O Alberto era atirador e «caiu» como quarteleiro da CCS, sempre mortinho por «dar uma perna» nas escoltas, patrulhas e operações do seu (nosso) pelotão.Gente humilde, zeloso e bom companheiro, teve de pesar quilos de arroz e de massa, medir litros de azeite e de óleos e cumprir, inescrupulosamente, o seu mandato de quarteleiro do depósito de géneros - tarefa que, por razões que não vem ao caso, não eram nada fáceis, dadas as mãos que por ali se metiam e as ordem que tinha de cumprir.
Um dia, fui eu nomeado fiscal do rancho, tarefa atribuída para me porem na linha. Aos olhos de alguns, não tinha eu fama de se ver e apanhar-me em qualquer falha era (seria) ouro sobre azul. Para esses alguns! Fiscal de rancho nomeado, tinha de zelar pelo cumprimento das NEP´s alimentares. Assim fiz, procurando não falhar.
Uma manhã, pesava o Ferreira o feijão para o rancho e, com ordens de superior hierárquico ao nosso lado, saltou a contagem. Era eu que tinha de dar contas - era o fiscal, fiscalizado! - e mandei recontar. Atrapalhou-se o bom do Ferreira, sem saber bem o que fazer - obedecer ao furriel ou ao superior?! Acabou por ter de recontar e eu, obviamente, «demitido» das funções. A coisa que. obviamente, mais me interessava.
O Ferreira vem hoje aqui, porém, não por isso, mas pelo louvor do capitão António Oliveira, sublinhando que «nas conferências mensais do armazém, nunca foram notadas quaisquer anomalias», pelo que se tornou «inteiramente merecedor da confiança nele depositada».
Ao ler o louvor, lembrei-me daquela história e das muitas outras que circulavam nos aquartelamentos, sobre as contas dos vários depósitos militares. Nada que, quanto ao Ferreira, o desabone, bem entendido. Até porque e cito o louvor, «desempenhou aquelas funções com muito acerto, honestidade e maior boa vontade». Diz o louvor e digo eu.
E o Ferreira, que será feito dele? Era de Viseu e já não mora na residência conhecida. Alguém sabe?
- FERREIRA. Alberto dos Santos Ferreira, soldado atirador de cavalaria. Natural de Viseu.
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