aulas regimentais funcionavam no coberto que se vê atrás, ao lado do Bar dos Soldados
Estrada de Carmona, no Quitexe, em foto de Franklin (2009)
Estrada de Carmona, no Quitexe, em foto de Franklin (2009)A estrada para Carmona era caminho de muitos de nós, que lá íamos do Quitexe, sempre que podíamos, para «descontrair»... - as mais das vezes no transporte do SPM, que era de todos os dias menos à 2ª. feira, se bem me lembro. A cidade, já era de muito boa dimensão e parecia-nos organizada, muito agradável e com muitas respostas aos nossos desejos de jovens que por lá passeavam as irreverências e apetências dos 22 para 23 anos.
Um dia, o Cabrita - que não sabia ler nem escrever... - foi lá «descontrair-se», na véspera de fazer o exame da 4ª. classe, preparada numa improvisada sala de aulas, mesmo ao lado do bar dos soldados, no Quitexe (foto). Ele e outros!! Por ele, e por ser ele aqui falo desta pequena história, havia uma afeição muito especial. Já não consigo narrar os pormenores do exame, mas sei que o Cabrita andava nervoso, angustiado, ansioso, cheio de dúvidas. A gramática, a matemática, as contas... «As contas, ó sô Viegas... Ai as contas!...», queixava-se ele, timorato e constrangido.
O curioso é que aquela cabecinha do Alvor algarvio - em cujo hotel a namorada fazia limpezas... - , aquela cabecinha do sô Cabrita fazia contas de cabeça com enorme facilidade e quase instantaneamente. Ora se assim fazia contas, que assim as fizesse no exame... - de cor!!! - e as passasse para o papel. «Aquilo é fácil, tenha calma...», tranquilizava-o eu! Procurava tranquilizar.
O Xico Neto e o Cruz, também eles «senhores professores» das regimentais aulas do Quitexe, tinham andado dias a fio a tentar "catequizá-lo" para o exame. Mas qual quê?, o sô Cabrita era um molho de nervos!
Na manhã do exame, passámos pela capela e parámos um pouco: «Então, ouça lá, você não quer o exame para tirar a carta de barco?!....", perguntava eu. Isso era o que ele queria, ele era pescador e queria ter o seu próprio barco. «Então, acredite que vai passar...», disse eu. «Não vou, não... sô Viegas», titubeava ele.
Na hora do exame, o sô Cabrita ia lívido. E lívido o deixei! Não uma hora depois, estava de saída, muito intranquílo, desassossegado. «Estragou tudo!...», pensei eu. Mas, não: fez o exame lindamente e passou, ganhando o diploma da 4ª. classe. Hoje, dispõe de embarcação própria, a Dulce Helena, no porto de pesca de Cascais, e nele já fui eu, com ele e a família, numa procissão do mar.

8 comentários:
Lembro-me muito bem do Cabrita, era o soldado básico, andava sempre a rir-se e não fazia serviços, gostava muito de bagaço e wisky, se ele está em Cascais vou um dia destes procurá-lo.
Como foi bonito teres participado nessa procissão. Só te fica bem.
Bem haja aos anjos e santos e ao nosso amigo Cabrita.
Monteiro:
Sou católico apostólico romano, filho de sacristão e confidente do clero da minha diocese. Ainda no sábado toquei um festivo repenique de casamento na igreja onde fui baptizado, em Ois da Ribeira - imediatamente a sul da minha casa desta minha terra de nascença e residência.
De queres saber, pela razão do que assumo como católico, a procissão do mar foi um momento emotivo e empolgante.
O sô Cabrita esmerou-se e emocionou-se na recepção ao seu antigo furriel e sempre amigo. Sabias que ele me quis procurar num programa da SIC, aquele do Henrique Mendes?
Parabéns pelo que fizeram em favor dos amigos a quem a vida certamente não ajudou ao menos para terem a 4ª. classe e que vocês ajudaram, devem sentir orgulho pelo que fizeram...
E lá está o Viegas sempre a dar-lhe parece que o estou a ver numa formatura ao pé da caserna a passar um raspanete ao pelotão dele, too formado e depois irem todos tomar banho nos chuveiros do balneários.
Na minha terra (Marrazes), os repeniques punham todos em alvoroço. Era sinónimo de Casamentos e chegavam a juntar-se duas a três centenas de pessoas para verem os noivos na escadaria. Era o acontecimento do dia! Hoje,Já não temos repenicador e nem damos pelos casamentos.
A propósito de procissões, o meu amigo Damião, soldado condutor e
morado em Peniche, disse-me que valia a pena deslocar-me lá para assistir. Foi uma noite fria mas garanto que valeu a pena. «Já levo quase uma semana mal dormida só de pensar neste dia», dizia-me,eufórico e feliz da vida. O convite já vinha do Quitexe e em 75 lá fui e em boa hora.
Casal
O comentário do Santos fez-me sorrir.
Com que então iam tomar banho nos chuveiros do balneário? Que chic!!!
Pois em 1967/69. Quitexe. CCS do BCAV1917, vou contar-vos como era o meu banho. Na altura, o motor eléctrico que fornecia água á Vila funcionava das 18 ás 6 da manhã. Claro que só havia água nesse período.
Significa que para termos água ao longo do dia para tomar o dito cujo, colocámos um barril de 100 litros junto á torneira.
Aí tomávamos o nosso duche, "á Pato", claro.
A moradia, lado direito, sentido Luanda/Carmona, fazia canto e era frente ao jardim. 3 quartos, 5 militares. Quando a Enfermaria que era frente á Casa de Cantoneiro (Transmissões) mudou para alguns metros mais abaixo e tinha varios quartos na traseira para aí passei.
Ao que me apercebo, posteriormente, a enfermaria voltou a transitar para outro local, bem como muitas outra especealidades.
Agora por isso! Há por aí alguém que se recorde do Fazendeiro Sr, Ferreira, esposa Dª. Rosa e Filha Alice (Chaves), que residiam junto ao Pel.Morteiros e Mésse Sargentos?
fclaudio@live.com.pt
Olá amigo Viegas.
Ao ler e ver aqui algo do Sr .Cabrita até os meus olhos ficam umidos pela saudade de tanta coisa boa que foi transmitida por mim e por ti para que o n/basico Hoje É uma pessoa de H grande.
Quando estiver contigo quero o telefone dele para poder entrar em contcto com ele.
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