A padaria (primeira casa à esquerda). Foto By Bembe, de Julho de 2010
As noites quitexanas de sábado eram quase sempre mais esticadas, muitas vezes até por volta das três, quatros horas da madrugada. Eram as noites dos ensaios para as cantarolices, algumas (algumas, é favor!...) vezes desordenadamente e até com direito a amuos por parte do Marinhas, o único que tratava por tu as notas musicais. Quais notas qual carapuça, aquilo era tudo de ouvido!
«Vocês abrasam as notas todas pá…, misturam tudo…cambada de cepos! Ó Matos, isso aí é em “ré” e tu insistes no “mi”, porquê?! Qualquer dia mando isto tudo à m…. e a vocês também!», espingardava o futuro professor de música com os nervos em franja! E revoltado por não sabermos uma nota musical!
Certo é que nesta mesma noite, já passado dos carretos, nos mandou mesmo para o tal sítio e desandou para a padaria civil, logo em frente. Parece que o estou a ver, com a guitarra às costas!
«Espera aí Marinhas, que a gente vai contigo…», gritava o Oliveira, em correria atrás do chefe da banda…, que debandara! E lá fomos todos, em busca do pão quente barrado com manteiga e alguns chouriços que o Neves, auxiliar na messe de oficiais, nos trouxe. Não sei onde os conseguiu, mas deduzo que os terá comprado numa loja do Quitexe! Ou não?!...
A ceia, quase pequeno-almoço, passou a ser mais animada com a chegada do pessoal da ronda, que passara pelo posto de vigia situado atrás da casa do cantoneiro. Entraram, para chamar a atenção pelo ruído, mas acabaram por ficar até cerca das cinco da madrugada! Todos de papinho cheio e bem regados, principalmente o furriel, que já apresentava faces rosadas. Talvez fosse do calor do forno da padaria, ou então do sumo de uva! Não aguentava bebidas alcoólicas, e mais de um copo já o baralhava!
«Não sei como é que vocês bebem e não ficam assim…, meio esquisitos como eu!?», lamentava-se ele, por não poder acompanhar com vinho o resto do chouriço! A conversa não era comigo, tendo em conta que ainda aguentava menos que ele! Eu era mais para o lado das “missions”.
Verdade seja dita, já não me lembrava de tal episódio! Mas o Marinhas, que eu já não via há algum tempo, decidiu arejar e passear a sua aposentação pela cidade do Lis, e ali demos de caras. E lá me recordou este episódio, quando lhe falei em música, o seu ponto forte, mas fraco. Diz ter sido (e foi) tão trucidado e enxovalhado por um sargento de má memória que, tirando as guitarradas e amigos do peito, nada o motiva para falar de Angola!
E as queixas que ele me fez, ali na rua, todo impetuoso e de dedo apontado para o Quitexe!? Quitexe que, deduzo, estaria atrás de mim, já que quase me arrancava os óculos com o dedo!
Calma Marinhas, embora não pareça, isso foi há 38 anos!!!...
ANTÓNIO CASAL FONSECA
CCS do BACÇ. 3879
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