A baía de Luanda. Cúpula do Banco de Angola, à esquerda, e o porto, lá ao fundo (foto de Jorge Oliveira). Em baixo, entrada para a ilha
Viana, Angola, 6 de Setembro de 1975!
O calor de África abriu-se nas janelas gradeadas da casa de Viana, ainda não são 6 horas da manhã de domingo. Já ando a pé, como sempre mais madrugador que todos! Espreguiço-me, desfaço a minha antepenúltima barba da jornada que me levou por lá e saio, em passeio pelo descampado em frente. Dou uma volta, menos de uma hora, e volto a casa, onde encontro o Neto e o Monteiro de pé - este já aparelhado para a boleia do Grafanil, onde irá fazer algumas horas de secretaria.
É o nosso penútimo dia de Angola!
Vamos sair do campo militar na madrugada de terça-feira seguinte - a dia 8. Para o aeroporto de Luanda. Depois, para Lisboa!
As malas fecham-se, depois de arrumadas os últimos pertences, ficando de fora os de higiene pessoal: a lâmina de barbear, o creme, a escova dos dentes e o resto de uma lata de graxa líquida, até uma água de colónia que alguém me dera e eu nunca usei! Levarei isso tudo, depois, no velho saco da TAP, que ainda ali guardo no sotão.
As garrafas de wiskye, religiosamente guardadas e escondidas da nossa sede - como que delas fazendo espólio de guerra!!! -, estão arrumadas numa mala mais forte. Não vão elas partir-se, nas andanças e andarilhanças de aeroportos e bojo dos aviões. Num instante, o pequeno Daihatsu da FRAL, está cheio. Com as minhas malas, as do Neto, as do Monteiro. E aí vamos nós para o Grafanil. Lá as deixámos e seguimos para Luanda, para alguns dos últimos adeus ao chão que nos fez felizes e sofridos, homens de fome pelos prazeres da vida e solidários com quem por lá, mais próximo de nós, sentia das dores das dúvidas do futuro.
As malas lá ficaram, num espaço do batalhão de Intendência, à guarda do fiel Almeida, do generoso Leal, dos sempre voluntários Marcos, António e Silvestre. O que será feito do Ezequiel Silvestre?
Já está próxima a hora do almoço e o pequeno Daihatsu «voa» pela estrada de Catete. «Acabou, pá... Acaaaaaaaaaaaabou!!!....», cantarolou, ou gritou???!!!!, o Francisco Neto, de pé pesado no acelerador.
Peço-lhe para parar no cemitério e vou pela última vez, naquele primeiro domingo de Setembro de 1975, visitar a campa do Zé da Rita, no cemitério de Catete! Seguimos para a baixa e almoçámos. Por muitos instantes, ficámos de olhos na baía, espairecendo o espírito e nela lavando a alma. Já tínhamos saudades daquela terra onde semeámos e colhemos sonhos, onde nos fizemos mais homens, mais companheiros e mais solidários. Onde amadurecemos ideias e aprendemos a amar a terra de Angola.
«Vamos à ilha?!...».
Fomos e vimos a cidade, do outro lado. Demos a volta e fomos para outros algures da cidade. A deixar «morrer» as últimas horas da nossa jornada africana.
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