O cessar-fogo anunciado a 15 de Outubro de 1974, não sendo embora cumprido à risca pelos movimentos - pois sempre se registou uma ou outra escaramuças... -, deixou porém, as guarnições militares em estado de muito conforto psicológico e moral elevado. E os operacionais, como era o meu caso (o do PELREC), muito mais descansados.
«Pode dizer-se que o mês de Novembro se caracterizou por uma acalmia não encontrada ha longos anos», sublinha o Livro da Unidade.
Carta minha para minha mãe, que agora reli e datada deste dia de 1974, dá conta que «as coisas estão a correr muito bem, pois os políticos já se entenderam e nós já não fazemos já operações no mato». Lá lhe expliquei o que era uma operação do mato e, dando-lhe alma às esperanças, afirmava-lhe a minha certeza absoluta de que não iriam aparecer problemas.
Eu datava as cartas, aditando-lhe o dia da semana, e sei por isso que esta carta é de uma 6ª.-feira, uma semana depois do 1 de Novembro. «Fui ao cemitério aqui da vila onde estamos e bem me lembrei do nosso (...), depois passei pela igreja, onde havia cerimónias, mas é muito pequenina e nem entrei». Viria a receber, por não ter entrado, um reprimenda das sérias, no troco do correio: «Já te esqueceste do que te ensinei...», apontou-me minha mãe, num chá de tília que não deixa de me emocionar, neste momemto em que releio o que me escreveu, com data de 16 de Novembro de 1974.
A foto que aqui edito, sentado eu na entrada da Igreja da Mãe de Deus do Quitexe, enviei-na nessa carta de 8 de Novembro, com a a seguinte legenda: «Aqui estou eu, sentada na entrada da igreja. As placas que vê na fachada estão cheias de nomes de mortos, de quando foi o início do terrorismo, em 1961. Agora, está tudo sossegado». E assim era. A foto é de data anterior ao envio para Portugal.
1 comentário:
Lindo, caro Viegas o que contas da tua relação com tua mãe, há 35 anos. E ainda tens esse correio todo, lembro-me da aa que compraste em Carmona para trazer as cartas e aerogramas e oq ue eu me ri d to por causa disso, agora deves consolar-te a ler; eu quemiei tudo ainda em Angola.
Olha lá, não foste tu que uma vez festejaste receber a 1000ª. carta?
Fernandes
Enviar um comentário