noites, de progressões apeadas ou transportadas. Os olhos tinham de ir sempre abertos, para todos lados e querendo ver o que não se queria a ver! Uma mina, uma armadilha, uma emboscada, eram momentos que poderiam ser véspera imediata de uma tragédia.
A foto da picada para o Liberato mostra por onde passei algumas vezes, fazendo rota obrigatória de missões, fossem quais fossem. Milhares de soldados por ali passsram. Ia-se por ali fora, pelas picadas, em tensão alta, espraiando olhares pelos arredores à vista e entrava-se na zona de mata, ondas as árvores faziam arcos com as copas, ou as ramadas muito folhosas, por onde macacos e outras animais laureavam os queijos da sua vida.
Cada movimento estranho, era emoção que se soltava do peito, um arrepio; o coração batia, o dedo pousava sobre a guarda do gatilho da G3. Uma vez, íamos para a Fazenda Maria Amélia, avariou-se um «burro de mato», a subir o desfiladeiro. Saltou uma equipa em guarda, trepando as pedras do lado direito, agarrada às ervas de mato e pequenas árvores que se soltava dos pedregulhos, à força de serem puxadas pelos soldados. Outra equipa, avançou! Outra, galgou alguns metros para a rectaguarda. Os cabos Almeida e Vicente, de dilagrama em mira para o que desse e viesse. Eu e o Neto em guarda de comando!
Aquela meia hora para pôr o «burro de mato» a andar, foram dias! Com o suor a escorrer em bica e o soldado mecânico a praguejar o que lhe vinha à língua, dorido das escladelas na combota do motor! Lá fomos... e viemos.
Soubemos mais tarde, dito em conversa de bar com combatentes integrados, que nessa manhã recemente alvorecida, estivemos sob menção de emboscada. Parecia certo, para os homens angolanos, que os burros de mato avariavam por ali. Por causa do sobreaquecimento do motor, explicou o mecânico. Vejam lá o que poderia ter acontecido!
- BURRO DE MATO. Designação dada aos Unimogs, veículos ligeiros de transporte militar.
1 comentário:
As picadas metiam medo e era preciso ir sempre de olho aberto e com o dedo no gatilho pró que desse e viesse...
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