Gabela, centro da cidade, com a igreja em primeiro pleno. Mário Neves morava ali ao lado esquerdo
A 1 de Setembro de 1975 escrevia eu, em carta a minha mãe: «Isto, por aqui, não anda nada bom. Em Luanda, ou mais propriamente no Caxito, tem havido guerra da forte, entre MPLA e FNLA. Para o sul, então, em sido do piorio». Para o sul, na cidade de Gagela, estava parte da nossa família: o Mário Neves e o Clemente Pinheiro, com as respectivas famílias. E por lá estava, também, outra família conterrânea, a de Anaceto Melo. E de lá tinha saído, já, a de Rafael Polido e Cecíla, para Nova Lisboa.
Eu tinha estado na Gabela em Setembro de 1974 e Abril de 1975, recebido como príncipe, pelos meus familiares. E a preocupação, por eles, crescia todos os dias. Medrava, medrava, medrava!!!... - sem por eles nada poder fazer. Os contactos telefónicos eram dificílimos, se não impossíveis. Nunca consegui, de resto, chegar à fala com eles, nem mesmo depois dos apelos lançados na Emissora Oficial de Angola.
A epístola a minha mãe dava-lhe, porém, conta que eu, por Luanda, já nem ia ao quartel desde 6ª.-feira (28 de Agosto). «Isto quer dizer - explicava-lhe eu - que a guerra não tem sido connosco», referindo-me ao meu batalhão e, claro, a mim próprio. Assim procurava eu descansar-lhe as preocupações de mãe. Mãe recentemente viúva e com um filho na guerra.
Não lhe furtando verdades, informava-a, porém, que «houve macas fortes na Gabela» - a cidade dos nossos familiares - e dava-lhe conta de que «assim que souber» lhe diria quando voltava. Eu j sabia, é verdade, mas queria chegar de surpresa. Para mão lhe alimentar ansiedades. Ou alimentar expectativas. E de surpresa lhe cheguei, às primeiras horas de 9 de Setembro de 1975.
Sem comentários:
Enviar um comentário